O Brasil deu um passo importante na direção do futuro em 2018 com a regulamentação do decreto 9.283/18 sobre as encomendas tecnológicas, abrindo frentes aos governos como compradores de soluções inovadoras voltadas à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
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Embora atrasada – nos EUA está presente nas políticas públicas desde 1933 – a legislação chegou em tempo de permitir ao governo viabilizar a parceria da Fiocruz com a Universidade de Oxford e com a farmacêutica AstraZeneca para a pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina para a Covid-19.
Foi um bom – e salvador – começo. A nova lei, ainda pouco entendida, começa a interessar também a governos estaduais e municipais que buscam soluções para grandes e pequenos problemas urbanos. É a corrida na direção de cidades inteligentes a partir de criações que promovam a sustentabilidade, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida.
O Brasil, inclusive, está inserido no contexto mundial de cidades inteligentes com a inclusão de dois brasileiros na lista de 31 especialistas da ONU para o desenvolvimento de diretrizes internacionais. Antônio Carvalho e Silva Neto é presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maceió e Ana Paula Bruno é diretora de Modernização e Inovação do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.
O presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Odilo Almeida Filho, considera que o caminho para se chegar a cidades inteligentes foi encurtado pelas novas tecnologias e pela conectividade, o que tende a otimizar todo o sistema de prestação de serviços públicos. O tema, discutido na Comissão de Política Urbana Nacional do IAB, ganhou ainda maior relevância com a nova onda tecnológica.
“Podemos democratizar muito as cidades”, disse ele, acrescentando que “a cidade será mais inteligente quanto mais for inclusiva”, sem desconhecer que o grande desafio é a desigualdade econômica e social dentro de uma mesma cidade e entre os municípios brasileiros. O desafio, a seu ver, cabe, principalmente, aos prefeitos, papel atribuído a eles pela Constituição Federal.
Um dos pilares é a mobilidade. Estudo da consultoria McKinsey projeta que em 2040, o Brasil deverá ter 11 milhões de automóveis movidos à bateria elétrica, o que representará 55% das vendas de novos veículos, 20% de todo parque instalado e uma receita anual de US$ 65 bilhões.
Em 2023, melhor ano da eletromobilidade no Brasil, as vendas de veículos leves eletrificados cresceram acima de 50% em todas as regiões: o Sudeste continuou liderando com vendas ampliadas em 101%, seguido pelo Nordeste, com 91%, e pelo Sul (+82%), Centro-Oeste (+73%) e Norte (+67%).
O desafio maior, entretanto, é o alto preço e a escassez de pontos de recarga da bateria. De ponta a ponta no País, entretanto, a incorporação imobiliária já projeta as novas edificações com tomadas elétricas para o carregamento.
O presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos, entende que o consumidor brasileiro demonstra confiança crescente nas novas tecnologias. “O Brasil se aproxima cada vez mais do perfil dos mercados europeus, liderados pelos veículos plug-in e, dentre estes, pelos 100% elétricos”, comenta.
O presidente da ABVE destacou a importância do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), cuja portaria de habilitação foi assinada no dia 26 de março, contemplando incentivos à eficiência energética e à redução de poluentes e abrindo espaço para todas as tecnologias de baixa emissão, inclusive os veículos 100% elétricos e híbridos plug-in. “Temos hoje um caminho para o Brasil aproveitar ao máximo os seus melhores recursos – não só a indústria do biocombustível, mas também as vantagens estratégicas de uma das matrizes de geração elétrica mais sustentáveis do planeta”, concluiu Ricardo Bastos.
Relatório recente da Research and Markets indica que, globalmente, o mercado de cidades inteligentes crescerá mais de 20%, atingindo cerca de US$ 2,51 trilhões até 2025, impulsionado pelo aumento da urbanização e maior investimento em desenvolvimento de infraestrutura tecnológica. A U-All Solutions – empresa especializada em conectividade – está envolvida em grandes projetos para o desenvolvimento de cidades inteligentes no Brasil, como Natal (RN), Saquarema e Angra dos Reis (RJ), auxiliando prefeituras a promover conexão segura e de qualidade para a população, respeitando as normas da LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados.
Com mais de 25 mil pontos de conexão espalhados pelo Brasil, a empresa estima que esse número triplique até 2025. “A conectividade está presente desde a escola até praças públicas, onde é possível se comunicar diretamente com os cidadãos, trazendo informações sobre vacinação, campanhas e pesquisas de satisfação”, exemplifica Rodrigo Antunes, fundador e CEO da U-All.
“Em Saquarema, no Rio de Janeiro, estamos encarregados de proporcionar conectividade para alunos e professores em escolas públicas. Em paralelo, também desempenhamos um papel crucial nessas instituições ao facilitar a comunicação interna, incluindo a divulgação de avisos e realização de pesquisas, por exemplo”, explica ele.
A plataforma tecnológica CitySensAI, que faz a integração dos serviços urbanos utilizando ferramentas como IoT e inteligência artificial, foi destacada na Smart City Expo Curitiba, no final de março pela NEC, empresa que há 55 anos fornece tecnologia às redes de comunicação e à segurança pública e cibernética. Trata-se de uma solução voltada às cidades inteligentes, envolvendo áreas críticas, como segurança pública, mobilidade, meio ambiente, entre outras, com o objetivo de integrar os serviços e oferecer dados relevantes aos gestores dos municípios.
Segundo Renato Gonçalves, presidente da NEC, a empresa conta com inúmeros casos de sucesso da implantação do CitySensAI no mundo, como no Japão, na Europa e, inclusive, na América Latina. “Na cidade de Tigre, na região metropolitana de Buenos Aires, na Argentina, onde o projeto de cidade inteligente foi implantado com a integração da NEC, há pouco mais de 10 anos, os níveis de furtos de carros diminuíram mais de 80% desde a implantação da solução. Além disso, a empresa implantou projetos de mobilidade em San Martín, na Argentina, e de IoT em La Reina, no Chile. Na Europa, os destaques são as cidades de Santander, na Espanha, e Lisboa, em Portugal“, acrescenta o executivo.
O caminho é longo e desafiador. É preciso modernizar o passado e projetar o futuro já em bases sustentáveis. Trata-se do conceito amplo de cidades inteligentes, eficientes e amigáveis, que colocam na linha de frente os interesses da sociedade.
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