Referência mundial no agronegócio pela alta produtividade, o Brasil ainda engatinha no uso de ferramentas da inteligência artificial por falta de uma maior conectividade que alcance o campo em suas mais longínquas propriedades para transformar dados em informações relevantes. Neste contexto, o Ceará pode se destacar justamente pelo seu cinturão digital de 140 mil km de fibras óticas e pela meta de até 2030 superar os 90% da área rural coberta pelo sistema 5G, permitindo a utilização de tecnologias disruptivas.
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Por um lado, sabe-se que o meio rural já consolidado, formado por grandes produtores e exportadores, convive com avançadas máquinas e equipamentos agrícolas, como tratores e colheitadeiras inteligentes, celulares, tablets e notebooks, drones e sensores que auxiliam nas rotinas e potencializam os negócios. À margem, há um universo de pequenos e médios agricultores e pecuaristas onde a tecnologia de ponta ainda não passou pelas porteiras, pelo menos não ainda no nível necessário.
A Agropecuária 4.0 é uma realidade quando considerado o contexto global de implementação de tecnologias da chamada Indústria 4.0 na produção de alimentos, fibras e energia no meio rural, iniciado em 2017. Mas não dá para generalizar. Para Diego de Oliveira, coordenador da Assessoria de Inteligência Estratégica do Instituto CNA da Confederação Nacional da Agricultura, há heterogeneidade nos modelos de negócios rurais no Brasil.
“O Agro 4.0 está presente nos perfis produtivos que já incorporaram o uso de Internet das Coisas (IoT) para coleta e transmissão de dados, análises de grandes volumes de dados (Big Data), classificação e processamento de dados em Nuvem – que, juntos, geram informações mais acuradas para a tomada de decisão”, afirma ele. E lembra que a conectividade, componente importante da agropecuária digital, está presente em cerca de 30% dos estabelecimentos, de acordo com o Censo Agropecuária 2017.
As tecnologias 4.0 estão disponíveis para todos os perfis de produtores rurais, pela sua incorporação em processos de gestão, implementação de tecnologias 4.0 em maquinários e implementos. Também inclui produtos e serviços que possam gerar informações estratégicas após análises de grandes volumes de dados gerados no processo de produção, mas a população brasileira ainda está aquém no que tange as habilidades digitais, quando comparada a outros países.
Por essa razão, o Sistema CNA/Senar/ICNA está empenhado em ofertar capacitações sobre a temática, além de assistência técnica e gerencial, compartilhamento de informações estratégicas e também no apoio para o desenvolvimento e difusão de novas tecnologias.
A tese de que falta a cultura digital é sustentada por Fábio Feijó, secretário executivo de Comércio, Serviço e Inovação da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará. Tecnólogo com certificação executiva em Liderança por institutos renomados como o MIT, Feijó acredita na transformação pela educação, no caso, a educação rural. A seu ver, os filhos dos atuais produtores rurais é que serão os agentes da transição.
“Neste sentido, o Ceará pode sair na frente pelo fato de serem cearenses 13 das 20 melhores escolas de ensino fundamental do Brasil. E Sobral, por exemplo, já esteve seis vezes consecutivas na primeira posição neste ranking”, ilustrou.
Também considera o Ceará um “oásis em conectividade”, graças ao cinturão digital de fibra ótica que começou com 8 mil km e chegou a 140 mil km, conectando mais de 75% dos municípios. Com esta condição, a expectativa é de chegar em 2030 com mais de 90% da área rural coberta pela tecnologia 5G.
“Os investimentos públicos e privados estão sendo realizados, mas é preciso reforçar o letramento e a educação digital da atual geração para que em sete a 10 anos possamos usufruir das potencialidades da inteligência artificial no campo”, afirma o secretário Fábio Feijó.
O pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical de Fortaleza, Cláudio José Reis de Carvalho concorda que a inteligência artificial é uma realidade ainda restrita à agricultura industrial e muito distante das pequenas e médias propriedades. Mesmo assim, explica que a inteligência artificial não atua sozinha. Ela resulta de dados neurais vindos de cada um dos canais (máquinas agrícolas, sensores ou drones) a serem processados e que vão gerar padrões. ”Os dados têm que ser transformados em informações”, afirma.
“O solo não fala e, em geral, é desprovido de internet”, comenta o especialista em fisiologia vegetal da Embrapa, para mostrar sua preocupação com a falta de conectividade no campo como o maior desafio a ser enfrentado, especialmente pela iniciativa privada que deve investir em infraestrutura tecnológica. Para ele, há ambiente propício para um maior avanço porque o agricultor brasileiro não tem resistências a inovações. Ele quer aplicativos úteis para seu negócio.
Assim como na indústria, o campo trilha um caminho sem volta onde o trabalho manual é substituído pela tecnologia. Entram em cena os benefícios da inteligência artificial como forma de garantir competitividade. Ao detectar pragas, plantas daninhas e doenças precocemente, a inteligência artificial reduz a dependência de pesticidas e herbicidas. Também é aliada na redução do consumo de fertilizantes e demais insumos, ao mesmo tempo em que poupa a atmosfera com a emissão de menor volume de carbono.
O cardápio de tecnologias digitais é vasto. Além da inteligência artificial, há outras como a utilização de drones e satélites com capacidade de monitorar as propriedades rurais e apontar com precisão a necessidade de correção do solo. Também a robótica já está presente em rotinas básicas como a ordenha de vacas ou na colheita de frutas.
Os sensores são realidade no rastreamento da cadeia de abastecimento alimentar. Quem imaginaria uma prótese para um animal de genética melhorada ser feita numa impressora 3D? Todas as opções, incluindo o armazenamento de dados em nuvem, requerem conectividade, onde o 5G figura como estrela maior. Sem ela, a necessária revolução na agropecuária ficará comprometida.
Muitas soluções estão vindo de startups que integram o ecossistema de inovação no campo e que já são mais de 1.700, conforme o Radar Agtech. Segundo a Associação Brasileira de Startups, a aplicação de dados, a inteligência artificial e a Internet das Coisas estão entre as tecnologias mais usadas pelas startups do ramo.
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