De acordo com o cientista político austríaco Joseph Schumpeter, “a inovação é o motor do crescimento econômico”, proporcionando soluções para problemas latentes na sociedade, utilizando novas tecnologias de forma disruptiva e escalável. É o que o mundo e o Brasil vivenciam em diferentes níveis. Os impactos são positivos na qualidade de vida das pessoas e em todas as atividades humanas como comunicação, trabalho, saúde, educação, política e relações sociais.
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O risco fica por conta do uso excessivo das mídias digitais, exigindo práticas responsáveis de consumo tecnológico. Há, ainda, o desafio da inclusão digital, porque também no mundo mágico da tecnologia há uma legião de esquecidos principalmente nas economias mais desiguais. Para uma infinidade de vantagens contrapõe-se as desvantagens não só da dependência digital, como a ameaça à privacidade e as fake news.
O professor Machidovel Trigueiro Filho (foto), coordenador do Centro de Referência em Inteligência Artificial e diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) aponta a telemedicina como uma das faces mais visíveis da inovação a serviço da qualidade de vida. Basta saber que a partir da pandemia de Covid-19, as consultas remotas avançaram nada menos do que 5000% entre 2019 e 2021, conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). E se mantiveram elevadas, com um aumento de mais de 600%, até meados de 2024, reduzindo desigualdades no acesso à saúde.
“A relação entre tecnologia, inovação e qualidade de vida é intrínseca e multifacetada”, afirma Machidovel. E acrescenta que os avanços tecnológicos têm proporcionado melhorias significativas no bem-estar humano, desde a saúde até a eficiência energética em residências. Tecnologias como a telemedicina têm permitido acesso mais equitativo a cuidados médicos, especialmente em regiões remotas, enquanto dispositivos vestíveis, como smartwatches, monitoram sinais vitais em tempo real, permitindo diagnósticos precoces e intervenções personalizadas. A transformação digital também oferece acesso a informações e recursos essenciais para a educação e mobilidade, com decisões mais precisas baseadas em dados gerenciados por inteligência artificial.
Para ele, é crucial avaliar como o uso excessivo de mídias digitais pode afetar a saúde mental, reforçando a importância de práticas responsáveis de consumo tecnológico. Já há importantes relatos onde a tecnologia pode acelerar transtornos mentais causados pelo seu uso exagerado. “É essencial equilibrar os benefícios com os desafios”, comenta.
Machidovel também destacou que a automação e a inteligência artificial (IA) estão simplificando processos, economizando tempo e promovendo eficiência em vários segmentos. “Há evidente transformação desde as indústrias até os lares”, observa, referindo-se a robôs de limpeza, sistemas de irrigação inteligentes e apps de gerenciamento financeiro. Além disso, ferramentas de IA como ChatGPT e MidJourney ajudam profissionais a acelerar a produção de ideias e conteúdos estratégicos, liberando profissionais para atividades mais criativas. Entre esses setores estão o financeiro, a indústria, o marketing e a automação residencial, agregando benefícios às casas inteligentes”.
Com o aumento de dispositivos conectados, proteger dados se tornou essencial e, segundo ele, leis como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil são avanços cruciais pois estabelecem diretrizes claras para o uso ético de informações sensíveis. Contudo, as empresas precisam investir em segurança cibernética, enquanto os consumidores devem adotar boas práticas, como senhas fortes.
O médico Rafael Kenji (foto), especialista em inovação e CEO da FHE Ventures e HealthAngels Venture Builder, diz que a tecnologia e a inovação têm um papel transformador na qualidade de vida das pessoas, pois proporcionam soluções que aumentam a eficiência, conectividade e acessibilidade em áreas como saúde, educação e bem-estar. “Ferramentas digitais, dispositivos vestíveis (wearables) e plataformas de telessaúde não apenas monitoram a saúde, mas também empoderam indivíduos a tomarem decisões mais informadas sobre seu estilo de vida, promovendo maior longevidade e qualidade de vida”, ilustra.
Como empreendedor, fundador da Academy Abroad e professor do MBA de Gestão em Saúde do BBI of Chicago, Kenji diz que a revolução chegou em várias áreas, caso da saúde. Como o Brasil é um país continental, com grandes diferenças regionais, culturais e econômicas, o uso da tecnologia tem o potencial de levar acesso, informação e equidade na saúde e bem-estar das populações. Novas tecnologias lançadas em 2024 por bigtechs como Apple, Google, Meta e Samsung são capazes de analisar a oxigenação sanguínea, batimentos cardíacos, frequência respiratória, e até mesmo monitorar a ocorrência de apneia do sono e o ciclo menstrual.
Soluções como IA em diagnósticos, plataformas de terapia online e prontuários eletrônicos melhoram a precisão, a eficiência e a personalização do atendimento, mantendo a segurança da informação. Isso resulta em melhores desfechos clínicos e uma experiência mais centrada no paciente, promovendo saúde e bem-estar como um todo, além de diminuir desperdícios.
Estudos realizados no Mass General Brigham, rede de hospitais vinculados à Harvard Medical School, mensuraram que mais de 8 horas em um plantão de 12 horas de um médico são gastas com preenchimento de burocracia, como prontuários, prescrições e autorizações financeiras para procedimentos, além da leitura dos documentos e busca por informações importantes no registro médico dos pacientes. Após a implantação da inteligência artificial, mais de 80% do tempo gasto com burocracia foi economizado, possibilitando com que o profissional de saúde gaste mais tempo com seu paciente.
A automação residencial está redefinindo o conceito de lar inteligente, com dispositivos que ajustam iluminação, temperatura e segurança de forma autônoma. Isso não só aumenta o conforto, mas também reduz o consumo de energia, promovendo eficiência e sustentabilidade. O próprio uso da inteligência artificial demanda maior gasto de energia, para manter o alto volume de dados analisados e produzidos, exigindo uma transição energética consciente.
Também Rafael Kenji alerta que é preciso proteger a massa de dados disponíveis com os dispositivos conectados, apontando a necessidade de investir continuamente em soluções de cibersegurança e conscientização dos usuários para evitar riscos envolvendo informações, principalmente com o aumento do uso da inteligência artificial.
Francisco Lima (foto), consultor de inovação formado pela Nova School of Business de Lisboa, entende, pela sua experiência de 20 anos impulsionando a inovação em empresas de médio e grande porte, que este é um caminho sem volta, cabendo aos usuários adotarem as soluções desenvolvidas com responsabilidade. Para ele, a tecnologia vem trazendo melhorias inquestionáveis na qualidade de vida dos cidadãos com impactos econômicos relevantes para o Planeta.
Liderando projetos de consultoria estratégica, gestão da qualidade e desenvolvimento de produtos digitais ao longo de sua carreira, ele destaca que o grande problema é o armazenamento e a integração de volume de dados de diferentes plataformas e sistemas. Ele usou o famoso “puxadinho”, comum nas construções residenciais e até mesmo comerciais, para ilustrar sua preocupação. Ocorre que as velhas e as novas tecnologias são misturadas, apesar das diferentes linguagens, tornando o acesso e a gestão menos eficiente. “Não basta ter os dados. É preciso analisar as informações para a tomada de decisões em favor do cidadão”, analisa, apontando a necessidade de investimentos na correta migração e integração de dados.
Francisco Lima diz que o Brasil tem feito esforços neste sentido para disponibilizar serviços aos cidadãos. A seu ver, o gov.br é um bom modelo, assim como o SUS tem evoluído, da mesma forma que o Bolsa Família, que ele considera um “cartão digital”. Na iniciativa privada, citou o sistema financeiro como o mais avançado na oferta de serviços digitais e inovação, comparável aos sistemas internacionais. Ele classifica o PIX como passível de vencedor de um Oscar.
A seu ver, o grande desafio está nas mãos e mentes dos profissionais focados em analisar o futuro a partir do monitoramento e cruzamento da massa de dados disponíveis para, então, traçar estratégias e fazer projeções de cenários com ações e soluções mais assertivas.
O CEO da Prolins, Cristiano Lins (foto), destaca que a tecnologia e a inovação estão intrinsecamente ligadas à melhoria da qualidade de vida, oferecendo soluções mais eficientes para problemas cotidianos, tornando tarefas mais rápidas e acessíveis, e permitindo uma gestão mais inteligente de recursos.
Entre as mudanças mais notáveis, ele aponta a digitalização dos serviços, o uso de dispositivos inteligentes e a conectividade em tempo real. O uso de smartphones, wearables (como relógios inteligentes) e assistentes virtuais tem transformado a forma como as pessoas se comunicam, se organizam e interagem com seu ambiente. “A crescente automação no setor doméstico, como eletrodomésticos inteligentes e sistemas de segurança conectados, tem permitido maior eficiência e facilidade no dia a dia”, ilustra.
Para ele, também é notável o crescimento da adoção de tecnologias para saúde. Globalmente, mais de 70% dos consumidores já utilizam aplicativos de monitoramento de saúde, com os wearables se tornando uma parte comum do cotidiano para a monitorização de atividades físicas, sinais vitais e sono. “Esses dados evidenciam o crescente interesse por soluções tecnológicas voltadas para o bem-estar, demonstrando uma tendência global de cuidado preventivo e gestão ativa da saúde”, comenta Cristiano Lins.
Lins também cita a inteligência artificial (IA) como aliada dos médicos para identificar padrões em grandes volumes de dados clínicos, melhorando a precisão dos diagnósticos. Dispositivos como monitores de glicose ou pressão arterial conectados permitem que os pacientes acompanhem sua saúde de forma contínua e interajam com profissionais sem a necessidade de consultas presenciais. Além disso, plataformas de bem-estar oferecem conteúdos personalizados para promover a saúde mental e emocional, como meditação guiada, terapia online e suporte psicológico.
O conceito de ambientes adaptáveis e multifuncionais acelerado pela pandemia e que está se tornando cada vez mais popular é outro aspecto levantado pelo CEO da Prolins. “Tecnologias como mesas de trabalho ajustáveis, sistemas de videoconferência de alta qualidade e ambientes de realidade virtual ou aumentada para lazer e interação social estão criando um novo paradigma sobre como as pessoas vivem e trabalham, buscando equilibrar produtividade e relaxamento”, explica ele. Também cita a necessidade de maior segurança dos dados pessoais. Para isso, tecnologias como criptografia, autenticação multifatorial e regulamentações como o GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados) têm sido desenvolvidas para proteger a privacidade dos usuários.
Todos concordam que a tecnologia e a inovação prometem novidades ainda mais impactantes. Cristiano Lins prevê o avanço da inteligência artificial, da computação quântica e da biotecnologia, além da realidade aumentada e a virtualização.
Rafael Kenji visualiza a integração entre realidades virtual e aumentada que promete transformar tanto o aprendizado quanto o entretenimento e a saúde, criando experiências imersivas e altamente personalizadas, na chamada realidade híbrida, ou mista.
Para Machidovel Trigueiro Filho, as tendências tecnológicas para o futuro são promissoras e redefinirão a interação entre humanos e tecnologia, promovendo eficiência e qualidade de vida.
Já Francisco Lima acredita que o futuro mais ou menos conectado dependerá do quanto as empresas souberem projetar os cenários tecnológicos e se inserirem nele.
Em resumo: o avanço tecnológico e a inovação têm o potencial de transformar profundamente a vida cotidiana, oferecendo novas oportunidades para melhorar a saúde, o bem-estar e a eficiência das pessoas. No entanto, também exigem cuidados para garantir que os benefícios sejam maximizados, mantendo um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e uma vida real mais conectada e equilibrada.
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