Custódio acredita que a captação de recursos aceleraria a relação da Universidade com as empresas que saberiam o quanto a academia pode contribuir para o progresso. (Foto: Jr. Panela)
A Universidade Federal do Ceará tem fortes razões para comemorar seus 70 anos, em 2024, com publicação de livro, edição de filme e entrega de títulos e outorgas a diversas personalidades. Sob a marca da inovação e da expansão, nascem novos cursos nos campus de Crateús, Russas e Itapajé. Também está em andamento uma nova unidade na Praia de Iracema com recursos já alocados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que abrigará a nova sede do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) e o Centro Tecnológico de Ciências Naturais (CTCN).
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Os recursos também contemplarão a construção de um novo hospital no campus Porangabuçu voltado à formação dos estudantes e ao atendimento ao público. A intenção é desenvolver um novo Distrito Cultural Criativo na área de Iracema, a ser conectado com o Distrito de Inovação em Saúde de Porangabuçu e o Corredor Cultural do Benfica e integrado com as comunidades locais, como a do Poço da Draga. “Queremos, com isso, incentivar o turismo científico ao vincular a região ao turismo natural”, afirma o reitor Custódio Luís Silva de Almeida, em entrevista exclusiva para a Trends.
A UFC se articula para tornar mais ágil a transformação de pesquisas em produtos e, quem sabe, avançar da 15ª posição no ranking nacional em depósitos de patentes. Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em 2023, foram 31 inventos, seis a mais do que em 2022, o que coloca a UFC à frente das Universidades Federais de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. A conquista se torna ainda mais relevante quando se sabe que 15% das patentes depositadas foram concedidas em áreas relevantes como Ciências da Saúde, Alimentos, Engenharias, Química, Agropecuária, Indústria de Energia e Meio Ambiente.
“A educação salva porque diminui a pobreza, a violência, as desigualdades e as injustiças sociais, promovendo o desenvolvimento”, afirma o reitor Custódio, ao defender a necessidade de investimentos públicos estáveis e de maior autonomia financeira para o planejamento do futuro. A seu ver, a aplicação permanente de recursos públicos tem que contemplar todos os níveis de ensino: da creche à pós-graduação. “Inovação é uma palavra que faz parte do dicionário acadêmico, onde a pesquisa básica e aplicada é missão que precisa de mais recursos e menos burocracia”, diz ele.
Atualmente, conta ele, a captação de recursos, fruto de qualquer transação comercial gerada pela pesquisa, não garante que o valor permaneça na Universidade para reaplicação. “Tudo vai para a conta única da União, sem nenhuma autonomia financeira, o que desestimula os pesquisadores. Se o sistema fosse mais dinâmico, muito do que a Universidade gera poderia estar a serviço da população e das políticas públicas”, ilustra.
Custódio também acredita que o processo aceleraria a relação da Universidade com as empresas que saberiam o quanto a academia pode contribuir para o progresso. “Agilizar a pesquisa gera mais patente e mais produtos e soluções”, garante.
O reitor sabe que há um longo caminho a ser trilhado e elogia a Lei de Inovação como um passo favorável para as instituições científicas e tecnológicas. A legislação motivou ainda mais a Universidade Federal do Ceará a se reestruturar pela qualificação da equipe com o objetivo de ampliar o conhecimento e se transformar em um centro propulsor de pesquisa no Ceará.
A vocação da Universidade para a inovação encontra respaldo na localização geográfica do Estado, que levou o cearense a olhar sempre para fora e para longe. “As agruras da seca também acabaram ajudando o povo a ver melhores possibilidades de futuro na criatividade e na inteligência, fato acelerado com o advento da sociedade da informação”, analisa o reitor Custódio Almeida. Por conta do espírito inovador de professores e alunos, a UFC conta com 15 programas de pós-graduação com notas 6 e 7 na CAPES.
Outro fato apontado por ele é que com a transição energética, algozes como o sol e o vento fortes se transformaram em insumos vitais no caminho da energia limpa que destaca o Ceará na produção de hidrogênio verde. A propósito, recentemente, esta condição climática permitiu que o Laboratório de Mecânica da Fratura e Fadiga (LAMEFF) da UFC desenvolvesse uma tecnologia mais barata e renovável para extrair hidrogênio verde como alternativa aos combustíveis fósseis.
A partir de cascas de camarão e caranguejo, o físico Santino Loruan, em sua pesquisa de Doutorado, desenvolveu uma membrana de quitosana biodegradável. Já patenteada, ela substitui a membrana sintética importada e usada em eletrolisadores que separam as moléculas de hidrogênio do oxigênio na água.
De fala fácil que transmite motivação, este maranhense que acaba de ser reconhecido como Cidadão de Fortaleza e Cidadão Cearense, chegou a Fortaleza aos 11 anos, de onde não saiu mais, a não ser para alguns períodos de estudo, caso do Rio Grande do Sul, onde fez doutorado na PUC de Porto Alegre.
A primeira graduação foi em Computação. Percebeu, entretanto, sua vocação para a Filosofia, que o levou a um Mestrado em Sociologia. Já doutor, em 2001, participou da criação do curso de Filosofia na ainda em construção Universidade Federal do Ceará e do qual foi o primeiro coordenador. Daí em diante passou a assumir cargos de gestão. Foi pró-reitor de Graduação e vice-reitor até ser eleito reitor, sendo nomeado em agosto de 2023 com mandato até 2027.
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