Criado há 32 anos, em 26 de março de 1991, no governo de Fernando Collor, com a assinatura do Tratado de Assunção pelos presidentes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o Mercosul foi institucionalmente estruturado em dezembro de 1994 com o Tratado de Ouro Preto. As diferentes ideologias políticas nestas três décadas impactaram os negócios para cima ou para baixo, mas o que nunca mudou foi seu propósito de fortalecer a economia regional que poderá ganhar novo impulso.
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O Brasil começou o ano com superávit na balança comercial, tendo exportado US$ 23,1 bilhões e importado US$ 20,4 bilhões somente em janeiro, gerando um superávit de US$ 2,7 bilhões, fruto de uma vasta e diversificada pauta. Deste total, as vendas somente para a Argentina cresceram 6,7%, somando US$ 1,06 bilhão de um total de US$1,48 bilhão para todos os países do Mercosul. Historicamente tem sido este o resultado, puxado pela Argentina.
Constanza Negri, gerente de Comércio e Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entende que o Mercosul é fundamental para o comércio exterior brasileiro e, em especial, para a indústria. O bloco foi destino de US$ 19,8 bilhões em exportações de bens industriais do Brasil em 2022, terceiro principal parceiro comercial da indústria, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Isto se deve, basicamente, ao fato do Mercosul concentrar as exportações brasileiras de maior complexidade tecnológica. As vendas externas de bens de alta e média-alta tecnologia para bloco somaram US$ 11,3 bilhões do total exportado no último ano.
Para impulsionar a agenda econômica comercial do Mercosul é imprescindível intensificar iniciativas como a conclusão formal do Acordo Mercosul-União Europeia. E internamente, entre os países integrantes, avançar em disciplinas comerciais não tarifárias, com a entrada em vigor dos acordos sobre facilitação de comércio e compras governamentais. Constanza Negri também aponta a necessidade de conclusão das negociações sobre comércio de serviços.
O segmento automotivo, um dos mais representativos da indústria nacional, está animado com a retomada das articulações comerciais especialmente com a Argentina e o Uruguai. Para o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), Márcio de Lima Leite,“fortalecer o Mercosul é uma saída importante para o avanço da indústria brasileira”.
“As empresas acreditam num bloco de comércio latino-americano forte e que funcione efetivamente, sem interrupções de regras que inibem o investimento”.
Márcio de Lima Leite, presidente da ANFAVEA
A seu ver, as discussões em andamento são fundamentais para garantir tranquilidade aos negócios e facilitar o processo de integração regional.
O cientista político e professor Leonardo Paz Neves, analista do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que o Mercosul foi bem-sucedido em sua função básica de aumentar o comércio entre os países desde sua criação. Mas aponta problemas que impedem um avanço maior. Ele refere-se às exceções e restrições que alcançam em torno de 100 itens, o que é muito para um bloco tão pequeno.
Outro ponto negativo abordado por Leonardo Neves é a dificuldade que o bloco tem de negociar novos acordos comerciais com outros países e outros blocos. “É um pouco a crítica que o Uruguai fez recentemente, ao querer engajar mais acordos de livre comércio com outros atores”, explica, criticando o fato de o Brasil querer exportar muito e importar nada.
Quanto à moeda comum, o consultor recomenda muita cautela. O mecanismo é mais adequado a países menos desiguais economicamente. No caso do Mercosul, ao contrário do que ocorre com os integrantes da zona do Euro da União Europeia, as diferenças são enormes em volumes e na pauta de produtos negociados. Resultado: chances enormes de discussões e choques.
Com o mesmo olhar crítico do cientista político, o consultor de Economia do Senado Federal, Pedro Fernando Nery, é taxativo: “Não vai avançar”. Ao contrário da União Europeia, os países do Mercosul não têm muitos objetivos comuns. E destaca a Argentina, que ainda precisa se industrializar antes de abrir mais sua economia. “Na Europa uma parte da motivação da integração também foi a busca pela paz na tentativa de evitar a sina de guerras que foram frequentes entre vizinhos nos últimos séculos”, comenta ele, o que não tem no Mercosul.
Também a moeda comum é uma ideia que não está sendo levada a sério, segundo o consultor, lembrando que mesmo o euro não é consensual entre economistas. “Aqui faz menos sentido, seja porque as economias dos países envolvidos estão sujeitas a choques muito diferentes, seja porque a Argentina não é tida como um país de instituições confiáveis”, acrescenta considerando que a iniciativa está sendo lida mais como um gesto de aproximação entre os países do que como algo verdadeiramente sério que vai adiante.
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