Os trabalhadores nordestinos recebem muito menos e enfrentam taxas de desemprego e informalidade muito mais altas quando comparadas com as de trabalhadores de outras regiões do Brasil. E também, junto com os da região Norte, são os mais inseguros quanto à manutenção do emprego e da renda. Mesmo assim, estão mais satisfeitos com a vida, ou seja, mais felizes que a média nacional.
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Esse é o retrato revelado pela Sondagem do Mercado de Trabalho Brasileiro – Versão Regional Nordeste, divulgada nesta quarta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE). É a primeira vez que esse evento ocorre na região Nordeste e, mais especificamente, no estado do Ceará. A pesquisa questionou os entrevistados, ocupados com trabalho ou não, sobre o bem estar com a vida em geral. A região Nordeste registrou o maior grau de satisfação, de 7,6 pontos, acima da média nacional (7,2 pontos).
A apresentação foi feita pelo pesquisador Flávio Ataliba e pelo economista Rodolpho Tobler.
“Esse evento marca o esforço para a implementação do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste”.
Flávio Ataliba, pesquisador
No final do ano passado, o FGV IBRE publicou os primeiros resultados de sua Sondagem Mensal do Mercado de Trabalho. Naquela ocasião, foram analisados e divulgados somente dados agregados, no âmbito nacional. Hoje, foram apresentados resultados inéditos da pesquisa desagregados pelas cinco grandes regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste).
São abordados os seguintes temas: caracterização dos trabalhadores por conta própria; segurança com o trabalho e/ou renda principal; satisfação com o trabalho e bem-estar; e riscos de longo prazo. Os resultados mostram diferenças consideráveis entre as regiões pesquisadas, permitindo uma melhor avaliação sobre o mercado de trabalho e as expectativas em cada uma das principais regiões do país.
A pesquisa consulta mensalmente cerca de 2.000 pessoas físicas com mais de 14 anos de idade em todo o território nacional e tem como principal objetivo aprofundar o conhecimento da sociedade sobre o mercado de trabalho brasileiro com informações não encontradas nas estatísticas hoje existentes. Seus resultados permitirão mapear, em âmbito nacional, tendências e percepções da população em relação a diferentes temas, levando em conta caracterizações sociodemográficas como sexo, faixa etária, renda, escolaridade, entre outras.
De acordo com Rodolpho Tobler, a população em idade ativa do Nordeste é de 46,1 milhões de pessoas, a segunda maior do Brasil, representando 26,6% do país. Assim como no Norte, mais da metade dos trabalhadores entrevistados responderam que consideravam provável ou muito provável a perda do principal emprego ou da fonte de renda no período dos 12 meses seguintes.
“Historicamente, a taxa de desemprego no Nordeste é a maior entre todas as regiões”
Rodolpho Tobler, economista
Outro diferencial, segundo o economista da FGV, é que o Nordeste possui um percentual menor de trabalhadores empregados no setor privado do que a média nacional. E maior que a média nacional atuando por conta própria, ou seja, na informalidade. A taxa de desalentados – pessoas que nem mais procuram empregos porque não encontram – na região é de 9%, também a maior do país.
“A região Nordeste se mostra uma região com grande potencial, mas também com grandes desafios”.
Rodolpho Tobler, economista
Na região Nordeste chama a atenção, segundo o relatório da Sondagem, o elevado percentual de pessoas revelando insatisfação pela alta carga horária, até mostrando um pouco do problema de produtividade na região, onde se reclama da carga horária elevada, mas também da remuneração baixa. Nessa região e, também, no Norte do país, é observada maior reclamação por insegurança por ser um trabalho temporário, reforçando novamente a questão de maior vulnerabilidade na região.
Curiosamente, quando foram consultadas sobre o bem-estar geral com a vida (nesse caso, responderam todas as pessoas pesquisadas, ocupadas ou não), os trabalhadores da região Nordeste apresentaram o maior grau de satisfação com a vida no país. Sendo uma região com grande insegurança de renda e com alguma insatisfação em questões trabalhistas importantes, o resultado sugere que a percepção subjetiva de bem-estar na região é determinada por outros fatores. Apesar da diferença entre as regiões, todas ficaram com notas médias próximas de 7 pontos.
O primeiro tema abordado pelo estudo diz respeito aos trabalhadores por conta própria, categoria que tem se mostrado relevante no país, representando cerca de 25% das ocupações, chegando a mais de 30% em algumas regiões, segundo dados da PNADC do IBGE.
A primeira pergunta buscou identificar se os trabalhadores dessa categoria gostariam de mudar de ocupação para uma que fosse ligada a uma empresa pública ou privada. 69,6% dos trabalhadores por conta própria disseram que gostariam de ter algum vínculo formal com uma empresa e 30,4% prefeririam manter-se na situação atual.
A região Nordeste foi onde se encontrou o maior percentual de trabalhadores por conta própria que gostariam de estar ligados a uma empresa: 76,7%. As principais motivações para esta preferência apontados na pesquisa foram a vontade de ter rendimentos fixos (38,4%) e ter acesso ao conjunto de benefícios que uma empresa pode oferecer (36,5%).
No extremo oposto, na região Sul, ocorreu o maior percentual de trabalhadores afirmando que gostariam de se manter nessa ocupação (40,0%), tendo como principais razões apontadas, a possibilidade de se ter flexibilidade de horários (16,5%) ou por acreditarem que nessa maneira os rendimentos são maiores (13,6%).
Em seguida, com dados coletados em dezembro, foram abordados a origem laboral desses trabalhadores, ou seja, o que eles faziam antes de se tornarem por conta própria, e a principal motivação para que eles tivessem entrado para esta categoria de trabalho.
A principal ocupação anterior, em todas as regiões do país, era a do trabalhador empregado com carteira assinada, sugerindo que essas pessoas perderam seus empregos e migraram para a categoria dos conta própria.
Nas regiões Norte e Nordeste são registrados os maiores percentuais de pessoas que estavam desempregadas anteriormente. Também na região Nordeste, onde se encontra uma alta informalidade nas ocupações, é possível notar que a segunda ocupação de origem eram os trabalhadores sem carteira assinada.
Outro ponto interessante é que na região Sul, a soma da categoria empregadores (com ou sem CNPJ) é a maior, chegando a 11,4%, dando a entender que já eram empresários, apenas mudaram o tipo do negócio.
Os que trabalhavam por conta própria no momento da pesquisa foram questionados também sobre a principal razão para ser um trabalhador dessa categoria. De maneira geral, a opção mais citada foi estar desempregado e precisar de um rendimento (32,1%), com destaque para as regiões Norte e Nordeste, onde são regiões historicamente que possuem rendimentos médios mais baixos que a média nacional.
Nesse mesmo sentido, essas duas regiões foram as que apresentaram os maiores percentuais na opção de necessidade de uma fonte de renda extra.
“Essas duas categorias se mostram muito mais ligadas a um trabalhador por conta própria muito mais por necessidade do que por uma vontade própria. A gente vê que tem um percentual muito elevado de trabalhadores que estão ali muito mais por uma necessidade de conseguir algum tipo de rendimento do que, na verdade, ter uma escolha por independência e flexibilidade, como em outras regiões”.
Rodolpho Tobler, economista
Nas regiões Sul e Sudeste, a principal razão para esses trabalhadores estarem na categoria por conta própria foi a flexibilidade de horários, sugerindo que isso é mais por uma opção deles do que simplesmente por uma necessidade de ter outra fonte de renda.
Independência também foi um fator bastante mencionado até em regiões como a do Nordeste, mostrando que existem esses dois lados na categoria, o de necessidade, mas também de uma nova dinâmica do mercado de trabalho onde eles escolhem estar ali.
Buscando entender a percepção dos trabalhadores sobre a segurança que eles observam de suas ocupações, dois quesitos foram aplicados em outubro de 2022. Nesses quesitos todas as pessoas ocupadas responderam, independente da ocupação.
Primeiramente, elas foram consultadas sobre a chance de perder o principal emprego ou fonte de renda nos próximos 12 meses. No resultado nacional, 58,7% das pessoas afirmaram ser improvável ou muito improvável isso acontecer.
Nas regiões Norte e Nordeste, mais da metade afirmaram que é provável ou muito provável que isso aconteça nos próximos 12 meses, mostrando uma percepção de vulnerabilidade maior do que em outras regiões. Esse resultado pode ter ligação com dois fatores muito importantes: são regiões onde a renda média é mais baixa, o que naturalmente já adiciona incerteza; e onde se encontram os maiores percentuais de trabalhadores em atividades informais, normalmente associadas a ocupações com menor estabilidade e maior risco.
Em seguida, todos os entrevistados ocupados responderam por quanto tempo eles acreditavam conseguir se sustentar se perdessem sua principal fonte de renda ou emprego. A maioria das respostas se concentra na faixa até três meses em todas as regiões, mas com diferenças regionais também expressivas.
Sudeste, Centro-Oeste e Sul, regiões onde a renda média do trabalhador é superior à média nacional, registram os maiores percentuais de trabalhadores com recursos para se sustentar por mais de 3 meses, enquanto Norte e Nordeste são os principais destaques na categoria até 3 meses, sugerindo que o nível de renda pode ser um dos fatores relevantes para a percepção de insegurança.
Em agosto, as pessoas ocupadas no mês de referência foram consultadas sobre a satisfação com o próprio trabalho. Caso estivessem insatisfeitas, foram chamadas a apontar os principais motivos para a insatisfação. De uma maneira geral, os brasileiros são pessoas satisfeitas com suas ocupações, algo que é percebido em todas as regiões, com destaques para a região Sul, onde 83,5% escolheram as opções estar satisfeito ou muito satisfeito e para a região Nordeste, com 77,5%.
Os trabalhadores de diferentes regiões apresentam diferentes motivações para a insatisfação. De uma maneira geral, remuneração baixa é o principal motivo entre as regiões, inclusive na região Sudeste, onde a insatisfação é mais elevada. Essa região parece realmente estar mais ligada com problemas na renda, dado que a segunda opção mais citada foi pouco ou nenhum benefício.
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