Dados do Banco Central mostram que em 2023 os investimentos no exterior alcançaram US$ 4,4 bilhões, montante bastante superior aos US$ 142 milhões de resgates líquidos de 2022. Apesar disso, apenas 1% do dinheiro dos brasileiros está alocado no exterior, o que representa apenas 1% do mercado global.
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A valorização de outras moedas em contraposição ao Real e a variedade de ativos em outros países estão levando empresas e pessoas físicas a diversificarem seus investimentos no mercado financeiro internacional em busca de maior proteção e rentabilidade. A variedade de opções é outra razão que leva investidores a se exporem à economia mundial e acessarem ações de companhias gigantes com atuação global. Para se ter uma ideia da amplitude deste negócio, basta saber que o mercado financeiro dos EUA conta com mais de 6 mil diferentes ativos disponíveis contra as 550 empresas listadas na Bolsa brasileira, a B3.
O crescimento relevante dos investimentos no exterior nos últimos anos se explica pela busca de diversificação das aplicações para enfrentar a volatilidade do mercado brasileiro. Ao contrário, nos Estados Unidos – o mercado de capitais mais aquecido do mundo – os brasileiros encontram um cenário de juros mais baixos, o que beneficia o mercado norte-americano de ações. A elevada liquidez externa mitiga os riscos dos ativos no Brasil. Outro fator atrelado é a busca de rendimentos em Dólar, o que é confortável para proteger o patrimônio em moeda forte.
Investir a longo prazo
Para o especialista em Investimentos, Gestão Patrimonial e Planejamento Financeiro, Rafael Meyer, da SWM/BTG Pactual, a globalização também incentiva a busca de opções no exterior tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. Ele recomenda que a diversificação não seja somente geográfica, mas de ativos mesmo, acessando players mundiais, como fazem os americanos que buscam os países emergentes para colocar seus recursos. “Investir no exterior é uma forma inteligente de diversificação e de mitigação de riscos, mas é preciso ter visão de longo prazo para garantir bom retorno”, disse, para explicar que esta é a mentalidade madura exigida de quem quer se aventurar fora dos limites nacionais.
O especialista alerta que os investimentos vão muito além dos títulos de renda fixa, citando o caminho dos investimentos alternativos inclusive de menor porte. Para estes valores da faixa de R$ 100 mil a R$ 300 mil, Meyer recomenda as ações negociadas em Bolsa para a pulverização dos recursos com ganhos maiores. “Com a pandemia, todos os países usam medidas expansionistas, injetando recursos em suas economias para conter a deflação. Boa parte deles já está chegando ao seu limite, o que favorece o apetite dos investidores em renda fixa ao redor do mundo com rentabilidades de 5,5% a 6,0%”, comentou ele.
Distribuir os ovos
Merula Borges, especialista em Investimento e Risco da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), diz que embora seja verdade que os brasileiros têm direcionado cada vez mais recursos para o exterior, também é sabido que o número de pessoas ainda é pequeno em relação ao total de investidores, já que a maior parte é de valores de grandes investidores ou grandes empresas. Para ela, é preciso uma boa orientação por conta da maior complexidade destes mercados e por interferir também em câmbio e diferenças legais, como na tributação.
Entre as maiores vantagens ela aponta a estabilidade e valorização de moedas mais fortes do que o Real. “Quando falamos em investimento em ações, por exemplo, existem inúmeras empresas sólidas e com bons números espalhadas pelo mundo”, afirma. Ela alerta também para a diversificação como um fator de segurança, citando o caso da Venezuela que, por instabilidade política e econômica, deixou muita gente frustrada em suas reservas para a aposentadoria. “Não é o caso do Brasil”, faz questão de esclarecer, mas concorda que não é recomendável colocar todos os ovos numa mesma cesta.
Entre os aspectos a serem considerados na hora de investir fora ela aponta o tamanho do mercado e da economia, as regulações específicas e a estabilidade política e da moeda. Merula também recomenda a busca de orientação profissional para lidar corretamente com a dinâmica econômica, financeira e tributária do país, exatamente o maior risco decorrente deste tipo de aplicação.
Os maiores captadores
Os EUA são os maiores captadores de investimentos não apenas de brasileiros, mas do resto do mundo. “A capitalização chega a ser cinco vezes maior do que a da China e 33 vezes maior que a brasileira”, informa a especialista. Ela explica que além da estabilidade e da valorização da moeda, o investidor pode ganhar também com a valorização do câmbio até mesmo quando o dinheiro está investido a uma taxa de juros menor.
De qualquer forma, convém não esquecer que o dinheiro não tem fronteiras. “Há boas empresas e bons investimentos espalhados pelo mundo e existem oito economias maiores do que a brasileira”, alerta ela.
Investir nos EUA em português
Também para Juliana Benvenuto, coordenadora de Conteúdo e Treinamento na Avenue, o acesso ao mercado financeiro internacional ficou muito mais simples, fácil e acessível com menos burocracia e não mais restrito a grandes valores. “Hoje é possível abrir uma conta em instituição financeira americana em menos de 10 minutos, de forma totalmente digital, e em uma plataforma 100% em português voltada para brasileiros”, garante ela, ao sinalizar um enorme caminho pela frente.
Juliana Benvenuto diz que o Brasil representa por volta de 1% do mercado de investimentos global, ou seja, investir somente no Brasil significa ficar restrito a apenas 1% das possibilidades de investimentos disponíveis. Ao contrário, investir internacionalmente amplia o leque de opções e aumenta a diversificação da carteira de investimentos com novos ativos e com exposição a uma moeda historicamente forte.
Desde o Plano Real, em 1994, o Real já perdeu 80% do seu valor frente ao dólar. Por que isso é relevante? “Porque boa parte da nossa vida é direta ou indiretamente impactada pelo dólar. Somos consumidores globais. É só olharmos todas as marcas que usamos no nosso dia a dia. As commodities são cotadas em dólar no mercado internacional”, explica. E vai além: quem marca presença no mercado americano tem acesso a setores que envolvem as megatendências ligadas à tecnologia: inteligência artificial, segurança cibernética e biotecnologia.
Ativos americanos
As classes de ativos são similares às conhecidas no Brasil. A diferença está na quantidade de opções disponíveis e na liquidez. Enquanto a renda fixa brasileira representa pouco mais de 1% do total global, o mercado americano detém mais de 40% do mercado, sendo os Bonds o principal tipo de renda fixa. Os Bonds emitidos pelo governo, seriam o equivalente ao Tesouro Direto no Brasil e os Bonds emitidos por empresas, seriam o equivalente às debêntures. A renda fixa americana é majoritariamente prefixada, devido ao histórico de inflação e juros muito mais estáveis do que no Brasil. Outro ativo de renda fixa que pode soar familiar aos brasileiros são os CDs, ou Certificados de Depósito, muito similares aos CDBs, títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras.
Dentro de renda variável existem também os REITs (Real State Investment Trusts), equivalentes aos fundos imobiliários no Brasil. As estruturas em si são diferentes (os REITs são empresas enquanto os FIIs são fundos), mas o conceito de investimento é bem similar, uma vez que é uma forma mais acessível de acessar o mercado imobiliário. Nos EUA é possível encontrar REITs de todos os segmentos: dos mais comuns aos mais incomuns, como de torres de celular, cassinos e até cemitérios.
Diante da ainda tímida presença de investidores brasileiros no exterior, a executiva da Avenue acredita numa evolução nos próximos anos graças à democratização maior dos investimentos e à maior educação financeira.
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