O agronegócio cearense tem apresentado bons resultados ao longo dos anos, inclusive nas exportações, sobretudo se levada em consideração toda a cadeia (da produção ao beneficiamento envolvendo a agricultura, pecuária, serviços e agroindústria).
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Para a Federação das Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (FAEC), o agro já responde por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará, ou seja, da riqueza oriunda dos negócios do campo, direta e indiretamente. E a tendência é de crescer ainda mais nos próximos anos, dependendo, para tanto, de vários fatores, tanto externos como internos.
No ano passado, as exportações cearenses somaram US$ 2,03 bilhões, menor que o registrado em 2022, quando o total atingiu US$ 2,34 bilhões, ou seja, uma queda de 13,1%. Mesmo assim, o Ceará continua ocupando a 17ª colocação do ranking nacional dos 26 Estados mais o Distrito Federal, de acordo com estudo Ceará em Comex (edição de 2023) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC).
O Ceará está à frente do Piauí, Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba, mas atrás, embora pertinho, de Pernambuco (US$ 2,11 bilhões), que está na 16º posição; Maranhão na 13º posição (US$ 5,47 milhões), e da Bahia, em 10º lugar, com US$ 11,29 bilhões. Vale observar que tanto Pernambuco como a Bahia e Maranhão também tiveram queda nas exportações: de 13,1%,18,9% e 4,6%, respectivamente.
Dos dez segmentos que mais exportaram no Ceará, em 2023, – não levando em consideração os chamados “demais setores” -, seis, que podem ser considerados pertencentes ao agronegócio pela definição FAEC, foram responsáveis por US$ 415,80 milhões, ou seja, percentual de 20,45% de tudo que foi colocado no mercado exterior. E desse número, US$ 195,42 milhões (47%) foram somente em melões frescos; castanha de caju; água de coco e outros couros e peles inteiros de bovinos.
O presidente da FAEC, Amílcar Silveira, estima que, caso seja computado tudo que é exportado pelo agro estadual, o valor chega aos US$ 500 milhões por ano. Em 2023, no segmento de frutas, houve um aumento de 15,5%, alcançando US$ 155,71 milhões, contra os US$ 134,78 milhões verificados em 2022, tendo os melões frescos liderados o resultado, com um aumento de 22,4%, seguido por castanhas de caju e água de coco. A exportação de água de coco aumentou 24,2% em 2023, quando o total chegou aos US$ 37,02 milhões contra US$ 29,79 milhões de 2022.
“Na nossa avaliação o termo agronegócio é amplo e envolve muito mais do que a agricultura e a agropecuária. Envolve o serviço que presta ao agro, por exemplo. Então, no Ceará, levando em conta tudo que está ligado ao setor, o agronegócio representa próximo de 25% do PIB, isso levando em consideração as riquezas oriundas dos negócios do campo, inclusive as agroindústrias. E no Ceará tem bons exemplos de agroindústrias, como, por exemplo, o Grupo M. Dias Branco, que é uma empresa beneficiadora de produtos ligados ao agronegócio, no caso, o trigo.”
Amílcar Silveira, presidente da FAEC
Para o dirigente classista, vários setores do agronegócio cearense se destacam. No quesito exportação, por exemplo, ele cita a castanha de caju, que já chegou a liderar a pauta de exportações, com cerca de US$ 200 milhões, mas que agora está por volta dos US$ 70 a US$ 80 milhões, isso, claro, afora o movimento no mercado interno.
“No agro temos setores exponenciais, como a pecuária leiteira, que emprega cerca de 80 mil pessoas, direta e indiretamente. Temos também a carcinocultura, que representa 54% do camarão produzido no Brasil; e a fruticultura” – frisa, acrescentando a avicultura, seja de corte ou postura. “Nós representamos 52% de toda a carne e a proteína consumida no Ceará, dentre outros produtos”.
FAEC procura incrementar o agronegócio
A Federação da Agricultura – explica seu presidente – tem procurando fazer parcerias para incrementar cada vez mais o setor. Ele entende que o mercado de fruticultura é muito grande e o mercado de exportação precisa ser demandado. “O Brasil surfou na onda do agronegócio quando exportava o excesso de sua produção. Porém, exportar sem agregar valor ao produto não está correto. Não que não se devesse exportar, mas pensar em planejamento a logo prazo agregar o valor ao produto”.
Amílcar Silveira chama a atenção para o fato de a soja ser atualmente a líder na pauta das exportações brasileiras, mas ela se destina, basicamente, para a produção de ração, sobretudo da China, que é o maior importador. Para ele, é necessário que o Brasil – assim como todos os estados – tenha um planejamento maior, mais eficaz, passando a ser exportador de proteína animal e não apenas de matéria-prima ou commodity.
Ceará tem 42 mil hectares irrigados que podem ser cultivados
O Ceará tem um grande potencial que não vem sendo aproveitado para suprir as necessidades do mercado interno e externo. Atualmente, o estado faz uso apenas de 12 mil hectares dos 54 mil de perímetro irrigado. “Nós, que fazemos a FAEC, acreditamos que deveríamos ter, no mínimo, 30 mil hectares sendo cultivados, produzindo. Se a gente conseguir chegar a essa meta em fruticultura irrigada ou outro produto irrigado, o mercado chegaria a algo em torno de R$ 2 bilhões” – estima.
Pra aumentar o agronegócio cearense é necessário elevar o número de hectares cultivados nos perímetros irrigados e fazer um planejamento municipal, que a FAEC já está tocando, a fim de que as administrações dos municípios enxerguem o agronegócio como um impulsionador da economia local, garante Amílcar Silveira. Ele lembra que a ferrovia Transnordestina, que vai facilitar o escoamento de vários produtos agrícolas de outros estados, vai impulsionar toda a cadeia produtiva cearense.
“Existem cidades que demandam muito o agronegócio e tem outras onde as demandas são poucas, como, por exemplo, Fortaleza, onde o segmento do agronegócio participa com apenas 0,11% da economia primária da Capital. Porém, boa parte da economia que circula no comércio de Fortaleza é proveniente do agro” – observa o presidente da FAEC.
Novas tecnologias são fundamentais para o setor
Para ele, as tecnologias estão chegando muito rapidamente, inclusive para o melhoramento genético, como sementes, aumentando a produtividade. “Aliás, os protestos que estão acontecendo na Europa, sobretudo na França, são para evitar a entrada maior dos produtos brasileiros, pois os produtores franceses não tem como competir com a gente, seja porque temos grande extensão de terra, seja pela mão de obra deles, que é muito elevada, ou por que não podem fazer uso dos transgênicos, que são proibidos”.
Amílcar Silveira acredita que o Brasil, de forma geral, é mais competitivo e defende o uso de tecnologias, que tem que chegar ao Ceará “muito rapidamente, pois temos que estar sempre na vanguarda. E é isso que nós estamos tentando fazer aqui no Ceará, por intermédio da Federação”. Sobre o uso de novas tecnologias, ele diz que, mesmo com a legislação contrária no Ceará, nós já estamos qualificando pilotos de drone.
“A utilização de drones é necessária e não existe possibilidade de não fazer uso da tecnologia. Não tem mais como voltar ou recuar na necessidade de aplicar defensivos agrícolas com o drone, operação que sai muito mais barata no mundo de hoje, além de ser mais precisa a aplicação nas áreas determinadas.”
Amílcar Silveira, presidente da FAEC
Para concluir, o presidente da FAEC afirma que a competitividade está na porta de todo mundo e, diante dessa realidade, a Federação está buscando levar mais conhecimento ao produtor, bem como investindo em capacitação para melhoramento genético, ainda mais quando se sabe que a pobreza do Ceará está localizada nas áreas rurais.
“Temos que combater (a pobreza) de modo eficiente. O governante que quiser diminuir pobreza tem que atacar as áreas rurais. E nós estamos tentando fazer isso levando qualificação, tentando melhorar a produção” – enfatiza. “Então, um planejamento envolvendo os municípios é fator preponderante para diminuir as áreas de pobreza e, para tanto, é necessário planejamento, contando com a participação dos gestores nas diferentes esferas”.
Abrafrutas confiante no desempenho do setor em 2024
Luiz Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) acredita muito no potencial do agronegócio cearense, tanto que suas perspectivas para 2024 são otimistas, ainda que pese a possibilidade de uma possível restrição hídrica em função do El Niño.
Ao levar em consideração as exportações de frutas, Luiz Barcelos ressalta que houve um aumento de 29,1% de valores em 2023, frente ao ano anterior, o que fez com que que o setor das frutas passasse a ser o terceiro produto mais exportado pelo Estado do Ceará, e o setor do agro como um todo, nas exportações, obtivesse 8,8% de aumento.
Nos últimos anos – informa – levando-se em conta o Valor Bruto da Produção (VBP) no ano de 2023, houve aumento de 13,1% no valor das lavouras. Para o mesmo ano os valores da pecuária ainda não foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo, o crescimento anual do agronegócio cearense em valores é de 10,2% ao ano.
“O Estado tem avançado ao longo dos anos em estrutura de logística (hub’s aéreos e marítimos) e comunicação (cinturão digital, hub tecnológico). O Ceará deve investir estruturalmente nos portos e melhoria nos serviços públicos, melhorias de estradas pavimentadas e vicinais, agilidade nos licenciamentos ambientais, outorgas de água, certificações, ou seja, incrementar as ações que o Estado já vem desenvolvendo.”
Luiz Barcelos, diretor Institucional da Abrafrutas
Sobre a importância do uso de novas tecnologias, Luiz Barcelos é taxativo: o agronegócio 5.0 é um a realidade. Cada vez mais a agricultura de precisão estará presente no setor agropecuário. “A tomada de decisão do que, quanto e como investir, tornar-se-á cada vez mais precisa com a Internet das Coisas. Também a inserção de ações de sustentabilidade (econômica, social e ambiental) pode ser melhorado com a adoção de novas tecnologias. Produzir mais e melhor com produtos de maior valor agregado e menor uso da água.
Para finalizar, o diretor institucional da Abrafrutas informa que o setor da fruticultura, horticultura e carcinicultura têm se desenvolvido com maior intensidade no Ceará, em função da tecnologia e do afinco dos investidores do agro.
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