cultura e inteligência artificial

No seu mais recente artigo, Cartaxo afirma que “a inteligência artificial será uma ferramenta efetiva na valorização e na preservação dos patrimônios culturais da humanidade”. (Foto: Divulgação/Sebrae-CE)

Cultura e inteligência artificial

Por: Joaquim Cartaxo | Em:
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É fato que a Inteligência Artificial (IA) está presente na produção do conhecimento e faz parte da vida cotidiana, transformando o dia a dia das pessoas e das organizações. As aplicações alcançam desde a automação industrial às assistentes virtuais disponíveis nos dispositivos móveis.


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Dada a sua amplitude, as potencialidades e os riscos da IA demandam especial atenção quanto à memória e à cultura coletivas. Devido à capacidade de lidar com expressivo volume de informações, a IA é um instrumento potente para a valorização da identidade, preservação da história e conservação do conhecimento humano produzido. Por outro lado, essa mesma potência implica algumas ameaças.

Pode-se usar ferramentas de IA na criação de bases de dados acessíveis globalmente, recorrendo à digitalização de manuscritos antigos, documentos históricos, artefatos culturais, obras de arte e registros orais. Assim, facilita-se a acessibilidade, a disseminação e a preservação de patrimônios culturais que poderiam se perder no decorrer do tempo.

Sistemas de tradução automática ampliam o acesso a textos antigos por meio da disponibilização deles em vários idiomas. Assistentes virtuais e chatbots informam sobre tradições e práticas culturais a qualquer usuário, de qualquer lugar do mundo, 24 horas por dia.

Em contextos educacionais, as ferramentas de realidade aumentada e realidade virtual atraem os jovens e os integram à cultura tradicional. O uso dessas tecnologias permite experiências envolventes em diferentes culturas e tradições, o que contribui para preservar e revitalizar o interesse das novas gerações pelas manifestações ancestrais. Os museus virtuais e os tours interativos são exemplos práticos disso. 

Outro exemplo: os algoritmos de aprendizado de máquina, que identificam, classificam e projetam restauros de artefatos culturais. Desse modo, é possível reconstruir peças danificadas ou recriar práticas culturais perdidas, preservando a memória coletiva de uma sociedade.

Não obstante todo potencial da IA, uma de suas principais ameaças é a perda de autenticidade cultural, devido à possibilidade de a digitalização, a reprodução e a interpretação por IA descaracterizarem práticas e tradições, transformando-as em meras curiosidades descontextualizadas.

Corre-se o risco da IA cometer erros que resultem na compreensão distorcida de contextos importantes das práticas culturais, que muitas vezes possuem significados profundos, difíceis de serem aprendidos por máquinas. Por exemplo, uma falha na transcrição automática prejudica a assimilação de entonações, emoções e conexões que são basilares para a compreensão de tradições orais.

Há, ainda, o perigo da homogeneização ou padronização cultural, provocada por tecnologias de IA. Nesse caso, as culturas dominantes obscurecem as de menor evidência. Algoritmos tendem a priorizar conteúdos mais populares, excluindo tradições e práticas culturais únicas. Da mesma maneira, plataformas de mídia social, que empregam IA para curadoria referente à conteúdo, promovem uma visão limitada e pasteurizada da cultura global.

A assimetria no acesso à tecnologia também compõe o panorama de ameaças oriundas da IA. Comunidades com acesso precário à tecnologia podem ficar marginalizadas, à proporção que a preservação e a disseminação cultural se tornam mais dependentes de instrumentos digitais avançados. Daí, as representações desiguais de culturas ocorrem no mundo digital.

Outras vulnerabilidades, que a IA pode trazer à preservação e disseminação da cultura, são a existência de problemas técnicos e de falhas de segurança, além dos relacionados à obsolescência tecnológica, que podem afetar acervos culturais inteiros. Outrossim, a centralização do controle cultural em grandes corporações tecnológicas tende a criar uma dependência perigosa, limitando o acesso e a distribuição justa de patrimônios culturais.

A manipulação e o uso indevido de dados culturais também são ameaças relacionadas à inteligência artificial. Conhecimentos sobre tradições e práticas culturais podem ser usados de maneira inadequada, ou explorados para fins comerciais sem o consentimento dos envolvidos. Isso pode levar a uma exploração cultural que desrespeita as tradições e enfraquece a integridade das comunidades.

São imensuráveis as perspectivas que a IA oferece para a valorização, promoção, preservação e revitalização da memória e da cultura. Todavia, o seu uso requer cuidados e respeito às coletividades, possuidoras de diversidade e contextos culturais singulares.

Governos, instituições culturais e a sociedade em geral, por meio de políticas inclusivas e práticas éticas, devem garantir que se usufrua das potencialidades da inteligência artificial de modo a beneficiar a todas e todos e restringir as ameaças que ela representa, simultaneamente. Destarte, a IA será uma ferramenta efetiva na valorização e na preservação dos patrimônios culturais da humanidade.

*Joaquim Cartaxo é arquiteto urbanista, mestre em planejamento urbano e diretor-superintendente do Sebrae/CE.

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