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Jericoacoara, além do turismo sustentável, tem muito forte a prática de esportes, como o kitesurf, windsurf, entre outros. (Foto: AdobeStock)

Turismo sustentável deve movimentar US$ 374 bi em 2028

Por: Pádua Martins | Em:
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Mundialmente, o mercado de sustentabilidade do turismo, que foi estimado em US$ 172 bilhões em 2022, tem projeção, para 2028, de US$ 374 bilhões, de acordo com dados do Statista.com. Já o Sustainable Travel Report 2023 observa que 76% dos viajantes estabeleceram a meta de viajar de forma mais sustentável nos próximos 12 meses e 74% estão pedindo aos participantes do setor propostas alinhadas com essa expectativa.


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Dados da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) revelam que os gastos de turistas de outros países no Brasil em 2023 atingiram US$ 6,9 bilhões, representando, segundo o órgão, o maior valor no período de um ano. Segundo a Embratur, até então, o recorde havia sido registrado em 2014, quando os turistas gastaram no Brasil US$ 6,8 bilhões (em valores corrigidos). A série histórica do Banco Central para o indicador, utilizado pela Embratur, tem início em 1995.

Segundo o Roteiro Bonito MS, só o ecoturismo no mundo movimenta mais de US$ 77 bilhões, responsável por mais de 7% de todo mercado de turismo, sendo o turismo sustentável parte desses números. Pesquisas mostram que turistas brasileiros estão dispostos a pagarem 21% a mais em suas viagens se forem para ações e hospedagens sustentáveis. Em 2030, a Organização Mundial do Turismo estima fluxo de 1,8 bilhão de turistas internacionais, contra o atual 1,2 bilhão de turistas.

Os dados publicados pelo Roteiro mostram, tendo como base o The Economist, que, dentre os dez países com mais turismo sustentável, o Brasil está em sétimo lugar. França e Alemanha ocupam os primeiros lugares no ranking. No entanto, já no Sustainable Travel Index, o Brasil está na 54º posição, sendo os países escandinavos os primeiros colocados.

O levantamento mostra outro dado interessante: para cada R$1,00 gasto em reservas naturais, outros R$ 7,00 são injetados entorno de parques ou com serviços como hospedagem, transporte e alimentação. E mais: 39% de entrevistados optam por destinos e ações sustentáveis em suas viagens.

Turismo sustentável é uma das principais tendências em 2024

O novo relatório de pesquisa da Visa, baseado no Estudo Global de Intenções de Viagem (GTI, na sigla em inglês) 2023, divulgado no final do ano passado, revela que o turismo sustentável desponta como uma das principais tendências para 2024. O novo relatório destaca comportamentos e expectativas importantes dos consumidores: mais experiências centradas em lazer; flexibilidade e personalização no planejamento das viagens e crescimento dos viajantes versados no digital.

E também mostra as quatro novas e importantes tendências que devem influenciar o segmento de viagens na América Latina este ano: democratização das viagens; combinar viagens de negócios e lazer; destinos inspirados pela mídia e viajantes com consciência ambiental.

Especificamente sobre o último item, o estudo informa que 71% dos brasileiros estão bastante interessados em opções ecológicas. Viajantes mexicanos e brasileiros associam as viagens sustentáveis a acomodações com medidas de sustentabilidade (30% e 31%), evitar o uso de plástico descartável ao viajar (25% e 30%) e optar por meios de transporte de boa eficiência energética (25% e 26%). O novo relatório da Visa busca fornecer insights sobre novas tendências de viagem e as expectativas, motivações e hábitos dos consumidores em todo o mundo.

Brasil: primeiro país selecionado para projeto de sustentabilidade alemão

No mês passado, o Brasil foi o primeiro país no mundo selecionado para participar de um projeto de sustentabilidade no turismo desenvolvido pelo governo da Alemanha, segundo notícia publicada pela Embratur. O Memorando neste sentido foi assinado durante a Feira Internacional de Berlim (ITB), principal evento de turismo da Europa, e tem como partes a Embratur e a German Travel Association (DRV), principal associação do setor de viagens da Alemanha. A Associação conta com 4,5 mil membros e empresas do setor no país, entre companhias aéreas, rede hoteleira e agências de viagem. 

A DRV é membro do programa “Plataforma Nacional Turismo do Futuro”, criado pelo ministério alemão de Assuntos Econômicos e Ação Climática (BMWK), e foi designado como o principal parceiro quando se trata de cooperação com destinos internacionais. A plataforma financia ações que confiram sustentabilidade ao turismo praticado dentro do país. O projeto que o Brasil foi selecionado para participar como “destino piloto” agora busca mitigar o impacto do turismo praticado pelo turista alemão em outros países.

O programa, de acordo com a Embratur, vai identificar iniciativas inovadoras sustentáveis em parceria com a WWF em destinos de interesse dos alemães no país, realizar visitas de inspeção nestas localidades e atuar, em parceria com o governo brasileiro e a DRV, com intercâmbio de tecnologia e boas práticas para garantir que todo o impacto do turismo nestas regiões seja positivo para meio ambiente e para as comunidades locais, com geração de empregos e desenvolvimento social.

O projeto prevê que os destinos qualificados serão considerados prioritários para a venda de pacotes pelas agências e empresas aéreas, o que deve impulsionar a chegada de alemães ao Brasil nos próximos anos. Na parceria, caberá à Embratur, junto com South America Tours (SAT) e WWF, indicar os destinos que já possuam projetos de desenvolvimento sustentável para ofertar ao trade emissor alemão através do programa e também apontar os destinos que despertam grande interesse do mercado internacional, mas ainda precisam avançar na adaptação de suas atividades. 

Neste primeiro momento foram indicados destinos de natureza no Pantanal e na Amazônia, que deverão ser visitados pela comitiva alemã em novembro deste ano. A Embratur também atuará no roteiro e receptivo da comitiva com 15 membros das maiores operadoras de turismo do país. Do lado alemão, são parcerias do projeto as operadoras de turismo TUI e DER Touristik, a ONG WWF e a companhia aérea Lufthansa.

“Iniciamos o diálogo para que fôssemos o país escolhido para esse projeto há exatamente um ano, quando estivemos aqui na mesma feira ITB. Agora voltamos para o Brasil com essa grande notícia: a principal entidade de turismo da Alemanha, apoiada pelo governo federal, vai nos ajudar a trazer turistas para visitar os destinos sustentáveis de nosso país. Mais que isso, vão nos ajudar a acelerar nosso processo de desenvolvimento de nossos serviços turísticos com foco na sustentabilidade.”

Marcelo Freixo, presidente da Embratur

Turismo sustentável no Brasil enfrenta grandes desafios

É o que afirma Suilany Teixeira, articuladora do escritório do Sebrae-CE na Região Norte e coordenadora regional do projeto Rota das Emoções. Entre as dificuldades para tornar o turismo 100% sustentável no Brasil estão o desconhecimento da importância do turismo sustentável por parte da população e a falta de elaboração, implementação e monitoramento de políticas públicas que incentivem esse tipo de turismo.

Ela observa que o país precisa ter mais seriedade na elaboração, implementação e monitoramento de políticas públicas que levem a um turismo mais sustentável. No conjunto de políticas públicas devem estar incluídas programas e ações, regulamentação, fiscalização, cobrança por inovação e, principalmente, o acesso aos meios para a implementação de bases mais sustentáveis para a atividade, inclusive acesso ao crédito.

“Iniciativas individuais, aqui e ali, são muito importantes e bem-vindas, mas não resolvem. É necessária uma diretriz nacional, maior, com robustos processos e investimentos para mudarmos a realidade do que temos visto crescer. Precisamos estabelecer, em caráter emergencial, uma nova relação com a natureza para deixarmos de ser insustentáveis ao nosso planeta.”

Suilany Teixeira, articuladora do escritório do Sebrae-CE na Região Norte e coordenadora regional do projeto Rota das Emoções

Para ela, o abandono dos planos e acordos climáticos internacionais pelo governo brasileiro, sem a substituição por planejamentos comprovadamente eficientes e eficazes, causou enfraquecimento e desequilíbrio não apenas nas instituições que zelam pelo ambiente natural, como também do próprio ecossistema natural. “Para mudar a rota precisamos retomar e acelerar a implementação de compromissos climáticos e de desenvolvimento sustentável já firmados e homologados nos diversos níveis da administração pública e de representação mundial”.

Suilany Teixeira, articuladora do escritório do Sebrae-CE na Região Norte e coordenadora regional do projeto Rota das Emoções. (Foto: Arquivo pessoal)

“O Brasil, para um turismo com sustentabilidade, precisa entender a atividade como fenômeno social e não apenas como atividade econômica de mercado, e integrar as políticas de turismo aos territórios e instâncias onde a sociedade civil opine e seja protagonista” – frisa. Suilany ainda acrescenta: “É preciso abordar as dimensões principais da sustentabilidade com o mesmo peso: ambiental, cultural, social, política e econômica, tendo como foco a vida e não o lucro”.

Sobre selos e certificações para o setor de turismo, Suilany Teixeira informa que o Selo Turismo Responsável é uma certificação opcional e gratuita, lançada pelo Ministério do Turismo que determina as melhores práticas de higiene para cada um dos segmentos empresariais que atuam no setor. Além disso, existe o Selo Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) de Sustentabilidade, que premia destinos e empresas que possuem práticas responsáveis.

“Especificamente no Ceará, temos como destinos agraciados a Rota das Emoções, com prêmios e menções honrosas nos anos de 2014 e 2018. Além disso, temos também referências de empresas agraciadas como a Vila Kalango, em Jijoca de Jericoacoara, e Rancho do Peixe (2018/2019), na Praia do Preá, em Cruz” – ressalta.

Objetivo é promover consciência ambiental, social e econômica

Suilany Teixeira explica que o termo turismo sustentável surgiu em 1992 na conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Faz referência a atividade que alia a experiência turística com consciência ambiental, social e econômica. Seu objetivo é promover a atividade turística de maneira que atenda às necessidades dos visitantes e das comunidades, protegendo os recursos naturais locais. O turismo, quando não tem a característica sustentável, pode resultar no esgotamento dos recursos naturais, na descaracterização cultural e no desequilíbrio da comunidade local. 

“O turismo sustentável é importante porque visa reduzir os efeitos negativos das atividades turísticas. Sua importância é quase universalmente aceita como uma abordagem desejável e politicamente apropriada para o desenvolvimento do turismo. Logo, incentivar o turismo sustentável ajuda a fortalecer a atividade turística a longo prazo, sustentada na preservação ambiental e cultural que qualificam o destino turístico, gerando benefícios sociais permanentes.”

Suilany Teixeira, articuladora do escritório do Sebrae-CE na Região Norte e coordenadora regional do projeto Rota das Emoções

No Brasil, o turismo é uma área que cresce a cada ano: em 2017, esse setor foi o responsável pela injeção de US$ 163 bilhões no país, movimentando a economia e gerando um bom número de empregos. Agora, é a vez do turismo sustentável, que ganha cada vez mais espaço entre as viagens tradicionais brasileiras. Aliando responsabilidade social, preocupação com o meio ambiente e a busca por locais próximos à natureza, o turismo sustentável surge com um ótimo propósito. Esse novo conceito conquista viajantes e, de quebra, gera momentos incríveis aos turistas – opina Suilany Teixeira.

Algumas iniciativas são adotadas por municípios brasileiros para incentivar o turismo sustentável no país. Ela cita como exemplo o município Bonito, em Mato Grosso do Sul, que obteve certificação de destino de ecoturismo carbono neutro. Essa conquista foi viável através do sistema unificado utilizado para administrar o número de pessoas que visitam a região. O controle é feito por meio de um voucher digital, que indica o nome do turista e as atrações que ele pretende conhecer. Com isso, é possível controlar o número de turistas nos parques e garantir que a natureza não sofra tantos impactos com o excesso de pessoas

Ela reconhece, porém, que essa realidade está longe de muitos outros locais turísticos do Brasil. O turismo sustentável no país passa por grandes desafios. A expectativa para os próximos anos é de que, com o estímulo à economia verde e debates sobre ESG, o turismo sustentável ganhe a devida atenção com pessoas e empresas engajadas e preocupadas em respeitar a natureza, os povos originários e os diferentes modos de vida das comunidades que atraem turistas todos os anos.

Ceará é destaque na região Nordeste

O Ceará, com suas características geológicas, naturais e culturais, potencialidades e limitações, constitui a base para a execução das políticas de desenvolvimento sustentável, incluindo o turismo, um vetor indutor da ocupação regional e local, que alavanca setores e atividades promovendo intersetorialidades nas dimensões físicas, ambientais, econômicas, sociais e institucionais – acredita. “Turismo com sustentabilidade é um gerador de oportunidades de trabalho, formador de riqueza distribuída, de capital físico, social e institucional para a conservação dos patrimônios geológico, natural e cultural presentes nas diferenciadas regiões territoriais do Estado”.

No Nordeste, o segmento tem alcançado números significativos e o Ceará, na região, é um dos destaques. No Ceará, o destaque vem sendo para o turismo sustentável (ecoturismo) e o turismo de aventura, onde, no estado, temos como grandes referências dois Parques Nacionais, onde neles são contempladas essas experiências de ecoturismo e turismo de aventura.

Jericoacoara, por exemplo, é uma região repleta de belezas naturais, mas que, além do turismo sustentável, tem muito forte a prática de esportes, como o kitesurf, windsurf, entre outros. Temos também Camocim, Cruz e Amontada nessa linha. Na região serrana do Estado, temos Ubajara que vem se destacando fortemente e concentra um Parque Nacional – finaliza Suilany.

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