A Índia caminha a passos largos para se tornar uma das maiores economias do mundo. Não é à toa que tem atraído grandes investidores, ultrapassando a até então preferida China em alguns indicadores. O mercado indiano é atualmente o sexto do mundo – vem logo atrás da França -, mas como vem despontando entre emergentes, com certeza vai galgar novas posições no ranking. Aliás, o mercado de ações da Índia tem atraído muitos dólares, que migram cada vez mais da China para o país da Ásia Meridional. A aposta é que o mercado acionário indiano seja, até 2030, o terceiro maior do mundo.
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Analistas econômicos acreditam que, por ter passado a China em alguns indicadores, a Índia vai continuar a atrair investidores. Aliás, de acordo com relatório do Morgan Stanley de setembro, a Índia alcançou peso de 2,35% no Índice MSCI AC World IMI, que rastreia ações de todo o mundo disponíveis para investidores, diante de 2,24% da China. Antes disso, no início daquele mês, a Índia ultrapassou a China no MSCI Emerging Market Index. O mercado acionário indiano é de US$ 5 trilhões e deve crescer ainda mais nos próximos anos.
Os cinco primeiros países juntos representam a maior parcela do índice, enquanto os outros mercados desenvolvidos contribuem com o restante. Para a Morgan Stanley, a Índia continuará a ganhar participação devido ao desempenho superior do mercado, novas emissões e melhorias de liquidez. Análise da Franklin Templeton mostra que “o desempenho superior a longo prazo do mercado de ações da Índia reflete o crescimento do PIB indiano”.
A participação da Índia no PIB global aumentou de 1,1% em 1993 para quase 3,5% em 30 anos. A ascensão da Índiaclaramente não é um fenômeno de curto prazo, mas algo que vem se acumulando de forma constante ao longo de um período de tempo maior – entende a Franklin Templeton. Tanto a Morgan Stanley e Goldman Sachs, gigantes Wall Street, endossam que a Índia como principal destino de investimento da década.
Para Ricardo Coimbra (foto), mestre em Economia, professor da Graduação e Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza (Unifor) e membro do Comitê Consultivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o crescimento do mercado de capitais na Índia vem muito em linha com expectativa de uma alternativa de um novo mercado, que possa suplantar a queda de ritmo de crescimento da China.
Ele explica que a economia da Índia vem crescendo, nos últimos anos, em torno de 6% a 6,3%, e a estimativa é de que esse desempenho seja mantido e como consequência uma possível alavancagem desse índice ser ainda maior nos próximos anos, com retorno significativo do setor produtivo. Por isso, é uma alternativa de atração de novos investimentos. O mercado indiano vem sendo o novo motor de crescimento econômico do mundo, suplantando o crescimento retardado, em função das crises, na economia chinesa.
“No que se refere a expectativa para a economia indiana, a tendência é manter um ritmo de crescimento ao longo dos próximos dois, três anos provavelmente um pouco acima dessa média dos anos mais recentes. Alguns estimam o crescimento variando entre 6,5% a 7%. E, à medida que isso se potencializa, você também atrai cada vez mais investidores para mercado indiano, à medida que você consegue observar que o país pode ser o novo boom de crescimento econômico e produtivo do mundo.”
Ricardo Coimbra, membro do Comitê Consultivo da Comissão de Valores Mobiliários
Indagado sobre o risco de uma crise econômica mundial, semelhante à verificada em 2008, mas agora impulsionada pelas guerras e suas consequências, Ricardo Coimbra reconhece que a economia do mundo está fragilizada, mas passando por um processo de reestruturação, com bons indicativos de crescimento, como na própria Índia, Estados Unidos e Europa como um todo e o Brasil também. “Estão passando ainda por um processo de reorganização fiscal, o que ocorre em todos os países, e também a busca de controles e inflacionários via políticas monetárias”.
Ricardo Coimbra afirma que atualmente não é possível visualizar uma tendência de crise mundial, pelo menos a curto prazo. No momento, é esperado um crescimento mais forte da economia, sobretudo do mercado de capitais da Índia, que gera reflexo positivos nos demais mercados. “A perspectiva é de manutenção de crescimento para o mundo ao longo dos próximos anos, à medida que se consegue manter um controle principalmente inflacionário, já que ocorreu diversos desequilíbrios desde a pandemia, e a estruturação das situações fiscais nas principais economias do mundo” – observa.
Sobre quais ensinamentos com os exemplos da Índia poderiam servir como parâmetros para o mercado brasileiro, especificamente o acionário, o economista e professor da Unifor frisa que o principal é que uma economia sólida e com perspectiva de crescimento forte e continuado ao longo dos próximos anos e atrativa para novos investimentos. E que uma potencialidade de fortalecimento do mercado de capitais ocorre por intermédio da alavancagem oriunda de tais investimentos. Tudo isso é interessante e serve de parâmetro, inclusive como indicativo de políticas públicas e do próprio setor privado nesse direcionamento.
A regulação e a transparência via SEBI (Conselho de Valores Mobiliários e Câmbio da Índia) são extremamente importantes pra você garantir o êxito dessas operações e do mercado de capitais como um todo, mostrando a transparência, a regulação e a estruturação do funcionamento do mercado. É extremamente importante pra garantir o sucesso do crescimento e da utilização do mercado de capitais como alavancagem do crescimento dos setores produtivos de forma transparente e regulada”.
Ricardo Coimbra, membro do Comitê Consultivo da Comissão de Valores Mobiliários
Raul dos Santos Neto (foto), presidente da Câmara Brasil Portugal no Ceará (CBPCE) e vice-presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil (FCPB), reconhece que a liquidez do mercado acionário indiano vem melhorando bastante, tendo sido suportado principalmente por investidores americanos, britânicos e os governos desses países, que tem interesse que a China não seja tão representativa.
“Nada melhor do que apoiar um país que está ali próximo e que é hoje o país mais populoso do mundo” – opina, acrescentando que o desempenho positivo do mercado acionário indiano vem muito em função da própria redução da atividade econômica na China e da percepção de vários investidores desde a época da pandemia, quando a China estava controlando muito a produção de insumos gerais mundo.
“Isso assustou um pouco os investidores e vários diversificaram, buscaram outros países a exemplo do Vietnã e da própria Índia, bem como de outros países próximos, que também tem mão de obra qualificada e barata. E há um alinhamento que a Índia tem com o mundo ocidental. Então, é de interesse do ocidente que a Índia tenha um mercado financeiro forte. Ela está ali do lado da China e pode atrair investimentos que por ora iriam para China sem questionamento nenhum.”
Raul dos Santos Neto, presidente da CBPCE
Para melhorar o desempenho do mercado de ações do Brasil, Raul dos Santos Neto garante que as empresas nacionais precisam se internacionalizar, participar mais do mercado global. “É claro que a gente tem uma meia dúzia de empresas que tem esse perfil, mas eu acho que isso precisa ser mais propagado”. Para ele, o país, como instituição, como governo, precisa largar um pouco de lado “esse negócio de ideologia” e focar mesmo no mundo dos negócios.
“Os governos existem para prover, claro, o bem-estar da população e tudo mais, mas também fazer com que a ambiência de negócio seja percebida como uma boa. A bolsa brasileira é olhada por estrangeiros como uma bolsa ainda muito especulativa. Ela não é uma bolsa assim de carregamento de ações por longo prazo. Eu acho que isso tem que mudar. É um desafio grande que a gente tem pela frente.”
Raul dos Santos Neto, presidente da CBPCE
Ele defende que o Brasil precisa se abrir mais ao mundo e com os parceiros corretos. Daí porque um acordo com a União Europeia ser muito importante. Existe uma perspectiva de que esse acordo realmente seja fechado, mas é importante verificar se o Brasil não está abrindo mão de muitas coisas para que seja, de fato, concretizado. O acordo e o alinhamento com países de ponta são fundamentais – analisa. “O próprio intercâmbio do Brasil com a própria Índia mesmo, pra ver o que que vem dando certo lá e o que não vem dando certo, tirar as boas experiências. Acho importante”.
Para concluir, Santos Neto adverte que “o Brasil tem que deixar de pensar pequeno, de pensar só na América do Sul, na África. É claro que a gente tem uma responsabilidade histórica, de compartilhar desenvolvimento com quem é menos desenvolvido. Mas, nesse momento, a gente tem que pensar na nossa nação e ver como é que a gente faz pra desenvolver o mercado de capitais, o mercado acionário, que é muito importante porque fomenta as empresas em geral para o crescimento com de forma barata”. E lembra: a forma mais barata de uma empresa se financiar para o seu crescimento é através do mercado de ações.
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