praticantes de kitesurf e economia azul

Cada vez mais empresários tem se dedicado ao kitesurf, esporte que proporciona muita adrenalina por ser um desafio, o que é muito motivador. (Foto: AdobeStock)

Ceará: A “Meca do kitesurf” mundial

Por: Pádua Martins | Em:
Tags:,

Chamado de “Meca do kitesurf”, o Ceará tem atraído cada vez mais velejadores, sejam eles nacionais ou internacionais, ávidos pelos excelentes e irresistíveis – e quase constantes – ventos que sopram em vários pontos da costa alencarina, principalmente nas praias de Cumbuco e Preá, respectivamente nos municípios de Caucaia e Cruz. Oito em cada dez turistas que praticam algum esporte no Ceará são kitesurfistas e cada um deixa, em média, R$ 3,5 mil no Estado.


Quer receber os conteúdos da TrendsCE no seu smartphone?
Acesse o nosso Whatsapp e dê um oi para a gente


Cumbuco e Preá são considerados os melhores locais do mundo para a prática do kitesurf, que tem ganhado mais adeptos ano a ano, sobretudo empresários. Mas, outras praias do estado têm chamado a atenção e são muito frequentadas, como a Ilha do Guajiru (Itarema); Jericoacoara e Taíba, essa última em São Gonçalo do Amarante. O fato é que o esporte tem impactado positivamente a economia estadual, mais ainda nos locais onde é praticado.

Mas, engana-se quem pensa que só os ventos chamam atenção dos kitesurfistas. O sol, a temperatura da água, uma boa infraestrutura (acesso – via terrestre; aeroportos – em Fortaleza e Jericoacoara; hotéis e pousadas), a forma carinhosa de acolhimento dos cearenses e a culinária são outros fatores que pesam bastante na escolha de um local para “curtir” o kitesurf. O período longo dos ventos também é decisivo, pois geralmente tem início em junho e se estende até dezembro/janeiro.

O kitesurf no Ceará tem proporcionado várias oportunidades, como geração de emprego e renda, desenvolvimento de negócios, como pousadas, hotéis e restaurantes, valorização imobiliária, dentre outros, melhorando a qualidade de vida, principalmente nos últimos dez, vinte anos. Muitos apostam que essa realidade veio para ficar e deve continuar crescendo no Ceará, bem como em alguns Estados do Nordeste, como, por exemplo, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão.

Um dos empreendimentos mais recentes que está sendo tocado é o Carnaúba Wind House, do Grupo Carnaúba, localizado na Praia do Preá a apenas 15 minutos do aeroporto de Jericoacoara. É um condomínio de alto padrão, voltado principalmente para os amantes do kitesurf. A decisão de investir no local partiu do empresário Júlio Capua, ex-CFO da XP e cofundador da holding Grupo Carnaúba. Apaixonado por kitesurf, Capua sonhava em unir negócio e propósito, um desejo que está se transformando em realidade.

O empreendimento, que terá 170 acomodações, está sendo construído em terreno à beira-mar e conta com a assinatura dos arquitetos Miguel Pinto Guimarães e Sergio Conde Caldas. A previsão de inauguração é para 2025, mas as primeiras casas e a estrutura inicial do clube para os sócios-fundadores começam a ser disponibilizadas já em 2024. O Carnaúba Wind House deve gerar mais de 150 empregos diretos e cerca de 450 indiretos.

Kitesurf é o preferido dos turistas esportivos

Dados da Secretaria de Turismo do Ceará (Setur) relativos a 2022 revelam que, dentre os 3,01 milhões de turistas (domésticos e internacionais) que visitaram o Ceará, 13% afirmaram ter viajado para praticar algum esporte, ou seja, o equivalente a quase 400 mil. Desse total, oito em cada dez deles afirmaram ser o kitesurf a modalidade preferida, número que, por si só, é impactante.

A titular da Setur, Yrwana Albuquerque, em matéria publicada pela Agência Brasil, no ano passado, foi taxativa diante dos números dos turistas que procuram o Ceará para alguma prática esportiva ou de aventura: “Isso faz com que tenhamos a noção da importância do segmento e que trabalhemos para que a promoção estadual do turismo esportivo e de aventura seja cada vez mais assertiva” – acredita.

“Um turista que visita o estado para praticar kite ou surfar gasta, em média, cerca de R$ 3,5 mil. É uma quantia individual muito significativa para nossa economia. E que comprova que os investimentos feitos dão retorno. Nas localidades onde há forte presença de kitesurfistas, há mais empresários. Muitos dos esportistas que vêm em busca de um local de excelência para praticar seus esportes acabam decidindo ficar e investir no Estado.”

Yrwana Albuquerque, titular da Setur

Ceará reúne as melhores condições climáticas

Para Mariana Zonari, CEO do Winds For Future, o Ceará, de modo geral, reúne algumas das melhores condições climáticas do mundo pra prática do kitesurf, o vento no Estado, além de ter um bom período constante, é forte, propiciando condição excelente para o esporte. “Além disso, a gente tem águas relativamente calmas e quentes. Então, isso faz com que o Ceará seja considerado por aí a Meca do kitesurf, atraindo gente de mundo todo para velejar. Temos também uma janela muito grande, de junho a dezembro, de bons ventos”.

Mariana Zonari, CEO do Winds For Future. (Foto: Arquivo pessoal)

O kitesurf – observa Mariana Zonari – tem despertado cada vez mais a atenção de empresários, mas ela não sabe precisar exatamente o motivo da atração, mas adianta que “acabou se tornando um esporte no qual as pessoas fazem network de negócios. O kitesurf é um esporte relativamente elitizado pelo preço dos equipamentos e pelo investimento para aprender a prática, mas tem atraído muitos, cada vez mais empresários. O Ceará tem virado uma Florianópolis dos empresários do eixo Rio/São Paulo” – opina. 

“O kitesurf proporciona inúmeros benefícios, tanto para quem tem idade super avançada, bem como para supernovos. E a gente teve aí o recorde mundial. Pessoas de seis a oitenta e três anos. É um super benefício. Deixa você mais ativo física e mentalmente. E o interessante é que, por mais que seja um esporte individual à primeira vista, as pessoas o praticam coletivamente. Gera muita sociabilidade.”

Mariana Zonari, CEO do Winds For Future

Empresários cada vez mais praticam o esporte

Cada vez mais empresários tem se dedicado ao kitesurf, que proporciona muita adrenalina, justamente por ser um desafio, o que é muito motivador – afirma o advogado Rômulo Alexandre Soares, co-fundador do Winds For Future. “Não há dúvida que a prática do esporte traz muitos benefícios físicos, mentais, além de promover desenvolvimento das áreas onde é praticado”.

Rômulo Alexandre Soares, co-fundador do Winds For Future. (Foto: Arquivo pessoal)

Ele frisa que o esporte tem crescido muito no Brasil e que, durante a temporada no Ceará, tem aumentado o número de praticantes. Para se ter uma ideia, em 2022, o KiteParade contou com 1.200 inscritos. Ele também lembra que o Guinness World Record, em 2023, oficializou o novo recorde na cerimônia de encerramento do Kite for the Ocean (K4tO), confirmando 81 mil quilômetros velejados por kitesurfistas de mais de 34 países diferentes, muitos deles reunidos aqui no Ceará, num desafio que motivou uma rede em torno do Winds for Future para retirar mais de 81 toneladas de lixo de ambientes costeiros.

Além de citar os excelentes ventos do Ceará para a prática de kitesurf, Rômulo Soares observa que existe uma característica interessante do esporte, que é o downwind, que é velejar, por vários quilômetros, pelo litoral. “Alguns começam no Rio Grande do Norte, passam pelo Ceará, Piauí e Maranhão. É um esporte que permite o deslocamento por grandes distâncias” – finaliza.

Paulo Jorge Barreira, engenheiro civil, que iniciou velejando no windsurf, em 1981, e optou pelo kitesurf há mais de 20 anos, diz que, “dentro do mar, você esquece de tudo. É só você e o mar. O kite, o vento e as ondas. E isso proporciona o grande bem-estar, refletindo nas ações, no pensamento rápido e na estratégia do velejo. Tudo é um estilo de vida saudável e prazeroso”. Além disso, o esporte promove uma integração entre amigos, moradores e família. Velejar sempre é um desafio. “Como dizemos, toda entrada no mar sempre é diferente. Você sai de um dia agitado, vai velejar. E volta leve, cabeça limpa e o corpo agradecendo por aquele dia, mesmo cansado, mas muito satisfeito”.

Paulo Jorge Barreira, engenheiro civil e praticante de kitesurf. (Foto: Arquivo pessoal)

Para ele, o esporte não é difícil de aprender, pois o kite/prancha é de fácil manuseio, tanto de levar como de embarcar. Reconhece, no entanto, que o esporte “não é muito barato”. Mas o material, se bem cuidado, dura um bom tempo, anos. Praticamente, quase tudo é importado, mas já existem boas tentativas de produção nacional. “Os equipamentos não tem melhorado de preço, talvez devido a grande procura, a grande quantidade de novos velejadores que tem iniciado no esporte dia a dia, aliada a falta de fornecedores nacionais”.

Ele tem a mesma opinião de Mariana Zonari em relação às condições do esporte no Ceará. “O kitesurf tem crescido muito no Brasil e, sobretudo, no Nordeste. No Estado motivado pelas águas quentes, clima, sol e ventos fortes praticamente o ano inteiro. Além disso, o povo é bem receptivo, o que promove interação entre os turistas e moradores locais. Temos também excelentes velejadores, como o campeão mundial Carlos Mário, mais conhecido por Bebê do Cumbuco. A culinária também exerce forte atração” – ressalta.

“Cumbuco e Preá tem as melhores condições. Preá é frequentada por muitos estrangeiros em decorrência do aeroporto da região, o que facilita muito o acesso de velejadores que vem do Sul e do Sudeste do Brasil, bem com os estrangeiros que vem para o aeroporto de Fortaleza e muitas vezes pegam algum voo para Jericoacoara e aquela região toda. Mas, em todo o litoral brasileiro sempre vai ter alguém de kite. O esporte tem propiciado grande desenvolvimento, gerado empregos. Também existe um grande crescimento imobiliário, com pousadas e hotéis de excelente qualidade. Tudo isso faz parte do pacote do kite.” 

Paulo Jorge Barreira, engenheiro civil

O empresário Aaron Campos Martínez, fundador da Bullman Kite, que fabrica equipamentos para kitesurf e wing, entende que o kitesurf, assim como qualquer outra atividade física, ajuda na produção de hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar. Por ser um esporte onde se precisa do outro para levantar ou baixar o kite, o kitesurfista acaba conhecendo gente e o fato de velejar no mar é relaxante.

Aaron Campos Martínez, fundador da Bullman Kite. (Foto: Arquivo pessoal)

Indagado sobre como proceder para iniciar no esporte, ele adianta que é necessário ter aulas teóricas e práticas com um instrutor credenciado e, melhor ainda, se essa pessoa tiver experiência na água. “O melhor caminho é sempre procurar uma escola de kitesurf, pois elas oferecem o material de segurança (colete e capacete)” – adverte.

Aaron Campos Martínez informa que um equipamento completo (prancha, kite e trapézio) usado pode custar entre R$10.000 e R$15.000. Já novo pode ficar entre R$30.000 a R$50.000. Os valores, apesar de altos, não têm impedido o crescimento do esporte. “A prática do kitesurf cresce no mundo todo, mas o Nordeste do Brasil e o Norte da África são locais com garantia de vento, por isso a grande busca por esses destinos. No Nordeste, o Estado com maior regularidade de vento é o Ceará. hoje apelidado de Havaí dos ventos” – conclui.

Mercado de equipamento de kitesurf deve atingir US$ 1,6 bilhão em 2031

É o que prevê o relatório publicado pela Business Research Insights, que informa também que a estimativa é de um GAGR de 6,76% durante o período de previsão. Em 2021, o mercado global de equipamentos de kitesurf foi de US$ 860 milhões. O desenvolvimento de novos produtos é a principal tendência que impulsiona o mercado. O crescimento do mercado global será alimentado pela introdução de novos produtos que melhorem a segurança do usuário final. Os fornecedores estão introduzindo novos acessórios de kitesurf, como barras, travas, arneses, pipas e pranchas que são mais seguros e fáceis de usar do que os acessórios mais tradicionais.

Segundo o relatório, a indústria do turismo, que tem feito investimentos significativos para elevar os padrões de crescimento dos esportes de aventura a fim de melhorar o turismo global, é o principal fator de dinamização do mercado. Isso tem um impacto considerável na expansão do mercado global. O número de pessoas praticando esportes ao ar livre e de aventura, como o kitesurf, está aumentando. A promoção global dos desportos de aventura também se beneficiou enormemente da publicidade nas redes sociais e de outras estratégias de inbound marketing. Devido às suas vantagens para a saúde, o kitesurf está ganhando popularidade entre jovens e atletas.

Saiba mais:

Kite for the Ocean debate sustentabilidade aliada ao kitesurf

Turismo sustentável deve movimentar US$ 374 bi em 2028

A tradução dos conteúdos é realizada automaticamente pelo Gtranslate.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Top 5: Mais lidas