Especialista aponta que o turismo é fundamental para o Brasil e para o Ceará, pois contribui significativamente para a economia local. (Foto: AdobeStock)
Depois de amargar quedas expressivas durante a pandemia (2020/21), o setor turístico brasileiro reagiu em 2024, apresentando números cada vez maiores. De janeiro a junho deste ano, 3,497 milhões de turistas internacionais entraram no Brasil, aumento de 9,7% em relação a 2023 e de 1,9% a mais do registrado em 2019, último ano antes da Covid-19. A estimativa é que em 2024 o montante seja superior ao recorde verificado em 2018, de 6,6 milhões de turistas estrangeiros.
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Paralelamente ao aumento de turistas internacionais, o consumo de turistas estrangeiros no Brasil, no primeiro semestre de 2024, já alcançou um recorde histórico, superior, inclusive, até o melhor desempenho, em 2014, quando da realização da Copa do Mundo de Futebol. Naquele ano, de acordo com o Banco Central, os viajantes internacionais deixaram no país US$ 3,5 bilhões. Já de janeiro a junho de 2024 foram injetados na economia US$ 3,7 bilhões.
O Ceará é um dos destaques do país no setor de turismo, sejam para lazer, viagem em grupo, visita familiar e negócios. Aliás, os segmentos de turismo de eventos e negócios tem crescido no Estado. Levantamento da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará (Setur) revela que os grandes eventos são mais um atrativo para turistas viajarem para o Ceará.
Em junho de 2024, o Ceará liderou a atração de turistas internacionais entre os estados do Norte e Nordeste pelo terceiro mês consecutivo (abril, maio e junho), segundo dados da Fraport Brasil, que administra o Aeroporto Internacional de Fortaleza. Ao todo, o terminal cearense movimentou 32,0 mil passageiros no período, superando Bahia (26,9 mil) e Pernambuco (26,1 mil), que aparecem na segunda e terceira posição, respectivamente.
O resultado colaborou para o destino ultrapassar o aeroporto de Salvador (187,0 mil) no acumulado do ano e fechar o primeiro semestre ocupando a primeira posição no ranking, tendo movimentado 191,1 mil passageiros. Neste cenário, o crescimento foi de 58%, o mais alto da região. Na terceira colocação aparece Recife que registrou, de janeiro a junho, 152,7 mil passageiros.
A exemplo do Brasil, o Ceará tem registrado crescimento do turismo. De acordo com dados da Polícia Federal, Ministério do Turismo e Embratur, em 2023 (até outubro), 53,5 mil turistas internacionais já tinham visitado o Estado, contra 56,6 mil de 2022, no mesmo período; 17 mil em 2021; 23,3 mil em 2020, e 112,9 mil em 2019. Os números dizem respeito a entrada de turistas estrangeiros pelo Estado. Dos que estiveram no Ceará, 61,8% afirmaram que o motivo da viagem era lazer; 25,9% visita familiar; 7,3% negócios e 4,1% viagem em grupo.
O Ceará recebeu turistas principalmente de Portugal, França e Estados Unidos entre 2022 e 2023, destacando-se os aeroportos de Fortaleza (37,5%) e de Guarulhos (27%) como portões de entrada. Os turistas estrangeiros chegaram ao Estado principalmente pelas empresas TAP, AirFrance e Latam. Foram 70 voos por mês. A participação do Ceará na oferta de voos para o Brasil foi de 1,32%, segundo a Anac/Embratur.
Yrwana Albuquerque, titular da Secretaria do Turismo do Ceará (Setur), informa que os investimentos do Governo do Ceará estão se mostrando assertivos. “Executamos uma política nacional e internacional de promoção turística, o que nos possibilita colocar o Ceará na estante do turismo internacional, figurando entre os principais destinos globais. Temos participado de eventos e feiras ao redor do mundo, mostrando ao turista, ao investidor e aos agentes e operadoras de viagens todas as belezas que se encontram em nosso destino” – frisa.
Os grandes eventos são mais um atrativo para turistas viajarem para o Ceará no período de alta estação. Prova disso são os números alcançados pela hotelaria, na semana em que a capital cearense e o interior sediaram importantes festivais, como o Fortal, o Halleluya e a Expocrato, no Cariri. De acordo com monitoramento da Setur, a média de ocupação dos meios de hospedagens no Estado alcançou os 90% neste fim de semana. A média que era de 75% até quinta-feira (18 de julho), cresceu quinze pontos percentuais na sexta, permanecendo assim até o domingo (21 de julho).
Já em Fortaleza, onde ocorreram o Fortal e o Halleluya, a média no fim de semana foi de 91%. Cumbuco, em Caucaia, e Porto das Dunas, no município de Aquiraz – destinos vizinhos a capital cearense que se beneficiam pela proximidade dos festejos –, a ocupação ficou em 93% e 95%, respectivamente. Os dois destinos registraram as maiores taxas do Estado entre os municípios litorâneos.
No Cariri, outro evento que impulsionou o fluxo de visitantes na região foi à romaria celebrativa de todo 20 de julho, que relembra a morte de Padre Cícero. Neste ano, o evento marcou os 90 anos de falecimento do religioso que, desde novembro de 2022, passa pelo processo de beatificação pela Igreja Católica. No levantamento da Setur, a taxa de ocupação do município de Juazeiro do Norte ficou em 90%. Já no Crato, onde ocorreu a Expocrato, o resultado foi de 98,75% na ocupação dos meios de hospedagens, se destacando como a maior taxa de ocupação do Estado no período monitorado.
Para a titular da Setur, Yrwana Albuquerque, esses eventos são responsáveis por incrementar, significativamente, a receita e o fluxo de turistas nas mais diversas regiões do Ceará. Observa que eles não só aumentam o número de visitantes, mas também geram empregos, renda e oportunidades de novos negócios, impactando diversos setores da economia, como a rede hoteleira e outros serviços diretamente ligados à atividade.
“O turismo é fundamental para o Brasil e, em especial, para o Ceará, pois contribui significativamente para a economia local, gerando emprego e renda. Nossas belezas naturais, juntamente com a rica cultura e gastronomia, atraem turistas de todo o mundo. Essa atividade impulsiona o desenvolvimento de infraestrutura e serviços, promovendo o crescimento sustentável e a valorização das tradições regionais.”
Yrwana Albuquerque, titular da Setur
Sobre quais as perspectivas para o turismo cearense em 2024, ela acredita que os números deste ano superem o desempenho de 2023, mesmo porque tal projeção já vem se confirmando no cenário internacional, uma vez que o crescimento de janeiro a maio ficou acima de 60%, puxado principalmente pela ampliação dos voos para Lisboa, que passaram de sete para nove. “Com a ampliação da rota para Paris, a partir de outubro, pela AirFrance, e o incremento recente da GOL com mais uma frequência para Miami e a nova rota para Orlando, a expectativa é de números ainda melhores”.
Já no segmento doméstico, Yrwana Albuquerque garante que vão ocorrer novidades no segundo semestre, com o anúncio da Latam no aumento da conectividade dos principais aeroportos do Estado, que são os de Fortaleza, Juazeiro do Norte e Jericoacoara. Apesar dos avanços, ela frisa que existe um caminho a percorrer e novas conquistas a alcançar. “E para isso seguiremos trabalhando, sob a condução do nosso governador Elmano de Freitas, para impulsionar essa atividade, posicionando o Ceará entre os principais destinos do país e do mundo, gerando emprego e renda”.
Sobre o crescimento do turismo de eventos no Ceará, a titular da Setur diz que esse segmento é uma das apostas do Ceará para diminuir a sazonalidade, objetivando ter um destino com altas e médias temporadas. Neste sentido, os eventos vêm se mostrando bastante importantes. Puxado principalmente pelo Centro de Eventos, que é o indutor deste segmento. Em maio deste ano – revela – o Ceará foi o primeiro estado do Nordeste que mais atraiu turistas corporativos. “Então, tem crescido bastante e nossa expectativa é seguir nesse ritmo, o que mostra o potencial do Ceará neste segmento”.
“O segundo semestre do ano é sempre promissor para o Ceará, impulsionado pelos esportes de ventos. O principal deles é o kitesurf, onde atletas do mundo todo procuram o Estado pelas condições favoráveis para prática. Em nosso litoral, temos excelentes equipamentos direcionados a esse público. Somos um dos poucos estados do país que dispõe de uma excelente infraestrutura para esse atleta, com hotéis de charme que oferecem equipamentos para o turista cair no mar. Então, a pessoa que deseja praticar o esporte e não tem equipamento, o hotel oferece a prancha, a vela e tem instrutor disponível para auxiliá-lo. É uma infraestrutura robusta que atrai esse visitante, em sua maioria, estrangeiro.”
Yrwana Albuquerque, titular da Setur
O turismo brasileiro em 2024 já cresceu mais de 9% em relação ao ano anterior, mas ainda fica muito aquém do que era esperado, até porque existem muitos equipamentos de países, principalmente europeus, que já tem números bem superiores de visitantes do que o Brasil. No entanto, a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Ceará (ABIH/CE), Ivana Bezerra de Menezes Rangel, afirma que o turismo cearense, apesar do período chuvoso “muito brabo”, tem apresentado elevação em 2024 e a expectativa é que cresça ainda mais no decorrer do segundo semestre, em função principalmente do turismo corporativo.
“Nós temos uma alta demanda, uma alta procura de agosto a novembro em função de grandes congressos, grandes eventos e feiras que acontecem no Centro de Eventos, além dos hotéis que tem também um volume muito grande de pessoas que fazem eventos na hotelaria. Então, esperamos que tenha um crescimento bem significativo, sobretudo porque estamos observando, até através de pesquisas mesmo, que as pessoas hoje estão vindo pra esse tipo de compromisso acompanhados. Então, são esposas, maridos, filhos, às vezes até parentes, como nora, enfim, que fazem com que o participante dos congressos e das feiras fique mais um pouquinho na cidade pra curtir com a família. Enquanto ele ou ela está trabalhando, a família curte as praias vizinhas… É um momento que todo mundo ganha.”
Ivana Bezerra, presidente da ABIH/CE
Ela observa, porém, que não é só a hotelaria que tem um impacto muito grande na sua economia e, sim, muitos e muitos outros setores. “São mais de 50 setores impactados diretamente com a chegada de turistas, como o comércio, bares e restaurantes, ambulantes, enfim. É uma importância muito grande”. E o Ceará – acrescenta – tem se destacado principalmente pelas promoções. “É aquela história, quem não é visto não é lembrado” – frisa.
Nesse sentido, Ivana Bezerra afirma que existe um trabalho que envolve vários segmentos que é tocado pelas Secretarias de Turismo de Fortaleza e do Estado, onde o turismo é mostrado, divulgado para outros estados e países. Ela lembra que o Ceará tem sido divulgado como um todo, desde sua infraestrutura e as belas praias, começando pela Beira Mar, e outros atrativos.
“Nós temos outras belezas naturais e no caso de Fortaleza nós temos atrativos culturais e educativos. Nós temos a Beira Mar, que além de linda tem muitas opções de esportes náuticos. A gente sabe o quanto hoje as pessoas querem além de uma simples visita aos destinos, as cidades. Então, nós temos sim essa experiência, temos várias rotas também que são muito interessantes, como a Rota do Café e a Rota das Emoções. São experiências, e é o que as pessoas esperam encontrar nos destinos.”
Ivana Bezerra, presidente da ABIH/CE
Para a presidente da ABIH/CE, na verdade, todos os eventos são muito importantes. Todos os eventos que tem um público a partir de 500 pessoas já causa um impacto bem considerável na cidade, no Ceará. Também presidente do Convention & Visitors Bureau, ela ressalta que a entidade tem por objetivo justamente promover e divulgar Fortaleza, captando e apoiando congressos, convenções e eventos em geral, como, por exemplo, eventos religiosos, esportivos, corporativos. “Seja qual for o evento ele é de grande importância pro nosso destino”.
Estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) estima que o setor de Turismo contribuirá com US$ 169,3 bilhões (R$ 881 bilhões) ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024, o que representará uma alta de 9,5% em relação a 2019. Já o setor deverá movimentar US$ 385,9 bilhões na América Latina. De acordo com a Pesquisa de Impacto Econômico (EIR) de 2024, elaborada pelo órgão mundial de Turismo em parceria com a Oxford Economics, ao final de 2024 a indústria terá empregado mais de 8 milhões de pessoas no Brasil, o que representa 8,1% do total de empregos no País.
Estima-se, ainda, que o gasto dos visitantes internacionais alcance US$ 7 bilhões, um aumento de 9,5% em comparação a 2019. Prevê-se também que o gasto com Turismo doméstico atinja um recorde histórico de US$ 112,4 bilhões. Segundo análises do WTTC feitas em 185 países, o Brasil está entre os 98 destinos que, em 2023, superaram os recordes de contribuição para o PIB. Assim, o setor de Viagens e Turismo brasileiro superou em 7% os níveis de contribuição em comparação a 2019.
O setor representa 7,7% da economia nacional atualmente, com uma contribuição econômica de US$ 165,4 bilhões – revela a pesquisa. Durante 2023, a atividade também reforçou sua força de trabalho com 91 mil postos de trabalho adicionais em relação ao registrado em 2019, alcançando um total de 7,76 milhões de empregos em todo o País. Além disso, o gasto com turismo internacional alcançou US$ 6,8 bilhões, 5,7% acima da cifra de 2019. Da mesma forma, o gasto nacional registrou um máximo histórico com mais de US$ 111 bilhões.
Até 2034, o setor no Brasil deve contribuir para a economia com US$ 194,6 bilhões. O WTTC acredita que a indústria será um pilar para a geração de postos de trabalho, proporcionando emprego a 9,44 milhões de pessoas. Assim, 9,2% da força de trabalho no Brasil estará representada pelo setor de Viagens e Turismo.
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