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Empreendedorismo: Potencial de transformação além dos negócios

O empreendedorismo jovem tornou-se uma realidade no Brasil, e cada vez mais, jovens ingressam no mercado de trabalho a partir da inovação, transformando suas ideias em empreendimentos concretos. Contudo, empreender no Brasil não é uma jornada fácil, o que torna a decisão profissional de seguir o caminho empreendedor ainda mais delicada.


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O empreendedorismo oferece uma via de atuação para profissionais em formação, apresentando vantagens econômicas sem negligenciar o impacto social gerado por suas iniciativas. Deste modo, jovens optam por essa forma de atuação como principal alternativa profissional.

De acordo com a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2023, a principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo, no último ano, 42,2 milhões de brasileiros estavam à frente de um empreendimento, representado 30,1% da população adulta, na Taxa de Empreendedorismo Total (TTE)

O professor Abraão Freires Saraiva Júnior, fundador do Centro de Empreendedorismo e diretor-presidente do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que uma das causas do aumento do interesse de jovens em empreender é o cenário do emprego formal, não só no Brasil, mas no mundo. “O que se vê é um movimento de redução do emprego formal e um aumento do interesse dos jovens por mais oportunidades de trabalho”.

“O empreendedorismo entra nesse cenário com a possibilidade de conjunção da formação de capital e da evolução material como indivíduo, com a questão de propósito, de deixar sua marca no mundo, e fazer isso por meio do empreendedorismo.” Abraão Freires Saraiva Júnior, diretor-presidente do Parque Tecnológico da UFC

Abraão Saraiva, diretor-presidente do Parque Tecnológico da UFC
Abraão Freires Saraiva Júnior, fundador do Centro de Empreendedorismo da UFC (Foto: Acervo pessoal)

Nesse cenário, a parcela mais jovem da população busca cada vez mais autonomia financeira por meio do empreendedorismo. Do total apontado, 26,1 milhões de pessoas estavam com seus negócios em fase inicial, representando 18,6% da população, na Taxa de Empreendedorismo Inicial (TEA).

No entanto, os desafios impostos pelo mercado brasileiro impactam o desenvolvimento e o sucesso dos negócios. O último GEM aponta que empreendedores de 18 a 24 anos representam 20% das pessoas com negócios novos ou nascentes, uma queda de 6% em comparação com o ano anterior. Na taxa de Empreendedorismo estabelecido (EBO), apenas 2,7% dos empreendedores nessa faixa etária possuem negócios com mais de três anos e meio de existência.

Saraiva destaca dois dos principais obstáculos para o empreendedorismo jovem no Brasil: conhecimento técnico e negocial sobre a atividade empreendedora e a rede de contatos qualificados, e ressalta o papel das universidades e de outras instituições de ensino no processo de enfrentamento desses desafios. 

De acordo com o professor, o jovem no começo da vida empreendedora está se colocando profissionalmente, conhecendo oportunidades e pessoas. Com isso, a formação empreendedora agrega não somente em termos de formação técnica para os estudantes, mas também no fornecimento de contatos para “facilitar a jornada, abrir portas e fazer os negócios prosperarem”.

O networking para quem está dando os primeiros passos no ecossistema empreendedor é essencial para construir uma imagem sólida, afirma Ray Teixeira, CEO da PlantEdu, uma plataforma que oferece capacitação a jovens camponeses para que possam desenvolver seus estudos e ofícios sem sair da área rural. Para Teixeira, é importante participar de atividades que acontecem no meio empreendedor, principalmente no setor de interesse, para “construir a tua imagem dentro desses espaços”.

“Participar de eventos e de iniciativas que você vê que estão acontecendo ali no seu ecossistema, ingressar em programas de desenvolvimento de negócio e programas de formação empreendedora. São atividades que vão ajudar a aprender muito, que vão ajudar o teu negócio a crescer também, e vão te ajudar a fazer uma base de networking muito boa.”

Ray Teixeira, CEO na PlantEdu
Ray Teixeira, CEO da PlantEdu (Foto: Acervo pessoal)

Além disso, a conciliação de atividades (empreendimento, outra fonte de renda e estudos) e o aspecto financeiro também são desafios cotidianos do jovem empreendedor, de acordo com o empresário de 21 anos.

Educação Empreendedora

Iniciar a formação empreendedora desde cedo é essencial para preparar os jovens para empreender quando atingirem a idade adequada. Por isso, a introdução da educação empreendedora desde a educação infantil é de extrema importância, de acordo com Abraão Saraiva

O fundador do Centro de Empreendedorismo da UFC destaca o movimento em direção a esse modelo de educação, não apenas em escolas privadas, mas também em escolas públicas, embora ainda de forma incipiente, de “incorporar nas suas atividades didáticas, a educação empreendedora”.

Jefferson Cavalcante, analista da Unidade de Educação Empreendedora do Sebrae/CE, destaca que jovens empreendedores precisam desenvolver seu lado empreendedor não apenas do ponto de vista técnico, como marketing, finanças ou gestão de equipe. 

“É preciso buscar desenvolver um conjunto de competências empreendedoras que ajudarão a lidar com desafios que vão além do operacional, como autoconhecimento, persistência, resiliência, liderança, visão inovadora e outras que desenvolvem o lado socioemocional do empreendedor.”

Jefferson Cavalcante, analista do Sebrae/CE
Jefferson Cavalcante, analista da Unidade de Educação Empreendedora do Sebrae/CE

Segundo o Sebrae, é fundamental desenvolver não somente políticas públicas voltadas para talentos, mas fazer com que o meio empresarial compreenda a necessidade de investimentos em estratégias para o desenvolvimento de novos postos de trabalho para jovens.

Impacto social

O empreendedorismo vai além das transações comerciais, e torna-se um conjunto de habilidades que capacita indivíduos a identificar oportunidades em meio a desafios e a mobilizar recursos para alcançar seus objetivos, segundo Cavalcante. Essa mentalidade empreendedora faz com que jovens empreendedores consigam promover mudanças em diferentes contextos sociais, destaca o analista:

Pessoas: Ao cultivar a mentalidade empreendedora, os indivíduos se tornam mais resilientes, resolutivos, criativos e adaptáveis. Eles aprendem a identificar problemas e criar soluções inovadoras, o que impacta positivamente em seus projetos pessoais ou profissionais e na sua qualidade de vida.

Comunidades: O empreendedorismo cria redes que fortalecem os laços entre os membros de uma comunidade. Essa conexão pode se dar no mundo dos negócios, ao conectar fornecedores e consumidores da mesma comunidade, como também no empreendedorismo social que permite desenvolver projetos que beneficiam a comunidade local.

Sociedade: Empreendedores geram empregos, impulsionam a economia e promovem a diversificação dos negócios por meio da inovação. Além disso, eles são agentes de mudança social, abordando questões como sustentabilidade, inclusão e responsabilidade social, proporcionando o desenvolvimento social em várias dimensões.

Em ascensão no empreendedorismo: negócios de impacto

Os jovens empreendedores ou aqueles interessados em ingressar no mundo dos negócios devem estar atentos a uma tendência em ascensão: os negócios de impacto. Essas empresas têm como objetivo solucionar questões sociais e ambientais, mantendo a viabilidade financeira. Cada vez mais, editais e programas de apoio dedicam vagas exclusivas para esse tipo de empreendimento, reconhecendo seu potencial transformador.

Ray Teixeira destaca que esse modelo de negócio aborda uma variedade de problemas, desde questões ambientais até desafios sociais, utilizando habilidades de inovação e empreendedorismo para gerar mudanças na sociedade. Ao alinhar problemas urgentes com expertise empreendedora, essas empresas não apenas impactam positivamente a sociedade e o meio ambiente, mas também experimentam um crescimento econômico.

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