O Ceará caminha a passos largos para ser, senão o maior, um dos maiores produtores do mundo de hidrogênio verde, com uma produção estimada em 1 milhão de toneladas/ano em 2030. Como consequência, também vai ser um grande exportador de amônia verde – forma mais viável para transportar o hidrogênio -, sobretudo para o mercado europeu e estadunidense. E isso vai impactar – e muito – a economia cearense.
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O Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), formado pelo Porto do Pecém, uma área industrial e pela Zona de Processamento de Exportação (ZPE), anunciou, em julho último, a Stolthaven Terminais e sua parceira com a Global Energy Storage (GES) como vencedores da licitação para planejar, projetar, construir e operar um terminal de amônia verde no Pecém.
O terminal vai atender à produção de hidrogênio verde e permitir a exportação através da amônia verde, que tem um bom potencial como transportador de hidrogênio em longas distâncias, uma vez que é facilmente liquefeito e tem uma densidade de hidrogênio mais alta em comparação com outros transportadores de hidrogênio de baixo carbono.
Para Luiz Engênio Pontes (foto), diretor Comercial da Fertsan, a produção de hidrogênio verde e sua consequente exportação em forma de amônia verde vai trazer grandes impactos econômicos para o Ceará. “São gigantes e até imensuráveis, pois os impactos não vão ocorrer somente com a produção e exportação, já que começam com as empresas que vão se instalar no estado, no Pecém. Cada usina dessas de hidrogênio que vai se instalar no Ceará vai investir, em média, US$ 2 bilhões”.
Atualmente – lembra o empresário – são cerca de 37 memorandos assinados com o Governo do Ceará. Caso pelo menos três, ou quatro ou cinco delas se instalarem, o estado já vai ter um grande incremento do Produto Interno Bruto (PIB), que talvez tenha seu número de hoje triplicado. “E se todas se instalarem, talvez o Ceará só vá perder para São Paulo no PIB, e olhe lá” – ressalta, eufórico, o diretor Comercial da Fertsan.
“É uma oportunidade única, pois o Ceará reúne um porto em sociedade com o Porto de Roterdã, que é o Hub do hidrogênio na Europa. Nós estamos a sete dias de navegação para os Estados Unidos, nove para a Europa. O Porto no Ceará é muito bem localizado. Nós temos o melhor lugar de ventos do mundo e 13 horas diárias de sol. Ou seja, temos todas as condições para gerar energias renováveis e de logística para fabricar o hidrogênio verde e transportar em forma de amônia verde.”
Luiz Engênio Pontes, diretor Comercial da Fertsan
Ele entende que o hidrogênio é o combustível de mais interesse atualmente no mundo para substituir o petróleo. “É um combustível limpo. Limpo, desde que ele seja produzido com energia renovável. A partir do hidrogênio verde vai se produzir a chamada amônia verde, para viabilizar o transporte do hidrogênio e segundo para ser usado na agricultura como fertilizante. O Ceará, produzindo amônia, viabiliza a transferência do hidrogênio verde para qualquer lugar do mundo” – observa.
“Amônia já é um insumo necessário para o agronegócio, para todas as culturas, como soja, milho ou algodão. Qualquer planta precisa da amônia. Então, ela já é uma necessidade. A vantagem de ela ser verde é porque é produzida de forma a não prejudicar o meio ambiente. Se usar outro tipo de energia para obter o hidrogênio, energia não renováveis, estará poluindo. A amônia verde é um fertilizante natural que não provoca qualquer poluição.”
Luiz Engênio Pontes, diretor Comercial da Fertsan
A Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP S/A) anunciou, em julho último, após processo de licitação, o consórcio Stolthaven Terminals/Global Energy Storage (GES) como a “potencial operadora” para planejar, projetar, construir e operar um terminal de amônia verde no Complexo do Pecém. O empreendimento fará parte da estrutura compartilhada que será utilizada pelos produtores de amônia verde que se instalarão no Complexo do Pecém a partir de 2026.
Durante a próxima fase do projeto, com o envolvimento do Complexo do Pecém e dos produtores de amônia verde, a engenharia básica do terminal será desenvolvida antes da assinatura do contrato final com a CIPP S/A, segundo a assessoria da Companhia.
Para o presidente da CIPP S/A, Hugo Figueirêdo, a escolha da Stolthaven Terminals é uma importante fase na concretização do Hub de Hidrogênio Verde do Pecém. “Temos cumprido nosso cronograma de planejamento para que consigamos fazer desse projeto uma realidade cada vez mais próxima, que vai mudar a vida dos cearenses e a história do Ceará” – observa.
O terminal de amônia verde no Porto do Pecém atenderá à produção de hidrogênio verde e à exportação dessa produção através da amônia verde, permitindo que os mercados acessem uma das fontes mais competitivas dessa energia renovável em nível global. O Porto do Pecém e seu acionista, o Porto de Roterdã, formarão a rota de exportação/importação de H2V mais próxima entre a América do Sul e a Europa – informa a Assessoria da CIPP.
O índice de custo de produção de hidrogênio verde (LCOH) e de amônia verde (LCOA) da consultoria Clean Energy Latin America (Cela) revela que a produção de amônia verde no Brasil, feita a partir do hidrogênio com fontes renováveis, tem alto grau de competitividade em relação aos métodos tradicionais, entre eles os combustíveis fósseis no Brasil.
O estudo, divulgado em agosto deste ano, mostra que a amônia verde tem atualmente um custo de produção local entre US$ 539,00 e US$ 1.103,00/tonelada, enquanto que a produção de amônia a partir do hidrogênio cinza (feito a partir de combustíveis fósseis) fica entre US$ 361,00 e US$ 1.300,00/tonelada.
O estudo da Cela garante que é possível produzir hidrogênio verde no Brasil com custo nivelado entre US$ 2,83/kg e US$ 6,16/kg nos dias de hoje, em algumas localidades estratégicas. No índice de 2024, a Cela elaborou um relatório mais completo com detalhes da tomada de decisão de projetos de hidrogênio verde em 16 cenários diferentes a partir de 1.280 simulações.
De acordo com a empresa Iberdrola, a amônia (NH3) é um composto químico à base de nitrogênio e hidrogênio amplamente utilizado na produção de fertilizantes e produtos químicos industriais. Atualmente, a amônia é produzida a partir do gás natural, emitindo 2 toneladas de CO₂ para cada tonelada de amônia em seu processo de produção.
Por esse motivo, a amônia convencional é chamada de amônia cinza. O atual mercado conta com um volume de cerca de 185 milhões de toneladas em todo o mundo. Aproximadamente 90% desse volume é produzido e consumido de forma cativa por indústrias que precisam da amônia como matéria-prima em seus processos de produção. Os 10% restantes são comercializados internacionalmente.
A amônia verde, por outro lado, não emite CO₂ em seu processo de produção e, portanto, a previsão é que haja um crescimento exponencial de sua produção para que seja substituída pela amônia cinza e que possa ser usada para outros fins. Para produzir amônia verde, o hidrogênio verde deve primeiro ser obtido por meio de um processo de eletrólise da água. Ou seja, a água é decomposta em hidrogênio e oxigênio, usando energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis.
O hidrogênio é então combinado com o nitrogênio atmosférico por meio de um processo conhecido como síntese de Haber-Bosch, o que permite que o hidrogênio e o nitrogênio reajam em alta pressão e temperatura na presença de um catalisador para formar amônia. O resultado é a produção de amônia verde usando hidrogênio verde e nitrogênio atmosférico.
Esse tipo de composto químico é amplamente utilizado na produção de fertilizantes agrícolas, já que a amônia é uma fonte essencial de nitrogênio para o crescimento das plantas. Também é usado como matéria-prima na produção de diversos produtos químicos, como ácido nítrico, fibras sintéticas, explosivos, corantes e produtos farmacêuticos.
Além dos usos tradicionais, o avanço da amônia verde dará origem a novos usos de demanda com alto potencial de crescimento. Por um lado, a amônia é considerada um transportador de energia, pois permite o transporte e o armazenamento eficientes de hidrogênio. Isso envolve um processo adicional chamado cracking, que consiste em dividir novamente a molécula de NH3 para recuperar o hidrogênio contido nela.
Outro possível novo uso para a amônia verde é como combustível para navios, podendo desempenhar um papel importante na descarbonização do setor marítimo. Por último, a amônia verde pode ser usada como combustível em caldeiras, turbinas ou motores para gerar calor e eletricidade, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
CIPP seleciona Stolthaven/GES para operar terminal de amônia verde no Pecém
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