Que lugar é este que em 10 anos viu o Produto Interno Bruto per capita (PIB) per capita crescer mais de 200% para alcançar quase R$ 19 mil? Novo paraíso do luxo com sustentabilidade, Fortim tem sido destino de investimentos de alto padrão que chamam a atenção de brasileiros e estrangeiros.
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A localização é privilegiada, entre os rios Jaguaribe e Piranji, e a proximidade das principais praias de Pontal de Maceió e Canto da Barra permitem a disseminação de esportes aquáticos, como kitesurf, wakeboard, esqui aquático, windsurf e velejo, além da disponibilidade de energia limpa dos ventos (eólica). É a natureza preservada movimentando a cadeia de negócios de turismo como hotéis, restaurantes e demais atividades de lazer.
Com uma população de pouco mais de 17 mil pessoas, conforme o Censo de 2022, Fortim conta com uma rede hoteleira em expansão e uma variedade de restaurantes que oferecem uma rica gastronomia, cuja inspiração, em grande parte, é francesa.
Hotelaria à francesa
Quem explica esta inclinação é o argentino Alejandro Ureta (foto), diretor do grupo de hotéis Vila Selvagem, o primeiro de luxo no local há 13 anos, Jaguaribe Lodge e Jaguarindia Village (todos do francês Jean Michel, falecido em 2022 e que tem o filho Celian Chaufour como sucessor). Trata-se de hotéis tipo boutique com alta pegada ecológica, com não mais do que 30 acomodações cada um e que, como o Jaguarindia, instalado em uma área de 50 mil m², oferecem muito espaço com luxo, um diferencial bastante valorizado pelos franceses. A propósito, 20% dos hóspedes destes três hotéis que empregam mais de 200 nativos ou moradores são estrangeiros. Destes, metade vem da França.
“Além da localização entre rios, Fortim permite avançar nos conceitos de sustentabilidade pela sua configuração e pelos ventos frescos do Ceará”, ilustra o diretor. Ele exemplifica com o Hotel Jaguaribe Lodge, construído há sete anos, sob palafitas e ligado por passarelas e que dispensa o uso de ar-condicionado.
Na verdade, Fortim já era endereço de final de semana das famílias tradicionais de Fortaleza, com suas mansões na encosta do rio, privilegiando-se da vista. E continua sendo o destino dos cearenses em suas incursões turísticas. O local, entretanto, foi descoberto pelos brasileiros de outros Estados que costumam viajar para o exterior e que viram no local um paraíso, especialmente a partir do surgimento de hotéis de alto padrão, caso do Vila Selvagem que chegou pela coragem e ousadia de Jean Michel.
Origem Fortim
Atualmente, conta Alejandro Ureta, Fortim dispõe de muitas pousadas e de outros empreendimentos hoteleiros. É o caso do Origem Fortim, de alto padrão em construção e design, entregue em setembro deste ano, com suas 43 casas (quase 90% comercializado), mais de 25% para pessoas de fora do Ceará. O meio ambiente, de novo, marca presença neste ousado projeto que utiliza os recursos naturais da região, tais como o mandacaru, o carandá e o pinhão-roxo, opções ecológicas e culturalmente relevantes.
O empenho e o cuidado de renomados profissionais da arquitetura, das artes e do design deram ao empreendimento, recém-nascido, o 20º Prêmio da Construção, em 2023, promovido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon), na categoria Projeto Arquitetônico do Ano.
Para Alejandro Ureta, o sucesso da região se explica também pelo surpreendente cuidado da administração pública municipal que mantém em dia os serviços básicos nas ruas, praças e na saúde pública, impactando positivamente no turismo.
O esforço atual, segundo ele, envolve organização e planejamento internos. Para isso, a iniciativa privada se uniu a entidades como a organização Visite Fortim (@visitefortim no Instagram) em busca de profissionalização do trade turístico, assim como a associação de gastronomia encarregada de organizar o 5º Festival Internacional de Gastronomia, em setembro de 2025, que foca na qualidade dos chefs.
Alta gastronomia
Com uma rede hoteleira estruturada, Fortim também conta com a alta gastronomia para atrair turistas. Um exemplo vem do chef francês Emanuel Ruz que apostou na qualificação gastronômica do local, prestando consultoria aos hotéis. Ao compartilhar seus conhecimentos trazidos de seu próprio restaurante na França (já vendido), chegou ao Brasil por Minas Gerais em 2019 depois aportando no Ceará, onde se estabeleceu com a esposa Céline Ruz (foto), onde a filha Axelle Ruz, chef em pâtisserie, que já trabalhava cuidando do cardápio de sobremesas na hotelaria local, atraiu toda a família.
“Nosso objetivo é fazer de Fortim um polo gastronômico reconhecido”, conta Céline, que pode ser considerada uma espécie de “embaixadora” de Fortim no Brasil e na França, despertando o interesse dos turistas para conhecer a região. Entre os atrativos destacados por ela, além da hotelaria, gastronomia e esportes náuticos, é o acesso (9h de Paris) e o acolhimento da Prefeitura que quer fazer de Fortim um grande destino turístico.
A corretora de imóveis independente, Beth Ramos, que acompanha o desenvolvimento de Fortim há nove anos (três dos quais in loco) diz que a evolução do mercado imobiliário dá uma mostra do avanço. Em menos de 10 anos, a valorização dos terrenos de 400 m² em loteamentos variou de 100% a 200% passando, em média, de R$ 25 mil para R$ 250 mil.
Turismo de temporada
Diferentemente da hotelaria e da gastronomia, o lazer através de passeios de buggy vivencia o turismo de temporada. Há 10 anos na atividade, o presidente da Associação dos Bugueiros de Fortim, Rogério Rodrigues Lima (foto), conta que a grande concentração de demanda acontece a partir de 20 de dezembro até fevereiro (dependendo do carnaval) e depois nas férias escolares dos brasileiros, em julho, e dos franceses em agosto, com algum movimento na segunda quinzena de outubro e primeira de novembro.
A propósito, “Rogério Bugueiro”, como é conhecido, diz que mais de 80% de sua clientela é francesa, embora contabilize uma freguesia fiel de umas 15 casas de moradores brasileiros e franceses. Atualmente, os 30 associados da entidade levam turistas de Fortim para três destinos: o passeio local em Fortim mesmo, Morro Branco, Canoa Quebrada e o Passeio da Lagosta (60 km) até Icapuí, a “Terra da Lagosta”, por conta da abundância do marisco na região e onde o turista pode se encantar com as falésias, além das dunas e praias. Os valores dos trajetos variam de R$ 250,00 a R$ 800,00 envolvendo de 2 horas a 6 horas de passeio.
Fortim visto das águas
Para o proprietário do Fortim Náutica Marina Club, Luiz Henrique Romanato (foto), quem mora ou visita Fortim pode contar com a estrutura de uma garagem náutica capaz de guardar 100 embarcações. São lanchas destinadas ao esporte de recreio para passeios no Rio Jaguaribe, embora o espaço também guarde lanchas para mar aberto (10%) utilizadas na pesca e, ainda, jet skis.
“O crescimento de Fortim é exponencial”, garante o paulista que chegou na cidade a trabalho e que onde se fixou há 25 anos atendendo as necessidades de brasileiros e estrangeiros. “A história de Fortim, uma terra originalmente de pescadores que descobriu sua vocação turística se divide entre antes e depois da chegada dos franceses”, ilustra.
Luiz Henrique também credita a expansão da região à natureza privilegiada e à estrutura pública com ruas limpas, iluminadas, arborizadas, lixo zero e serviço de saúde eficiente, vitais para atrair os negócios do trade do turismo.