A indústria brasileira – e as empresas de todas as atividades minimamente conscientes – estão avançando na agenda de sustentabilidade porque entenderam que as práticas sustentáveis em seus processos e produtos fazem parte da estratégia corporativa. Mas atenção: as desigualdades econômicas podem aumentar à medida que os países desenvolvidos colhem em maior potencial os benefícios de novas tecnologias e tecnologias verdes, como inteligência artificial, Internet das Coisas e veículos elétricos. O alerta, com pedido de maior coerência, é da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED).
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“Estamos no início de uma revolução tecnológica baseada em tecnologias verdes“, afirma a secretária-geral da CNUCED, Rebeca Grynspan, certa de que esta nova onda tecnológica terá um impacto enorme na economia global. Ela entende que os países em desenvolvimento devem capturar mais do valor que está sendo criado nesta revolução tecnológicapara fazer crescer suas economias.
Lacuna tecnológica
Estimativas da CNUCED publicadas no Relatório de Tecnologia e Inovação 2023 indicam que as 17 tecnologias de fronteira analisadas no relatório podem criar um mercado de mais de US$ 9,5 trilhões até 2030 – cerca de três vezes o tamanho atual da economia indiana.
O fato destoante, entretanto, é que as economias desenvolvidas estão aproveitando a maioria das oportunidades até agora, aumentando o fosso que as separa das economias em desenvolvimento. Um exemplo: as exportações totais de tecnologias verdes dos países desenvolvidos saltaram de US$ 60 bilhões em 2018 para mais de US$ 156 bilhões em 2021. Enquanto isso, as vendas externas dos países em desenvolvimento passaram de US$ 57 bilhões para apenas US$ 75 bilhões, com perda de participação nas exportações mundiais, que caiu de mais de 48% para menos de 33%.
Brasil busca reações
A análise da CNUCED mostra que os países em desenvolvimento devem agir rapidamente para se beneficiar dessa oportunidade e avançar para uma trajetória de desenvolvimento que leve a economias mais diversificadas, produtivas e competitivas. A indústria brasileira sabe que mais do que uma opção, é a certeza de que as soluções verdes e as práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), em todo o seu espetro de iniciativas, é o caminho da sobrevivência no mercado interno e também a garantia de maior participação no mercado internacional.
Agenda nova
O tema sustentabilidade industrial busca comprovar que a lucratividade pode e deve andar lado a lado com a preservação ambiental. Este tem sido o direcionamento dado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) como liderança do segmento, quando aborda eficiência energética e hídrica, gestão de resíduos, entre outras pautas que tratam da questão ambiental e social. Mas também falam diretamente de redução de custos.
Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, entende que a competitividade com sustentabilidade já é perceptível nas rotinas domésticas comprodutos cada vez mais concentrados, alguns eletrodomésticos cada vez mais eficientes em termos de energia, e máquinas de lavar que precisam de menos água para limpar a mesma quantidade de roupa. “A indústria nacional está presente no nosso dia a dia, em termos de inovação e tecnologia, e com certeza esta realidade coloca o Brasil, a partir das suas vantagens comparativas, no destino de vários investimentos internacionais”, garante ele. E vai além, lembrando que o Brasil já está integrado a agendas novas como as do hidrogênio e captura de carbono em regiões bastante importantes, como os Estados do Nordeste, particularmente o Ceará.
Bomtempo também cita o Rio Grande do Norte, a Bahia, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro, já com plantas sendo construídas, além de outras encaminhadas dentro do Rio Grande do Sul. “Esta é uma característica que vem sendo cada vez mais aproveitada no Brasil”, lembra ele, defendendo a necessidade de endereçar algumas barreiras que vêm prejudicando de certa forma a realização desses investimentos.
Potencial enorme
Sabe-se que é enorme o potencial de oportunidades. Pelo Relatório da CNUCED, as tecnologias de fronteira verde, como veículos elétricos, energia solar e eólica e hidrogênio verde devem atingir um valor de mercado de US$ 2,1 trilhões em 2030 – quatro vezes maior do que o atual. O mercado para veículos elétricos pode aumentar cinco vezes (de US$ 163 bilhões para US$ 824 bilhões) até 2030.
A CNI concorda com a ONU quanto à necessidade de políticas públicas que estimulem a nova economia, que trabalhem melhor um arcabouço regulatório, que tratem de regras claras e que ofereçam maior segurança jurídica. A recomendação da ONU aos governos vai além e cita a necessidade de políticas proativas industriais, de inovação e de energia voltadas para as tecnologias verdes. “Os países em desenvolvimento precisam de agência e urgência para chegar às respostas políticas certas, capazes de aumentar sua resiliência a crises futuras e para levar a um crescimento econômico sustentável”, comenta Shamika N. Sirimanne, diretora da divisão de tecnologia e logística da CNUCED.
No que tange a financiamentos, a CNI aponta a necessidade de uma agenda transversal, que proporcione essa mudança com a transição para uma economia de baixo carbono. O avanço, a seu ver, requer a busca de inovação permanente com novas tecnologias, de modo a agregar cada vez mais valor aos produtos e serviços e, assim, dar suporte ao Brasil para competir num patamar melhor quando se fala de inserção nas cadeias globais de valor.
Há que se considerar, ainda, a evolução do consumidor brasileiro que já tem o filtro da sustentabilidade em sua decisão de compra. O fato é atestado por especialistas e registrado em pesquisas como a do Instituto Akatu e da GlobeScan, realizada em 2022. O estudo mostra que aumentou a atenção dos brasileiros para as causas ambientais: 84% dos entrevistados querem reduzir seu impacto pessoal sobre o meio ambiente.
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