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Manutenção da taxa de juros azeda de vez relação entre Governo e Banco Central

O “cabo de guerra” entre o Governo Federal e o Banco Central continua e de forma mais acirrada. E na marcação do jogo entre os competidores está a taxa básica de juros (Selic). O Governo, já há alguns meses, entende que ela já deveria ter caído, mas o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não pensa da mesma maneira. Tanto que, pela sétima vez consecutiva, manteve, por unanimidade, a mesma taxa: de 13,75%, maior patamar desde 2016. A grande pressão de diferentes setores da economia e da política, portanto, não foi suficiente para fazer com que o Banco Central reduzisse os juros. Consequência: críticas de todos os lados, inclusive de parte dos que fazem oposição ao atual Governo no Congresso Nacional.


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Se já não existia um bom relacionamento entre o Governo e o Banco Central, com a decisão de manter a atual taxa ela azedou de vez. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontra em viagem à Europa, ao tomar conhecimento da manutenção da taxa Selic foi taxativo ao afirmar que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto – indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para a Instituição, onde ficará até 31 de dezembro de 2024 – “joga contra a economia brasileira”. O presidente do Brasil disse que o colegiado é “irracional” e até mesmo chegou a solicitar que o Senado Federal cobrasse do presidente do BC alguma mudança e questionou se ele (Campos Neto) está cumprindo realmente com sua missão.

Para Luiz Inácio Lula da Silva, o Governo não está brigando com o Banco Central. Na verdade – observou – “quem está brigando com o Banco Central é a sociedade brasileira. É irracional o que está acontecendo no Brasil, você ter uma taxa de 13,75% com uma inflação de 5%, ou seja, cada vez que reduz meio ponto a inflação, aumenta o juro real no país. Não é possível ninguém tomar dinheiro emprestado para pagar 14% ao ano, às vezes 18% ao ano”. E frisou: O problema não é do governo, é da sociedade brasileira.

“Eu tenho cobrado dos senadores. Foram eles que colocaram esse cidadão lá. Os senadores têm que analisar se ele está cumprindo aquilo que ele tem de cumprir. Na lei que está aprovada, ele tem que cuidar da inflação, do crescimento econômico e da geração de emprego. Então, ele tem que ser cobrado, é só isso. Quando o presidente indicava o presidente do Banco Central, quem era cobrado era o presidente (…) O presidente não pode fazer nada, porque ele não foi indicado pelo presidente, ele foi indicado pelo Congresso Nacional. O Senado é que tem responsabilidade de cobrar dele” – desabafou.

Copom: condições continuam adversas

Em nota divulgada nesta quarta-feira (21), depois de analisar o ambiente externo (economia), o Copom afirmou que, em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante, o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre.

Para o Comitê, diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 5,1% e 4,0%, respectivamente. As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 5,0% em 2023 e 3,4% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% em 2023 e 4,6% em 2024.

De acordo com seus cenários para a inflação, o Copom entende que permanecem fatores de risco em ambas as direções: entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Depois de avaliar todos os cenários, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica na suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Comitê entende que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia. E que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

CNI critica manutenção dos juros

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a manutenção da taxa básica de juros (Selic) está acima do necessário para o combate à inflação e, no momento, apenas impõe riscos adicionais para atividade econômica. A Confederação entende que há mais de um ano que a Selic está em patamar alto o suficiente para contrair a atividade econômica e, assim, controlar a inflação.

“Esse quadro ficou ainda mais evidente nos últimos meses. Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou fortemente e ficou em 3,9% no acumulado dos últimos 12 meses” – afirma a CNI, que considera “equivocada a decisão do Copom, do Banco Central, de manter a Selic em 13,75% ao ano”.

“Esperamos que, com a continuidade do movimento de desaceleração da inflação, o Copom inicie já na próxima reunião o tão necessário processo de redução da Selic.”

Robson Braga de Andrade, presidente da CNI

Taxa de juros no Brasil lidera ranking

Estudo da MoneYou analisou que o problema global na condução da política monetária continua, onde o Brasil ainda reduz parte das dúvidas na ancoragem das expectativas de inflação, com a aprovação do arcabouço fiscal, enquanto os EUA mantiveram os juros inalterados, mas continuam a registrar pressões no mercado de trabalho, apesar de uma série de indicadores econômicos na linha negativa. A Europa ainda não registrou reações às elevações recentes de juros tanto na economia, como na inflação, enquanto a Ásia preserva parte de suas medidas estimulativas, com a China reduzindo os juros.

Aos 13,75% a.a. e uma combinação de menor projeção de inflação em 12 meses, o Brasil reforça a 1ª colocação no ranking mundial de juros reais, preservando o pódio pela 6ª reunião consecutiva e acima de Hungria, Colômbia, Chile e México, com uma combinação de inflação projetada para os próximos 12 meses, via coleta do relatório Focus do BACEN de 4,10% e a taxa de juros DI a mercado dos aproximados próximos 12 meses no vencimento mais líquido (jun/24).  O Brasil mantém a 1ª colocação, em qualquer cenário, seja de corte de juros de 25 ou alta de 25 bp.

taxa de juros atual

Guimarães critica decisão do Copom, mas está de olho na pauta de votação no Congresso

Para o líder do Governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães, a decisão do Copom de manter a taxa de juros em 13,75% ao ano pela sétima vez, depois da inflação cair pela décima vez seguida, deixa evidente que a decisão é uma questão política de sabotagem ao crescimento da economia. Para ele, todos os setores estão sendo prejudicados. Na noite desta quarta (21), o Deputado esteve reunido com o presidente da Câmara, Arthur Lira, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Na conversa a definição de calendário para votação da Reforma Tributária, do Regime Fiscal e Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) para primeira semana de julho.

Aliás, hoje pela manhã, de acordo com a Assessoria de Imprensa da Câmara Federal, Arthur Lira afirmou que o texto da Reforma Tributária será entregue na tarde de hoje (quinta) para ser aperfeiçoado e debatido antes da votação pelo Plenário, na primeira semana de julho. Lira comandou reunião com governadores e representantes dos 26 estados e do Distrito Federal, além de líderes partidários e o relator do texto, deputado Aguinaldo Ribeiro. Lira disse ainda que deve se reunir ainda com representantes de outros segmentos interessados na reforma e com prefeitos de capitais em busca de uma proposta consensual. “Governadores apresentaram inquietudes regionais, vamos fazer isso com prefeitos e com o setor produtivo, também” – destacou.

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