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Inovabilidade: Reflexões acerca da tendência corporativa que une inovação e sustentabilidade

Chega mais que tem conceito novo para o seu repertório: inovabilidade.

Vindo da mesma problematização do ESG, e talvez pegando um pouco do impulso da pauta, a expressão vem ganhando destaque no mundo corporativo.


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Inovabilidade (innovability, no original, em inglês) é a junção dos termos: inovação (innovation) e sustentabilidade (sustainability). A ideia por traz do conceito se revela, em parte, pelos seus próprios componentes. Refere-se a uma espécie de modelo ou de metodologia corporativa em que o esforço de inovação se encontra com a sustentabilidade do negócio e com a metas ESG, que, a essa altura do campeonato, já devem estar na agenda obrigatória de todas as empresas.

Mas é importante irmos à origem do termo para compreendermos com mais precisão seu alcance e sentido, antes que comecemos a nos deparar com as mesmas problemáticas de conceituação e aplicação que o acrônimo “ESG” já enfrenta hoje, cujo conteúdo e abrangência já foi por demais elastecido e deturpado.

“E de onde vem mais esse conceito?”, você já deve estar se perguntando. A epifania surgiu – veja só – de uma empresa de energia: a global ENEL. Em 2014, o CEO Francesco Starace criou o termo, sendo o primeiro a combinar as palavras “inovação” e “sustentabilidade”, para definir o novo conceito.

“Não há sustentabilidade sem inovação e a inovação deve sempre ter foco na sustentabilidade.” A afirmação, que consta em um manifesto da companhia, revela a ideia por trás da expressão “inovabilidade”, que, para a citada empresa, combina dois conceitos interdependentes e fundamentais.

É sobre essas duas características, que parecem funcionar como “cola” aos conceitos, que desejo propor algumas reflexões.

No primeiro trecho da afirmação, “a sustentabilidade requer inovação contínua”, fica clara a ideia de interdependência. Nesse sentido, recupero, destaco e me valho da constatação feita por Larry Fink, CEO da BlackRock, na sua carta aos CEOs de 2022.

Em um trecho da comunicação, o cientista político, empresário e financista reconhece que os produtos e serviços, digamos assim, “ecológicos” ou “mais sustentáveis” ainda costumam ter um custo mais alto. Reduzir o que ele mesmo chamou de “prêmio verde” é, então, essencial para uma transição efetiva, ordenada e justa para uma economia mais sustentável.

A inovação tem, então, papel fundamental na solução dessa equação. Ela é o caminho para se alcançar soluções escaláveis para os desafios de sustentabilidade e ESG das empresas, e, assim, tornar menos oneroso o endereçamento dessas questões.

Não à toa, como reflexo e comprovação da realidade destacada, cresce a cada dia o número de startups dedicadas a aspectos ESG ou aos desafios relativos à sustentabilidade, as chamadas ESG Enablers (sim, mais um conceito!).

Foi também com base nesse contexto a aposta lançada por Larry Fink, na mesma carta aos CEOs de 2022, ao afirmar que os próximos unicórnios (startups ou empresas de tecnologia avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares) não serão mecanismos de busca ou redes sociais, mas sim empresas que auxiliam o mundo na transição para uma economia de baixo carbono, empresas inovadoras, sustentáveis e escaláveis.

Nesse ponto, abro um parêntese para, já atendendo aos anseios daqueles que, como eu, gostam de “visualizar” o que se diz, recorro aqui à ilustração metafórica que, talvez, nos ajude a compreender como a sustentabilidade demanda inovação.

Imaginando as empresas como grandes navios, é fácil concluir que o ajuste abrupto de trajetória não é lá algo muito simples de ocorrer. Com as empresas, da mesma forma. Reformular todo um modelo de negócio ou repensar a forma de geração de riqueza para um caminho mais sustentável e de menos impacto pode demandar uma manobra mais abrupta, o que pode ser inviável para um transatlântico ou, no mínimo, demandar mais tempo ou espaço.

E é por isso que em momentos de atracação e desatracação esses grandes navios são auxiliados por rebocadores portuários, barcos que normalmente apresentam tamanho reduzido, grande mobilidade e potência (Isso não te faz lembrar as startups? A mim, sim!).

Fechemos os parênteses! E tenha valido ou não o esforço metafórico feito (espero que sim), a percepção que desejo transmitir é de que a inovação é instrumento fundamental quando se trata de sustentabilidade no ambiente corporativo.

Vale dizer, também, que não se trata apenas de uma dependência a nível de tecnologia. A inovação é, sobretudo, cultural, porque ser inovador enseja estar pronto e aberto para as mudanças. Assim, a inovação é não só uma ferramenta, mas também um pré-requisito para a sustentabilidade, em especial dentro de um contexto no qual esta ainda é uma exceção, um ponto fora da atual curva, uma meta ou um objetivo a ser perseguido. É disso que se pode confluir e afirmar que a inovação é, sim, fundamental à sustentabilidade.

Feita essa primeira digressão, te convido de volta àquela afirmação inicial. E, agora, para propor uma reflexão no que aponta sua segunda parte: “a inovação deve sempre ter foco na sustentabilidade.”

A ideia de inovabilidade também guia a noção de que inovação a qualquer custo não se sustenta mais. Por isso, ela deve estar norteada pela sustentabilidade. Tanto produtos quanto processos e serviços, ao serem desenvolvidos, precisam já refletir a viabilidade econômico-financeira, social e ambiental, concomitantemente.

Aliás, nada se sustenta se não acompanhar uma reflexão de sustentabilidade, seja inovação ou qualquer outra ideia que se pretenda longeva. E já que o mundo corporativo adora um conceito novo, eu me valho deste espaço para propor mais um, quem sabe assim esse texto gere mais repercussão: #tudabilidade.

A reflexão sobre sustentabilidade e, no contexto corporativo, sobre as dimensões ESG, deve perpassar tudo.

Hashtags, brincadeiras e provocações à parte, o que acredito e sugiro, como última reflexão, é que nós – todos nós – foquemos menos em conceitos, acrônimos, siglas, modas e hypes corporativos, e nos ocupemos, de fato, com aquilo que é fundamental e do qual todos dependemos no contexto empresarial: repensar a forma de gestão das organizações a partir do prisma de seus impactos socioambientais.

Só assim ESG, inovabilidade, ou “tudabilidade” se tornarão vetores reais da transformação que tanto necessitamos e almejamos para nossas organizações.

É naturalizando e trazendo-os para o nível da cultura organizacional que todos esses termos diminuirão de relevância para dar espaço para o poder transformador dos seus conceitos e significados.

Se, por um lado, eu reconheço e dissemino que o futuro dos negócios e do planeta passam por inovação e sustentabilidade, de outro eu torço para que tão logo se perca o sentido falar em algo como inovabilidade. Não pela sua irrelevância (a ideia é exatamente o oposto), mas porque, repito, sustentabilidade deve e precisa perpassar tudo!

O urgente e óbvio precisa, muito mais do que ser dito, ser implementado.

#Tudabillidade pra você e sua empresa!

Celso Torres é especialista em ESG, sócio do escritório Torres Teodoro Advogados e head de Sustentabilidade da Esphera Soluções Ambientais.

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