Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil chegou a junho deste ano a uma legião de 8,6 milhões de desempregados, além de mais 3,7 milhões do que se convencionou chamar de desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar emprego por diversas razões. O dado é preocupante, embora, pelo acompanhamento mensal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego venha caindo, ainda que muito lentamente não acompanhando os índices de recuperação da economia.
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Em julho, foram criados 142.702 empregos com carteira assinada, resultado das 1.883.198 admissões e dos 1.740.496 desligamentos no mês. Houve uma queda de 8,9% sobre junho deste ano e 36,6% sobre julho de 2022. As vagas criadas estão assim distribuídas:
É o mercado de trabalho com seus avanços e recuos. As áreas técnicas são as que têm maior dificuldade em contratar, conforme acompanhamento de consultorias e headhunters. A oferta existe em atividades mais complexas como eletrônica, edificações, automação e as engenharias até as mais simples como sapateiros, pedreiros e eletricistas. Também passa por operadores de produção, representante de vendas e motoristas, onde o conhecimento técnico é cada vez mais exigido por conta da modernização dos veículos.
Há ocupações disponíveis para diminuir significativamente os índices de desemprego no País, mas faltam profissionais qualificados e preparados para ocupar estas posições, dada a complexidade do novo mercado de trabalho. A afirmação de Juliana Genevieve, professora de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vem acompanhada de sugestões direcionadas a empregadores e empregados (ou desempregados). Ela observa que a pandemia provocou transformações não só nos modelos de trabalho (remoto, híbrido, jornada de 22h, meio expediente).
A Covid-19 também escancarou inúmeras oportunidades nos negócios. O horizonte de empregos se voltou para a tecnologia, o que exige a reinvenção tanto de empregadores como de trabalhadores, da mesma forma que de governos e de sindicatos, dentro da visão de que as mudanças oferecem bônus e ônus.
“Por que não atualizar a legislação trabalhista para esta nova realidade”, questiona ela, referindo-se a jornadas intermitentes e meio turno, opções capazes de atender, por exemplo, o universo feminino que pode desempenhar seu duplo papel de mãe e profissional.
A professora da FGV também atribui ao empregador a responsabilidade de se envolver cada vez mais na formação e preparação de colaboradores mais qualificados, em parceria com a rede já existente, citando o Sistema S (Sesi, Senac e Senai). “Ou promovendo seus próprios cursos, como fazem muitas empresas que entenderam a nova realidade e querem preservar seus talentos”, ilustra.
Outra questão levantada por Juliana Genevieve envolve a busca de ocupação via Sistema Nacional de Empregos, o SINE, que é destinado a todos os níveis de candidatos e não apenas a funções menos qualificadas. Ela lembra que há um aplicativo que facilita o preenchimento das vagas com maior efetividade, que precisa ser reconhecido e usado.
“Basta olharmos para fora para percebermos que o mundo vive um momento de grandes oportunidades que beneficiará quem souber aproveitá-las”, afirma, acrescentando que ao invés de transferir a culpa para o outro (empresas, governos e trabalhadores) é preciso assumir um papel colaborativo capaz de reduzir as desigualdades.
Pensamento semelhante vem do presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos de São Paulo (ABRH-SP), Luiz Drouet. O Brasil vive transformações tecnológicas sem precedentes, o que exige permanente qualificação profissional em todas as áreas de atividade. O fato, entretanto, impacta especialmente os jovens em processo de inserção no mercado de trabalho. “É urgente que as companhias invistam em ações para atrair, manter e formar os jovens, considerando suas múltiplas realidades e a diversidade”, afirma Drouet, lembrando que esta já é uma preocupação presente no mundo corporativo internacional.
Ele cita como balizador desta realidade o estudo recente “O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”, realizado pelo Itaú Educação e Trabalho, Juventudes Potentes, Fundações Roberto Marinho, Arymax e Telefônica Vivo. A pesquisa mostra que o maior volume de empregos está nas chamadas economias emergentes, como a verde, mas que até mesmo para estas carreiras os jovens podem não estar preparados. “As juventudes representam uma potência para a economia e nós estamos perdendo ou aproveitando pouco por inação”, diz ele, defendendo urgência na qualificação e requalificação em larga escala.
Na visão de Janete Bezerra, presidente da ABRH do Ceará e fundadora e CEO da Cemre Consultoria, “a rapidez do desenvolvimento da tecnologia exige habilidades específicas, afastando do mercado aqueles que não têm acesso a treinamentos para aprimorar sua competência”. E aponta a instabilidade econômica, alta carga tributária, excessivas regulamentações trabalhistas e até infraestrutura inadequada como causas que tornam onerosa a contratação de novos funcionários.
Janete manifesta preocupação também com a geração “nem-nem”, que nem trabalha e nem estuda, e que representa 36% dos jovens brasileiros (entre 18 e 24 anos). Relatório Education at a Glance, de 2022, aponta o Brasil como o segundo de um total de 37 países analisados, com a maior proporção de jovens nesta condição.
O fato é que as empresas têm investido em inovação e tecnologia para acelerar seu crescimento e contratam pessoas com conhecimentos especializados e qualificados. Para isso, Janete Bezerra lembra que o Brasil tem políticas públicas direcionadas à melhoria do ambiente de negócios, ao incentivo a investimentos e à qualificação da mão de obra. E cita, entre outras iniciativas, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger) que disponibilizam linhas de crédito para empresas de pequeno porte, além do Programa de Incentivo à Inovação para os setores de tecnologia.
Jerônimo Lima, presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Consultores (ABCO), diz que o desemprego persiste por diversos fatores, a começar pela pesada burocracia que dificulta o empreendedorismo, além de questões tributárias. Ele também fala na falta de qualificação profissional em algumas áreas específicas, o que exige treinamento. E cita como outros obstáculos a excessiva regulamentação trabalhista e os encargos sociais expressivos.
Lima admite que há esforços para atacar o desemprego, mas ainda insuficientes. E aponta como soluções a flexibilização da legislação trabalhista e a simplificação do sistema tributário. “Essas reformas podem criar um ambiente mais propício para os negócios e estimular o crescimento econômico”, comenta, citando, ainda, a necessidade de investir cada vez mais em capacitação e treinamento.
“A atual situação de desemprego no Brasil exige uma ação conjunta e eficaz de todos os setores da sociedade, envolvendo o governo, a iniciativa privada, instituições educacionais e a sociedade em geral”, conclui.
Estudo da economista da Superintendência Adjunta de Ciclos Econômicos (SACE) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), Anna Carolina Gouveia, traz uma boa notícia. O Indicador de Incerteza Brasil (IIE-BR) do FGV-IBRE recuou pela quarta vez seguida em julho de 2023, atingindo 103,5 pontos, o menor nível desde novembro de 2017 e que se aproxima da média histórica de 100 pontos. Isto sinaliza que a incerteza deixa de ser fator limitador aos investimentos ou contratações no país.
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