Produtos embalados em plástico são os que apresentam maior facilidade, apelo e aderência para consolidação das ODS. (Foto: Envato Elements)
A indústria de transformados de plástico (exceto de reciclados) no Brasil é responsável pela geração de 343,8 mil empregos, oriundos de 11.339 empresas que produzem 6,7 milhões de toneladas. O faturamento também não é pequeno: R$ 117,5 bilhões. Os números são da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e fazem parte do Perfil das Indústrias de Transformação e Reciclagem de Plástico no Brasil em 2022, publicado no final do ano passado. A Associação prevê crescimento de 1,5% em 2024, mas a estimativa depende de vários fatores, que vão desde o índice de inflação a logístico, sobretudo de transporte.
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O Ceará conta com 214 empresas, com participação de 1,9% em relação as 11.339 em todo o país, ocupando a décima posição. É o terceiro no Nordeste. Com relação ao número de empregos, o estado responde por 4,30 mil, o que representa 1,3% dos 343,86 mil de todo o setor, ficando na 11% posição do ranking nacional. Em primeiro está São Paulo, tanto no número de empresas (4,77 mil, ou 42,1%), bem como na geração de empregos (146,77 mil ou 42,7%). Em último lugar está Rondônia.
De acordo com a publicação da Abiplast, as micro e pequenas empresas são a maioria no Brasil: 79,7%, seguidas pelas médias empresas, com 17,6% e, finalmente, as grandes empresas, com participação de 2,7%. No entanto, são levadas em consideração as receitas líquidas de vendas industriais. Nesse caso, as pequenas participam com 7,8%, as médias com 33,1% e as grandes com 59%. No que tange a pessoal ocupado, as micro participam com 31,6%; as médias com 37,6% e as grandes com 30,8%.
A pesquisa também revela que as exportações de transformados plásticos, em 2022, totalizaram 317 mil toneladas, o que representa R$ 7,4 bilhões. Já as importações somaram 737,7 mil toneladas, correspondendo nominalmente a R$ 19,7 bilhões. O saldo comercial de transformados plásticos foi -420,6 mil toneladas; em reais, o saldo comercial de R$ -12,3 bilhões. O saldo comercial em dólar atingiu US$ -2,4 bilhões.
O Brasil tem 1.328 indústrias de reciclagem, responsável, em 2022, por uma geração de 14,6 mil empregos e faturamento (reciclagem pós-consumo) de R$ 4 bilhões e produção (física de plástico pós-consumo) de 1,0 milhão de toneladas. A grande maioria das empresas está localizada em São Paulo (428), uma participação de 32,5%. São responsáveis pela geração de 4,3 mil empregos (29,5% do total).
O Ceará, nesse setor, tem 44 empresas (3,3% de participação) e ocupa o sétimo lugar no ranking nacional, sendo o primeiro do Nordeste. No que diz respeito a geração de empregos, o estado detém a sexta colocação, com 707, o equivalente a 4,8% do total, também superando os demais estados nordestinos.
Para se manter competitivo no setor de plástico é essencial acompanhar tanto as perspectivas do cenário econômico quanto as principais tendências do mercado. Entender como as novas tecnologias e regulamentações criam nichos e oportunidades de negócios para qualquer empresa é um importante diferencial competitivo – afirma Mário Wellington Andrade de Farias, diretor presidente do Grupo Duraplast, especialista em soluções tecnológicas para embalagens de medicamentos, desenvolvendo linhas completas para aplicações médicas e hospitalares.
Sobre as tendências e inovações do setor, Mário Farias observa que o crescimento da robotização em fábricas é uma realidade. Conforme pesquisa da Federação Internacional de Robótica, a proporção de robôs industriais por número de trabalhadores no Brasil ainda é pequena, o que demonstra grande espaço para o crescimento da automatização. E nesse segmento a indústria plástica será uma das grandes protagonistas da tecnologia.
A robotização, que já é conhecida como parte da chamada Indústria 4.0, encontra grande resistência em alguns segmentos ligados à mão de obra, que temem a perda de posições para automação – analisa.
“Os trabalhadores continuarão sendo essenciais para a implantação e coordenação de novas tecnologias. Com a robotização e a automatização, o trabalho poderá ser padronizado, ganhando eficiência e agilidade, já que as paradas serão programadas e não haverá necessidade de interrupção dos processos conforme a jornada profissional dos funcionários. Os colaboradores, por sua vez, com apoio de uma política industrial de preparação da mão de obra especializada, precisarão se especializar e passar a executar serviços mais minuciosos e técnico, programando e comandando o processo de automação e robotização industriais.”
Mário Wellington Andrade de Farias, diretor presidente do Grupo Duraplast
No Brasil, de forma ainda resistente, o consumo per capita de materiais plásticos é da ordem de 64 quilos por habitante ao ano, enquanto a média nos Estados Unidos alcança 221 quilos per capita. Para Mário Farias, embora isso represente uma grande oportunidade de crescimento para a indústria, o desenvolvimento precisa ser sustentável e baseado em políticas adequadas.
O diretor presidente da Duraplast avalia que, embora seja um material intensamente utilizado em vários segmentos (automotivo, moveleiro, construção civil, brinquedos, utensílios para as diversas finalidades, embalagens, cosméticos, área médica, entre outras), a disseminação do plástico ainda tem grandes desafios pela frente.
O plástico é reciclável e tem alta durabilidade, fazendo com que os produtos que utilizam essa matéria-prima tenham longa vida útil. No entanto, muitos consumidores ainda têm restrições ao seu consumo por acreditarem que o material demora muito tempo para se degradar na natureza e causar impactos ambientais, quando na verdade o que falta é educação e conscientização de todos nós consumidores – opina.
Ele reconhece, no entanto, que longo tempo para a degradação do plástico, de fato, é uma realidade. Porém, ressalta que “ele é totalmente sustentável, já que pode ser encaminhado para reciclagem e reutilizado em novas aplicações com características praticamente idênticas às do material original. Para tanto, os fabricantes devem investir em políticas de logística reversa, com coleta de resíduos de seus produtos para encaminhamento à reciclagem”.
Como exemplo, cita o que já acontece com os fabricantes de baterias automotivas, que recebem de volta as baterias usadas e promovem a reciclagem total do plástico e do chumbo, ao tempo que neutralizam o ácido sulfúrico para não agressão ambiental.
“O plástico é a grande solução para a indústria e famílias, porém o êxito vai depender necessariamente da conscientização do consumidor quanto ao descarte responsável, bem como, de políticas públicas que incentivem o processo de reciclagem e reutilização dos materiais.”
Mário Farias, diretor presidente do Grupo Duraplast
Em 2022 foi promulgada a Lei 11.043 que instituiu o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), estabelecendo para os 20 anos seguintes as estratégias, diretrizes e metas para o setor, entretanto, não basta apenas ter uma legislação, tem que ter os incentivos e a conscientização coletiva de utilizarmos os recursos sem poluir e com isso gerar novos recursos – informa.
Indagado sobre os desafios do setor no Brasil, Mário Farias é taxativo: é um país que tem uma dimensão quase que continental, onde a falta de investimentos fez com que o custo de transporte fosse elevado em comparação aos países desenvolvidos. “Os setores de transporte de cargas e seus modais, seja ferroviário, rodoviário, marítimo, aeroviário, aquaviário e dutoviário, carecem de grandes investimentos capazes de diminuir o custo logístico e evitar as perdas de produção no campo e nas indústrias” – frisa.
Ele avalia que um grande obstáculo para o transporte de cargas é o uso desigual dos modais, onde 67% é transportado por rodovias; 21% por ferrovias e quase 12% através de vias navegáveis e outros modais. O Brasil conta com 8.514.876 Km2, dos quais 7.367 km são de litoral e grandes rios navegáveis, o que já deveria ter definido políticas públicas capazes de incentivar o uso por cabotagem (transporte via marítima e as vias navegáveis interiores).
Para ele, o modal ferroviário também poderia ser a solução, pois apresenta custos mais baixos, especialmente quando se transporta grandes volumes de cargas. Entretanto, quase todas as ações governamentais estão voltadas para o transporte em massa via sistema rodoviário, mais caro e que necessita de grandes investimentos continuamente.
“Acreditamos que o grande desafio logístico seja a diversificação e combinação de vários modais de transporte simultaneamente, buscando, assim, a diminuição dos custos operacionais. Os desafios continuarão sendo enormes. O ambiente interno do país aponta para alguns desafios grandes, no entanto, isto não inibe a nossa capacidade de superação. Assim, mais uma vez, reafirmamos nossa confiança no futuro dos negócios e nos novos rumos da economia” – desabafa.
Para concluir, Mário Farias informa que o setor da construção civil é disparadamente o maior consumidor da indústria de plástico, representando um consumo estimado de 23,1% , dentre as matérias-primas se destacam o PVC (Policloreto de Vinila) e EPS (Poliestireno Expandido) nas construções residenciais e comerciais (pisos, portas, janelas, quadro de distribuição, tubulações, caixas de água e de passagens, dentre outras), além de grandes obras de infraestrutura como rodovias, túneis e pontes.
Mas ele destaca o de produtos utilizados nos segmentos farmacêuticos e hospitalares, usando os termoplásticos para a fabricação de embalagens flexíveis e rígidas para medicamentos líquidos e orais, além de sondas, cateteres, tubos de extensão, frascos para nutrição enteral, máscaras de oxigênio, válvulas, aspiradores cirúrgicos, filtros, seringas, dentre outros. Para se ter uma dimensão de tamanho, é importante mostrar que o setor têxtil e vestuário representa apenas um consumo de 1% de toda a demanda de resinas plásticas, dos quais, pouco mais da metade é utilizado na produção de sandálias.
William Bailo, gerente Industrial da Farmace, referência no mercado farmacêutico, ao comentar sobre a importância do plástico no mercado de modo geral, diz que a cada dia, em todos os segmentos de mercado, “vemos a busca da substituição das matérias-primas tradicionais da fabricação de bens de consumo, que utilizam vidro e metal, por plástico”.
Na maioria dos casos com vantagens técnicas e quando não, vantagens econômicas – ressalta, acrescentando que “a cada minuto surgem inovações que até duvidamos. Paradigmas são quebrados a cada segundo. E como fonte recente dessa ‘usina de inovação’, vemos as impressoras 3D, cuja base dos materiais utilizados encontra-se no plástico e suas variantes”.
Na área farmacêutica e de saúde, tomando como exemplo o segmento de Soluções Parenterais de Grande Volume – conhecido como soro – que nos anos 70 era fabricado em frascos de vidro com tampa de borracha, um frasco vazio pesava quase o valor do próprio conteúdo. Considerando somente aspecto logístico, o custo seria duas vezes o atual para fazer chegar este produto nos hospitais, além do custo na logística reversa ou de destinação para reciclagem – chama a atenção.
Existem certos produtos da indústria de medicamentos que seria impensável a sua existência sem o uso do plástico. Sempre que possível, a embalagem de um produto farmacêutico será desenvolvida em algum plástico. Quando por restrições técnicas, é que serão utilizados outros materiais.
“Utilizando o mesmo raciocínio acima, a logística com produtos embalados em plástico é menos onerosa, sob todos os aspectos que os embalados em vidro e metal. Podemos considerar entre 30 e 100%, dependendo do produto. Atualmente se utiliza, na fabricação de alguns produtos farmacêuticos, máquinas que produzem a própria embalagem e envasam o produto em operação única, reduzindo ainda mais os custos operacionais e de produção, abrindo assim oportunidade para novas aplicações.”
William Bailo, gerente Industrial da Farmace
Quanto à questão da sustentabilidade, em relação à ESG, a cadeia de reciclagem das embalagens plásticas é muito bem sedimentada e articulada, oferecendo, ainda, grandes oportunidades de expansão, normatização e organização, para atender aos 17 princípios e objetivos de sustentabilidade da ONU. Produtos embalados em plástico são os que apresentam maior facilidade, apelo e aderência para consolidação destes princípios, principalmente pelo volume que representa – garante William.
A respeito das tendências, inovações e oportunidades no mercado, William Bailo explica que uso do plástico apresenta infinitas oportunidades em qualquer segmento. Quanto ao ligado a saúde, os projetos relacionados a materiais plásticos encontram na impressão 3D uma grande fonte inspiradora, pois estuda-se a “impressão” de próteses semelhantes aos humanos, abrindo assim um leque de oportunidades. Além disso, embalagens com desempenho superior em estabilidade, usabilidade etc. estão sendo lançados a cada dia, tornando possível a disponibilidade de medicamentos a preços menores.
Iniciativa transforma plástico descartado em mobiliário urbano para comunidades