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O futuro é dos criativos

A equação é simples. Criatividade + inovação = economia competitiva, um mercado em aberto para novos entrantes e para o crescimento, porque resulta da mistura dos valores econômicos como valores criativos.


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Essencial para o crescimento econômico inclusivo e sustentável, a economia criativa e sem chaminés,que surgiu na década de 90 impulsionada pelas tecnologias digitais, já representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, conforme dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e gera em torno de 30 milhões de empregos no planeta.

No Brasil, a batida não é diferente. Acompanhamento do Observatório Nacional da Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a economia criativa representa 3,11% do PIB nacional e emprega 7,4 milhões de trabalhadores. Até 2030, a projeção é de que este número suba para 8,4 milhões. São artistas, arquitetos, designers, cineastas e demais criativos que estarão no topo da pirâmide das ocupações nos próximos anos, quando um em cada quatro empregos gerados será no segmento da economia criativa.

A estrada é longa, mas há sinais positivos. O Brasil já conta com a Política Nacional de Desenvolvimento da Economia Criativa,criada a partir do projeto de lei 2.732/2022. A proposta visa a qualificação profissional por meio da parceria entre empresas e universidades. Também prevê o desenvolvimento de infraestrutura para a criação, produção, distribuição e consumo dos setores criativos e, ainda, promete promover e fortalecer iniciativas criativas em polos, regiões, cidades e bairros com vistas a desenvolver a cultura local ou regional.

Trata-se, portanto, de um setor em ascensão que aponta para um futuro promissor. Na perspectiva de estudiosos, a rápida disseminação dos recursos da inteligência artificial e de outros aliados tecnológicos já começam a transformar as formas de produção e de consumo dentro dos conceitos de sustentabilidade e responsabilidade. Será este o caminho para um mundo melhor?

Economia criativa inclusiva

O superintendente do Sebrae-CE, Joaquim Cartaxo, parece olhar nesta direção. O mundo passa por uma revolução a partir da internet e da digitalização, que alterou a forma de se comunicar, de trabalhar e de viver. “Essa realidade continua, de forma célere, a moldar a economia global, gerando oportunidades para negócios e indivíduos em um mundo que intensifica, dia a dia, seu estado de conexão”, afirma. Ele se refere, entre outras mudanças, aos serviços sob demanda, os novos modelos de negócios, de trabalho e de ensino permitidos com as plataformas digitais, aparato que fez nascer a economia criativa.

Joaquim Cartaxo, superintendente do Sebrae-CE. (Foto: Arquivo pessoal)

Para Cartaxo, ela é fundamental na preservação e promoção da cultura local, permitindo que as comunidades expressem suas tradições de maneira inclusiva. Ele lembra que a economia criativa viabiliza a inclusão, o emprego decente, a inovação, a redução das desigualdades, as práticas ecológicas e o consumo responsável.

Uma das tendências da economia criativa é a intensificação do uso da inteligência artificial, da realidade virtual e aumentada, blockchain e big data, visando criar novas formas de produção e consumo. Dentre elas, encontram-se: as plataformas para criadores alcançarem audiências globais, aumentando o acesso e a democratização da cultura; as plataformas de compartilhamento e colaboração como formas de financiamento e distribuição, tais como o crowdfunding e os mercados peer-to-peer (arquitetura de rede ponto a ponto em que cada participante é cliente e servidor). “Aqui incluem-se os modelos de negócios nascidos em comunidade, em que os consumidores também são criadores”, destaca. 

Cartaxo também salienta que são crescentes as demandas por experiências imersivas, estimuladas pelas possibilidades tecnológicas, tais como eventos ao vivo, exposições interativas e jogos. E cita o setor de entretenimento, incluindo streaming de vídeo e música em franca evolução, que oferecem novas formas de engajamento e monetização.

Habilidades de profissionais criativos

CEO da Creative Hunter – plataforma dedicada a conectar profissionais da indústria criativa com as principais agências, estúdios e produtoras de publicidade e marketing, Thiago Dalmas Affonso diz que o campo dinâmico da indústria criativa exige profissionais habilidosos e proficientes não apenas nas ferramentas e tecnologias específicas de sua área. Precisam manter-se atualizados com as últimas tendências, não se limitando ao conhecimento técnico, mas também à capacidade de adaptar-se rapidamente a novas metodologias.

A seu ver, o mercado está saturado de ideias convencionais. “A qualidade de pensar fora da caixa e gerar soluções novas e originais não apenas resolve problemas complexos, mas também define direções diferentes para produtos e serviços”, sentencia, alinhando habilidades exigidas: senso analítico aguçado, comunicação eficaz, colaboração e trabalho em equipe e adaptabilidade e flexibilidade, além de gerenciamento eficaz do tempo, organização, disciplina e capacidade de definir prioridades. Tudo sempre com muita paixão.

Criatividade inclusiva

Em entrevista ao Programa Nosso Mundo da CNN, Ana Carla Fonseca, diretora da Garimpo Soluções e pioneira em economia criativa, disse que o desafio é fazer com que a criatividade seja mais inclusiva de fato quando se tem um povo que é visto como muito criativo, mas não necessariamente bem capacitado.

Uma barreira apontada é que arte e cultura no Brasil aparecem sempre no campo do entretenimento e não do negócio. Para Ana Carla o entrave é a falta de métricas que atestem o real peso das atividades artísticas na economia, além da falta de um ambiente propício à criatividade nas empresas, o que vai mundo além da piscina de bolinhas e dos puffs nas salas de descanso. Ela defende a necessidade de cidades criativas para que o Brasil avance nesta temática.

Cidades criativas

A propósito, juntamente com outras 13 cidades, Fortaleza está na Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria de Design desde 2019. A rede visa colocar a criatividade e as indústrias culturais no centro de seus planos de desenvolvimento e cooperar ativamente em nível internacional. Organizadora do livro “Conhecendo as cidades Criativas do Brasil”, Clarissa Stefani, em parceria com Juliana Duarte Ferreira, da Via Estação Conhecimento, diz que o objetivo da publicação foi mostrar que o Brasil participa com cidades em diversos campos criativos, demonstrando seu potencial em desenvolver Cidades Criativas em diferentes áreas.

No caso de Fortaleza,mesmo diante de problemas sociais, comuns aos grandes centros urbanos, há um esforço coletivo de diferentes gestões públicas, membros da sociedade civil e organizações, para transformar a cidade em aspectos como mobilidade, cultura, lazer e qualidade de vida. A candidatura contou com a colaboração do Curso de Design da Universidade Federal do Ceará (UFC), do Observatório da Indústria da FIEC e do Museu da Indústria, equipamento do Serviço Social da Indústria.

Criatividade não é improvisação

O economista Roberto Kanter, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita, sim, que o caminho da economia criativa pode permitir um salto de desenvolvimento para o Brasil, mas alerta que “improvisação não é criatividade”. Ele conta que em sala de aula recebe uma infinidade de ideias que carecem de organização e dados para garantirem escala aos negócios criativos.

Roberto Kanter, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV). (Foto: Arquivo pessoal)

“Falta diagnóstico e um pouco de gauchês”, afirma ele, explicando que o Rio Grande do Sul tem uma maneira diferenciada e mais analítica de fazer negócios, talvez pela colonização alemã e italiana. Para ele, os empreendedores, especialmente os criativos, precisam ter um olhar mais abrangente do horizonte dos negócios e planejar globalmente.

“É hora de esquecer o .br e atuar no .com.”

Roberto Kanter, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

Sua receita para que os projetos criativos alcancem o sucesso inclui duas frentes: a retaguarda e a vanguarda. A primeira tem que contemplar organização e planejamento e a segunda tem que incluir uma boa dose de inovação. O professor Kanter garante que o planejamento, inclusive, aumenta a criatividade e aponta os melhores caminhos, desde que os empreendedores tenham planos A, B e C.

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