Em todo o mundo, empresas têm cada vez mais adotado ações de economia verde. Tal comportamento não é à toa, pois o mundo corporativo busca, com tais práticas, maior produtividade e, ao mesmo tempo, o fortalecimento da confiança dos investidores e consumidores. A economia verde é uma importante aliada para conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente e o bem-estar social.
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A Pesquisa de Inovação Semestral – 2023: Indicadores Temáticos – Práticas Ambientais e Biotecnologia divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em maio do ano passado, deixa claro que as empresas caminham para a economia verde. Naquele ano, 89,1% das 9,8 mil empresas industriais com 100 ou mais empregados, o equivalente a 8,7 mil, implementaram pelo menos uma iniciativa ou prática ambiental em recursos hídricos, resíduos sólidos, eficiência energética, reciclagem e reuso, uso do solo e emissões atmosféricas.
Já o estudo Panorama ESG 2024, realizado pela Amcham Brasil e divulgado em abril deste ano, mostra que a adoção de práticas de sustentabilidade pelas empresas no Brasil teve um avanço significativo no último ano. O estudo contou com 687 respondentes, indica um crescimento de 24 pontos percentuais na curva de adoção de práticas de ambientais, sociais e de governança (ESG) em relação ao levantamento ocorrido em 2023.
Ao todo, 71% das empresas participantes indicaram estar no estágio inicial (45%) ou avançado (26%) de implementação de práticas ESG. O impacto positivo sobre o meio ambiente e questões sociais (78%), o fortalecimento da reputação no mercado (77%) e o melhor relacionamento com os stakeholders (63%) apareceram como os principais motivadores para a adesão a práticas ESG pelas empresas, segundo a Amcham Brasil.
A economia verde, que é um modelo econômico que objetiva conciliar o crescimento econômico com a preservação do meio ambiente e a promoção do bem-estar social, tem atraído empresas que passaram a dotar essa nova visão para ganhar a confiança do consumidor e melhorar o valor da marca, ao mesmo tempo que obtém vantagem competitiva.
O superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/Ceará), Joaquim Cartaxo (foto), ao analisar a importância da economia verde, afirma que o mundo vive uma intensa e crescente demanda por produtos e serviços, mas os recursos para atender a tal demanda tendem à escassez. “Considerando esse contexto, a economia verde visa conciliar o crescimento socioeconômico com a preservação socioambiental do planeta, por meio da utilização sustentável dos recursos naturais, da redução de impactos ambientais negativos e da inclusão social, de modo a melhorar as condições de vida de bilhões de pessoas” – observa.
Especificamente com relação ao Brasil, Joaquim Cartaxo garante que a economia verde é uma oportunidade de desenvolvimento e necessidade, de modo a garantir a sustentabilidade no longo prazo e destaque no mundo, porquanto o país possui umas das mais importantes biodiversidades do mundo e significativos desafios socioambientais. Ele ressalta a relevância da economia verde, diante dos efeitos das mudanças climáticas, da degradação socioambiental e da tendência à extinção dos recursos naturais.
“O Brasil ocupa uma posição relevante no contexto global, tanto pela importância da Amazônia como pelos outros biomas brasileiros, essenciais ao equacionamento das mudanças climáticas do planeta. Adotar as práticas da economia verde em setores como agricultura, energia, transportes e gestão de resíduos, é um caminho para o Brasil ocupar a posição de líder global na transição para uma economia de baixo carbono, gerando trabalho e renda e estimulando a inovação em tecnologias limpas.”
Joaquim Cartaxo, superintendente do Sebrae/CE
Ele chama a atenção para um fato importante: a incorporação da economia verde pelos negócios brasileiros apresenta uma série de desafios e barreiras que precisam ser compreendidos e enfrentados pelas empresas. Um destes desafios é a questão da transição tecnológica, uma vez que algumas atividades produtivas ainda dependem de tecnologias antigas e altamente poluentes.
De acordo com Joaquim Cartaxo, em um cenário onde muitas empresas enfrentam margens de lucro estreitas, adotar essas práticas sustentáveis pode significar custos iniciais mais altos em atividade, como a substituição de equipamentos ou a adequação de processos produtivos. E isso pode ser desafiador, pois muitas vezes a importância destas mudanças, bem como os impactos positivos gerados por ela não são devidamente compreendidos pelos empresários.
O Superintendente do Sebrae no Ceará entende que a falta de conscientização sobre a importância da sustentabilidade e de uma cultura organizacional que valorize estas práticas talvez seja a maior barreira para estas mudanças, pois muitas empresas ainda não enxergam a economia verde como uma oportunidade estratégica, mas como um custo adicional.
“Há uma falta de conhecimento sobre os benefícios de longo prazo que a adoção de práticas verdes pode gerar, não apenas em termos de imagem e responsabilidade social, mas também em competitividade e redução de custos operacionais no futuro próximo. Superar essas dificuldades exige uma atuação conjunta entre o setor privado, o poder público e a sociedade, criando um ambiente mais favorável e de incentivo para a transição desta economia tradicional para uma economia mais sustentável.”
Joaquim Cartaxo, superintendente do Sebrae/CE
Indagado como a preferência por produtos sustentáveis orienta o mercado, o dirigente do Sebrae no Ceará acredita que “tudo é uma questão de aprender, desaprender e reaprender ou o desafio da adaptação”. A tendência verificada nos últimos anos é a mudança da preferência crescente do consumidor por produtos sustentáveis, a qual influencia nas estratégias das empresas, inevitavelmente. Cada vez mais, os consumidores, além de qualidade e preço, consideram os impactos socioambientais causados pelo processo de produção de bens de consumo ou dos serviços prestados.
Há, portanto, um forte movimento em curso que exige que as empresas se adaptem a esse novo paradigma de consumo, em que a sustentabilidade se constitui como um critério para os consumidores, em especial os mais jovens, que consideram com preocupação temas como mudanças climáticas, preservação do meio ambiente e condições de trabalho nos ecossistemas socioprodutivos.
Para Cartaxo, produtos e serviços que incorporam as práticas sustentáveis agregam valor para além da questão do preço, construindo e constituindo a imagem positiva da empresa em sintonia com o consumo e produção com responsabilidade e consciência socioambiental. “Daí as empresas adotarem práticas empresariais que incluam a escolha de fornecedores éticos, bem como a transparência sobre as origens e impactos dos produtos. Destaque-se que a sustentabilidade não é uma tendência ou um nicho de mercado, mas o posicionamento do novo perfil consumidor que exige das empresas compromissos efetivos com o meio ambiente e com a responsabilidade social”.
Para concluir, Joaquim Cartaxo garante que o tema da sustentabilidade é uma das marcas e uma das estratégias do Sebrae junto aos pequenos negócios, considerando esse processo de transição ecológica. Lembra que esse segmento, que representa mais de 90% das empresas formalizadas, está presente em todas as cidades e é o maior gerador de trabalho e renda do País. Portanto, são decisivas na transição ecológica. Há tempos que o Sebrae desenvolve ações de capacitação, consultoria, orientações, realização de eventos e rodadas de negócios que estimulam a prática de ações da economia verde.
Ele cita, como exemplo, a sede estadual do Sebrae, em Fortaleza, que foi reformada seguindo os princípios de um edifício sustentável, desde a otimização dos recursos como água, energia, gestão dos resíduos, passando pelo conforto e qualidade do ambiente para os colaboradores e os impactos positivos gerados no entorno, além de servir de modelo de boas práticas para as empresas cearenses. Estas ações renderam ao edifício do Sebrae/CE a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), categoria platinum, a mais alta concedida a construções que cumprem requisitos mundialmente reconhecidos de Sustentabilidade e que está presente em mais de 160 países.
Outro exemplo é o Selo de Qualidade Empresarial voltado para as empresas do setor de Serviços, que entre os critérios avaliados para a obtenção da certificação está a implantação de práticas sustentáveis, o que acaba servindo de estímulo para que as empresas adotem ou melhorem seus procedimentos. Além disso – informa – o Sebrae também lançou o guia “Sustentabilidade para os Pequenos Negócios – Estratégias de Implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o segmento de Turismo”, para orientar as empresas do Estado na implantação de ações que possam trazer sustentabilidade ambiental, social, econômica e de governança para estes negócios.
A economia verde, centrada na redução de emissões de gases de efeito estufa, eficiência energética, e desenvolvimento sustentável, é cada vez mais reconhecida como um caminho necessário para o desenvolvimento econômico global – diz Marília Brilhante (foto), diretora Executiva da Energo Soluções em Energia. Para ela, o Brasil tem um papel estratégico na transição para uma economia verde global, devido as suas características específicas e diferenciadas em comparação com os demais países e regiões globais.
Marília Brilhante cita as múltiplas vantagens que a economia verde oferece: sob o aspecto da mitigação de mudanças climáticas, a economia verde tende a limitar o aquecimento global conforme o Acordo de Paris por requerer a transição para fontes de energia renováveis e sustentabilidade em todos os setores econômicos.
Em relação à competitividade de mercado, vale ressaltar que as empresas que adotam práticas sustentáveis são mais competitivas a longo prazo, reduzindo custos operacionais com eficiência energética e aproveitando incentivos fiscais e linhas de crédito verdes.
Por fim, sob o aspecto social, a economia verde propicia a geração de empregos. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a transição para uma economia mais verde pode gerar milhões de empregos em setores como energias renováveis, transporte sustentável e construção ecológica.
Marília Brilhante acredita que a preferência por produtos sustentáveis já orienta e continuará a guiar o mercado global e nacional. Isso se reflete em várias tendências, como consumo consciente: os consumidores estão cada vez mais dispostos a pagar por produtos e serviços que sejam ambientalmente responsáveis.
Também na regulação ambiental global: governos estão implementando padrões mais rigorosos para emissões, eficiência energética e produção limpa, forçando as empresas a adotar práticas sustentáveis. E pressão de investidores: investidores institucionais estão exigindo práticas ESG (ambientais, sociais e de governança), o que significa que empresas que não seguem padrões verdes enfrentam exclusão do mercado financeiro.
Entre os principais desafios para as empresas brasileiras na transição para a economia verde estão:
• Regulação Inconsistente: políticas de regulação podem ser voláteis e complexas, dificultando a estabilidade dos investimentos em energia limpa e práticas sustentáveis;
• Acesso ao Capital: muitas empresas enfrentam barreiras para acessar financiamento adequado para projetos de energia verde e sustentabilidade;
• Infraestrutura Deficiente: melhorias em logística, transmissão de energia renovável e armazenamento são cruciais para maximizar a eficiência e os benefícios econômicos;
• Cultura Empresarial: há desafios relacionados à conscientização e adaptação dos modelos de negócios, com resistências à mudança para práticas mais sustentáveis.
Para superar as barreiras, Brilhante cita algumas iniciativas, como o financiamento Verde e Incentivos Fiscais (implementar mais políticas que incentivem as empresas, como linhas de crédito sustentáveis, subsídios para energia renovável e isenção de impostos); Parcerias Público-Privadas (PPPs); Capacitação e Educação Corporativa e Adoção de Tecnologias de Ponta (estimular o desenvolvimento de tecnologias como armazenamento de energia, redes inteligentes e captura de carbono).
Crescimento do Hidrogênio Verde, Digitalização e Redes Inteligentes, Expansão de Financiamentos Verdes e Circularidade e Reuso são as principais tendências apontadas por ela para os próximos anos. “O Brasil, com sua riqueza de recursos naturais e potencial inovador, está em uma posição privilegiada para desempenhar um papel global proeminente nesse cenário em transformação. O sucesso dependerá de políticas consistentes, parcerias estratégicas e um foco contínuo na inovação e na sustentabilidade”.
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