Estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE) apontam para US$ 1 trilhão ao ano até 2050 a necessidade de financiamento envolvendo projetos de energia sustentável, somente considerando os países emergentes. Somente no Brasil são mais de 1000 empreendimentos com previsão de operação até 2027 que deverão gerar mais de 46 GW de potência, um estoque que vai exigir uma rede de distribuição bem maior e, de novo, requer financiamento compatível.
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Neste contexto, o Brasil vive um momento de grandes oportunidades e também de enormes desafios. Rico em terras, rios, sol e vento como fontes alternativas limpas, o País, que já é referência mundial, pode ser protagonista na transição energética. Mas precisa viabilizar os projetos que enfrentam elevadas taxas de juros. O capital não se aventura ao risco, embora o sistema financeiro público e privado disponibilizem recursos.
É o caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição de fomento acaba de assinar memorando de entendimento com o banco alemão KfW IPEX-Bank, que envolve apoio de nada menos que 1 bilhão de euros nos próximos cinco anos para cofinanciamento a projetos de transição energética, clima e proteção ambiental.
O acesso ao crédito engloba empreendimentos que resultem em soluções focadas em energias renováveis, captura de carbono, frotas de ônibus eletrificados, logística, digitalização, semicondutores e também alcança a área de saneamento. Dentro do amplo conceito de sustentabilidade, as iniciativas poderão usufruir de empréstimos, garantias e outros mecanismos financeiros, priorizando oportunidades de investimento em que empresas alemãs e europeias estejam envolvidas para apoiar e promover suas atividades comerciais no Brasil.
Para a diretora-presidente do KfW IPEX-Bank, Belgin Rudack, a ideia é “promover o desenvolvimento e a transformação da economia brasileira em uma base sustentável”. Para isso, conforme Luciana Costa, diretora da Área de Infraestrutura, Transição Energética e Mudanças Climáticas do BNDES, a parceria tem o objetivo de apoiar ou desenvolver tecnologias existentes e futuras.
Outro acordo do BNDES foi assinado com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU). Em cooperação técnica, as duas instituições vão elaborar pesquisas e publicação de trabalhos que tragam sustentação à neoindustrialização e novas políticas para o desenvolvimento produtivo, baseadas na transição ecológica e na transformação digital.
Além de financiar as chamadas energias limpas, o BNDES oferece recursos do Fundo Clima, que apoia projetos ou estudos e financiamentos de empreendimentos que tenham como objetivo a mitigação das mudanças climáticas. Com valor máximo de R$ 80 milhões/ano por beneficiário, o Fundo tem nove subprogramas contemplados: mobilidade urbana, cidades sustentáveis e mudança de clima, máquinas e equipamentos eficientes, energias renováveis, resíduos sólidos, carvão vegetal, florestas nativas, gestão e serviços de carbono e, por fim, projetos inovadores que melhorem a gestão de emissões de carbono ou que efetivamente reduzam as emissões de gases de efeito estufa.
Dinheiro caro
Com mais de R$ 163 bilhões em investimentos desde 2012, o setor de energia solar no Brasil é um dos que mais avançam na área de energia sustentável, já respondendo por 15% da matriz energética do País. Segundo Jonas Becker,coordenador estadual no Ceará da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), projetos não faltam. Faltam linhas de financiamento a custos viáveis. “As taxas de juros que já foram de 6% ao ano duplicaram e passam de 12%”, observa, condição que afugenta os investidores que contam com alternativas bem mais atraentes e seguras para investirem seu dinheiro.
“Por ser parte do setor de infraestrutura, o setor elétrico depende de financiamentos que existem tanto em bancos de desenvolvimento, como comerciais, porém com juros altos”, afirma Jonas Becker, sabendo que este é o atual momento de mercado. Para ele, este é o maior desafio para o avanço na transição energética, que vivencia expansão no mercado livre e na geração distribuída.
Ele também aponta urgência em modernizar o sistema de distribuição com maior digitalização dos processos porque qualquer que seja a opção do consumidor, passa pela distribuidora, gestora e dona deste ativo público.
Mais otimista, o consultor Pedro Fiuza, da BLP Servitec, diz que em apenas 10 anos o Brasil chegou ao clube dos 10 maiores do mundo na geração renovável, principalmente eólica e solar com potência instalada de 20 GW e 32 GW, respectivamente. Simultaneamente, avançou nas fontes de financiamento, reduzindo a dependência dos bancos estatais como BNDES, Banco do Nordeste e Baza, que continuam sendo fontes muito importantes de financiamento, notadamente no Nordeste. “Hoje o País consegue financiar boa parte dos projetos de geração de energia sustentável no mercado de capitais, principalmente por meio das debêntures de infraestrutura, um mecanismo financeiro que incentiva as pessoas físicas a investirem em papéis isentos do recolhimento e do imposto de renda”, explica.
Fiuza entende que a balança de crédito está bem equilibrada entre bancos de fomento, bancos de desenvolvimento e mercado de capitais, lamentando que o custo do dinheiro continue sendo o mais alto do mundo. O fato impacta nas tarifas e na remuneração do capital investido nas usinas. O diferencial favorável ao Brasil é a diversificação de fontes.
Natureza preservada
O caminho é longo e fértil, afinal, quase 45% da matriz energética brasileira é considerada renovável, uma das mais altas do mundo, conforme o Balanço Energético Nacional de 2022, da Empresa de Pesquisa Energética. O fato exige oferta abundante de crédito, que chega a US$ 1 trilhão ao ano até 2050, pelas estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE), somente considerando os países emergentes.
A depender do Programa de Aceleração do Crescimento, lançado em agosto, os investimentos públicos em infraestrutura serão triplicados. Dentro dele está o Plano de Transição Ecológica formatado para garantir que o Brasil cumpra as metas do Acordo de Paris, onde constam recursos da ordem de R$ 540 bilhões em investimentos, dos quais os bancos públicos poderão aportar R$ 440 bilhões.
Analisando os últimos cinco anos, o Banco do Nordeste disponibilizou mais de R$ 30 bilhões para o financiamento de projetos de geração de energia sustentável. Assim como outras instituições, individualmente, fazem suas ofertas neste promissor mercado. O fato é que, de novo, os setores público e privado terão que colocar as fichas na mesa juntos. Pelo futuro do Brasil e do Planeta.
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