As perspectivas para a economia mundial em 2024 não são nada otimistas diante de “riscos persistentes e incertezas”, ou seja, o Produto Interno Bruto (PIB) global deve passar por redução este ano. No bojo, as exportações e importações vão ser atingidas, a não ser que ocorram mudanças significativas, que vão desde a queda de juros ao fim de conflitos. Pelo menos é essa a visão tanto do Banco Mundial, como da Organização das Nações Unidas (ONU).
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A guerra entre a Rússia e Ucrania e Israel e Hamas; os juros praticados nos Estados Unidos; as mudanças provocadas pelo El Niño e as eleições nos Estados Unidos tendem a impactar negativamente a economia mundial. No Brasil, afora o que já foi citado, é possível acrescentar também o comportamento dos juros; as regulamentações e reformas ainda pendentes e até mesmo o governo de Milei, na Argentina.
E o Ceará, é claro, não está imune aos problemas mundiais e, portanto, também deve ser atingido na sua balança comercial, sobretudo nas exportações. Aliás, em 2023, as exportações cearenses caíram 13,1% em relação ao ano anterior (US$ 2,033 bilhões contra US$ 2,34 bilhões), o mesmo acontecendo com as importações, que tiveram recuo de 35,6% (US$ 3,16 bilhões contra US$ 4,90 bilhões).
Já em janeiro de 2024, as exportações do Ceará totalizaram US$ 110,62 milhões, inferior em 46,3% quando comparadas com igual período de 2023, quando somaram US$ 206,15 milhões. Este último valor, inclusive, já foi menor que 2022, quando as exportações foram de US$ 210,01 milhões. Os dados são do Ceará em Comex, estudo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
O documento, que analisa especificamente o comportamento da balança de janeiro deste ano, afirma que “o panorama do comércio exterior do Ceará mostrou sinais de desafios contínuos e adaptações estratégicas. As exportações cearenses tiveram uma diminuição considerável em relação ao ano anterior (…), sinalizando mudanças nas condições de mercado e possíveis revisões nas abordagens comerciais do estado”. E vai mais além: “O Ceará enfrentou uma retração nas exportações e uma estabilidade nas importações”.
As exportações cearenses para os dez principais compradores caíram no primeiro mês de 2024. O maior decréscimo foi para os Estados Unidos, com queda de 81,8%, passando de US$ 116,55 milhões para US$ 21,17 milhões. Outras grandes quedas foram nas exportações para a Argentina (54,4%); Colômbia (48,7%); e China, com 29,9%.
No entanto, houve, pelo menos percentualmente, um grande crescimento das exportações para a Coréia do Sul: aumento de 24.160,3%, passando de US$ 109,34 mil de 2023 para US$ 26,52 milhões em 2024. Também evoluíram as exportações para a Singapura, que cresceram 2.861,4% (de US$ 184,83 mil para US$ 5,47 milhões). Para a França registraram leve aumento.
O analista de Políticas Públicas Alexsandre Lira Cavalcante, da Diretoria de Estudos Econômicos (Diec) do Instituto de Pesquisa e estratégia Econômica do Ceará (Ipece), lembra que as exportações cearenses também caíram em 2022, quanto somaram US$ 2,34 milhões contra US$ 2,73 milhões de 2021.registrando redução de 14,6% em relação a 2021.
“Esses números revelam que o processo de desaceleração nas vendas internacionais cearenses parece ser também bastante preocupante, com duas quedas nos últimos dois anos, reduzindo não só sua participação no comércio internacional, mas também sua participação na pauta de exportações nacionais caindo de 1,0%, em 2021, para 0,7%, em 2022, e depois para 0,6%, em 2023, menor participação desde 2016, quando registrou a marca de 0,72%.”
Alexsandre Lira Cavalcante, analista de Políticas Públicas do Ipece
Ele entende que a saída para mudar esse cenário, em 2024, passa pela melhoria do quadro internacional, com previsão para o fim dos principais conflitos existentes (Guerras da Rússia e Ucrânia e Guerra de Israel na Faixa de Gaza) e também pela conquista de novos e importantes parceiros comerciais para diminuir a dependência nas vendas para os EUA.
Além disso – adianta –, a melhoria no quadro econômico o que tem possibilitado sucessivas reduções na taxa básica de juros (Selic), combinado com a manutenção da taxa de juros americana, pode proporcionar uma maior saída de capitais, provocando uma valorização ainda maior do câmbio, o que pode afetar a competitividade das exportações nacionais e cearenses.
Caso as tensões internacionais não diminuam e as empresas não melhorem seus processos produtivos, introduzindo novas tecnologias com redução de custos, e conquistem novos parceiros comercias, é possível que seja observado uma nova queda nas vendas externas cearense em 2024 – prevê.
O Banco Mundial, por meio do seu mais recente relatório Perspectivas Econômicas Globais, em comunicado à imprensa, em janeiro deste ano, foi taxativo: conforme o mundo se aproxima da metade da década que prometia ser transformadora para o desenvolvimento, a previsão é de que a economia global acumule um recorde lamentável até o fim de 2024 — o de pior meia década em termos de crescimento do PIB em 30 anos.
No entanto, o Banco reconhece que a economia global está em uma situação melhor em comparação ao ano anterior, pois “o risco de uma recessão global diminuiu, muito devido à força da economia norte-americana. Mas as crescentes tensões geopolíticas podem criar novos riscos a curto prazo. Enquanto isso, a perspectiva de médio prazo piorou para muitas das economias em desenvolvimento em meio à desaceleração do crescimento da maioria das principais economias, um comércio global letárgico e as piores condições financeiras em décadas”.
A Instituição acredita que o crescimento do comércio global em 2024 fique apenas na metade da média da década anterior à pandemia. Entretanto, é provável que os custos de empréstimos para economias em desenvolvimento — especialmente aquelas cujo Risco-País é precário — permaneçam exorbitantes, com as taxas de juros globais travadas em máximas de quatro décadas em prazos ajustados pela inflação.
A projeção é que o crescimento global desacelere pelo terceiro ano consecutivo — de 2,6% no último ano para 2,4% em 2024, quase três quartos de um ponto percentual abaixo da média da década de 2010. “Projeta-se que as economias em desenvolvimento cresçam apenas 3,9%, mais de um ponto percentual abaixo da média da década anterior. Após um desempenho frustrante no último ano, os países de baixa renda devem crescer 5,5%, menos que o esperado”.
Até o fim de 2024 – de acordo com o relatório –, um entre cada quatro países em desenvolvimento, e cerca de 40% das pessoas dos países de baixa renda, ainda serão mais pobres do que eram em 2019, antes da pandemia. Porém, em economias avançadas, projeta-se que o crescimento desacelere para 1,2% este ano, em comparação ao 1,5% de 2023.
“Se não houver uma grande correção de rumo, a década de 2020 será conhecida como a década das oportunidades. O crescimento a curto prazo continuará fraco, deixando muitos países em desenvolvimento — principalmente os mais pobres — presos em uma armadilha: níveis paralisantes de dívida e parco acesso a alimentos para quase uma em cada três pessoas. Isso obstruiria o progresso de muitas prioridades globais. Ainda há chance de virar o jogo. Este relatório apresenta um claro caminho adiante: ele detalha a transformação que se pode alcançar se os governos agirem agora para acelerar os investimentos e fortalecer os marcos de políticas fiscais.”
Indermit Gill, economista-chefe e vice-presidente sênior do Grupo Banco Mundial
No mesmo sentido do Banco Mundial, o relatório Situação Econômica Mundial e Perspectiva para 2023, publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), afirma que o crescimento econômico global deve desacelerar de uma estimativa de 2,7% em 2023 para 2,4% em 2024. O desempenho estará abaixo da taxa de crescimento pré-pandemia de 3,0%. O documento apresenta uma perspectiva econômica negativa para o curto prazo. A previsão surge após o desempenho econômico global ter superado as expectativas em 2023.
Segundo o estudo, as perspectivas de crescimento na América Latina e no Caribe estão se deteriorando. Em 2024, a projeção é de que o PIB regional cresça apenas 1,6%, depois de atingir aumento estimado de 2,2% no ano passado. A América Latina continua enfrentando o desafio crucial de implementar políticas macroeconômicas e industriais contracíclicas ativas para impulsionar o crescimento e o investimento, expandir o bem-estar social e criar resiliência.
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