Tudo começou em 2014, com a falta de uma máscara para a filha do fundador da Agenda Edu, Carlos Alan. Sem uma clara comunicação entre escola e pais, a menina foi à aula de uniforme para um baile a fantasia. Nascia a ideia de agenda digital que, um ano depois, ganhou o apoio da Fundação Lehmann e, em 2018, fez a primeira captação de fundos de investimentos.
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“Os desafios são permanentes, mas o maior deles hoje é liderar pessoas diferentes para que trilhem o mesmo caminho”, garante Anderson Morais, cofundador e CEO da Agenda Edu. Para ele, há enorme potencial nos pequenos negócios que contam com o motor da inovação e são esteios em qualquer país.
O mais completo super app da educação, a Agenda Edu oferece um hub de soluções 100% integradas para escolas, alunos e familiares em um único lugar – desde matrícula e acompanhamento de toda a rotina escolar (comunicação multicanal com gestão de atendimento, diários, boletim, presença, mural de fotos etc.), até mensalidades e negociação de dívidas, por meio da solução de pagamentos da Bemobi, controladora da Agenda Edu desde 2023.
Dez anos depois de sua constituição como uma simples agenda digital, a Agenda Edu atualmente passa de 2,5 milhões de usuários ativos, atende mais de 3 mil escolas clientes e movimentou acima de R$ 140 milhões no último ano. “Conseguimos reunir, em um só lugar, os recursos que as escolas e familiares precisam para acompanhar a rotina escolar dos alunos de forma completa e prática, simplificando a jornada educacional”, diz Anderson Morais.
Eu S.A
Caso isolado? Não. Este é apenas um exemplo que bem retrata o perfil do universo empresarial brasileiro integrado não só por grandes corporações, que levam a bandeira do Brasil para todos os continentes. As micros e pequenas empresas, que mais recentemente ganharam o explosivo reforço de startups e das MEIs, os microempreendedores Individuais ou os “Eu S.A”, estampam a realidade de quem movimenta a roda da economia e gera riquezas. A Agenda Edu é, também, uma prova bem-sucedida de que é possível prosperar, apesar da elevada mortalidade que vitima milhares de pequenas iniciativas empreendedoras nos primeiros cinco anos de vida.
Maioria na movimentação do ecossistema empreendedor nacional, as micros e pequenas empresas deveriam absorver a cultura das startups, que propõem soluções pela inovação. É o pensamento de Mário Alves, coordenador da impulsionadora do ecossistema de inovação do Ceará, a Inecco.Ele vê evolução com o apoio percebido das entidades que impulsionam o nascimento das empresas. Alves sinaliza, entretanto, que é preciso incentivar propostas de governança para aumentar o nível de colaboração, transparência e resultados alcançados por iniciativas inovadoras em território brasileiro, sejam startups, negócios de impacto social, spinoffs ou pesquisas acadêmicas.
Dogma da melhoria de gestão
Sob o olhar cuidadoso do Sebrae Nacional e sua rede estrategicamente localizada no território brasileiro, a sólida teia empresarial prolifera como fruto da criatividade, espírito empreendedor ou até mesmo da necessidade de sobrevivência.
Como ignorar as micro e pequenas empresas diante de uma representatividade de 95% do universo empresarial brasileiro, que responde por quase 30% do PIB e que gera 58% dos empregos e 40% da massa salarial? Então, o que precisa ser feito? A pronta resposta vem de André Spínola, gerente de Gestão Estratégia e Inteligência do Sebrae Nacional: melhorar a gestão dos pequenos negócios, atual e maior dogma do Sebrae.
A par do reconhecido espírito empreendedor dos brasileiros, há uma grande desatenção quanto à gestão financeira, de vendas, de pós-vendas, de recursos humanos e de relacionamento com o cliente. “A profissionalização como empreendedor continua sendo a grande dor”, afirma, analisando questões internas. Em se tratando de variáveis externas, entretanto, o segmento vive um momento favorável aos negócios.
Rede de apoio
O mercado está atraente para inovações e a economia dá respostas positivas. Recentemente, o governo anunciou o Programa Acredita para simplificar o acesso ao crédito e facilitar a renegociação de dívidas dos microempreendedores Individuais (MEI) e também micro e pequenas empresas. Uma espécie de Desenrola (outro programa oficial) para esta categoria de empresa e que poderá alcançar até R$ 30 bilhões em crédito.
E para se credenciar cada vez mais na cadeia de fornecimento às empresas maiores, André Spínola é taxativo nas recomendações. “As empresas precisam estar nos cascos”, a começar por não ter intermitências, ou seja, ter previsibilidade para a garantia de entregas. Neste momento, surge outro grande obstáculo e exigência dos compradores. Ou uma oportunidade, se as empresas souberem aproveitar.
Trata-se da transformação digital. É sabido – e pesquisas confirmam – que os pequenos negócios usam celular, internet e WhatsApp, inclusive o Business. Também têm perfil no Instagram, o que mostra algum esforço na direção da digitalização. Mas não basta. O gerente do Sebrae diz que qualquer empresa física que ingressar no digital tem que ver este movimento como se fosse uma filial, com gestão profissional e capaz de oferecer um pós-vendas consultivo, não panfletário, mas agregando conteúdo e sabendo o que o cliente quer. “O futuro é promissor”, afirma, dizendo que o ambiente é propício para buscar ajuda e planejar, diferentemente do que acontece na emergência das crises.
O desafio da transformação digital dos pequenos negócios
No olhar de quem acompanha a floresta e não apenas a árvore, André Miceli, professor de MBA’s da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que é fundamental avançar em digitalização para que este, que é o verdadeiro universo da economia, continue bem distribuídopor todos os Estados, gerando ocupação e promovendo o desenvolvimento econômico em regiões menos industrializadas e incentivadas, fundamental para diminuir a desigualdade no Brasil.
A seu ver, o caminho para a transformação digital das micro e pequenas empresas ainda é longo porque elas enfrentam os desafios do conhecimento de tecnologia e da própria cultura. “Ainda é baixa a adoção de determinadas soluções tecnológicas, como por exemplo o software as a service”, afirma, informando que menos de 5% das micro e pequenas empresas usam este tipo de solução no Brasil para otimizar os seus trabalhos e reduzir custos.
Por mais que exista algum tipo de software instalado nestas empresas de diferentes atividades com algum recurso tecnológico, “a opção de utilizar softwares as a service dá para a empresa uma escala interessante. É o caminho para escalonar o negócio, dada a sua utilidade em termos de competitividade”, diz o professor Miceli, atestando sua importância para o crescimento econômico delas próprias e, por decorrência, do Brasil.
Aliados tecnológicos
Para ele, a transformação digital pode trazer diversos benefícios, que ele agrupa em duas grandes colunas, uma de aumento de receita e outra de diminuição de despesas. Simples assim. “Basta olhar para a experiência do cliente, entender os seus insights e necessidades e definir a próxima melhor oferta após a compra de um determinado produto”. Tarefas para as quais há recursos tecnológicos adequados.
A integração das tecnologias também é fundamental para o crescimento. As empresas ainda usam soluções departamentalizadas, resultando em baixo desenvolvimento. O foco no cliente e inovação contínua igualmente são vitais e que levam ao fim da resistência cultural a mudanças. “De nada adianta ter ferramentas e recursos se bater na cultura que não deixa avançar”, diz.
Dentre os maiores aliados para o avanço, André Miceli cita os serviços de cloud computer, que favorecem o rápido crescimento sem necessidade de dimensionar a infraestrutura tecnológica. “A nuvem resolve”, afirma. Também cita as ferramentas de colaboração para o trabalho conjunto como editores de texto, construção de apresentação, de vídeo, de conteúdo, correio, sistema de gestão integrada (folha de pagamento, fluxo de caixa, estoque), marketing digital, análise de dados e inteligência artificial, estes dois últimos chegando cada vez mais fortes.
O varejo é um bom exemplo do uso da digitalização,modelo que se forçou a se adequar na pandemia e desde então seguiu o rumo da digitalização. O setor industrial também caminha nesta direção. Em termos gerais, considerando as indústrias de todos os portes, há um avanço no uso da tecnologia dentro do conceito de Indústria 4.0, que prevê a digitalização da produção industrial para integrar as diferentes etapas da cadeia de valor, desde o desenvolvimento do produto até o uso final. A maioria, entretanto, ainda está em fase inicial.
Indústria 4.0
Para Samantha Cunha, gerente de Política Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a falta de conhecimento das tecnologias pelas empresas ainda é um desafio que precisa ser vencido e o baixo nível de variedades de tecnologias digitais reforça a necessidade de não apenas continuar avançando na adoção, mas também aumentando em integração das tecnologias para que os benefícios permitidos pela indústria 4.0 sejam ainda mais significativos.
Digitalização consciente e inconsciente
Cícero Rocha, presidente do Instituto Empresariar, concorda com os diagnósticos que se confirmam nas empresas familiares (95% do mercado), segmento no qual é especialista. Sua observação junto às 60 empresas que auxilia mostra que em 70% delas a digitalização estava ocorrendo inconscientemente, por força do ambiente externo. Somente 30% já fazem por iniciativa própria, o que começa a ser revertido com a tomada de decisão consciente de que é preciso avançar. Entre as razões que levam à mudança estão a implementação de um bom planejamento estratégico, a integração das novas gerações de forma efetiva, o auxílio de consultorias especializadas e implantação do processo de governança.
“Um fato relevante que observamos é que o envolvimento das novas gerações impacta positivamente na evolução do uso de ferramentas voltadas à digitalização dos processos”, diz. E destaca que é preciso acelerar o processo junto às micro e pequenas empresas de qualquer atividade, dada a sua representatividade econômica.
Soluções para quaisquer dores
Diferentemente das pequenas iniciativas nascidas nos quintais e garagens num passado não muito distante, as startups continuam surgindo da inspiração e sonhos, mas com um propósito bem definido de atacar as dores bem presentes e com uma solução inovadora e disruptiva. Quem vivencia esta realidade é Leandro Piazza, CEO da 49 Educação, o maior player de educação de startups do Brasil, que já aplicou sua metodologia de desenvolvimento de negócios em mais de 2000 startups.
Na lista dos três melhores mentores de startups do Brasil, segundo a ABStartups, Leandro Piazza testemunha a realidade deste segmento formado por pouco mais de 20 mil empresas, considerando aquelas que seguem um modelo que escala e que usa a tecnologia para ter alta capilaridade. Mas sabe também que é crescente o número de novas empresas com projetos inovadores, promovendo uma corrida ao ouro e um estímulo aos novos empreendedores.
“Os negócios tradicionais foram ‘desruptados’ e se renderam aos modelos inovadores”, afirma. Exemplos não faltam: a Blockbuster, maior videolocadora do mundo, deu lugar para a Netflix e o maior banco brasileiro hoje não tem agências, o Nubank. “Isso vai acontecer em todos os setores e numa velocidade cada vez mais rápida, o que exige que os negócios tradicionais inovem ou façam spin-off, criando um braço inovador com velocidade e escalabilidade”, preconiza Leandro Piazza.
Dados padronizados
Sua projeção, por óbvio, inclui a inteligência artificial, especialmente nas atividades ligadas a atendimento ao cliente, que chegam com muita força, com soluções para garantir agilidade e eficiência, com informações mais padronizadas. “Quem não sofre com os call centers, quando a gente precisa ligar para uma companhia aérea para trocar um bilhete?”, provoca.
O mesmo deve acontecer na área jurídica onde o padrão se repete em cima de códigos jurídicos, sem margens para interpretações. Idem na área da saúde com diagnósticos precisos. Idem no setor contábil. Ou seja, a lógica será o que aconteceu versus o que está padronizado, o que está tipificado, o que está num protocolo já definido.
A indústria brasileira tem uma base tecnológica muito forte, onde as startups encontram um terreno fértil a ser semeado com soluções inovadoras. Para isso, conta com uma mão-de-obra de desenvolvedores e programadores com custos acessíveis quando comparados aos EUA, Europa e Canadá. Leandro Piazza diz que o DNA do brasileiro é muito criativo e empreendedor, o que coloca o Brasil na frente de culturas mais engessadas e faz com que cada região encontre uma vocação.
“É mais fácil para um pequeno ou novo empreendedor se lançar no mercado hoje com o apoio dos ecossistemas regionais do que era há 10 anos”, assegura, sem ignorar que há necessidade de maior volume de investimentos a custos menores neste tipo de negócio de rápido crescimento e de grande alcance social. Estará aí a virada do jogo brasileiro no campeonato da inovação?
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