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Linhas de crédito sem garantia preocupam mercado

linhas de crédito

Instituições financeiras tradicionais, bancos digitais e empresas de cartões no Brasil estão seriamente preocupadas com o crescimento de linhas de crédito sem garantia, especialmente de cartões de crédito. A situação tem afetado a qualidade do crédito e a rentabilidade das empresas, o que é um desafio adicional no momento em que o governo busca alternativas para reduzir a taxa de juros nas operações do rotativo do cartão de crédito, em meio à alta da inadimplência e à taxa Selic elevada.


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Segundo Isaac Sidney, presidente da Febraban, o governo deve criar um grupo de trabalho que pretende avaliar as causas dos juros altos no país nas operações de crédito rotativo dos cartões – um tema discutido há mais de uma década em governos de diferentes partidos. A equipe deve contar com a participação de representantes das empresas, do governo e do Banco Central.

Dados do Banco Central indicam que, em média, a taxa de juros cobrada no crédito rotativo do cartão foi de 417,35% ao ano em fevereiro (último dado disponível), a mais alta desde agosto de 2017. Já o endividamento das famílias no país é equivalente a 48,8% da renda acumulada em 12 meses até fevereiro, enquanto a inadimplência atingiu 4,1% das operações de crédito de pessoa física em fevereiro, o maior nível desde outubro de 2016.

É um cenário que desafia principalmente as fintechs. Relatório recente da Fitch Ratings apontou que clientes de menor renda representavam quase metade (48,8%) da dívida de cartão de crédito em instituições financeiras não bancárias no final de 2022, em comparação com 23,9% dos grandes bancos.

A maior disposição ao risco de fintechs e bancos digitais em relação aos bancos incumbentes, aliada a uma barreira de entrada relativamente baixa, facilitou o crescimento dos cartões de crédito no Brasil. A participação de mercado das fintechs no segmento de cartões de crédito foi de 16,1% no final de 2022, em comparação com 9,9% no final de 2019, segundo o relatório da Fitch.

A participação de mercado dos bancos digitais de médio porte também aumentou para 14,9% no final de 2022, em comparação com 13,5% em 2019, enquanto a participação de mercado dos bancos considerados sistemicamente importantes perdeu terreno, caindo para 67,3% do total de cartões de crédito no final de 2022, em comparação com 75,6% no final de 2019.

A Fitch ressaltou que, nos últimos três anos, os volumes de originação de cartões de crédito aumentaram 71,6%, segundo dados do Banco Central, enquanto o saldo em aberto cresceu 77,7%, representando 15,5% do total de empréstimos ao consumidor no Brasil (13,9% no final de 2019). Segundo a Fitch, a pressão na qualidade de crédito ficará mais evidente em empresas menores ou menos diversificadas.

A agência de classificação de risco espera que os bancos digitais e fintechs diminuam seu apetite pela concessão de crédito nos próximos meses, focando em clientes com melhor qualidade de crédito, segmento em que a concorrência dos grandes bancos é maior e, ao mesmo tempo, implementando estratégias de cobrança para recuperar suas carteiras em situação de estresse.

Provisões e o impacto nas margens

Para além dos desafios econômicos de inflação e juros, o aumento da inadimplência de cartões de crédito no Brasil está relacionado a altas taxas de desemprego e diminuição das medidas de estímulo do governo. Ceres Lisboa, diretora da Moody’s para análise de bancos na América Latina, explicou que o crédito está mais caro. Atrelado a isso, a inflação vem consumindo parte significativa da renda das famílias. “Houve uma compressão da parte disponível da renda para pagar a dívida”, disse.

Isso traz maior inadimplência. Os atrasos nos pagamentos de cartão de crédito até 90 dias seguem crescendo desde meados de 2021, chegando a 8,2% no final de janeiro de 2023, o nível mais alto em mais de uma década, em comparação com 7,8% no final de 2022 e 6% em 2019.

Lisboa disse acreditar que o índice de inadimplência deve ser pressionado para cima nesses próximos trimestres. “Mas os bancos não ficaram parados esperando por isso. Eles já têm feito o dever de casa faz tempo, aumentando provisões, os colchões que vão suportar absorver essas perdas. E, ao mesmo tempo, eles têm diminuído a concessão de crédito, principalmente nos últimos trimestres”, disse.

Ainda que as agências de rating estejam atentas às notas de risco dos bancos nesse período, não significa que eles vão parar de dar crédito, já que se trata de um ajuste dado ao ciclo de inadimplência, segundo Lisboa. “Os bancos também estão com um custo de captação alto”, disse.

Mas, para as fintechs, os altos custos de financiamento também representam desvantagem competitiva para o setor, e a redução significativa do apetite do mercado por financiamento de risco adiciona mais pressão em termos de resultados e capitalização dessas empresas, segundo a Fitch.

No relatório, a Fitch apontou ainda que os bancos digitais e fintechs têm maior crescimento entre os clientes de menor renda, com a parcela de clientes com renda inferior a dois salários mínimos (incluindo clientes sem renda comprovada) crescendo 95,4% e atingindo 27,8% do saldo em aberto de todas as dívidas de cartão de crédito no final de 2022, contra 25,2% no final de 2019.

Para as fintechs, o crescimento em clientes mais arriscados tem sido significativamente maior em comparação com os bancos, 235,8% para as fintechs versus 66,9% para os bancos, o que indica que essas startups permanecerão mais vulneráveis a eventual recessão em 2023, segundo a Fitch.

Segundo a agência, a qualidade de crédito de bancos digitais, fintechs e empresas de cartões no Brasil pode ser ainda mais pressionada por causa do histórico relativamente curto, da escala menor e da atuação em segmentos de clientes de maior risco.

*Com informações da Bloomberg Línea.

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