Quinta maior produtora de calçados do mundo e a maior fora da Ásia, a indústria calçadista brasileira conta com um parque fabril com mais de 4 mil fábricas de todos os portes e que tem força econômica preponderante em pelo menos dez estados brasileiros.
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Apesar do tímido crescimento de 2,4% do setor calçadista brasileiro em 2022, com a produção de mais de 840 milhões de pares, esta indústria está com nível de atividade ainda abaixo da registrada na pré-pandemia, em 2019, quando fabricou 900 milhões de unidades.
O nível de emprego cresceu. Foram gerados mais de 24,6 mil novos postos de trabalho, totalizando 296,4 mil pessoas, 9,1% mais do que em 2021 e o melhor resultado desde 2015. A criação de empregos também cresceu 11,4% quando comparado a 2019, antes da pandemia.
Com esta performance, o Brasil mantém a quinta posição no ranking mundial, atrás apenas da China, Índia, Vietnã e Indonésia. “Somos a maior indústria do setor fora da Ásia”, observa o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados), Haroldo Ferreira, vislumbrando avanços na produção de calçados de couro, de maior valor agregado, já que atualmente as sandálias praianas se destacam na pauta exportadora.
Conforme acompanhamento da Abicalçados, 2022 somou 141,9 milhões de pares exportados pelo Brasil, o que gerou mais de US$ 1,3 bilhão em divisas. Os números são superiores tanto em volume (+14,8%) quanto em receita (+45,5%) em relação aos registrados em 2021. No comparativo com a pré-pandemia, os registros também são positivos, 23,2% em volume e 34,8% em receita.
Os desafios para o crescimento sustentado não são novos, a começar pela imprevisibilidade cambial e o velho Custo Brasil, fruto da elevada carga tributária, da burocracia que atrapalha e onera, além dos altos custos logísticos em relação aos concorrentes globais.
“Não tivemos desabastecimento de insumos, mas a pandemia desorganizou a cadeia produtiva mundial, o que acabou encarecendo as matérias-primas”,
Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados
Os principais destinos das exportações de calçados, em receita gerada, são os Estados Unidos (market share de 25,5% em US$), Argentina (13,7%) e França (5%). Mas houve conquista de novos mercados. Atualmente exportado para mais de 160 países, principalmente da América Latina e Europa, os calçados “made in Brazil” têm buscado a diversificação. “Ganhamos novos mercados a cada ano, mesmo já estando presentes em boa parte do mundo”, observa o presidente, ao relembrar a importância do programa de apoio à exportação Brazilian Footwear, iniciado em 2000. Até então eram 99 destinos.
Tendo a inflação crescente como maior problema macroeconômico, para 2023, a estimativa da Abicalçados é de um crescimento de 1,6% na produção. Diferentemente do ano passado, esse avanço deve ser impulsionado pelo mercado doméstico, já que na exportação, com os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia e do retorno da China ao mercado, os negócios externos devem registrar uma queda de 5,7% em relação ao ano que passou.
No acompanhamento do Centro Internacional de Negócios (CIN),da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), a indústria calçadista, entre os setores cearenses exportadores, cresceu quase 30% no volume de transações externas em 2022, ao alcançar US$ 292,3 milhões em exportações contra os US$ 225,5 registrados em 2021. Estados Unidos e Argentina foram os principais destinos das cargas embarcadas, especialmente de calçados de borracha ou plástico.
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, ressalta que a indústria calçadista brasileira está preocupada com a escalada das importações asiáticas – China, Vietnã e Indonésia – iniciada ainda no segundo semestre do ano passado e que somente em janeiro deste ano cresceram 104%, alcançando US$ 49 milhões.
“Com a normalização dos fretes da Ásia e o fim da política de restrição da Covid Zero na China, as importações explodiram. São produtos que, na maioria das vezes, chegam ao Brasil com preços muito abaixo dos praticados no mercado, o que torna a concorrência com a indústria nacional desleal, colocando em risco não somente a atividade, mas milhares de empregos”, alerta o executivo, ressaltando que calçados chineses chegam no Brasil por pouco mais de US$ 4 o par.
Com 100% da produção de calçados concentrada no Ceará, a gaúcha Grendene é a principal exportadora do Estado. O ano de 2022 começou desafiador, com inflação e juros altos que reduziram empregos, comprimiram a renda e diminuíram o consumo de itens não essenciais. O cenário econômico se agravou no segundo semestre com a proximidade das eleições. Mesmo após o pleito, as desconfianças persistiram, afetando o mercado interno com encomendas menores pelos distribuidores e lojistas que represaram as compras ao equivalente a 30 dias. Resultado: volume de produção caiu 3,8% no ano.
Para o diretor de Relações com Investidores da Grendene, Alceu Albuquerque, “este comportamento dos compradores fez com que a Companhia tivesse um ano de 11 meses”, comenta, apostando na retomada dos negócios por conta dos baixos estoques na ponta da venda. “Se a tese se confirmar, teremos a compensação de um 2023 de 13 meses”, afirma ele, defendendo a necessidade de definição da política econômica do novo governo para a recuperação dos negócios.
No mercado externo, 2022 começou forte e foi desaquecendo em função do avanço da inflação e juros e também dos conflitos na Ucrânia. Depois de ter aumentado as exportações em 28,8% em volume de janeiro a junho em relação a igual período de 2021, e de 31,8 % em dólar por conta de transações de maior valor agregado, a Grendene vivenciou um segundo semestre fraco.
O desempenho foi de apenas 2,9% em volume e de 12,7% em receita bruta. Uma das explicações envolve a condição conturbada da América Latina, para onde a Grendene destina entre 50 e 60% das vendas, notadamente Argentina, Peru e Bolívia.
Nos Estados Unidos e Europa, onde o cenário é recessivo, os varejistas também não fizeram novos pedidos e até mesmo transferiram o risco do estoque para os distribuidores. A esperança é que esta não seja uma tendência e que os lojistas voltem a comprar. A Grendene também espera que se confirme a expectativa de o governo injetar recursos para o aumento de consumo das classes C, D e E, contingente que responde por 80% das vendas.
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