Em entrevista exclusiva para a Trends, Alexandre Manoel, sócio e economista-chefe da AZ Quest Investimentos, compartilha sua visão abrangente sobre a situação econômica do Brasil e os desafios que o país enfrenta. Com uma trajetória que abrange cargos no Governo Federal e na iniciativa privada, Manoel traz sua perspectiva única sobre as estratégias de investimento em um cenário marcado por incertezas globais e locais.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente.
Manoel destaca a importância da continuidade das políticas fiscais e a entrega de resultados primários para manter a confiança dos investidores. Ele também aborda as preocupações dos investidores em relação à sustentabilidade das contas públicas e à insegurança jurídica, especialmente para investimentos de longo prazo.
Alexandre Manoel será um dos palestrantes da 5ª Edição do Trends Experience, maior evento corporativo multissetorial do Nordeste. Este ano, o TE será realizado no dia 21 de agosto, no Etevaldo Nogueira Business, em Fortaleza, Ceará.
Confira abaixo a entrevista completa com Alexandre Manoel, sócio e economista-chefe da AZ Quest Investimento.
Trends: Primeiramente, gostaríamos de conhecer um pouco mais da sua trajetória. Conta pra gente quem é Alexandre Manoel.
Alexandre Manoel: Iniciei minha carreira executiva em 2003 como coordenador geral de Política Fiscal no Ministério da Fazenda (MF), a convite do professor Marcos Lisboa – então diretor de ensino na EPGE/FGV, que havia sido convidado para ser secretário de Política Econômica do MF. Havia concluído o mestrado na EPGE/FGV e era aluno de doutorado lá. Depois daquela experiência, tomei gosto por assuntos relacionados à política fiscal e ao setor público. Na sequência, passei no concurso de técnico de planejamento e pesquisa no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e, posteriormente, passei por diversos cargos no governo federal e na prefeitura de Maceió. Em 2016, voltei ao MF no importante cargo de subsecretário, a convite do ilustre amigo cearense Mansueto Almeida. Em 2019, continuei no Ministério da Economia, no time de outro ilustre amigo cearense, o Waldery Rodrigues, e do ministro Paulo Guedes. Nesta última passagem pelo governo, tive a oportunidade de me tornar secretário, presidir o Conselho de Administração da Dataprev e de ser membro do Conselho de Administração da Eletropaulo (Enel). No final de 2019, pedi para sair do governo para obter novas experiências profissionais, distribui currículos e vim parar no mercado financeiro, onde estou até hoje. Iniciei numa gestora pequena, a MZK investimentos, que foi vendida para a AZ Quest Investimentos, onde estou atualmente atuando como sócio e economista-chefe.
Trends: Como você avalia a situação econômica atual do Brasil? Quais são os principais desafios que o país enfrenta no momento?
Alexandre Manoel: Atividade econômica com desaceleração menor que as expectativas do início do ano, inflação convergindo para meta e governo entregando marco fiscal com limite de despesa, correção de rumos e incentivos para remover as distorções tributárias, cuja política econômica de continuidade tem sido reconhecida pelos investidores e agências de rating de crédito. O principal desafio é o governo entregar os resultados primários prometidos pela equipe econômica, na apresentação do arcabouço fiscal.
Trends: Diante das incertezas econômicas globais e locais, quais são as principais preocupações dos investidores em relação ao mercado brasileiro?
Alexandre Manoel: A maior preocupação do investidor local diz respeito à sustentabilidade das contas públicas. O estrangeiro considera também a insegurança jurídica e a questão ambiental em investimentos de longo prazo.
Trends: O Brasil é conhecido por sua volatilidade nos mercados financeiros. Como os investidores podem se proteger contra riscos e volatilidades ao investir no país?
Alexandre Manoel: No Brasil, é sempre importante discernir os ruídos da tendência. Se o investimento for em ações ou em fundos de private equity, é importante estudar/conhecer a empresa e ter paciência, pensar no médio e longo prazo.
Trends: O mercado de investimentos brasileiro tem se tornado cada vez mais competitivo. Como os investidores podem encontrar vantagens competitivas e oportunidades únicas neste cenário?
AM: Uma boa oportunidade são os fundos multimercados que englobam diversos ativos não apenas no Brasil, mas também no resto do mundo. Com vistas a encontrar oportunidades, é importante observar o histórico da gestora, em diferentes janelas, especialmente nos últimos 12 meses, considerando também o desempenho do fundo relativo ao desempenho da indústria. É importante também diversificar o portfólio, a fim de diminuir a volatilidade da carteira.
T: As taxas de juros têm sido historicamente altas no Brasil. Como a redução da taxa SELIC tem impactado as estratégias de investimento?
AM: Como o ciclo de cortes deverá ser longo, até que se verifique a convergência da Selic para o neutro, havendo incerteza quanto à taxa terminal de juros, em virtude da incerteza se o governo vai ou não entregar os resultados primários prometidos. Há uma tendência de o mercado acionário ter surpresa altista nesse ciclo, especialmente se a política fiscal entregar o prometido e a reforma tributária for aprovada e regulamentada.
T: O país passou por várias reformas econômicas nos últimos anos. Na sua opinião, como essas reformas têm influenciado o ambiente de investimentos e quais são os benefícios a longo prazo?
AM: O impacto das reformas microeconômicas é difícil de ser quantificado no curto prazo, em virtude da dificuldade de dados e do estabelecimento de grupos de controle. Contudo, tenho pouca dúvida que os economistas estejam ignorando os impactos da agenda microeconômica no crescimento do PIB brasileiro. Os efeitos dessas reformas sobre a atividade são visíveis nos vários segmentos reformados e, certamente, impactou o PIB potencial nacional. Vou dar apenas três exemplos de reformas aprovadas nos últimos seis anos: i) o marco do saneamento (que trouxe a perspectiva e a implantação de centenas de bilhões de investimentos na infraestrutura brasileira), ii) as apostas esportivas (que revolucionaram os patrocínios dos times do futebol, deslocando os patrocínios feitos anteriormente por estatais para outras atividades) e iii) a criação dos “Fiagro” (Fundos do Agronegócio do Brasil), que alavancou a indústria de fundos alternativos (de private equity), trazendo bilhões de recursos para o agronegócios e alavancando a já alta produtividade deste importante segmento da economia doméstica.
T: O investimento em startups e empresas de tecnologia tem sido uma tendência global. Como o cenário das startups brasileiras está se desenvolvendo e quais oportunidades elas oferecem aos investidores?
AM: No Brasil, ainda há pouco apoio para startups, temos pouca ou nenhuma tradição em termos de Project Finance, por exemplo, que é muito importante para alavancar boas e estruturadas ideias, com alto potencial de retorno. Daí, ser difícil gerar projetos bilionários a partir de startups sem um investidor-anjo, o que termina sendo um impedimento para o crescimento de empreendedores no Brasil. De qualquer forma, tem-se avançado bastante e as perspectivas são alvissareiras.
T: A sustentabilidade e o ESG (Environmental, Social and Governance) têm se tornado cada vez mais importantes para os investidores. Como o Brasil está se adaptando a essa tendência e quais empresas estão se destacando nesse aspecto?
AM: Há ainda uma dificuldade para as próprias empresas em entenderem o que significa atender a cada uma das letras do acrônimo ESG. Talvez o E de Environmental seja o menos complicado para atender, mas ainda há bastante incerteza quanto ao real significado (em termos empresariais) do que significa o S e o G, no que diz respeito à precisão do conceito. Do ponto de vista do governo, a narrativa e a explicitação de ações em relação ao cumprimento do E de Environmental melhorou bastante em relação ao governo anterior, o que deve trazer maior interesse do estrangeiro pelo mercado doméstico.
T: A educação financeira é um fator essencial para os investidores tomarem decisões informadas. Como você sugere que os investidores brasileiros se eduquem e se preparem para enfrentar os desafios do mercado de investimentos?
Há diversos cursos no mercado financeiro hoje em dia e o investidor deve iniciar focando no segmento que mais lhe interessa, ações, juros ou private equity, por exemplo. Além disso, sugeriria procurar um(a) bom(a) assessor(a) de investimentos e fazer muitas perguntas para ele(a), a fim de ir entendendo e estruturando os caminhos que mais lhe interessam. Investir é uma tarefa diária de reflexão, estudos e paciência.
Impacto da queda da Selic no mercado financeiro
Mercado Financeiro: urgência nas reformas é solicitada