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Space Week: Crescente mercado espacial deve movimentar US$ 1 trilhão até 2040

A indústria espacial deve movimentar, até 2040 – parece muito distante, mas são apenas 17 anos – um total de US$ 1 trilhão, embora existam os que acreditam em um volume de recursos ainda maior. E os investidores diretos ou indiretos, como em ações, estão atentos nas empresas ligadas ao setor que mais cresce no mundo, pois os resultados são tidos como garantidos. Aliás, de olho nesse novo mercado tecnológico, o Ceará realiza, em agosto, o Space Week Nordeste 2023.


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Em 2020, o valor da economia espacial global atingiu US$ 424 bilhões, de acordo com pesquisa da Space Foundation: um crescimento de 70% desde 2010. Em 2022, pela Euroconsult, o mercado atingiu US$ 464 bilhões, o que representoucrescimento de 8% em relação ao ano anterior. A expectativa para os próximos anos é de que o setor continue crescendo, podendo chegar a US$ 737 bilhões em 2031.

De acordo com pesquisa do Banco Citi, atualmente, com o acesso fácil as muitas inovações que possibilitam o lançamento de foguetes em números nunca vistos, como internet via satélite e a fabricação de equipamentos na manufatura, o segmento industrial do setor se torna mais aberto, inclusive para os estreantes.

Essa é a tendência para os próximos anos, uma vez que ainda são poucas as empresas que controlam o setor que é muito disputado pelos chamados grandes, como Virgin Galactic, SpaceX e Blue Origin, dos bilionários Richard Branson, Elon Musk e Jeff Bezos. Mas, é uma questão de tempos para outros entrem, definitivamente, na corrida espacial.

O levantamento do Citi aponta que, dentre os setores mais promissores do setor espacial, o mercado de satélites — que inclui serviços de telecomunicações — representa a maior fatia da economia espacial, com mais de 70%. No entanto, chama a atenção para uma mudança de paradigma que se encontra em curso. Para os analistas, a conectatividade móvel, internet das coisas (IoT) e banda larga serão as novas fronteiras da exploração espacial daqui em diante.

Na frente dessa nova realidade estão empresas de satélites como Starlink, da SpaceX e do Projeto Kuiper, da Amazon. Outro setor em que o Citi vê fortes ganhos é o de imagens de satélite, que a empresa estima representar cerca de 2%, ou US$ 2,6 bilhões, da atual economia espacial. 

A consultoria Deloitte acaba de lançar um relatório com previsões sobre o potencial de crescimento da indústria aeroespacial. O estudo combina dados de mercado com 60 entrevistas feitas com líderes do setor e mostra os segmentos mais propensos ao crescimento nos próximos três anos: integração de satélites, componentes, lançamento de veículos espaciais, serviços de valor agregado e transporte de cargas.

Custos são reduzidos com avanços da tecnologia

O estudo revela que um dos principais impulsionadores do crescimento no setor espacial tem sido o desenvolvimento de novas tecnologias, como veículos de lançamento reutilizáveis, SmallSats (satélites de baixa massa e tamanho, geralmente abaixo de 2.600 libras) e CubeSats (satélites miniaturizados de formato quadrado). Um total de 82% dos executivos seniores na pesquisa espacial de 2023 da Deloitte disseram que a inovação no mercado espacial é uma prioridade para sua organização. 

A inovação tornou mais econômico o desenvolvimento de novos sistemas espaciais e o lançamento de cargas úteis no espaço, o que, por sua vez, permitiu que uma gama mais ampla de organizações participasse do setor espacial. “O desenvolvimento de SmallSats e CubeSats aumentou particularmente o interesse de empresas privadas e órgãos governamentais em investir nessa área, pois permite um acesso mais acessível ao espaço e novos modelos de negócios, como constelações (um grupo de satélites trabalhando juntos como um sistema com controle compartilhado).”

De acordo com o levantamento, outro impulsionador do crescimento no setor espacial foi o aumento do investimento do setor privado. “Um número crescente de empresas de capital de risco (VC) e empresas de private equity (PE) têm investido no setor espacial, e cada vez mais empresas privadas estão entrando no mercado para fornecer produtos e serviços relacionados ao espaço.  E os números provam isso: no final de 2022, o setor espacial global atraiu investimentos de PE de cerca de US$ 272 bilhões em 1.791 empresas únicas desde 2013. “Ao mesmo tempo, os investimentos no espaço de segurança nacional também estão aumentando rapidamente. Nos Estados Unidos, o orçamento espacial de segurança nacional do FY23 alocou US$ 20,8 bilhões para contas de investimento do National Security Space, um aumento de 19,5% em relação ao FY22.”

Demanda maior por dados espaciais e produtos e serviços

O mercado de dados como serviço espacial em rápido crescimento, onde empresas especializadas fornecem dados de alta qualidade diretamente a seus clientes, é outro fator importante citado no estudo. Agências governamentais, empresas privadas e instituições de pesquisa estão usando cada vez mais dados baseados no espaço para dar suporte a uma ampla gama de aplicações, como banda larga via satélite. Provedores de serviços de comunicação e provedores de serviços de observação da Terra provavelmente se beneficiarão ao máximo dos dados gerados por satélites.

As empresas espaciais especializadas podem construir, possuir e operar satélites, fornecendo dados e comunicações para os clientes, o que liberaria os clientes finais para se concentrarem no aprimoramento de seus negócios principais. Essa solução permite que os clientes assinem serviços de dados baseados no espaço com conjuntos de dados personalizados para casos de uso personalizados – conforme o levantamento.

As quatro principais categorias de atores no ecossistema espacial

1 – Empresas espaciais cujo principal negócio ou um segmento importante de seus negócios é o espaço. Essas empresas constroem produtos como veículos de lançamento e satélites e/ou prestam serviços aos consumidores do espaço. Os clientes podem incluir segmentos governamentais e não governamentais.

2 – Agências governamentais , que constroem, lançam e gerenciam capacidades baseadas no espaço para segurança nacional e pesquisa e desenvolvimento científico. Isso também inclui o desenvolvimento de políticas e padrões.

3 – Empresas não espaciais que são impactadas pela comercialização e serviços espaciais. Eles podem estar explorando uma entrada no mercado espacial e podem precisar de ajuda para chegar lá.

4 – A academia contribui para a inovação por meio de pesquisa e desenvolvimento de ciência e tecnologias espaciais para futuras missões espaciais e também desempenha um papel crucial na educação e fornecimento de talentos para a indústria.

Mundo vive era do new space

É o que afirma o físico Antonio Geraldo Ferreira, professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Earth Observation Labomar L Laboratory (EOLLAb), tendo como parâmetro dados do relatório da Smart Space Market. Ele observa que o tamanho do mercado global para a área espacial e tecnologias afins está projetado para crescer, dos atuais, 11,3 bilhões de dólares para 22,7 bilhões de dólares até 2029.

“O crescente financiamento de capital de risco, iniciativas de construção verde e preocupações ambientais e investimentos crescentes em tecnologia espacial estão impulsionando o crescimento desse mercado. Ressalta-se que um dos objetivos da Space Week Nordeste 2023 é também é chamar a atenção para o Espaço e áreas/tecnologias afins, inspirando os mais jovens e atraindo talentos para esse mercado e área do conhecimento.”

Antonio Geraldo Ferreira, professor do Labomar.

Sobre o mercado de lançamento de satélites, que tem crescido a cada ano, o professor Antonio Geraldo Ferreira diz que, desde o lançamento ao espaço do primeiro satélite meteorológico, há mais de 60 anos (TIROS 1- Television Infrared Observation Satellite), em 01 de abril de 1961, “eles se tornaram indispensáveis para estudos da atmosfera terrestre, dos nossos continentes e oceanos. De fato, junto com seus sensores de observação da terra e dos oceanos, os satélites, de vários tamanhos mapeiam a Terra de uma perspectiva global, a qual é única e inalcançável por qualquer outro sistema de observação”.

Para o Professor, através da tecnologia espacial e computacional (incluindo Inteligência Artificial e Aprendizagem de máquina), atualmente disponíveis, é possível estudar o planeta terra como um sistema global e em suas várias escalas espaciais e temporais, e gerar produtos e informações úteis para os tomadores de decisão das esferas governamental e privada, tais como: agricultura, meteorologia, planejamento urbano, recursos hídricos, pesca, turismo entre outras.

Quanto aos tipos de satélites, explica que eles podem ser catalogados ou agrupados segundo sua massa: • Grandes satélites: cujo peso seja maior a 1000 kg; • Satélites médios: cujo peso seja entre 500 e 1000 kg; • Mini satélites: cujo peso seja entre 100 e 500 kg; • Micro satélites: cujo peso seja entre 10 e 100 kg; • Nano satélites: cujo peso seja entre 1 e 10 kg; • Pico satélite: cujo peso seja entre 0,1 e 1 kg; • Femto satélite: cujo peso seja menor a 100 g.

O físico e Professor do Labomar ressalta que eles os satélites estão presentes em nossas vidas sem que nos demos conta disso. “Ao utilizarmos celulares, internet, aparelhos GPSs, ao assistir televisão e receber, em tempo real, imagens de qualquer parte do planeta, tudo isso é possível graças aos satélites que orbitam a terra. A nossa geração e as gerações futuras serão cada vez mais tecnológicas e consumidoras de tecnologias de ponta e os produtos e serviços gerados pela ciência espacial faz parte desse processo.”

Indagado sobre os impactos para a sociedade mundial das novas tecnologias, em especial dos satélites, ele cita que, segundo os autores do livro: Série Sustentabilidade (Espaço – vol. 8), “a leitura atenta da história da era espacial e de seus conhecimentos mostra que não houve área do conhecimento humano que não tenha sido arejada pela pesquisa espacial, sobretudo porque esse grande empreendimento do século XX mudou o modo de fazer ciência e tecnologia. E, inegavelmente, mudou a percepção humana do mundo e de seus modos de explorar a realidade… Se fosse possível mapear o DNA dos grandes avanços científicos do século XX, provavelmente seria demonstrado que estes compartilham, em algum grau, os “genes” da chamada pesquisa espacial e de seus desdobramentos tecnológicos.” Portanto os impactos para a sociedade seriam melhoria na qualidade de produtos, serviços e de vida – frisa.

Sobre a quantidade de equipamentos em órbita e os riscos, ele reconhece que muitos desses artefatos podem virar lixo espacial e que isso é um problema real. Mas já existem, na Europa, empresas que estão desenvolvendo tecnologia para recolher o lixo espacial, gerando startups e oportunidades de negócios… É a era do New Space, da qual estamos sendo contemporâneos …

Space Week Nordeste 2023 no Ceará

De 14 a 20 de agosto, o Ceará recebe o Space Week Nordeste 2023, evento que reunirá alunos, pesquisadores, membros da indústria e curiosos da área de ciência e tecnologia aeroespacial em um só local: Fortaleza. Durante a Space Week Nordeste 2023, cientistas irão apresentar os frutos do desenvolvimento de seus trabalhos e exibir o que há de mais moderno dentro da temática espacial.

Dentre os muitos tópicos que vão ser abordados, estão: Observação da Terra para Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; Monitoramento de eventos extremos de tempo e clima baseados em dados de satélites; New Space: tecnologias e inovações disruptivas; Missões no Espaço Profundo (Deep Space); Economia Aérea e Aeroespacial; Monitoramento remoto da água – Hidrologia espacial – A missão SWOT (Surface Water and Ocean Topography).

Além da programação científica do evento, também ocorrerão atividades direcionadas à comunidade não-científica, nas quais crianças, jovens, adultos e famílias poderão aprender mais sobre o espaço e suas particularidades. As atividades abertas para o público geral incluem o lançamento de foguetes, exposição de modelos de satélite, galeria de fotos espaciais, e muito mais!

Sobre a importância do evento para o Ceará, Antonio Geraldo Ferreira, professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Earth Observation Labomar L Laboratory (EOLLAb), entende que será uma grande oportunidade para o fortalecimento no Estado bem como para o Nordeste, pois possibilitará a formulação de parcerias em projetos de pesquisa e a exposição a metodologias e tecnologias inovadoras dentro desta área.

Além disso, por ser um evento de caráter internacional, a Space Week Nordeste 2023 permitirá à comunidade acadêmico-científica, em especial aos estudantes de graduação e pós-graduação, a fortalecerem e atualizarem seus conhecimentos na área espacial e tecnologias associadas, estando em contatos com especialistas envolvidos. A partir desta interação, oportunidades de participação em programas de intercâmbio e mobilidade acadêmica podem ser viabilizadas, além de oportunidade de negócios. O evento tem potencial para crescer cada vez mais e se tornar uma referência na área de ciência e tecnologia ligadas à área espacial e tecnologias associadas no Nordeste brasileiro – conclui.

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