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Produção e consumo de café crescem no Brasil e no mundo

O mundo deve atingir uma produção de 178 milhões de sacas (60 kg de café cru; 48 kg de café industrializado) em 2024. Desse total, 102,2 milhões são de sacas de arábica (55,9% do total) e 75,8 milhões de conilon (44,1% do total). Já o consumo mundial será de 177 milhões de sacas. Os dados são da Organização Internacional do Café (OIC). O consumo da bebida tem crescido no Brasil e no mundo. A preferência do mercado é para os chamados cafés especiais e a aposta no produto em cápsula é cada vez maior.


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Plantação de café no Ceará.
(Foto: Divulgação)

Do volume geral esperado, o Brasil deve participar com uma produção de 58,1 milhões de sacas, sendo 40,8 milhões de café arábica (70,2% do total) e 17,3 milhões de café conilon (29,8% do total). O mercado interno consumirá 22 milhões de sacas, o equivalente a 37,9% da safra total de 2024, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Os números, que foram divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), revelam, por si sós, o papel do “grão como um alimento de extrema relevância. Isso tanto para os brasileiros, como para a indústria nacional”. As indústrias associadas da Abic são responsáveis por 71,1% da produção do café torrado em grão e/ou moído. E representam 86,5% de participação (share) no varejo supermercadista. Um total de 2,9 mil produtos são certificados e constam no banco de dados da Associação.

Vendas aumentam 9,20% em abril e 0,16% no ano

No primeiro quadrimestre de 2024, a Abic registrou um aumento no consumo da bebida de 0,16% (4.963.725 sacas de 60kg) no mercado de varejo brasileiro em relação ao mesmo período de 2023. No ano passado, no mesmo período, o volume consumido foi de 4.955.567 de sacas. Mas, se a comparação for entre os meses de abril dos respectivos anos, o consumo cresceu 9,20% em 2024. As vendas, de março para abril deste ano, aumentaram 1,11%.

Cafés gourmet e especial são os destaques

O levantamento da Abic revela que de janeiro a abril de 2024 as vendas acumuladas aumentaram para as categorias/estilos superior, gourmet, especial, cápsulas e solúvel. No entanto, as categorias/estilos tradicional e extraforte foram os únicos que apresentaram queda, mas do total consumido no período, 82,9% são de café tradicional e extraforte. Mas, se a comparação for entre abril de 2024 e abril de 2023, todas as categorias/estilos apresentaram crescimento nas vendas.

De março a abril de 2024, os cafés superiores e em cápsulas foram os únicos que registraram queda no volume de vendas. No primeiro quadrimestre de 2024, a porcentagem de participação no total de vendas aumentou para superior, gourmet, especial, cápsulas e solúvel. Isso em relação ao mesmo período do ano anterior. Porém, a porcentagem de participação no total de vendas das categorias/estilos tradicional e extraforte diminuíram.

Vendas no varejo cresceram no Norte e no Nordeste

O estudo da Abic, realizado em parceria com o sistema Horus, mostra que as vendas acumuladas, de janeiro a abril de 2024, aumentaram somente nas regiões Norte e Nordeste. Já na comparação de março e abril, somente a região Sudeste apresentou queda. O Sudeste também foi a única região do país a registrar queda nas vendas na comparação entre abril de 2023 e abril deste ano. Entretanto, a partir do outono, as vendas costumam retomar o crescimento mês a mês. Os dados também revelam que, desde 2022, as vendas aumentam a partir do mês de abril – observa a Associação.

Os cafés tradicional e extraforte apresentam a maior média de preço na região Sudeste. Enquanto a menor fica na região Centro-Oeste. A princípio, o superior tem no Sul a maior média de preço, enquanto o Centro-Oeste fica com a menor. Depois, para o Gourmet, a maior média é fica no Centro-Oeste, enquanto a menor é no Sul. Inclusive, a região Norte tem a maior média de valor para os cafés especiais, e o Sul, a menor. “Em síntese, a média de preço dos cafés solúveis é maior no Centro-Oeste e menor no Nordeste. Enquanto a média dos cafés em cápsulas é maior no Norte e menor no Sul” – analisa o documento.

Qualidade do café conquista novos consumidores

Para o sócio do Café Arvoredo, Sérgio Patrício, o consumo de café no Brasil e no mundo tem crescido por vários fatores. Dentre eles, as mudanças que ocorreram tanto no aspecto do cultivo e variedades, como na maneira de seleção de grão e torra. “Muitas pessoas não apreciavam a bebida com a intensão de saborear e degustar, mas como um costume. Hoje, existe muita exigência na qualidade da bebida e do grão, muito parecido com a evolução dos vinhos”.

As mudanças de variedades e qualidades dos cafés permitiram a criação de uma cultura e estilo com o conhecimento e origem da bebida (grãos) – observa, acrescentando que a geração mais nova elevou esse conhecimento e a curiosidade de conhecer as diversificações dos cafés. Ele afirma que a mudança cultural e de costume de saborear um bom café vem aumentando, inclusive de consumidores mais exigentes, deixando o famoso café preto (queimado) para trás.

“Existe, sim, uma diversificação muito grande em relação a apresentação da bebida do café, que vai variar muito em função da ocasião (momento), trabalho, lazer, região e os locais apropriados. Cada caso leva a se tomar um café mais clássico (rápido) ou mais tradicional, com métodos de preparo mais construídos.”

Sérgio Patrício, sócio do Café Arvoredo

Sérgio Patrício, sócio do Café Arvoredo. (Foto: Arquivo pessoal)

Ele explica que a demanda por bons cafés é crescente, justamente em decorrência da qualidade dos frutos colhidos; do zelo no processo de colheita e pós-colheita, no beneficiamento e torra, que garantem uma bebida muito prazerosa nas xícaras. Outro ponto importante – destaca – é a rastreabilidade, poiso consumidor dos especiais gosta de saber como esse café é produzido.

E as redes sociais – informa Sérgio Patrício – ajudaram muito os pequenos produtores nesse ponto. “Tem uma frase que acho interessante: quem consome o que é bom não quer voltar a consumir o que é ruim”. Quem envereda pelo mundo dos especiais não quer voltar para os cafés ruins.

O sócio do Café Arvoredo diz que a produção tem crescido gradativamente, pois entre tomar a decisão de plantar e colher a primeira safra são no mínimo três anos. “O Café Arvoredo hoje tem, no total, 14 hectares de cafés plantados (somos três sítios: Casa Grani e Sitio Bom Princípio, em Guaramiranga, e o Sítio Bem-Te-Vi, em Mulungu). Essas áreas, que começaram a ser plantadas em 2018, são de cafezais muito jovens que ainda não atingiram seu máximo potencial produtivo”.

O Ceará está despertando gradativamente a cafeicultura, muito embora a grande maioria dos produtores ainda faça uma cafeicultura muito tradicional, mas alguns já começam a buscar novas técnicas e cultivares mais produtivas, fundamentais na viabilidade dos projetos. Para concluir, ele garante que a cafeicultura no estado basicamente se resume a Serra de Baturité, Serra da Ibiapaba e Chapada do Araripe. Porém, o Ceará, com o uso da irrigação, poderá se transformar em um importante produtor de cafés canephoras. Hoje, a participação da produção cearense a nível nacional é muito pequena, praticamente inexistente.

Produtos diferenciados elevam consumo de café

O crescimento do consumo de café em todo o mundo é consequência direta, na opinião de Jefferson Deywis, CEO da Benévolo Café, da oferta de produtos diferenciados, agregando maior valor, seja através de ingredientes, processos, apresentação ou customização, ou seja, a chamada gourmetização. “A própria indústria nacional trouxe novas formas de apresentar o café, como em embalagens, tipos de produtos, nos subprodutos (café gelado, capuccino, bebidas prontas para consumo, cervejas)”.

Jefferson Deywis, CEO da Benévolo Café. (Foto: Divulgação)

Para Deywis, essa “renovada despertou novos consumidores e até mesmo aqueles tradicionais. O café é uma bebida bacana, está junto com seu tempo”. Ele entende que a modernização, na forma de consumo e de apresentação, além de manter o consumidor tradicional, da geração mais antiga, conquistou a geração mais nova, fazendo com que ela se sentisse atraída pela bebida. Além disso, vários estudos têm mostrado os benefícios da bebida e o quanto isso faz bem para o consumidor de café.

“O estilo de vida acompanha um pouco disso. O próprio jovem é de descoberta. Você ofertar a todo instante produtos que proporcionem e atenda seu desejo, como praticidade, benefício, saudabilidade, formas e momentos de consumo, acaba despertando o consumidor de forma geral. O cultural já está na nossa história, pois é a segunda bebida mais consumida do mundo. Em algumas culturas, como no Brasil, a bebida é consumida a todo instante: ao acordar, no lanche, nos pós-almoço, no lanche da tarde e até em substituição ao jantar tradicional. O desafio, em algum tempo, foi permanecer, manter essa cultura e fazer com que ela crescesse. Para tanto, foi importante a própria indústria diversificar e ofertar variados tipos”.

Jefferson Deywis, CEO da Benévolo Café

Café em cápsula revoluciona o mercado

Para o CEO da Benévolo, o mundo da gourmetização permitiu o consumidor fazer diferentes experimentos de café, identificando qual a melhor opção para seu paladar, que é algo individual, portanto, que muda de pessoa para pessoa. As cafeterias – explica – tiveram e ainda tem papel importante nesse sentido. E indústria, por sua vez, quando lançou o café de cápsulas. “Esta inovação, na época, foi para o consumidor final o divisor de águas, pois proporcionou que o ele tivesse várias opções de blends, de combinações, de cafés de origens diferentes”.

Ele acredita que a tendência para o futuro reside no café em cápsula, que permitiu o consumidor final ter em sua própria casa uma cafeteria completa, com 10, 20 opções de cafés e com acesso fácil. “E pela praticidade, isso vai estar cada vez mais presente no futuro” – ressalta, acrescentando que outro divisor foram os cafés gelados e suas combinações. “As bebidas geladas, portanto, é outra opção que veio para ficar, inclusive tem crescido muito”.

“Os cafés orgânicos, especiais, seguem essa linha de gourmertização. O consumo de cafés especiais tem crescido há vários anos acima de dois dígitos. E isso é quase três, quatro vezes mais que o consumo de cafés tradicionais. O consumidor busca por isso. Hoje, nos supermercados, existem gôndolas desse tipo de café que são maiores que os chamados cafés tradicionais. E para a cadeia de produção, isso gera um agregado maior, pois cultivar um café especial traz um processo especial, diferente do tradicional. É como um boi de raça, que necessita de cuidados especiais, para um boi normal. E isso encarece a produção. No entanto, o consumidor está disposto a pagar por essa diferenciação.”

Jefferson Deywis, CEO da Benévolo Café

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