Até 2019 era possível comprar um automóvel popular zero quilômetro por menos de R$ 30 mil, mas a indústria se transformou com os efeitos causados pela pandemia e outros fatores. Atualmente, o sonho do brasileiro de ter um carro fica cada vez mais distante.
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As montadoras no país privilegiam margens de lucro em vez de escala, o que contribui para elevar ainda mais os preços dos veículos, que já vinham sendo impactados pela crise global na cadeia de suprimentos com a ausência de peças como semicondutores. Hoje, no Brasil, os modelos de entrada não saem por menos de R$ 70 mil, um patamar recorde. E não há expectativa de queda.
O Governo Federal, inclusive, está preocupado que a nova realidade do setor automobilístico brasileiro. Tanto, que já fez consultas preliminares à indústria para entender a situação e avaliar o que potencialmente poderia ser adotado de medidas para tornar os carros mais acessíveis. É uma situação que interessa às duas partes, dado que pode significar incentivos para ampliar as vendas. Segundo essa tese, um plano eventual atenderia ao desejo de milhões de brasileiros e estimularia uma das indústrias com a cadeia produtiva mais extensa da economia, com a geração de empregos.
De março de 2020, mês de início da pandemia, a dezembro de 2022, houve um aumento de 68% do preço médio dos automóveis no país, segundo levantamento da consultoria automotiva JATO Dynamics, mas os preços já estavam em tendência de alta antes mesmo da pandemia. No mesmo período, para efeito de comparação, o IPCA calculado pelo IBGE, índice oficial de inflação do país e que serve como referência para o custo de vida do brasileiro, avançou 21%. Os salários em geral subiram abaixo disso.
Historicamente, 70% das vendas de carros novos no Brasil eram dos chamados modelos de entrada – também conhecidos como “populares”. No entanto a indústria automotiva vem elevando a aposta em veículos mais caros, principalmente os utilitários esportivos (SUVs, na sigla em inglês).
O preço médio de um SUV, de acordo com a Bright Consultoria Automotiva, está na casa dos R$ 164 mil, contra R$ 135 mil no início da pandemia em 2020. Um aumento de 21%, em linha com o IPCA. O diretor da Bright, Murilo Briganti, disse que a indústria tem optado por readequar os volumes de produção. “Hoje, as montadoras estão trabalhando com estoques menores. Quando a oferta é reduzida, o preço praticado no mercado é maior”.
Briganti informou que, além da crise de oferta na cadeia de semicondutores a partir de 2020, outros fatores impactam os preços dos automóveis, como o maior conteúdo de conectividade e tecnologia nos modelos e o avanço da legislação de emissões e segurança, o que acabou encarecendo os carros. Alguns dos modelos mais baratos do país, como o Fiat Uno e o Onix Joy, saíram de linha no fim de 2021 porque as montadoras avaliaram que não compensava fazer as mudanças nesses motores.
Para as indústrias automotivas globais com operação no Brasil, o trade off entre margens e escala já tem sido replicado de forma mais ampla e os números mostram que a conta fecha.
As grandes montadoras reportaram nos últimos dias resultados financeiros robustos globalmente. Na Volkswagen, o lucro aumentou em todas as marcas do grupo em 2022, incluindo aquelas consideradas de “massa”, apesar da queda de 7% das entregas. O lucro operacional (antes de itens especiais) alcançou 22,5 bilhões de euros no ano passado, um aumento de 12,5% sobre 2021.
A General Motors (GM) registrou lucro operacional ajustado recorde no ano passado, de US$ 14,5 bilhões. Já a Stellantis, dona das marcas Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot, reportou em 2022 um resultado operacional ajustado de 23,3 bilhões de euros, alta de 29% em relação ao ano anterior.
*Com informações da Bloomberg Línea.
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