saúde mental

Especialista alerta: empresas que não dão a devida atenção à saúde mental dos colaboradores terão problemas acentuados de turnover, engajamento e clima organizacional. (Foto: Envato Elements)

Saúde mental como estratégia inteligente de negócios

Por: Gladis Berlato | Em:
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A saúde mental dos trabalhadores está em risco e suas implicações no ambiente corporativo são consideráveis. As empresas com cultura organizacional consciente sabem do custo cada vez mais elevado para manter um ambiente saudável de trabalho, o que vai além da oferta de um plano de saúde. Sabem também que o segredo é equilibrar o bem-estar físico, emocional e mental.


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Especialistas entendem que esta é mais do que uma equação de responsabilidade social, mas uma estratégia inteligente de negócios.

Programas proativos

Fabio Ongaro, economista e CEO da Energy Group. (Foto: Arquivo pessoal)

O economista e CEO da Energy Group, Fabio Ongaro, destaca que um ambiente corporativo saudável envolve pilares como plano, prevenção, medicina do trabalho e ocupacional, análise dos dados e suas interpretações, assistência ambulatorial remota ou presencial e assistência psicológica. “Temos balanços de empresas que adotaram esses serviços integrados e relataram uma redução de até 20% nos custos com saúde, além de um aumento de 15% na produtividade, o que demonstra o impacto positivo de investir na saúde dos funcionários”, revela ele.

Para Ongaro, o desafio envolve também programas proativos de bem-estar que, em passado recente, talvez não se imaginasse. Ele refere-se a atividades físicas, por exemplo, o que remete para academias no local de trabalho, aulas de ioga e incentivos para atividades ao ar livre, além de sessões de meditação e workshops para controle de estresse. Também aponta o acesso a terapeutas e a disponibilização de opções saudáveis de alimentação. “A busca é pelo equilíbrio trabalho-vida pessoal através de políticas profissionais flexíveis e programas de apoio à família”, ilustra.

Causas e soluções múltiplas

Alanna Kilvia, psicóloga. (Foto: Bárbara Rocha)

A psicóloga Alanna Kilvia, mentora de lideranças e consultora em projetos de saúde mental ocupacional, atribui a responsabilidade sobre a saúde mental ao tripé formado pelo indivíduo, pela organização e pela sociedade. O que adoece o trabalhador? A resposta é de múltipla escolha a começar por excesso de cobranças, metas impossíveis, ambientes insalubres e sem segurança psicológica, lideranças assediadoras, alto nível de exposição, deslocamentos e outros tantos.

E se as causas impactam a saúde do trabalhador e suas relações também fora da empresa, igualmente repercutem no negócio com absenteísmos e presenteísmos excessivos repercutindo na produtividade. Da mesma forma, Alanna lista uma série de soluções. “Aos indivíduos cabe ouvir seu corpo e agir antes dele gritar e gerar afastamentos”, diz ela, apontando a necessidade de terem hobbies, praticarem o seu lazer, melhorarem as conexões sociais.

Para as empresas, a recomendação é de escutarem seus funcionários identificando os riscos psicológicos e implantando políticas de saúde que passem pela autonomia dos profissionais da área médica. Também indica a flexibilização de horários, quando possível e que criem programas de bem-estar que, segundo ela, vão bem além do café com o presidente, da piscina de bolinhas, dos espaços com pufs ou mesa de bilhar. “Tem que ter planos efetivos como ginástica laborar e de formação de lideranças capazes de entender suas equipes”, finaliza.

Políticas permanentes de cuidado

“As empresas que não dão a devida atenção à saúde mental dos colaboradores terão problemas acentuados de turnover, engajamento e clima organizacional. Haverá maior propensão de ocorrência de questões ligadas a burnout, ansiedade e depressão”. O alerta é de Patrícia Ansarah, psicóloga organizacional criadora doInstituto Internacional em Segurança Psicológica. Ela cita a pesquisa da FGV feita em 2023 na qual 45% dos respondentes (572 profissionais, de analistas a executivos de alto escalão) admitiram redução de horas ou ausência de jornada por causa de problemas com a saúde mental (absenteísmo).

Patrícia Ansarah, psicóloga organizacional criadora do Instituto Internacional em Segurança Psicológica. (Foto: Arquivo pessoal)

No levantamento, 54% admitiram ter sofrido com algum transtorno de saúde mental e 63% disseram que não receberam apoio da liderança para lidar com a doença. Em relação às consequências, quase 60% disseram que se desligaram da empresa pelo mesmo motivo. Ainda na pesquisa, 56% dos profissionais revelaram conhecer pelo menos uma pessoa que se afastou do trabalho por problemas de saúde mental.

Sua receita passa pela preparação das lideranças, pelo estímulo à conversa com escuta ativa e pela flexibilização de horários, se for o caso.

Para a especialista, cuidar da saúde mental dá resultado. E argumenta que quando existem pessoas em organizações que cuidam disso efetivamente e colocam os indicadores de saúde como indicadores de desempenho para os líderes e para o negócio como um todo, estarão cuidando de ter pessoas mais produtivas, engajadas e colaborativas.

Epidemias silenciosas

Thiago Avelino, CEO e cofundador da plataforma SafetyTec. (Foto: Arquivo pessoal)

Técnico em Segurança do Trabalho de grandes empresas de gás, celulose e mineração, Thiago Avelino, CEO e cofundador das plataformas SafetyTec, SafetyEAD, BuscaEPI e ConsultaCA, diz que o ambiente de trabalho é um dos principais cenários de exposição a agentes cancerígenos e outras doenças como asma, dermatose, antracnose pulmonar e perda auditiva. São as chamadas epidemias silenciosas que incapacitam e matam trabalhadores. “A importância da higiene ocupacional é crucial, desde a fase de antecipação até a análise de indicadores biológicos”, afirma ele.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 2,3 milhões de pessoas morrem anualmente devido a acidentes e doenças ocupacionais. Embora ocorram cerca de 160 milhões de novos casos de doenças ocupacionais a cada ano, a atenção dada a essas questões não condiz com a sua gravidade e impacto social e econômico. A Organização Panamericana de Saúde (OPAS) estima que na América Latina apenas 5% dos casos reais de doenças ocupacionais são notificados. “Estratégias preventivas podem evitar grande parte dessas doenças, mas sua aplicação depende de governos, empresas e trabalhadores”, relata Thiago Avelino.

Força de lei

O psiquiatra Wagner Farid Gattaz, professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas FMUSP e chairman da Gattaz Health, diz que as discussões sobre a saúde mental do trabalhador avançam para além dos consultórios médicos e departamentos de recursos humanos. O Projeto de Lei 2364/2023 propõe um incentivo fiscal destinado a empresas que comprovem investimentos em programas de saúde mental e promoção de grupos de ajuda e acolhimento no ambiente de trabalho. Essa iniciativa consiste na possibilidade de dedução em dobro do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) devido em cada período de apuração, limitada a 5% do imposto devido. “A iniciativa representa um passo significativo na direção de uma abordagem mais holística e responsável em relação à saúde mental no contexto laboral”, analisa.

Pesquisa da Gattaz Health, junto a mais de 100 mil profissionais de grandes corporações brasileiras, constatou que 43% deles apresentaram sintomas depressivos, dentre os quais em 13% com diagnósticos confirmados. O estudo também identificou que um em cada cinco trabalhadores enfrenta a síndrome de burnout, enquanto 9% apresentam padrões de consumo alcoólico considerados abusivos ou que evidenciam dependência. 

Em grandes empresas, a depressão sozinha é a maior responsável pelos afastamentos do trabalho. Em uma organização com 10 mil colaboradores, a Gattaz Health constatou que a depressão foi responsável por 15.000 dias de trabalho perdidos em um ano. Todavia, o absenteísmo representa apenas 32% dos custos. “Profissionais com baixos níveis de bem-estar apresentam produtividade 33% menor quando comparados àqueles com escores elevados”, alerta.

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