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Investimentos de impacto avançam no Brasil

Apesar do aumento do volume de investimentos de impacto no Brasil, ainda há uma longa estrada no horizonte para este tipo de aplicação que extrapole a preocupação apenas com o retorno financeiro. A reputação da marca nos relatórios de sustentabilidade e a isenção no imposto de renda ainda mantêm seu peso na hora da decisão, porém a movimentação é crescente no sentido de buscar reconhecimento. O grande desafio mesmo é mensurar o retorno real.


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Dados do relatório Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) atestam avanço nos recursos financeiros aplicados em projetos sociais. Em 2021 – último levantamento feito junto a 38 organizações investidoras – o montante foi de aproximadamente R$ 18,7 bilhões, cerca de 60% maior do que os R$ 11,5 bilhões registrados em 2020, fruto de 319 negócios reportados.

Com o objetivo de retratar o mercado de investimentos de impacto, o relatório é uma ferramenta para o Brasil e suas ações para o alcance das metas estabelecidas pela Assembleia das Nações Unidas até 2030.

Agro na liderança

Conforme o estudo, a área de Alimentos/Agricultura lidera o interesse dos investidores (78%) com larga margem em relação à Educação (64%), segunda na preferência dos entrevistados e seguida pela Saúde (58%) e Biodiversidade/Conservação de Ecossistemas (56%). O setor de Energia também cresce, passando de 40% para 50% de uma pesquisa para outra. E Tecnologias de Informação/Comunicação também avançou de 24% para 36%, ao contrário de Habitação/Serviços Financeiros, que caíram (confira o gráfico).

investimentos de impacto

Natura

Conhecida pelo seu envolvimento com projetos sociais e ambientais, a Natura & Co América Latina, holding de cosméticos, quer quadriplicar o retorno de investimentos na área, ou seja, o objetivo é para cada US$ 1,00 de sua receita gerar US$ 4,00 de impacto positivo. Para isso, revisou o Programa Compromisso com a Vida, focando em projetos comprometidos com a sustentabilidade.

“No final do ano, conseguimos, com números reais e financeiros, entender quanto o nosso negócio trouxe de valor para a sociedade”, explica a gerente de Sustentabilidade da Natura & Co América Latina, Fernanda Facchini, afirmando que até mesmo o cuidado na escolha dos projetos aumentará para permitir essa mudança de foco.

Vale

A Vale é outra empresa que investe sistematicamente em projetos sociais e ambientais para acelerar a transição para uma economia mais sustentável. Somente em 2022, aportou R$ 57,9 milhões em iniciativas de impacto, 15% acima de 2021. Através do fundo de investimento, 221 negócios próprios e de terceiros receberam recursos, além de 35 iniciativas, beneficiando em torno de 15 mil pessoas.

O retorno já é visível. Foram recuperados mais de 1 mil hectares com potencial de geração de 400 empregos e 500 mil tCO2 e de créditos de carbono, preservando 50 mil hectares de floresta na Amazônia paraense e 133 mil créditos de carbono. Para o diretor do Fundo Vale, Gustavo Luz, “o Fundo apoia a criação e a aceleração de novos negócios e, sobretudo, produtos financeiros que ainda precisem de um capital paciente para ganhar escala”, diz ele, esperando que, assim, o ecossistema ganhe robustez e dispense a necessidade novos aportes.

LAURB

A onda da sustentabilidade não é somente para grandes e consolidadas marcas. Prova disto vem do Instituto de Urbanismo Ecossistêmico, o LAURB – uma inovadora iniciativa de desenvolvimento urbano e social nas periferias de Fortaleza – que antes mesmo de completar três anos já atrai projetos com diferentes fontes de recursos.

A fundadora e CEO da ONG, Danielle Nina Távora, entende que um dos segredos é usar metodologias participativas, atuando sobre problemáticas reais com soluções efetivas para os espaços de alta vulnerabilidade socioambiental, como a Favela do Inferninho. “Não faltam recursos, faltam projetos estruturados com informações que levem a diagnósticos claros”, observa ela.

Com o olhar na realidade, a LAURB vem ressignificando locais e devolvendo-os à comunidade com ganhos. Caso da compra de casas abandonadas e deterioradas, transformadas em novos equipamentos urbanos como salas de aulas equipadas que quadriplicaram o atendimento a estudantes. Também o Beco sem Saída está em transformação, ganhando pintura (Suvinil) e melhorias para se transformar na maior galeria de arte urbana de Fortaleza, beneficiando os artistas locais. Todo o mobiliário será feito em 3D a partir da reciclagem de 15 toneladas de plástico.

“As empresas estão cada vez mais cientes da necessidade de realizarem investimentos de impacto, que realmente façam a diferença”, acredita Danielle Nina,entendendo que a iniciativa transcende o conhecido interesse de investir apenas para constar nos Relatórios de Sustentabilidade ou para fins de abatimento do Imposto de Renda.

Assim, o LAURB se consolida como agente de desenvolvimento urbano, territorial e social dos lugares onde atua, caso da revitalização do Beco Céu e do lançamento do projeto “O Mar Está Para Peixe”, no Serviluz, entre outros.

SEBRAE

Para quem convive com o universo empresarial formado por micro, pequenas e médias empresas, o analista de Inovação do Sebrae Nacional, Philippe Figueiredo, diz que a participação deste segmento em projetos sociais varia significativamente de acordo com o contexto, o país e as políticas específicas implementadas. “Pelo seu relevante papel na economia, essas empresas são atores importantes em projetos que visam melhorar o bem-estar econômico e social das comunidades locais”, comenta.

Intensivas em mão-de-obra, as PMEs também têm grande peso como fornecedores, o que, para o Sebrae, cria oportunidades de inclusão e cooperação em projetos sociais que promovam práticas sustentáveis, éticas e sociais responsáveis, tornando-se atraentes para investimentos de impacto.

“O capital de impacto desempenha um papel fundamental no impulsionamento do crescimento do empreendedorismo social, ao direcionar investimentos para iniciativas que buscam solucionar problemas sociais e ambientais, ao mesmo tempo em que geram retornos financeiros para os investidores”, garante Philippe Figueiredo. Ele aponta desafios a serem enfrentados, tais como mensuração de impacto, acesso a capital, regulamentações e incentivos fiscais, alinhamento de valores e riscos financeiros.

Principais áreas de investimentos de impacto

Educação: Investimentos em escolas, treinamento profissional e educação de qualidade para comunidades carentes.
Saúde: Iniciativas de saúde, como clínicas de baixo custo, serviços de telemedicina e acesso a medicamentos essenciais.
Tecnologia: Startups/empresas que criam soluções para propiciar acesso à internet em áreas rurais, aplicativos de saúde, entre outros.
Agricultura Sustentável: Projetos para melhoria da produtividade agrícola, segurança alimentar e práticas agrícolas sustentáveis.
Energias Renováveis: Investimentos em fontes de energia limpa (solar/eólica), para levar eletricidade a comunidades carentes.
Habitação Acessível: Projetos que buscam fornecer moradia acessível para comunidades de baixa renda.
Microfinanças: Investimentos em instituições de microcrédito que apoiam empreendedores de baixa renda.

*Fonte: Sebrae Nacional

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