A fusão entre Azul e Gol, anunciada em um memorando de entendimentos não vinculante, enfrenta um caminho regulatório desafiador. Juntas, as companhias aéreas podem controlar cerca de 60% do mercado doméstico brasileiro, superando os 40% da Latam, segundo dados da Anac. A aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve incluir condicionantes devido à concentração de mercado, afirmaram especialistas à Reuters.
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Entre as exigências, podem estar a cessão de slots em aeroportos saturados, como Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), e a manutenção de operações separadas em áreas como gestão de tarifas e redes de voos. Há também a possibilidade de ajustes em rotas internacionais, como as que conectam cidades brasileiras a Miami, que apresentam alta concentração de voos das duas empresas.
O mercado doméstico brasileiro enfrenta desafios estruturais, como o elevado custo operacional, tributação e combustível dolarizado. Especialistas apontam que o Cade pode buscar formas de mitigar o impacto da fusão sobre a concorrência, como permitir a entrada de novos players no setor, embora o ambiente regulatório e econômico do país seja considerado pouco atrativo.
A Azul, que não entrou em recuperação judicial, reestruturou dívidas de R$ 3 bilhões no último ano, mas enfrenta pressão de custos. A Gol, controlada pela Abra, segue em recuperação judicial nos Estados Unidos. Caso a fusão não avance, analistas veem risco de redução da malha aérea da Azul.
A Latam, principal concorrente, pode se beneficiar do processo complexo de integração das rivais e buscará participar das discussões no Cade, estimando que a análise do caso dure mais de um ano. Apesar de dominar um terço do mercado doméstico, a empresa observa os desdobramentos do acordo com cautela.
O preço das passagens deve continuar em alta com ou sem fusão, impulsionado pelo aumento do dólar e do preço do petróleo, que representam mais de 60% dos custos do setor. Segundo especialistas, a redução de concorrência pode agravar a pressão sobre as tarifas, mas os custos elevados já configuram um cenário desafiador para as companhias.
A fusão, se aprovada, resultaria em uma entidade listada em bolsa com operações integradas em algumas áreas, mas mantendo certificados operacionais separados. A ausência de empresas regionais no Brasil também é destacada como um obstáculo à diversificação no mercado aéreo doméstico, que permanece concentrado em poucos players.
*Com informações da Reuters.
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