No primeiro trimestre de 2023, as unidades residenciais lançadas sofreram queda de 44,4% comparadas ao trimestre anterior. Apesar da queda significativa, o setor não está com falta de demanda, nem de estoque, de acordo com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins. Segundo ele, o mercado imobiliário está saudável e equilibrado, o que existe é a falta de confiança do empresário do setor.
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O levantamento faz parte do estudo Indicadores Imobiliários Nacionais do 1º trimestre de 2023, realizado pela CBIC e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional), em parceria com a Brain Inteligência Estratégica. O primeiro trimestre de 2023 demonstrou uma desaceleração do mercado imobiliário, que registrou queda nos lançamentos, vendas, oferta final, e no programa Minha Casa, Minha Vida.
De acordo com a CBIC, a insegurança dos incorporadores em investimentos privados é consequência de fatores como a alta taxa de juros; a escassez e o encarecimento de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) para o financiamento; da necessidade de revisão dos tetos para contratação com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da adequação da curva de subsídios.
A queda no número de lançamentos reflete diretamente no número de contratações futuras, segundo a entidade. “Precisamos ter atenção a partir dessa queda porque o movimento seguinte pode ser o menor número de vendas e, consequentemente, uma menor geração de empregos”, disse Martins.
O número de lançamentos registrados no quarto trimestre de 2022 foi de 87.315 novas unidades, enquanto o primeiro trimestre de 2023 registrou 48.554, apontando queda de 44,4%. O presidente da Comissão de Indústria Imobiliária, Celso Petrucci, destacou que não havia uma queda assim há sete anos.
“Quando consolidamos os números ficamos assustados com a redução dos lançamentos. Nós não lançávamos esse número tão baixo de unidades desde do 2º trimestre de 2016, então essa redução de 44,4% nos chamou muita atenção”, destacou Petrucci.
Todas as regiões apresentaram queda nos lançamentos. A maior variação registrada no 1T2023 em relação ao trimestre anterior foi percebida na região Norte, com decréscimo de -86,9%. Seguida da região Sudeste (-44,9%) e Centro-Oeste (-42,4%). A região que apresentou menor queda foi o Nordeste (-39,7%), com 9.667 unidades lançadas.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, a queda permaneceu acentuada (-30,2%), apontou o estudo. Para Petrucci, essa queda mostra uma insegurança dos incorporadores em colocar novos produtos no mercado. “Nós não temos problema de demanda, o problema maior que a gente vê hoje no mercado é de confiança na economia e no custo alto de juros”, explicou o presidente da CII.
Caso esse movimento de queda continue nos próximos trimestres, isso irá gerar uma preocupação no mercado imobiliário, afirmou Petrucci. Para ele, poderá faltar unidade para ser vendida no país e, consequentemente, o aumento de preço.
No comparativo de unidades vendidas entre o primeiro trimestre deste ano e o último de 2022, a queda foi de -5,2%, enquanto se comparado com o mesmo período de 2022, o registro foi de -9,2%.
Segundo o levantamento, apenas duas regiões do país apresentaram crescimento nas vendas em relação ao período anterior. O Norte apontou crescimento de 17,5%, e o Nordeste (1,2%). A maior queda nas vendas entre o 1T2023 e o 4T2022 foi apontada pelo Centro-Oeste (-14,4%).
A oferta final, segundo o estudo, também apontou queda. O 1T2023 registrou 273.331 unidades disponíveis, enquanto no 4T2022, o número de unidades chegou a 297.770, apontando queda de -8,2%.
Considerando a média de vendas dos últimos 12 meses, se não houver novos lançamentos o estoque se esgotaria em 10,8 meses.
Apesar de o programa contar com representação significativa nas unidades totais lançadas pelo país, o levantamento apontou que o programa tem perdido espaço no mercado brasileiro. No primeiro trimestre de 2021, as unidades do MCMV representavam 56% dos lançamentos, já no mesmo período em 2022 a participação foi de 42%. Este ano chegou somente a 35%.
No primeiro trimestre do ano, a queda em unidades lançadas foi de -48,9% e de -15,9% nas vendas na comparação com o último trimestre de 2022. Para Celso Petrucci, os dados demonstram que o MCMV está perdendo a proporcionalidade que ele tinha no mercado.
“No programa, os lançamentos em relação ao quarto trimestre caíram quase 50%. Em relação ao mesmo trimestre de 2022, 41,8%. As vendas também caem menos por causa da oferta. Então, ficamos com cada vez menos empreendimentos do MCMV em construção”, explicou Petrucci.
Para o CEO da Brain, Fábio Tadeu, o que se vê no Brasil é um represamento. “Justamente esse aguardar às novas regras, aos novos limites, novos enquadramentos, novos subsídios. Está todo mundo nesse aguardar”, disse Tadeu.
O presidente da CBIC complementou e destacou o olhar dos empresários. “Eles estão com o empreendimento aguardando na gaveta, pronto para lançar, mas eles estão com uma expectativa que esses limites atendam a realidade de mercado. Então, se eventualmente esses valores que forem lançados não forem adequados à realidade de mercado, isso pode gerar uma frustração e pode ser também maléfico”, pontuou José Carlos Martins.
A CBIC destacou que a expectativa pelas novas regulações do MCMV e decisões importantes do Conselho Curador do FGTS, que ainda não teve suas deliberações retomadas, além do rescaldo da inflação de materiais e da alta taxa de juros, são os principais elementos que impactaram esse mercado no primeiro trimestre.
“Com a reunião do conselho curador do FGTS, a gente espera que eles possam trabalhar com a questão dos limites em relação à adequação da curva de descontos ou subsídios, e que tirem esse atraso que nós temos do MCMV em relação aos demais padrões do mercado imobiliário.”
Celso Petrucci, presidente da Comissão de Indústria Imobiliária
“Falta de vontade e gente querendo comprar não falta, o que precisa é dar as condições razoáveis para que possam adquirir.”
José Carlos Martins, presidente da CBIC
O CEO da Brain, Fabio Tadeu, ainda apresentou dados sobre a intenção de compra do consumidor, com base em pesquisa aplicada em 31 cidades do país. “Depois de dois anos em queda, chegamos num patamar de base da intenção de compra de imóveis, passamos de 31% em novembro do ano passado para 35% em março deste ano”, mostrou Fábio.
Segundo a pesquisa, 30% das famílias pretendem fechar negócio em até um ano e 9%, em até seis meses. “A principal motivação dessas pessoas é sair do aluguel e adquirir o primeiro imóvel”, destacou Tadeu.
*Com informações da CBIC.
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