inflação e juros

“A inflação é um fenômeno econômico que afeta a economia de um país, bem como o desempenho financeiro das empresas que nele operam”. (Foto: Envato Elements)

Queda da inflação e dos juros pode alavancar economia do Brasil em 2024

Por: Pádua Martins | Em:
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A Confederação Nacional da Industria (CNI) tinha revisado para cima o crescimento da economia e projetava expansão de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. Inclusive, o Informe Conjuntural do 3º trimestre da entidade mostrava que o Brasil caminhava para crescer mais do que o esperado, embora a alta não alcance todos os setores econômicos, de acordo com matéria publicada no último dia 11. No entanto, três dias depois a CNI refez os números, baixando a previsão do PIB para 3%, “o mesmo percentual de 2022”.


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Apesar de considerar o resultado positivo, a Confederação entende que a perspectiva de crescimento de 2023 “não dá início a um novo ciclo de desenvolvimento”. A CNI avalia que “o PIB atual foi construído sobre fatores conjunturais excepcionais, como o expressivo crescimento do PIB da agropecuária, e com queda dos investimentos produtivos”. Já para 2024, a entidade acredita que a expansão da economia brasileira será de 1,7%.

Ao mesmo tempo, a CNI espera a manutenção da trajetória da queda da inflação, com o IPCA em 3,9% ao fim de 2024. Ela avalia que a manutenção do atual cenário “favorável” (queda da inflação e dos juros) vai possibilitar a continuidade da sequência de cortes da Selic, de modo que a taxa deve terminar 2024 em 9,25% ao ano. Ele aposta na queda da inflação, bem como dos juros, para alavancar os setores econômicos.

Segundo a publicação Economia Brasileira 2023-2024, divulgada pela CNI no último dia 14, a expectativa, no início de 2023, era de inflação acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), com taxas de juros elevadas, apesar do início do processo de redução da taxa básica de juros, Selic, previsto para setembro.

O estudo observa que a trajetória de desaceleração da inflação foi mais rápida do que se esperava, pois em agosto começou uma série de cortes da taxa de juros Selic. “A inflação encontra-se em queda, principalmente por conta do menor crescimento dos preços do grupo Industriais e pela queda nos preços do grupo Alimentos, ao mesmo tempo em que as expectativas de inflação para os próximos anos encontram-se próximas da meta da política monetária, permitindo o início dos cortes da Selic” – acentua.

Para a CNI, a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve encerrar 2023 em 4,5% em 12 meses, dentro do limite superior da meta estabelecida pelo CMN. Mesmo com o início da sequência de cortes, a Selic ainda vai encerrar 2023 elevada, em 11,75% ao ano. “Esse percentual leva a uma taxa de juros real de 7,6% ao ano, ainda bem acima da chamada ‘taxa neutra’ de juros (taxa de juros que não limita, tampouco estimula a atividade econômica)”.

A inflação na porta da fábrica

No mês passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou estudo, relativo a outubro de 2023, chamado de “inflação de porta de fábrica”. Os preços da indústria, pelo terceiro mês consecutivos, tiveram variação positiva, registrando alta de 1,11% em outubro frente a setembro. O Índice de Preços ao Produtor (IPP) acumula -6,13% em 12 meses.

Porém, o índice acumulado no ano chegou a -4,43%. Essa é a menor taxa acumulada no ano já registrada para um mês de outubro desde o início da série histórica, em 2014. Em outubro de 2023, 14 das 24 atividades industriais pesquisadas apresentaram variações positivas de preço quando comparadas ao mês anterior.

Sinduscon: redução de juros é fator positivo

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (SindusconCE), Patriolino Dias, ao ser indagado sobre a inflação e seus impactos nas empresas, observou que a redução da taxa de juros é um fator positivo para o setor, pois torna o crédito imobiliário mais acessível, estimulando a demanda por imóveis. Além disso, a retomada da economia brasileira, os investimentos públicos e a demanda por habitação devem continuar a impulsionar o setor.

“Acreditamos que a redução da taxa de juros gera um impacto positivo nas empresas, reduzindo os custos de financiamento e estimulando o consumo. Estamos otimistas com a expectativa de redução da taxa Selic. A última redução anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) baixou de 12,25% para 11,75% ao ano a taxa básica de juros da economia. É a quarta redução seguida na taxa Selic – que cairá ao menor patamar desde março de 2022, quando estava em 10,75% ao ano. Considerando o bom comportamento da inflação, a projeção do mercado financeiro é de que a taxa de juros continue recuando ao longo de 2024, e que termine o próximo ano em 9,25% ao ano.”

Patriolino Dias, presidente do Sinduscon-CE

O setor da construção civil é um importante motor da economia brasileira e cearense, que gera empregos, renda e contribui para o desenvolvimento regional – frisa. “Para você ter uma ideia, de acordo com os dados divulgados recentemente pela Comissão de Pesquisas (CPES) do Sinduscon-CE, a partir de parceria com a Brain Inteligência Estratégica, durante o terceiro trimestre de 2023 Fortaleza se destacou como líder nos lançamentos imobiliários entre as capitais do Nordeste, representando 24,56% do total”. Com a continuidade da redução dos juros e queda da inflação, Patriolino Dias acredita que as perspectivas para 2024 no setor imobiliário em Fortaleza são positivas.

O crescimento no próximo ano vai ser impulsionado por fatores como a retomada da economia brasileira, que deve se consolidar em 2024, e os investimentos públicos, que devem continuar a crescer em setores como infraestrutura, e também o de habitação, através do programa Minha Casa Minha Vida – ressalta. “Esse programa traz a menor taxa de juros da história (a partir de TR + 4% a.a). O setor deve continuar a gerar empregos, com a criação de cerca de 10 mil novos postos de trabalho nos próximos três anos”.

Ele avalia, com base nos resultados do terceiro trimestre de 2023, o lançamento de 26 empreendimentos durante esse período, contribuiu para um total de 80 lançamentos ao longo do ano, indicando uma tendência de crescimento constante. Apesar dos desafios como a escassez de terrenos na área nobre de Fortaleza e a rigidez dos bancos na concessão de financiamentos, o mercado imobiliário local demonstra vigor.

Para concluir, ele explica que, dentro do setor, os empreendimentos de padrão econômico do programa Minha Casa, Minha Vida se destacaram, representando 13 dos 26 lançamentos no terceiro trimestre. Essa categoria totalizou 5.329 unidades habitacionais verticais, contribuindo significativamente para o desempenho geral. O mercado de alto padrão também é muito forte no Ceará.

Impactos da inflação nas empresas

Não é à toa que a CNI aposta na queda da inflação e das taxas de juros no próximo ano. De acordo com o Guia Definitivo: Como a Inflação Afeta as Empresas, produzido pela FEA Finance USP, “a inflação é um fenômeno econômico que afeta a economia de um país, bem como o desempenho financeiro das empresas que nele operam”. O guia enfatiza que, à medida em que os preços dos bens e serviços aumentam, diversos aspectos do negócio podem ser afetados, desde os custos de produção até o poder de compra dos consumidores.

OS CINCO EFEITOS PRINCIPAIS DA INFLAÇÃO NA EMPRESA

1. Aumento dos Custos de Produção – Uma das maneiras mais comuns pelas quais a inflação impacta as empresas é através do aumento dos custos de produção. Matérias-primas, mão de obra e outros insumos tendem a ter seus preços aumentados durante períodos inflacionários.
2. Desvalorização do Capital de Giro – A desvalorização da moeda durante a inflação pode afetar o capital de giro da sua empresa. O dinheiro disponível pode perder poder de compra ao longo do tempo, tornando mais difícil a aquisição de novos estoques ou investimentos em expansão.
3. Contratos de Longo Prazo – Se a sua empresa possui contratos de longo prazo, especialmente aqueles com cláusulas de preço fixo, a inflação pode afetar negativamente a rentabilidade desses acordos. Os custos associados ao cumprimento do contrato podem aumentar, enquanto a receita permanece inalterada, resultando em menor lucratividade.
4. Comportamento do Consumidor – Durante períodos de inflação, o comportamento do consumidor tende a mudar. O poder de compra das pessoas é reduzido, o que pode levar a uma demanda menor por certos produtos ou serviços. Isso pode impactar negativamente as vendas da sua empresa e, consequentemente, seus resultados financeiros.
5. Taxas de Juros e Financiamentos – Em momentos de alta inflação, os bancos centrais geralmente aumentam as taxas de juros para conter a expansão dos preços. Isso pode tornar o crédito mais caro e difícil de obter, dificultando, portanto, a obtenção de empréstimos para a expansão do negócio ou para financiar projetos importantes.

O guia também ressalta como se preparar para o impacto da inflação, que exige planejamento e ação proativa por parte dos gestores. Algumas estratégias que podem ajudar a mitigar os efeitos negativos da inflação são: Revisão dos Preços Avalie periodicamente seus preços e, se necessário, faça ajustes para refletir os aumentos de custos; Diversificação de Fornecedores – Busque diversificar suas fontes de suprimentos para evitar depender excessivamente de fornecedores que possam aumentar drasticamente seus preços; Estoque Estratégico – Mantenha um estoque estratégico de matérias-primas para evitar a escassez em momentos de alta inflação; Negociação de Contratos – Se possível, negocie contratos flexíveis que permitam ajustes de preços durante períodos inflacionários; e Análise de Investimentos – Analise cuidadosamente os projetos de investimento para garantir que sejam viáveis mesmo em cenários de alta inflação.

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