A compra de veículos eletrificados tem sido o sonho de grande parte dos brasileiros. O crescimento das vendas mês a mês atesta isso e, para 2025, as perspectivas são ainda melhores, pois vão ser ofertados veículos elétricos produzidos no Brasil, o que vai movimentar ainda mais o segmento que tem chamado a atenção em todo o mundo. De janeiro a junho foram vendidos (emplacados) no Ceará 1,8 mil veículos leves, crescimento de 194,03% em relação a igual período de 2023.
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Em junho de 2024 foram realizados 14,3 mil emplacamentos – o terceiro melhor mês da série histórica. O primeiro semestre de 2024 registrou um total de 79,3 mil veículos leves eletrificados vendidos no Brasil. Tal desempenho significou elevação de 146% sobre os 32,2 mil do primeiro semestre de 2023 e de 288% em relação aos 20,4 mil do primeiro semestre de 2022.
Por si sós, os números revelam o momento propício da eletromobilidade no Brasil e confirmam a previsão da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), segundo a qual este ano vai terminar com um novo recorde de mais de 150 mil veículos eletrificados vendidos. Caso a estimativa seja confirmada, o resultado significará um crescimento superior a 60% sobre os 93,9 mil 2023.
De acordo com a ABVE, somente em junho, os 14,3 mil veículos emplacados representaram um aumento de 131% sobre junho de 2023 (6,2 mil) e de 253% sobre junho de 2022 (4,0 mil). Para a Associação, com o desempenho do primeiro semestre, o Brasil praticamente já chegou à marca simbólica de 300 mil veículos eletrificados leves em circulação no país desde 2012 (início da série histórica da ABVE). Ou mais exatamente 299,7 mil veículos até junho.
Os eletrificados incluem todas as tecnologias: BEV 100% elétricos, PHEV híbridos elétricos plug-in, HEV flex e a gasolina (não plug-in) e os micro-híbridos MHEV, com baixa grau de eletrificação. Segundo a informações publicadas pela ABVE, o resultado do primeiro semestre consolida a evolução do mercado brasileiro de eletromobilidade, hoje dominado pelos veículos elétricos plug-in e, dentre estes, pelos BEV totalmente elétricos.
Os dados mostram que, de janeiro a junho de 2024, os BEV representaram 39% dos emplacamentos de eletrificados no país (31,2 mil). Os PHEV, veículos elétricos híbridos que também têm recarga externa, responderam por 29,5% (23,2 mil). Os veículos plug-in, portanto (BEV + PHEV), somaram nada menos do que 69% do mercado de eletrificados leves no período no Brasil.
Já os HEV convencionais (elétricos não plug-in a gasolina ou diesel) ficaram com 9,3% das vendas no primeiro semestre (7,3 mil). Os HEV flex a etanol, com 14% (10,9 mil). E os micro-híbridos MHEV, com 8% (6,4 mil). Só em junho de 2024, a divisão das vendas de eletrificados por tecnologia foi a seguinte: BEV: 5,1 mil (36,1%); PHEV: 5,0 mil (35,1%); HEV: 1,2 mil (8,6%); HEV FLEX: 1,7 mil (12,1%) e MHEV: 1,1 mil (8,2%).
Apesar dos números excelentes registrados de janeiro a junho de 2024, o mercado de eletrificados vai enfrentar duas medidas, sendo uma boa e outra que vai mexer no preço dos veículos. A primeira, segundo a ABVE, diz respeito a sanção do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do Programa Mover, que é a nova política automotiva brasileira, com foco em veículos de mais eficiência energética e sustentabilidade ambiental.
No entanto, a segunda, considerada uma má notícia, diz respeito as novas alíquotas de aumento do Imposto de Importação e Veículos Eletrificados, que entraram em vigor no dia 1º de julho. Os BEV passaram de 10% (em 1º de janeiro de 2024) para 18%. Os híbridos plug-in PHEV, de 12% para 20%. E os HEV (híbridos não plug-in), de 15% para 25%. Todas as alíquotas devem chegar a 35% até julho de 2026, segundo o cronograma divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento (MDIC) no final do ano passado.
Mas a ABVE também cita outra preocupação: a indefinição sobre as novas regras de segurança para prevenção de acidentes com carros elétricos lançada para consulta pública, em abril, pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo. A preocupação em torno dessas regras, que deverão ser definidas no segundo semestre do ano, afetou o mercado de recarga elétrica em edifícios residenciais e comerciais, e não só em São Paulo – estado responsável por 34% das vendas nacionais de eletrificados leves – informa a Associação.
“Os números de junho e do primeiro semestre confirmam o excelente momento da eletromobilidade no Brasil, mas temos de ficar atentos aos perigos de retrocesso na rota de descarbonização e eficiência energética da matriz brasileira de transporte. Temos ouvido notícias preocupantes sobre a antecipação da alíquota de 35% do Imposto de Importação de Veículos Elétricos, que estava prevista pelo Governo Federal somente para julho de 2026.”
Ricardo Bastos, presidente da ABVE
Caso seja confirmada a antecipação, a medida configuraria uma lamentável quebra das regras estabelecidas há apenas seis meses pelo próprio governo – lamenta, acrescentando que outra preocupação é a eventual inclusão dos veículos elétricos no Imposto Seletivo, o chamado “imposto do pecado”. Para Ricardo Bastos, não faz sentido incluir os veículos elétricos nessa categoria, já que eles são produtos de alto grau de tecnologia, que contribuem para a redução da poluição urbana, das emissões de gases do efeito estufa e dos altos níveis de ruído nas cidades brasileiras.
Para Leonardo Dall’Olio, diretor Comercial do Grupo Carmais, o mercado de veículos eletrificados (elétricos e híbridos plug-in) está em forte crescimento no mundo inteiro, apesar das sanções impostas pelos EUA e Europa aos fabricantes chineses, que são hoje os mais desenvolvidos nesse modal. No Brasil, as vendas seguem uma tendência de alta mês a mês, com aproximadamente 6% de mercado, o que era menos de 1% dois anos atrás. Para 2025, a tendência é de crescimento nas vendas, pois começam a chegar ao mercado os eletrificados fabricados no Brasil.
No Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte a Carmais representa a BYD, que é líder mundial em veículos eletrificados, e no Maranhão a GWM, uma das maiores fabricantes de automóveis da China. “Estamos empolgados com a velocidade que essas marcas estão conquistando mercado. Os consumidores estão muito aderentes às novas tecnologias e o veículo eletrificado une muito bem performance, tecnologia e economia de combustível e manutenção, tanto que a grande maioria das marcas tradicionais já sinalizaram querer participar desse mercado também” – observa.
Indagado se existe estrutura suficiente para recarga dos veículos, Dall’Olio frisa que atualmente são várias empresas dedicadas ao negócio da mobilidade elétrica com uma rede de carregadores rápidos sendo instalados nas rodovias em um crescimento muito grande. “Mas quando falamos em veículos elétricos, estes são perfeitamente adequados ao uso urbano, pois seu carregamento é feito em casa ou trabalho quando o veículo está sem uso, semelhante a um celular por exemplo. Para o veículo híbrido plug-in, o uso urbano ou em viagens não necessita mudança de hábito ao motorista do veículo a combustão porque ele une economia do motor elétrico a praticidade de ter também um motor a combustão”.
Sobre o mercado de veículos, ele afirma que existem produtos com preços cada vez mais competitivos. “Hoje já temos veículos 100% elétricos abaixo de R$ 120 mil. E se levarmos em consideração o nível de equipamentos e a economia total gerada, já é um produto altamente competitivo para pessoas físicas e frotas de empresas” – conclui.
Trabalho realizado pela NeoCharge mostra evolução dos elétricos no Brasil entre 2015 e 2024 (até abril). O levantamento revela que, no período, existiam 60,2 mil veículos elétricos; 62,9mil híbrido plug-in e 15,0 mil híbridos, que, somados, totalizavam 274,1 mil. O Ceará ocupava, na época, a 13ª colocação, com 5,2 mil veículos, equivalendo a uma participação de 1,90% do total geral. Também mostra que Fortaleza tinha a maioria dos veículos, com 3,81 mil, ou 73,13%, seguida por Eusébio, com 313, o equivalente a 6%, e Juazeiro do Norte, com 164 (3,15%). Dos 184 municípios cearense, o veículo elétrico já estava presente em 118, ou seja, em 64,13%.
Os principais desafios para o setor ainda são infraestrutura, preço de venda e tempo de recarga, segundo Luana de Souza Gaspar, gerente de Descarbonização da PSR. Ainda existem um pouco menos de 4 mil postos para recarga no país, representando uma relação de 15 veículos por postos, enquanto o recomendado internacionalmente é no máximo 10 veículos por posto. Com relação ao preço do veículo, os elétricos ainda são, em média, mais caros do que os de combustão.
Diante disso, ela entende que os veículos elétricos atualmente são mais baratos no valor total de vida útil somente para aqueles que tem alto nível de utilização, como táxi e Uber, porém ainda não são viáveis para a média da população. Já o tempo de recarga ainda é considerado por alguns usuários como um desafio para a adoção de veículos elétricos.
A depender do carregador e do tamanho da bateria, a recarga pode durar entre 30 minutos e 12 horas. Por esse motivo, é importante que se tenha carregadores rápidos em selecionados postos públicos, permitindo a recarga rápida dos veículos, e carregadores lentos em garagens, para que o carro possa ser carregado quando não está sendo utilizado.
“A expectativa é que os preços dos veículos fiquem cada vez menores, especialmente devido à redução esperada do preço das baterias e o aumento de produção de veículos. Os preços das baterias de íon lítio já decaíram 80% nos últimos anos e a expectativa é de manutenção dessa tendência de queda, chegando a 80 USD/kWh em 2030.”
Luana de Souza Gaspar, gerente de Descarbonização da PSR
Apesar dos desafios, ela garante que o mercado global de veículos elétricos vem crescendo rapidamente. Segundo estimativa da Agência Internacional de Energia, em 2023, cerca de 1 em cada 5 carros vendidos foi elétrico, havendo um crescimento de 35% frente ao ano anterior. Com isso, foi atingida uma frota total de 40 milhões de veículos leves, número esse equivalente à frota total de veículos leves no Brasil. Os veículos 100% elétricos representam 70% das vendas, enquanto os híbridos plug-in representam os outros 30%.
Os veículos pesados – informa – ainda estão atrás da tendência dos carros. Os ônibus elétricos no mundo representaram em 2023 somente 3% das vendas totais. Apesar do número ser pequeno no total, alguns países, como China, Bélgica, Noruega e Suíça, registraram 50% das vendas de ônibus sendo elétricos. No caso dos caminhões, suas vendas representaram menos de 1% da venda total de caminhões, com o principal mercado sendo a China.
Nesse mercado global, o Brasil ainda tem uma pequena participação. Cerca de 95% das vendas de 2023 ocorreram na China, Europa e Estados Unidos. No Brasil, a venda de veículos elétricos de fonte externa representou, em 2023, cerca de 3%. Apesar do valor ser inferior ao registrado no mundo, o Brasil está em uma tendência forte de crescimento das vendas, tendo registrado um aumento de quase três vezes nas vendas de eletrificados com fonte externa de energia entre 2022 e 2023.
Para concluir, Luana Gaspar ressalta que a expectativa é que o mercado de veículos elétricos fique cada vez mais relevante no Brasil. “As empresas BYD e GWM estão lançando novos modelos no país, com preços mais próximos dos veículos a combustão, tornando o veículo mais atrativo para os consumidores. Além disso, ambas as empresas já anunciaram plantas para a produção de veículos no Brasil, possibilitando o aumento de oferta de veículos a preços mais competitivos no mercado brasileiro”.
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