“Nosso Ceará tem enorme potencial para energia eólica, que chega para dar sustentação à gigantesca demanda de energia que o hidrogênio verde vai exigir”. A afirmação é do empresário Lauro Fiúza Júnior, presidente do Conselho de Administração do Grupo Servtec e fundador da Abeeólica. Para ele, o Ceará, que sempre está entre os três estados com maior número de usinas eólicas, deve aumentar ainda mais sua participação com a chegada das eólicas offshore.
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Lauro Fiúza Júnior garante que a energia eólica é fundamental na transição energética à medida em que oferece eletricidade sem emissões de carbono. Chama atenção para o fato de a geração de energia renovável ter um efeito multiplicador forte no PIB cearense. Confira, a seguir, mais detalhes na entrevista exclusiva para a Plataforma TRENDS.
TRENDS: Qual o panorama atual da energia eólica no Brasil e, em especial, no Ceará?
Lauro Fiúza Júnior: A geração eólica já representa, atualmente, 12% da matriz elétrica brasileira. Essa trajetória teve início no Ceará, em 1996, com o primeiro contrato de compra de energia (firmado entre a antiga Coelce e o Governo do Estado) para construir as turbinas que se localizam no Porto do Mucuripe. De lá para cá, a indústria se desenvolveu bastante, se tornando um celeiro industrial de turbinas, e movimentando uma cadeia de produção e suprimentos bem vasta, com muita geração de empregos.
T: E qual é o potencial do Ceará, especificamente?
LFJ: O Ceará sempre esteve entre os três estados com o maior número de usinas eólicas, ao lado da Bahia e Rio Grande do Norte. Essa relevância tende a aumentar com a chegada das eólicas offshore, que seria a produção dentro do mar. Nosso Ceará tem enorme potencial para essa fonte, que chega para dar sustentação à gigantesca demanda de energia que o hidrogênio verde vai exigir.
T: Quais os elementos que impulsionam a produção de energia eólica no Ceará?
LFJ: Pela proximidade com a linha do Equador, existe uma incidência de ventos fortes e constantes que sopram do mar para a terra, cobrindo o litoral do Ceará. Esse é um fenômeno climático bem conhecido dos cearenses. Essa intensidade, direção e constância são fundamentais para um melhor aproveitamento na produção de energia pelas turbinas. E isso se reflete na referência do investidor que busca por mais previsibilidade no retorno do seu capital investido.
T: As chamadas parcerias público-privadas (PPPs) poderiam impulsionar ainda mais a indústria eólica?
LFJ: Os entes públicos têm liberdade para atuar como qualquer agente consumidor do setor elétrico. Se eles quiserem se tornar autoprodutores de energia, para garantir que toda sua energia elétrica consumida tivesse origem renovável garantida, eles poderiam desenvolver PPPs com empresas especializadas na construção de parques eólicos. No Ceará, acredito que a Prefeitura de Fortaleza tenha feito isso, utilizando energia solar para o consumo das escolas de ensino municipal.
T: Quais os impactos positivos para o Ceará que têm sido gerados com a disseminação das usinas eólicas?
LFJ: Hoje, contamos com a presença de linhas de produção da maior fabricante global de aerogeradores, Vestas, em Aquiraz, e de uma das maiores fabricantes de pás eólicas do Mundo, a Aeris, no Pecém. Além dessas, a disseminação da energia eólica no Ceará proporcionou a criação de diversos postos de trabalho, e instalação de várias empresas acessórias, seja para construção desses parques, seja para operação e manutenção deles. Eu acredito que a geração de energia renovável tem um efeito multiplicador muito forte no Produto Interno Bruto (PIB) no Ceará, atualmente.
T: Qual o papel da energia eólica na transição energética?
LFJ: A energia eólica é uma energia limpa, renovável. O vento é infinito. Ela é fundamental na transição energética à medida em que oferece eletricidade sem emissões de carbono. Mas, sua geração não só é menos previsível, como é sazonal. Essa sazonalidade, seja diária ou semestral, demanda que a energia eólica faça par com outra fonte que a equilibre. As hidrelétricas fazem um papel importante de armazenamento de energia, através de água nos reservatórios, vertendo pelas turbinas uma vazão controlada para produzir energia. Mas não só ficamos vulneráveis quando há uma seca severa, bem como não temos planos de construir mais usinas hidrelétricas no Brasil, no futuro.
T: Então, é necessária outra fonte?
LFJ: Essa função precisa ser absorvida por outra fonte, ou tecnologia. O hidrogênio verde poderá vir a fazer esse papel. o Ceará está trabalhando firme nessa missão. O uso de baterias em larga escala será outra rota utilizada, tendo a energia eólica e solar como supridora dos elétrons (baterias não geram energia, apenas armazenam), e os fabricantes também estão investindo muito dinheiro no aperfeiçoamento da tecnologia, para que ela fique mais barata para o consumidor.
“Quanto mais evoluímos nessas novas formas de armazenamento, menos dependeremos de geração não-renovável. Mas isso é um processo que leva 20 anos e precisa ser bem planejado, tanto para que não seja transferido ao consumidor um incremento de custo exacerbado, bem como para que não se comprometa a segurança do suprimento de energia ao país.”
Lauro Fiúza Júnior, presidente do Conselho de Administração do Grupo Servtec e fundador da Abeeólica
T: Qual a relevância dos empreendimentos construídos e projetos planejados pela Servtec, ao longo dos anos para o segmento?
LFJ: O Grupo Servtec Energia, fundado em 1969, atua no setor elétrico há quase 30 anos. Nossa missão sempre foi contribuir para o crescimento da matriz elétrica brasileira, garantindo os preceitos de eficiência e segurança do suprimento elétrico ao consumidor. Dessa forma, nosso leque de atuação é bem amplo, tendo construído ativos de geração das mais diversas fontes. Já entregamos à matriz elétrica quase 2.800MW, ou 1,3% de sua capacidade instalada, trazendo qualidade de vida a perto de sete milhões de lares em todo o Brasil.
ANEEL: Brasil alcança a marca de 6,5 GW em 2024
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), divulgados em agosto, mostram que em julho a ampliação da oferta foi de 875,42 MW. A matriz elétrica brasileira continua em ritmo de amplo crescimento em 2024: em julho, a expansão obtida no ano chegou aos 6.525,74 megawatts (MW), com a entrada em operação de 183 usinas. O avanço verificado em julho se deve ao início da operação de 10 centrais solares fotovoltaicas (494,82 MW) e 17 usinas eólicas (380,60 MW). As usinas que passaram a operar em 2024 estão instaladas em 15 estados nas cinco regiões do país.
O Brasil, até 2 de agosto, totalizou 204.477,1 MW de potência fiscalizada, de acordo com dados do Sistema de Informações de Geração da ANEEL (Siga), atualizado diariamente com dados de usinas em operação e de empreendimentos outorgados em fase de construção. Desse total em operação, 84,65% das usinas são consideradas renováveis.
Brasil é o sexto na capacidade instalada de energia onshore
O Brasil permanece ocupando a 6ª posição no Ranking de Capacidade Total Instalada de Energia Eólica Onshore, segundo o relatório Global Wind Report 2024, divulgado pela Global Wind Energy Council (GWEC), em abril deste ano. Em 2012, o Brasil ocupava o 15º lugar e, de lá para cá, o país vem crescendo de forma consistente e foi o terceiro com maior número de instalações em 2023, com 4,8 GW.
Em 2023, o Brasil foi o terceiro país que mais instalou eólicas, repetindo o feito de 2022, e ficando mais uma vez atrás apenas de China e Estados Unidos. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o setor brasileiro vem crescendo de forma sustentada e eficiente, com números sólidos e uma importância cada vez maior na matriz elétrica brasileira.
Atualmente, o país responde por aproximadamente 31 GW e mais de mil parques eólicos. Já são mais de 11 mil aerogeradores em operação, a segunda fonte da matriz elétrica. Com a chegada das eólicas offshore, o Brasil terá um papel ainda mais importante globalmente.
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