A seleção natural impactou o cenário das startups, onde antes predominavam os unicórnios, empresas iniciantes capazes de atingir um valor de mercado de US$ 1 bilhão. No entanto, essa conquista exigia altos investimentos, que hoje são escassos. Por isso, as startups de sucesso agora são chamadas de camelos.
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Os camelos são resistentes, adaptáveis e não dependem tanto de recursos dos investidores para sobreviver. Idealmente, elas geram receitas desde o início de suas operações, ao contrário das grandes startups da última década.
Esse fenômeno foi impulsionado pelos juros extremamente baixos nos países desenvolvidos. Desde a crise de 2008, os EUA mantiveram taxas próximas de zero, enquanto a Zona do Euro e o Japão experimentaram juros negativos.
Isso significava dinheiro praticamente gratuito, mas encontrar maneiras de investir com baixo risco era desafiador. Os investidores estavam dispostos a aceitar qualquer oportunidade.
No mundo das startups, a dinâmica gira em torno dos fundos de venture capital (VCs). Eles compram participações em empresas novas, esperando que cresçam e que possam vender suas fatias por valores substancialmente maiores no futuro.
Como não há bola de cristal, os fundos de VC costumam investir em cerca de 10 empresas, sabendo que a maioria delas pode falhar. Se uma delas se tornar um unicórnio, o retorno justifica os investimentos.
No entanto, as condições econômicas que impulsionaram essas startups sofreram mudanças drásticas e rápidas. Nos Estados Unidos, as taxas de juros subiram de zero para 5% em um ano. No Brasil, a Selic saltou de 2% para 13,75%.
Europa, Reino Unido e Japão também estão aumentando o custo do dinheiro para combater a maior inflação global desde os anos 1980. Isso significa que investimentos mais seguros, como títulos públicos, voltaram a ser atraentes, deixando menos dinheiro disponível para as startups.
De acordo com a plataforma Crunchbase, que acompanha dados de venture capital globalmente, o financiamento de startups no primeiro trimestre deste ano diminuiu 53% em comparação com o mesmo período de 2022, totalizando US$ 76 bilhões. E 2022 já havia sido 35% mais fraco do que 2021, que estabeleceu o recorde de investimentos.
Além disso, os investimentos estão mais concentrados. Dos US$ 76 bilhões, US$ 10 bilhões foram destinados à OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, indicando que os investidores estão buscando oportunidades mais seguras do que no passado.
Sem o boom da inteligência artificial, esse número seria consideravelmente menor, deixando para trás o recorde histórico do quarto trimestre de 2021, quando US$ 184 bilhões foram investidos no setor – um valor maior do que a capitalização combinada da Vale e da Petrobras.
*Com informações da VC/SA.
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