chuvas e safra no Brasil

As chuvas em excesso em algumas regiões específicas podem trazer algum impacto, mas, no geral, as perspectivas são excelentes para a safra cearense. (Foto: Envato Elements)

Expectativa para a safra cearense em 2023 é boa, mesmo com as chuvas excessivas em algumas regiões

Por: Pádua Martins | Em:
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Apesar da boa safra agrícola cearense registrada no ano passado e da expectativa animadora para 2023, principalmente em decorrência das chuvas registradas em todo o estado, algumas culturas específicas devem apresentar quedas de produção, mas nada significante. Mesmo porque o último levantamento realizado sobre a safra ainda traduz a realidade de fevereiro último. As chuvas em excesso em algumas regiões (municípios) específicas podem trazer algum impacto, mas, no geral, as perspectivas são excelentes para a safra cearense.


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O prognóstico climático divulgado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em fevereiro, é bem favorável quanto as chuvas, consequentemente para a safra de 2023. Para o trimestre março, abril e maio, o órgão indicava 40% de probabilidade para chuvas acima da média da normalidade; 40% em torno dela e ainda 20% abaixo. O relatório do IBGE de estatística agropecuárias, relativo ao mesmo mês, aponta poucos decréscimos esperados na produção para este ano.

No grupo Cereais, Leguminosas e Oleaginosas, composto por 20 produtos, 15 mantiveram a expectativa de produção, enquanto quatro apresentaram elevação (Feijão Phaseolus 1ª safra sequeiro, Feijão Vigna 1ª safra sequeiro, algodão herbáceo sequeiro e milho em grão 1ª safra sequeiro). Registraram redução na expectativa a Fava e Feijão Vigna 2ª safra sequeiro. A fava apresentou possibilidade de redução da expectativa de produção devido a diminuição da área e de rendimento, segundo o relatório do IBGE.

Já no grupo Frutas Frescas, composto de 40 produtos, 11 registraram variação da expectativa de produção em relação ao mês anterior; nove apresentaram elevação na expectativa de produção (abacate irrigado, acerola de sequeiro, acerola irrigada, cajá, limão irrigado, mamão irrigado, goiaba irrigada, melancia de sequeiro e melão de sequeiro) e dois redução (banana irrigada e maracujá irrigado). Com isso, a produção esperada para 2023 é de 1.611.994 toneladas, não havendo aumento percentual significativo em relação ao primeiro prognóstico efetuado em janeiro/2023, que é o mês anterior (1.611.967 toneladas).

Comparando o prognóstico à safra de frutas frescas efetivamente obtida em 2022 (1.855.047 t), mantém-se a redução de 13,10%. Porém, esta redução é decorrente da metodologia para o cálculo do rendimento do prognóstico, que é a média dos últimos 11 anos para os produtos de sequeiro e de cinco anos para os produtos irrigados.

No grupo Frutos Secos, a castanha-de-caju (anão) sequeiro apresentou crescimento da produção, pois em Coreaú existia a expectativa de se obter uma tonelada este ano. Por isso, a castanha-de-caju (total) não apresentou variação significativa em relação ao mês anterior (68.006 t), passando para a expectativa de produção para 2023 de 68.007 toneladas, representando diminuição de 28,98% em relação à safra obtida em 2022 (95.756 t). Isso por questão metodológica, pois a expectativa de rendimento para 2022 é a média de rendimento dos últimos 11 anos, incorporando rendimentos baixos, obtidos em anos de seca.

Os Frutos com rendimento expresso em mil, grupo composto de seis produtos, 11 apresentaram variação da expectativa de produção em relação ao mês anterior, dois registraramelevação na expectativa de produção(abacaxi irrigado e coco p/água sequeiro); e um redução na expectativa de produção: coco-da-baía (seco). No grupo Tubérculo e Raízes, onde constam cinco produtos, três apresentam variação da expectativa de produção em relação ao mês anterior, sendo todas positivas: batata-doce sequeiro, macaxeira de sequeiro e mandioca de sequeiro.

A expectativa de produção para 2023 é de 737.834 toneladas, representando aumento de 0,03%, comparado à expectativa de janeiro para 2023 (737.649 t), mas diminuição de 15,80%, em relação à safra obtida em 2022 (876.332 t) por questão metodológica, pois, como exposto, a expectativa de rendimento para 2023 é a média obtida nos últimos 11 anos para os produtos de sequeiro e de cinco anos para os produtos irrigados – como enfatiza o IBGE.

No grupo de Horticultura, composto por dez produtos, constata-se que dois produtos apresentaram variação, sendo todas de menor expectativa de produção, em relação ao mês anterior. Verificaram elevação na expectativa de produção: jerimum de sequeiro e jerimum irrigado. Apresentaram redução na estimativa de produção: cebolinha e coentro. A expectativa de produção para 2023 é de 356.127 toneladas, representando redução de 0,02%, comparado à expectativa de produção de janeiro de 2023 (356.195 t), mas diminuição de 1,54%, em relação à safra obtida em 2022 (361.689 t) por questão metodológica, como já explicado.

Produtos que tiveram quedas nas exportações

Apesar da boa safra cearense registrada em 2022 e a excelente perspectiva para 2023, alguns produtos apresentaram quedas no ano passado e a estimativa para 2023 é de nova retração, mas em decorrência de outros fatores não ligados à questão de seca ou falta de chuvas ou chuvas abundantes. As altas taxas de juros, os índices elevados de inflação e os sinais de recessão dos países da Europa são as principais causas.

É o caso, por exemplo, das exportações de frutas; cascas de frutos cítricos e de melões. Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa e estratégia Econômica do Ceará (Ipece) revela que em 2022 o valor das exportações somou US$ 134,78 milhões, enquanto que em 2021 o total chegou a US$ 170,31 milhões, ou seja, ocorreu um decréscimo de 20,9%. Até mesmo as exportações de algodão caíram: foram US$ 42,82 milhões em 2022 contra US$ 48,72 milhões em 2021, o que representa involução da ordem de 12,10%.

O empresário Luiz Roberto Barcelos, fundador da Agrícola Famosa, afirma quehouve uma retração em torno de 20% nas exportações de melão em 2022 e a tendência é de que caia este ano aproximadamente 10%. Com isso, a produção também decresceu e, mesmo com diminuição de preço, não ocorreu venda. Este ano, a empresa vai adequar a produção à demanda.

Luiz Roberto Barcelos fala sobre o impacto das chuvas nas exportações de frutas brasileiras.
Luiz Roberto Barcelos é fundador da Agrícola Famosa. (Foto: Divulgação)

Na Europa houve aumento do custo de vida “em decorrência da elevação da energia e de outros produtos de modo geral. O pessoal comeu menos de uma forma geral e melão não foi exceção, mesmo que tenha baixado de preço. Foi um baque mesmo. A gente recebeu menos pelo melão importado. Mandamos muito menos fruta, mesmo assim caiu o preço e no ano que vem eu acho que não terá aumento, não” – informa Barcelos. 

“A safra de melão, cuja colheita terminou agora em foi muito difícil, mas isso sob o ponto de vista comercial. A Europa está passando por uma retração, uma recessão, comprando menos produtos. Por isso, foi difícil manter a nossa margem, as nossas vendas, prejudicando, de maneira geral, os produtores de melão da região. O frete, que tinha sido o grande problema da safra anterior, foi parcialmente reduzido, pois houve oferta de navios, melhorando um pouco o custo. No entanto, mesmo assim a queda no consumo da Europa foi o que causou o prejuízo na safra.”

Luiz Roberto Barcelos, fundador da Agrícola Famosa

Para falar sobre a safra deste ano, ele considera ainda muito cedo, muito embora as negociações comecem a partir de maio próximo. “O que está nos preocupando no momento é a situação da Europa, pois, caso ela não acerte o passo da economia, problema causado, sobretudo, pela guerra entre a Ucrânia e Rússia, o impacto sobre os produtores de melão vai continuar em 2023, já que o continente é o principal destino da nossa fruta”.

O empresário, para concluir, afirma que, apesar das chuvas abundantes, a produção e colheita de melão não foi prejudicada em nada. “Aliás, a previsão é de que teríamos chuvas ainda maiores durante esses meses, bem acima da média. No entanto, até agora, está bem menor do que no ano passado, pelos menos nas áreas de produção de melão. Em 2021 choveu bem, suficiente para recuperar os aquíferos”.

A estimativa, segundo do IBGE, para a produção de melão irrigado no Ceará, em 2023, é de 73,9 mil toneladas, menor em 14,77% do que o registrado em 2022, quando o total chegou a 86,8 mil toneladas, de acordo com o Instituto. Já o melão sequeiro apresenta perspectiva muito boa para este ano: 230 toneladas, produção que, se confirmada, significa elevação de 143,81% do que o registrado no ano passado: 105 toneladas.

A empresa Famosa

A Agrícola Famosa é uma empresa de capital nacional situada na divisa dos estados do Rio Grande do Norte e Ceará. A Agrícola Famosa consolidou seu nome no agronegócio caracterizando-se por investimentos em novas tecnologias, pesquisas constantes, respeito ao meio ambiente e compromisso social. Atualmente, a empresa tem
numa produção diversificada, crescimento constante e expansão de mercados. Contando com quase nove mil colaboradores nos períodos de safra e com uma área atual total de mais de 30.000 hectares, a Agrícola Famosa é a maior produtora de melões e melancias do Brasil e uma das maiores do mundo. Também se destaca entre os maiores fornecedores do mercado brasileiro de frutas.

A empresa exporta milhares de toneladas de fruta, concentrando-se principalmente nos mercados britânico, holandês, alemão, italiano, português e espanhol. Nos últimos anos, a Agrícola Famosa projetou-se como a maior produtora e exportadora de frutas in natura do Brasil, ampliando constantemente seus mercados. Na safra atual, além dos mercados já abastecidos, a empresa está expandindo suas exportações para Dubai, Singapura, Rússia, Lituânia, Estados Unidos, Canadá, entre outros.

Produção de tomates é menor por conta das chuvas

O empresário Edson Trebeschi, maior produtor de tomates do Brasil, afirma que a perspectiva para a safra do Ceará para este ano, tendo como parâmetro o total de área plantada, é que seja similar à de 2022, porém com uma tendência de menor oferta em função da produtividade, prejudicada pela concentração de chuvas. “Sabemos que estamos no período de chuvas, mas algumas áreas têm recebido índices superiores, mais fortes. E isso para uma cultura tão sensível como a do tomate, causa prejuízos, pois provoca queda da produtividade” – chama a atenção.

“É importante que isso seja bem comunicado aos supermercados, aos feirantes, ao consumidor. É um momento delicado em função de clima. Muitas vezes a qualidade de um produto não vai estar em condições normais, pois estamos em um período, agora especificamente, de entressafra, embora o Ceará tenha produção durante todo o ano. Mas é um período desafiador para se produzir tomates e legumes”.

Edson Trebeschi, presidente da Trebeschi Tomates

O CEO da Trebeschi explica que a produção da empresa de tomates é comercializada em todo o Brasil e, no inverno, também para os países do Mercosul. “Em função do alto índice de perecibilidade do tomate, sempre que o Chile, a Argentina e o Uruguai têm uma situação de inverno mais rigorosa, abre-se uma oportunidade para a exportação do produto. Porém, em função de uma questão econômica, principalmente da Argentina, está bastante retraída essa importação, não só de tomate, mas de demais produtos do Brasil”. 

Edson Trebeschi fala sobre impacto das chuvas na safra do tomate.
Edson Trebeschi é CEO da Trebeschi Tomates. (Foto: Dia Rural/Divulgação)

No ano passado, o empresário colheu, no Ceará, a primeira safra de tomates produzidos pelo sistema de cultivo protegido. É que ele comprou a propriedade onde eram produzidas flores (da Reijers) e passou a cultivar tomates. Ampliou, inclusive, a mão de obra, antes de 120 empregados que se dedicavam à produção de flores, para 217, mas com intenção de chegar aos 300, em breve. Entre tomates, pimentões, pimenta, abóboras, a empresa na Serra Grande está produzindo cerca de 200 toneladas por mês, com perspectiva de aumentar ainda mais.

De acordo com Trebeschi, todo o trabalho desenvolvido tem por meta a qualidade, pois essa tecnologia (cultivo protegido) ameniza os efeitos das mudanças climáticas. “O objetivo, com isso, é termos uma qualidade cada vez melhor da nossa produção, também no que diz respeito ao manejo. A questão é que os custos para implantação de estufas subiram muito, restringindo um pouco o aumento de áreas”. Para concluir, ele é taxativo: “nós compramos uma estrutura que já estava pronta ainda no ano de pico da pandemia e transformamos de uma unidade para produção de rosas para produção de tomates e legumes, dando nossa parcela de contribuição para geração de emprego e renda para a região”.

A Trebeschi está há 28 anos cultivando e comercializando, com alta tecnologia, tomates e legumes especiais em todo o Brasil. A matriz está localizada em Araguari (MG) e conta com filiais nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Bahia e Ceará. A empresa preza por produzir com sustentabilidade alimentos saudáveis, naturais, saborosos e fáceis de serem preparados e consumidos. A Trebeschi é considerada a maior produtora de tomates in natura do Brasil, assim como a principal marca do setor de hortifrúti no país.

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