O agronegócio cearense, que atualmente responde por quase 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado – levando em consideração a agropecuária e a agroindústria –, tem apresentado evolução e as perspectivas para 2023 são animadoras, bem como para os próximos anos. O número de bovinos (cabeça) passou de 2,60 milhões em 2021 para 2,67 milhões em 2022, representando crescimento de 2,76%. A produção de leite subiu 10,75% no mesmo período, ou seja, de 960,43 milhões de litros para 1,06 bilhão de litros. A produção de galináceos também aumentou, de 34,62 milhões de cabeças para 36,01 milhões, respectivamente de 2021 para 2022, uma evolução de 3,99%.
Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente
A produção da aquicultura também passou por elevação, de 56,21 milhões de quilos para 61,30 milhões de quilos, ou seja, incremento de 9,06%. Também foram registradas altas na produção de ovinos e caprinos. Os números são do IBGE e atestam o bom momento da agropecuária cearense. O segmento tem proporcionado aos produtores boas surpresas, fruto de investimentos, sobretudo pelo emprego das novas tecnologias nas suas variadas formas. A Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) tem realizado trabalho conjunto com diferentes instituições públicas e privadas (Senar/Sinrural, Sebrae e prefeituras municipais), a fim de impulsionar cada vez mais o setor no Ceará.
O destaque na agropecuária é a produção cada vez maior de leite, boa parte em decorrência do melhoramento genético de bovinos. A Faec, segundo seu presidente, Amílcar Silveira, vem elevando a fecundação in vitro. Somente no último mês de agosto foram realizadas 576 inseminações, isso no município de Milhã. No último dia 11 de novembro, a instituição iniciou projeto de fertilização in vitro (FIV) em Quixadá, com previsão de 500 inseminações.
“A iniciativa tem como objetivo o aumento da produtividade do rebanho leiteiro por meio de melhoramento genético. Após a inseminação é realizado acompanhamento técnico e veterinário necessário. O objetivo é que as vacas gerem bezerros de alta qualidade, que possam produzir mais leite e carne. Nós estamos realizando isso como prática usual. Por isso é que temos a assistência técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) da CNA, que está levando conhecimento e capacitação técnica para os pequenos produtores. Nós já somos 273 turmas de assistência técnica, cada uma delas com 30 produtores, e o objetivo no Ceará é chegar a 400 turmas.”
Amílcar Silveira, presidente da Faec
O Ceará, há alguns anos, no que se refere a produção animal, fez o primeiro clone de ovino do Brasil – lembra Amílcar Silveira, acrescentando que a Universidade de Fortaleza (Unifor) tem uma pesquisa sobre cabra transgênica que se encontra muito avançada. “Podemos citar também a Fazenda Teotônio, em Madalena, que fez, há anos, clones bovinos”. Ele finaliza afirmando que a tendência é de que a participação do agronegócio na economia do Ceará continue em trajetória de crescimento.
Amílcar diz que a Faec, em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae), deve incrementar de 400 a 500 mil litros de leite por dia no Estado. “Estamos distribuindo 2,5 mil prenhezes. No ano que vem, serão cinco mil prenhezes. Estamos falando de mais 15 a 20% do leite do Ceará só com melhoramento genético nos próximos quatro anos”, observa o dirigente classista.
No início deste ano, o presidente da Faec, em reunião na Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará, ao falar sobre as propostas de entidade para o Plano de Desenvolvimento da Agropecuária Cearense, disse que uma das metas era a geração de 90 mil empregos e duplicar a produção do agro cearense. “Queremos promover, com apoio do Estado, uma agropecuária sustentável, aumentando a capacidade empreendedora e a competitividade do setor por meio de assistência financeira para a realização de projetos no campo” – frisa. O plano propõe o fortalecimento e o crescimento da agricultura e da agropecuária por meio de assistência técnica e inovação.
O agronegócio do Ceará tem um papel fundamental na economia do Estado. Existe uma grande variedade de produtos cultivados e boa parte do que é produzido já adota alto nível tecnológico. Não resta dúvidas que o agronegócio do Estado cresceu, mas precisamos melhorar. É o que afirma Candice Rangel, presidente das Fazendas Ribeirão (município de Brejo Santo), referência na criação e seleção da raça Nelore comercial e de elite no Nordeste.
Muitas propriedades rurais – observa – ainda produzem com baixa produtividade, escassez de recursos financeiros, baixa escala de produção e dificuldades na comercialização. O sucesso da nossa produção ainda depende fortemente das chuvas. Mas, mesmo diante dessa realidade, ela acredita no agronegócio cearense.
Especificamente sobre a pecuária de corte, ela acredita muito na expansão da produção no Nordeste, “já que outras regiões estão muito mais empenhadas na produção de grãos, substituindo áreas antes ocupadas pelo gado por lavoura”. Candice Rangel ressalta que existe um “ótimo exemplo” dos Estados Unidos e da Austrália, que produzem com eficiência em regiões secas.
“Aqui no Ceará temos um custo de aquisição de terras mais barato do que no Maranhão ou regiões como o Centro-Oeste, por exemplo. Temos também o gado Zebu, originário da Índia, em especial o Nelore, que é muito popular no Brasil e mostra toda adaptação, rusticidade e produtividade na nossa região, o que nos permite a possibilidade de grandes produções.”
Candice Rangel, presidente das Fazendas Ribeirão
Para expandir a produção pecuária no Ceará é necessário vencer vários obstáculos – afirma Candice Rangel. “Precisamos de uma legislação que incentive a produção estadual em detrimento da produção pecuária de outros estados, que vem sendo comercializados aqui no Ceará. Outro gargalo que temos é a falta de um frigorífico no Estado que atenda nossa produção e demanda. Não temos um frigorífico regional e praticamente toda a produção consumida no Ceará é proveniente de outros estados”, ressalta.
Sobre a exportação de carne bovina, Candice Rangel observa que a posição geográfica do Ceará é privilegiada, pois está próxima dos grandes mercados, como da Europa e dos Estados Unidos, “mas não temos frigoríficos e zonas de processamento de exportação para atendermos mercados externos. A Faec precisa ainda entrar na luta para o Estado do Ceará se tornar livre da febre aftosa sem vacinação, o que facilitaria ainda mais a exportação” – enfatiza.
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Lacticínios e Produtos Derivados no Estado do Ceará (Sindlacticínios), José Antunes Mota, a avaliação do agronegócio cearense deve levar em consideração dois aspectos: com ou sem chuva. Mas, de forma geral, muita coisa está influenciando o setor a se desenvolver. “Está sendo criado o empreendedorismo no campo. Considero promissor o setor do agro. Mas, vale ressaltar que dependemos de outros fatores e não somente do empreendedorismo, como a questão da água, quer seja irrigada ou transportada do Rio São Francisco, sobretudo para a chapada do Apodi, tabuleiro de Russas, quer seja pelo inverno normal”.
“O setor de produção de leite tem tido uma evolução muito grande no Ceará. Antigamente, uma vaca dava quinze litros de leite e duas tiradas (ordenhas) já era excepcional. Hoje, a gente tem vaca que dá três tiradas, com 45/50 litros de leite por dia. Ou seja, em dez, doze dias ela dá o peso dela em leite. E isso é decorrência do melhoramento genético do rebanho, associado ao empreendedorismo rural.”
José Antunes Mota, presidente do Sindlacticínios
É imprescindível desenvolver o empreendedorismo no campo, procurando maximizar ou minimizar os custos ou maximizar os lucros – observa José Antunes Mota, acrescentando que atualmente o setor está estável. “No ano passado, ano eleitoral, o setor foi impactado, sobretudo do que diz respeito a investimentos” – frisa, chamando a atenção para o fato de, em 2023, a reforma tributária vai afetar o segmento, principalmente em relação ao ICMS para empreendimentos que estão instalados no Ceará.
“E para 2024 eu seria um cigano, um adivinhão, para saber o que vai acontecer. É impossível fazer previsão, pois ninguém sabe, sobretudo diante da insegurança jurídica, da insegurança econômica e da insegurança tributária. Tudo isso impacta no investimento, como, por exemplo, em maquinário e em outras coisas que aceleraria o crescimento do setor lácteo. Mas vamos aguardar, né?”
José Antunes Mota, presidente do Sindlacticínios
Apesar de “pintar” um quadro de dúvidas, ele garante que sua empresa está com oferta de leite regular. “Estamos com as vendas regulares, muito embora tenha ocorrido uma leve variação, pequeno estoque. Mas, o que está havendo de fato agora, em 2023, é queda de preço do produto, em decorrência da falta de dinheiro no mercado, do consumidor. Mas, isso depende também da indústria, de quem produz, qual o mercado que você escolheu, se é A, B e etc. Tudo isso vai influenciar”.
Para concluir, ele garante que, para impulsionar o setor são necessários crédito e juros baixos, pois atualmente eles estão altos. “São esses os gargalos atuais. Ainda tem a questão dos impostos, pois ainda não se sabe como vai ficar, muito embora já se tem conhecimento que o ICMS vai sair de 18 para 25%. Então, tudo isso aí vai impactar. Vamos esperar. Se eu dissesse algo sobre 2024, estaria jogando na loteria esportiva. Vamos aguardar”.
A produção de camarão do Ceará deve crescer ainda mais nos próximos anos, muito embora o Estado já seja líder nacional, com mais de 60 mil toneladas/ano, ou seja, disparou na liderança e tende a avançar mais – afirma o cientista chefe da Economia do Mar da Funcap/Secretaria da Pesca e Aquicultura (SPA), Felipe Matias. No entanto, no caso da tilápia ocorreu o contrário, grandes decréscimos a partir de 2014. “Se por um lado o Ceará é o líder nacional na produção de camarão, na de tilápia, onde já foi líder, hoje despencou e está entre o 15º e 20º lugar no ranking nacional dos estados produtores”.
“No caso do camarão, a tendência é de crescer ainda mais. Para que isso se concretize, no entanto, é necessário avançar nas questões de licenciamento e financiamentos bancários. A tendência é de que ocorra um crescimento da produção em direção ao interior do Estado, pois é isso que estamos vendo ao longo dos anos. Antes o camarão era cultivado mais nas áreas litorâneas – e ainda é, mas houve uma grade interiorização, especialmente na região do Vale do Jaguaribe.”
Felipe Matias, cientista chefe da Economia do Mar da Funcap/SPA
Já no caso da produção de tilápia – informa – é necessário adotar algumas medidas. A primeira é garantir uma outorga que consiga atender a produção nos reservatórios do Castanhão e do Orós, que são as nossas principais matrizes produtivas, que ocorre em tanque e rede. Também – aponta – é preciso diversificar essa matriz produtiva pra sistemas em tanques cavados, com pouco uso ou reuso de água. Mas isso não tem uma perspectiva a curto e nem a médio prazo. É um trabalho de longo prazo. “Nós continuamos como o maior consumidor de tilápia comprando de outros estados. Já no caso do camarão a gente também começa a pensar na exportação. Esses são os cenários”.
Para finalizar, ele ressalta que o Ceará ainda é o maior exportador de pescado do Brasil. “Somos o maior em lagosta, atuns e em camarão cultivado. A gente deve manter esta posição durante um bom tempo. Durante um bom tempo essa é a expectativa. No caso dos atuns vai ter que ter um ajuste, pois existem cotas para a pesca do atum e nós já atingimos o limite. E isso vai ser regulado nos próximos anos” – acredita.
A mais nova área do Programa Estadual Cientista Chefe, criado e fomentado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ceará (Funcap), vai ser coordenada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). A nova área contemplada é a Pecuária, que tem como cientista chefe o professor da Faculdade de Veterinária (Favet) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV) da UECE, Davide Rondina. O Cientista Chefe Pecuária, que teve início em dezembro de 2022, será realizado nos anos de 2023, 2024 e 2025, tendo como base inicial a realização de três subprojetos: Nutrição e Reprodução; Qualidade do Leite; e Qualidade da Carne em Animais Ruminantes.
Para Davide Rondina, o programa é uma oportunidade de fornecer informações científicas e tecnológicas com objetivo estratégico comum de apoiar a geração de tecnologia, contribuindo para mudanças no setor pecuário do Estado do Ceará, incrementando a diversidade produtiva e melhorando a sua competitividade e sustentabilidade. Ele afirma que o setor pecuário cearense apresenta um crescimento positivo e se destaca nos últimos anos junto a todo o Nordeste, quando comparado às outras regiões do país. Este crescimento é em termos de número de animais, inovação e produtividade (carne e leite).
“O agronegócio cearense tem um grande potencial pra crescer, aproveitando toda a aptidão brasileira de produção de alimentos e geração de riquezas na pecuária, na agricultura, na aquicultura e na pesca, que são setores importantes que o Estado pode colaborar. Logicamente, com as suas especificidades em termos de clima, pois nós temos um clima diferente de diversos estados brasileiros produtores de grãos, do agro de forma geral, sobretudo em relação ao Centro-Oeste e ao Sudeste”. É o que declara o Sílvio Carlos, secretário executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará (SDE).
Especificamente quanto a pecuária, ele garante que tem um grande potencial na produção de leite. Mesmo com a crise hídrica de alguns anos – constata – o setor do leite cresceu no Estado. “A pecuária leiteira é a mais forte no Ceará. Agora nós temos um novo nicho de mercado, que é o leite A2, que tem crescido muito. Começa também a aparecer um novo mercado, que é para o leite de cabra, que apesar de ainda não ser produzido em larga escala, tem sido muito procurado e o Estado pode entrar neste segmento. Temos também queijos nobres e finos, que estão sendo trabalhados, com muito valor agregado”.
Sílvio Carlos destaca também a avicultura, outro setor que tem se destacado, com empresas se consolidando cada vez mais. A caprinocultura, que precisa ser melhorada, mas tem um grande potencial pra crescer. Na aquicultura também, que atualmente responde por mais de 50% da produção de camarão no Brasil. “Temos também a carcinicultura, que tem crescido muito nos últimos anos. Nós somos atualmente os maiores exportadores de pescados do Brasil, em termos de valor”. Ele resume: são diversos setores no Estado que demonstram grande potencial para crescimento. O foco no Ceará é agregar valor aos produtos, seja na agricultura, na pecuária, na aquicultura e na pesca”.
“Pra impulsionar a atividade agropecuária cearense é preciso focar em algumas ações. O Estado colabora para a criação de um ambiente moderno para o setor, com apoio tecnológico forte, envolvendo, inclusive estradas, infraestrutura portuária, aeroportuária, logística, energia, água, etc. Isso tudo é muito importante para a produção, bem como a parte de defesa agropecuária, de um rebanho saudável, com certificações necessárias para os mercados consumidores. Tudo isso é fundamental, inclusive para atrair investidores para o segmento.”
Sílvio Carlos, secretário executivo do Agronegócio da SDE
Outro ponto importante – ressalta ele – é a assistência técnica, com inserção de novas tecnologias na produção e manutenção, bem como a capacitação dos produtores. Juntos, Estado e a demais instituições, como Faec, Sebrae, Fiec, estão trabalhando para o desenvolvimento da agropecuária estadual – conclui.
El Niño impacta produtividade do agro mas impacto nos preços é impreciso
Oxe, agro cearense usa sim tecnologia de ponta