A adoção da agenda ESG (Environmental, Social and Governance, ou em português: Ambiental, Social e Governança) no mercado brasileiro (privado e público) tem aumentado nos últimos anos, pois são muitos os impactos positivos no meio ambiente e na sociedade. O ESG, sem dúvida, é um componente importante para o crescimento dos negócios. O conceito integra a sustentabilidade, responsabilidade social e organizacional com a criação de valor econômico.
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Dos três pilares do ESG, um deles, o “S”, tem chamado a atenção, sobretudo quando ligado a área de Recursos Humanos (RH), apesar de abranger outros três aspectos: diversidade, cadeia de valor e sociedade. Aliás, o “S” obteve grande destaque no período da pandemia da Covid-19. O certo é que todos ganham: empresa, colaboradores e, consequentemente, a sociedade.
O pilar Social diz respeito as práticas com relação à responsabilidade social com os diferentes públicos, sejam eles funcionários, consumidores, parceiros, fornecedores, moradores da localidade (onde está situada a organização). De acordo com o ESG, empresas socialmente responsáveis se preocupam com o bem-estar das pessoas e trabalham para promover o desenvolvimento sustentável.
Algumas ações podem ser destacadas com o pilar social, como, por exemplo: adoção de práticas justas e éticas nos processos de contratação, remuneração e promoção dos funcionários; promoção da diversidade e da inclusão; condições de trabalho que preservem a saúde e a segurança dos funcionários; proteção dos direitos humanos em suas operações e cadeias de fornecimento; realização due diligence antes de fechar parcerias e a promoção do desenvolvimento da comunidade local.
De acordo com Diorela Kelles, em artigo publicado no Think Work Lab., as principais relações do ESG no RH dizem respeito ao modo como uma empresa se envolve com sua força de trabalho, com forte ênfase em uma cultura que incorpora a inclusão e diversidade enquanto encara questões de remuneração e igualdade social.
A recente pandemia (Covid-19) voltou o foco firmemente para o lado social do ESG, já que o vírus teve um grande impacto em empregados e sua maneira de trabalhar. Ainda assim, houve uma expectativa pública de que as empresas fizessem a coisa certa, evitando demissões e garantindo condições de trabalho em regime home office.
Questões sobre flexibilidade e bem-estar, saúde mental e engajamento dos funcionários, durante e após o período prolongado de isolamento, exigiu uma atenção rápida e até hoje é alvo de debates no meio corporativo. Isso colocou a agenda de RH diretamente na lista de prioridades da empresa e oferece uma oportunidade para os líderes dessa área assumirem a liderança nos esforços de recuperação e adaptação – observa Diorela Kelles.
Para ela, muitas das questões pertinentes para o RH são avaliadas para a formulação de uma boa pontuação ESG, como o equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos funcionários, recrutamento e retenção de pessoas, diferença de pagamento entre cargos, gestão de crises, etc. Já que as empresas adotam mudanças de forma a incorporar a resiliência para o desempenho de longo prazo, uma forte política pautada sobre as lentes ESG fará a diferença na gestão e sucesso da empresa no futuro.
O especialista em ESG e consultor da Ecovalor Consultoria em Sustentabilidade Luiz Goi afirma que a implementação do ESG no ambiente interno da organização, sobretudo voltado para o “S”, é difícil e bastante complexa, pois tudo começa na “dificuldade de desenvolver interesse nos colaboradores de fazer algo diferente do que fazia até então. Isso não é só com o ESG. Qualquer mudança de cultura tem essa mesma complexidade e conseguir conectar os valores da empresa com o dos colaboradores é primordial para garantir resultado efetivo nesse processo”.
O consultor reconhece que os benefícios oriundos da implementação do ESG são muitos, mas focando nos colaboradores existem diversas vantagens. Ao implementar ações de diversidade e inclusão por exemplo, a empresa começa a criar frentes de trabalho que fomentam a multidisciplinaridade e a visão de vários ângulos para tomada de decisões.
“Além disso, a empresa consegue desenvolver um compromisso conjunto com seus colaboradores e estes levam tal ideia para sua convivência, criando assim um ciclo virtuoso. Fora essas vantagens sociais ainda temos a maior retenção de talentos, que só é possível através de uma visão mais próxima dos colaboradores e também através de uma governança proativa que traz a todos uma visão de justiça”.
Luiz Goi, consultor da Ecovalor Consultoria em Sustentabilidade
Sobre se o comprometimento interno da empresa (proativa) deve ser de todos, dos mais simples aos proprietários, ou se isso é apenas sonho, Luiz Goi entende que o mundo ideal é que esse compromisso fosse tão intrínseco nas relações, que nem fosse preciso falar mais dele. Porém, sabemos que ainda vivemos em um mundo em evolução de maturidade e, com isso, se faz necessário desenvolver práticas que gerem esse engajamento conjunto.
Nesse contexto – frisa – independentemente de onde vem essa gestão, o importante é que os proprietários estejam plenamente comprometidos com a agenda e forneçam os recursos necessários para sua execução. Os colaboradores devem ser chamados a participar das discussões e compromissos, pois isso faz todos se engajarem e motivarem para um dia estarem completamente alinhados com esse propósito.
Para o consultor da Ecovalor, atuar com uma gestão de ESG move a empresa a ter um direcionamento único de várias frentes, “que de fato são valores na empresa e que podem fazer parte dessa agenda tão robusta. Desenvolver uma agenda ESG é mais uma forma de reafirmar seus compromissos e anseios visando a sustentabilidade empresarial”.
No Brasil, sobre a implantação do ESG, no setor privado o tema tem evoluído de forma exponencial, seja porque as empresas estão entendendo a vantagem de desenvolver boas práticas de ESG ou até mesmo porque seus clientes ou parceiros já começaram a solicitar esse movimento. “Com isso, estamos em fase de aprendizado conjunto de como as empresas vão ter a maturidade ideal nesse tema”. Já no setor público – opina – o ESG ainda é uma busca um pouco mais distante. Por mais que no mundo já existam regulações relacionadas ao tema, no Brasil ainda precisa ser desenvolvido muito material regulamentar para poder estabelecer políticas ESG claras.
Para concluir, ela afirma que as maiores dificuldades dentro do contexto da implementação do ESG estão, principalmente, em conseguir consolidar narrativas alinhadas com o chamado capitalismo de stakeholders (nome dado ao método ESG de fazer gestão, que nada mais é do que buscar gerar valor a todas as partes). “Essa complexidade está principalmente relacionada à dificuldade de uma empresa demonstrar suas ações gerando valor ao acionista e ao mesmo tempo conseguindo mostrar, para as demais partes interessadas, que elas também têm voz. Ainda vivemos um dilema de como conseguir gerar valor a todos e, principalmente, proteger a imagem das empresas”.
Ele garante que a dificuldade nesse processo é maior no convencimento de todos os envolvidos a se engajar nas agendas. Elaborar agendas ESG que consigam de fato estruturar uma cultura empresarial direcionada para tal contexto precisa de um alinhamento interno e externo muito robusto. Talvez esse seja o grande desafio: consegui engajar todos no proposito das agendas ESG – adverte Luiz Goi.
É o que defendem 82% dos executivos brasileiros. A agenda ESG é coletiva, mas precisa ser top-down primeiro – é o que aponta a Pesquisa Panorama ESG no Brasil, elaborada pela Amcham Brasil em parceria com a Humanizadas. Com 52% dos respondentes ocupando cargos de alta liderança, o levantamento mostra que na percepção desses executivos a agenda ESG deve ser liderada pelos CEOs das empresas juntamente ao governo, que também possui papel fundamental na consolidação do tema.
A pesquisa ainda destaca que, para 48% dos respondentes o maior desafio é conscientizar e capacitar equipes e lideranças sobre a importância das práticas ESG. Há um longo caminho rumo à maturidade dessa agenda no Brasil. Para acelerar essa jornada é papel das empresas: investir em educação corporativa e estabelecer uma cultura forte de responsabilidade ambiental e social. E é responsabilidade do governo criar incentivos e políticas públicas que estimulem a adoção das práticas ESG.
A pesquisa contou com a participação de 574 respondentes, representando empresas que, juntas, empregam mais de 486 mil pessoas e possuem um faturamento anual de aproximadamente R$ 762 bilhões. A maioria dos participantes ocupa cargos de liderança, como CEOs, VPs, sócios, conselheiros ou diretores (52%), atuando nas áreas de sustentabilidade, gestão de pessoas e administração. Grande parte das empresas representadas na pesquisa são de médio e grande porte (70%).
Empresas pioneiras e referências em ESG tendem a dedicar mais tempo à expansão de seus negócios, seja por meio de novos produtos ou novos mercados (59% dos inovadores contra 44% dos atrasados) revela a pesquisa. Isso destaca a importância de adotar uma abordagem proativa e inovadora no que diz respeito ao ESG. O Brasil está se aproximando do ponto de inflexão da agenda ESG, com 47% das organizações já implementando práticas ESG e 31% planejando aderir à agenda. Quando uma parte dessa maioria inicial aderir à agenda, mais de 50% do mercado estará desenvolvendo práticas ESG, o que indica que o movimento é irreversível.
O relatório apresenta conclusões importantes e implicações práticas para a esfera pública e privada, destacando a necessidade de acelerar a adoção das práticas ESG no mercado:
Primeiramente, o protagonismo das lideranças. Os líderes empresariais e governamentais desempenham um papel fundamental no incentivo à adoção de práticas ESG. A cooperação entre governo e setor privado é essencial para impulsionar a agenda ESG no país.
Em seguida vem a necessidade de capacitação e conscientização. Potencializar o conhecimento, experiência e cultura empresarial em sustentabilidade e ESG é um dos principais desafios enfrentados pelas empresas brasileiras. É preciso investir em capacitação de lideranças e colaboradores, bem como em educação corporativa voltada para o ESG.
A terceira conclusão é Mensuração e monitoramento de indicadores. O relatório revela que 38% dos respondentes enfrentam dificuldades na mensuração e monitoramento de indicadores ESG. Empresas e governo devem trabalhar juntos para desenvolver e implementar padrões e diretrizes claras para o acompanhamento de critérios ESG.
A quarta conclusão fala sobre a baixa maturidade das práticas ESG. A maturidade da agenda ESG no Brasil é uma corrida de longa distância, com vitórias já estabelecidas, mas com obstáculos a serem superados.
A quinta conclusão do relatório é o fortalecimento da cultura de sustentabilidade. As empresas devem continuar promovendo a conscientização e a sensibilização sobre a importância das práticas ESG e criar um ambiente propício para a implementação e o aprimoramento de tais práticas.
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