Quando se fala em tendências, imagina-se o uso da tecnologia associada ao meio ambiente em benefício das pessoas e da viabilidade do negócio. Assim tem sido com a construção civil, onde os novos materiais marcam presença, caso do drywall, tijolos e tintas ecológicos, steel frame, entre outros, além de tecnologias como a 3D. Construtores, engenheiros e arquitetos acompanham, ainda em desenvolvimento nos laboratórios, o avanço da nanotecnologia, oferecendo alta produtividade e redução de emissão de gases e do consumo de água na produção do cimento, por exemplo, um dos principais insumos da obra.
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A indústria da construção civil passa por uma revolução a nível global impulsionada não só pela evolução da tecnologia de forma geral. As inovações vêm também dos novos materiais que melhoram o processo construtivo dentro do conceito mais amplo da construção civil 4.0. Em decorrência, entre os benefícios mais visíveis estão o aumento expressivo na velocidade das obras, a redução do desperdício de materiais e a otimização do uso com maior resistência e menor peso.
Já presente em áreas como eletrônica e painéis solares, na indústria têxtil e cosmética e em equipamentos esportivos ultrapassando 800 diferentes produtos na indústria em geral, a nanotecnologia dá os primeiros passos na direção da construção civil.
Entretanto, na prática, em escala real de edificações, a nanotecnologia ainda é muito incipiente no mundo e no Brasil. O tema está sendo estudado em laboratórios brasileiros, caso da Universidade Federal do Paraná, que se aprofunda no uso de agentes autocicatrizantes e nanotubos de carbono para concreto.
Na iniciativa privada, em 2021, a Gerdau, gigante do aço, criou a Gerdau Graphene para desenvolver e comercializar produtos com a aplicação de grafeno, uma forma de carbono cristalizado semelhante ao grafite e ao diamante que, ao ser incorporado ao aço, aumenta em até 50 vezes a vida útil da estrutura levando a menores manutenções. Em 2022, lançou a seu primeiro aditivo químico para o mercado de tintas, sendo a primeira tinta imobiliária à base de água e com grafeno no mundo. Recentemente, apresentou a nova embalagem da linha de pregos que utiliza 1% do Poly-G.
Concreto em 3D
Quem participa dos estudos avançados na área do cimento é o brasileiro Ricardo Pieralisi. O professor do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná, atualmente como professor visitante da Loughborough University, na Inglaterra, se dedica ao desenvolvimento de processos avançados de automatização na construção civil, principalmente relacionados à impressão 3D do concreto, que envolve materiais, automação e estruturas.
A nanotecnologia aplicada na construção civil já tem presença em alguns materiais. O desenvolvimento e uso de nanomateriais de reforço, como nanotubos de carbono e nanopartículas de sílice, estão sendo incorporados tanto em concreto e argamassa, quanto em polímeros para melhorar a resistência, a durabilidade e capacidades de autocicatrização desses materiais. “Menos poroso, o concreto ganha em resistência e durabilidade e, por decorrência, diminui a necessidade de manutenção”, explica.
Em seus estudos, o professor Ricardo Pieralisi enaltece o poder da nanocílica, uma partícula de 100 a 1000 vezes menor que uma partícula de cimento, que consegue chegar onde o concreto não chega. Resultado: menos permeável, o concreto evita a entrada de agentes agressivos que levam à corrosão. “Com maior resistência mecânica é possível fazer peças menores, como pilares, otimizando o uso de materiais”, diz ele.
Nanotecnologia com eficiência energética
A nanotecnologia está sendo usada para melhorar a eficiência energética de edifícios, através de isolamento avançado. Também melhora o isolamento térmico com consequente redução de consumo de energia para fins de conforto térmico. Em construção com muito vidro também é possível aplicar esta tecnologia como isolamento térmico e por nanocamadas usadas como células solares integradas às superfícies de construção.
Há, ainda, muitas pesquisas para o desenvolvimento de revestimentos com nanotecnologia para repelir sujeira contendo o crescimento de micro-organismos e bactérias. As superfícies se tornam autolimpantes e autodesinfetantes, importantes na parte de captação de energia eólica e suas enormes pás que apresentam problema de durabilidade. As nanocerâmicas nas superfícies metálicas possibilitam maior aderência das tintas, além de proteger da corrosão.
Ao contribuir para o surgimento de mecanismos cada vez mais sofisticados e precisos, a nanotecnologia gera sensores capazes de indicar a necessidade de medidas corretivas em estruturas e outros que controlam sistemas elétricos e mecânicos monitorando temperatura, fumaça e ruído. A solução alcança outros itens como vidros antifogo, esquadrias com revestimento nanocerâmicos e as telhas sem amianto e solventes biodegradáveis, usados na limpeza pesada como a remoção de óleos e graxas.
“Tudo ainda é muito rudimentar”, comenta o presidente da Comissão de Tecnologia da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Dyonisio Klavdianos. A seu ver, a construção civil poderá se beneficiar do avanço já existente em fornecedores, especialmente de atuação internacional, cuja escala justifica os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. “A indústria química, por exemplo, é uma grande fornecedora de insumos que pode ser a porta de entrada da construção para o mundo da nanotecnologia”, exemplifica ele. Nesta condição, Klavdianos acredita que quanto mais global for a empresa detentora da tecnologia, maior será a velocidade de acesso às inovações.
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