A julgar pelo número de leis, decretos, resoluções e projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, o Brasil está na rota da sustentabilidade. A ameaça é real. O Planeta está se transformando em uma espécie de “panela de pressão”. E as soluções passam pela conscientização das pessoas, das empresas e de atividades importantes como o agronegócio e a indústria, que terão que produzir mais com menores emissões de poluentes, preservando os recursos naturais, rumo ao baixo carbono.
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Neste cenário sombrio, de um lado, a Organização das Nações Unidas (ONU) projeta que até 2050 a população mundial chegará a 9 bilhões. De outro, a Organização Internacional de Energia (IEA) mostra que somente no ano passado, a atmosfera recebeu 36,8 bilhões de toneladas de CO². Fatos que requerem soluções urgentes capazes de interromper a assustadora trajetória dos adversos efeitos climáticos traduzidos por secas e inundações.
A Conferência das Nações Unidas Sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) estima um mercado de “pegadas verdes” da ordem de US$ 1,5 trilhão, podendo alcançar US$ 9,5 trilhões até 2030. Trata-se de uma respeitável soma, mas está concentrada, entretanto, nas grandes potências mundiais. A instituição preconiza que ganharão as empresas que adotarem saídas inteligentes e amigáveis ao meio ambiente, a exemplo do que aconteceu em revoluções anteriores como industrial e a tecnológica.
Transição Energética
Um dos enormes desafios a serem enfrentados é o da transição energética. A matriz energética brasileira tem inovado e se reinventado nos últimos anos, oferecendo soluções como biogás, biometano e etanol de cana-de-açúcar e de milho. Formado em Engenharia de Produção e Direito, o consultor Legislativo do Senado para as áreas de Minas e Energia, Paulo Alberto Alonso Viegas, diz que é preciso repensar e otimizar a utilização de bens e serviços produzidos a partir de recursos naturais.
Para isso, Viegas aponta várias alternativas, entre as quais cita a promoção de maior eficiência energética nas máquinas e equipamentos, a racionalização do uso do solo e da água e, ainda, a aceleração de processos na economia circular, todas contempladas em diferentes projetos.
Ele também concorda que a modernização de sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia como vitais. “O Brasil já tem uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo baseada na hidroeletricidade, o que lhe garante um diferencial ao enfrentamento das emissões de gases de efeito estufa”, disse. Ele lembra que nos últimos anos as fontes limpas (elétrica, eólica, offshore, solar e fotovoltaica) cresceram muito, apesar da ainda alta dependência energética.
A novidade é o hidrogênio verde. O tema entrou em pauta motivado fortemente pela Europa, que tem sinalizado sua pretensão de realizar leilões de compras internacionais em substituição ao gás natural, por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia.
A Europa quer se tornar menos dependente dos hidrocarbonetos vindos da Rússia. Por esta razão, está financiando este tipo de projeto, o que abre espaço para o hidrogênio verde produzido no Ceará e embarcado pelo Porto de Pecém, um dos projetos mais avançados, segundo Viegas, que recomenda acelerar a regulamentação para aproveitar a oportunidade.
Ações ambientais
Também consultor do Senado para a área de Economia e Agricultura, Marcus Peixoto, Doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, diz que “o Brasil conta com um conjunto complexo de ações ambientais”. O mais importante, a seu ver, são os projetos de lei que tratam da regulamentação do mercado brasileiro de redução de emissões, o chamado MBRE, previsto na Lei da Política Nacional de Mudanças Climáticas de 2009.
Peixoto lembra que, embora não seja lei, há mais de 10 anos o Brasil instituiu o Programa Agricultura de Baixo Carbono, uma das iniciativas para a descarbonização, da mesma forma que todas os tipos de desmatamento (legal e ilegal), que, combatidos, reduzem as emissões pelo aumento da massa verde no reflorestamento.
Agronegócio
No Brasil, embora o movimento em direção ao baixo carbono seja crescente e de vários setores produtivos, há muitas iniciativas, notadamente em áreas mais sensíveis como o agronegócio, que responde direta ou indiretamente por 70% das emissões no País, segundo levantamento do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
A relevância brasileira como produtor mundial de alimentos atrai os olhares do mundo. Desde abril, a União Europeia criou barreiras à entrada de commodities originadas do desmatamento. Isto afeta em cheio o Brasil como exportador de carne bovina, soja, café, óleo de palma e até mesmo madeira. A exigência passa a valer no segundo semestre de 2024, após 18 meses de tolerância e adaptação à decisão.
Em resposta, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, afirmou que “é preciso liderar a regulamentação do mercado de carbono, além da produção de alimentos e energia”. Carvalho acrescenta que “o Brasil tem um desenvolvimento robusto da ciência tropical, diferentemente de outros países que adaptaram a ciência temperada sem a mesma competitividade”.
“O Brasil tem todas as condições para liderar o processo de transição energética e não pode ficar fora das discussões globais sobre o tema”. A afirmação é do ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, em reunião conjunta do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Cosag/Fiesp) e da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
A seu ver, a economia verde vai gerar muitas oportunidades e que é fundamental definir uma estratégia de longo prazo para liderar a transição. E argumenta: “Temos cobertura verde, potencial de sequestro de carbono, estrutura produtiva no agronegócio, produção de biocombustíveis e energia limpa em uma matriz com 85% de energia renovável”, listou, em contraposição ao déficit de energia limpa dos principais mercados.
Pesquisa da consultoria McKinsey com 5,5 mil produtores agrícolas revelou que o agro brasileiro está na vanguarda de digitalização, com as propriedades rurais utilizando os canais digitais para aquisição de produtos, insumos e máquinas. E que para atender a demanda de proteína animal, carboidratos e fibras, levando em consideração o sequestro de carbono e a proteção de biomas, será preciso uma quantidade de terras em hectares equivalente ao território do Brasil.
O sócio sênior Nelson Ferreira atesta, pelos dados pesquisados, a liderança do Brasil em agricultura regenerativa, tanto no plantio direto e na integração lavoura-pecuária, como no uso de fertilizante de taxa variável e, ainda, na área de controle biológico, bioestimulante e biofertilizante.
A Bayer, em parceria com a Embrapa, é uma das Companhias que avança no assunto com o programa PRO Carbono, que tem procurado compreender as práticas sustentáveis que levam maior produtividade, menor pegada de carbono e maior sequestro de carbono de 1,9 mil produtores rurais do país. “Os agricultores estão ávidos por inovação, e estamos trabalhando em conjunto para conhecer todos esses aspectos”, diz a CEO Malu Nachreiner.
Produtos sustentáveis lideram vendas online
Para quem duvida do valor da sustentabilidade nas decisões de compras, convém saber que o consumo online de produtos sustentáveis cresce 40% no Brasil, revela pesquisa “Tendências de consumo online com impacto positivo”, divulgada pelo Mercado Livre. O percentual é superior à média da América Latina, cujo crescimento foi de 30%. Os dados foram coletados no período de abril de 2022 a março 2023, entre os milhares de usuários do Mercado Livre no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai.
O estudo aponta que mais de 4,4 milhões de pessoas compraram mais de 7,6 milhões de produtos considerados sustentáveis na América Latina no ano passado. No Brasil, foram adquiridos 4,2 milhões de itens de impacto positivo, isto é, 55% do total desses produtos vendidos na região. Em mais um ano, os dados reforçam a crescente demanda no país por produtos que gerem benefícios para o planeta e para as pessoas, em busca de um estilo de vida e hábitos mais sustentáveis.
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