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Mulheres de negócios: um universo em ascensão

Mais de um terço dos empreendedores do Brasil são mulheres ou exatos 34,4% do universo empresarial brasileiro, conforme pesquisa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que se baseou em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). São 10,3 milhões de pessoas do sexo feminino que criam e administram seus próprios negócios em diferentes atividades.


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Neste mesmo universo, segundo a pesquisa DeloitteWomen in the Boardroom”, apenas 6% de CEOs são mulheres no mundo todo. No Brasil, nas grandes corporações, as mulheres ocupam cerca de 20% das posições de CEO, um avanço, mas ainda com muito a ser feito em termos de representatividade em cargos de liderança. Sétimo do mundo em número de empreendedoras, o Brasil cada vez mais conta com chefes e menos com esposas, embora as coisas não sejam excludentes.

As empreendedoras estão buscando aprofundar seus conhecimentos e já olham para muito além do horizonte. Uma das sinalizações vem do programa Elas Globais, do Sebrae, que oferece maior capacitação em temas como planejamento estratégico para internacionalização, negociação em vendas internacionais e uma simulação de rodada de negócios. O objetivo é dar asas para quem quer voar.

Cenário inclusivo

Como agentes de transformação, as empreendedoras projetam um cenário mais inclusivo, o que tende a avançar na medida em que houver um aumento na valorização da diversidade no ambiente de negócios. A análise é de Mônica Arruda (foto), articuladora da Escola de Negócios do Sebrae/CE, que as mulheres brasileiras têm se consolidado como uma força empreendedora com um impacto considerável na economia.

No Nordeste, essa valorização é ainda mais importante, já que a região enfrenta desafios econômicos específicos, como menor acesso a financiamento e políticas públicas menos robustas. “Ao debatermos e valorizar o empreendedorismo feminino, contribuímos para a construção de um ecossistema mais equilibrado, com mais oportunidades e menos desigualdades, essencial para um futuro econômico sustentável”, afirma.

Políticas públicas

Segundo Mônica Arruda, o Brasil tem adotado diversas iniciativas para apoiar o empreendedorismo feminino, como programas de microcrédito e capacitação profissional. Algumas políticas públicas incluem a Lei de Igualdade de Gênero, que busca garantir oportunidades iguais de empregos e salários para mulheres, e o incentivo a fundos de investimento focados em negócios liderados por mulheres. Organizações como Mulheres do Brasil, Rede Mulher Empreendedora e Empreende Aí são exemplos de iniciativas que buscam ampliar a participação feminina no mercado de trabalho e fomentar o networking entre empreendedoras.

O acesso ao crédito está entre os maiores obstáculos encontrados por 60% das mulheres, como mostra a pesquisa do Sebrae de 2023, fato que ocorre por falta de garantias e pelo risco mais elevado atribuído a elas pelas instituições financeiras. No Nordeste, estudo de 2023 da Confederação Nacional do Comércio (CNC) indicou que, nas regiões mais periféricas, o índice de mulheres que conseguem acesso a financiamentos é 20% menor do que o dos homens.

Conquista de espaços

A economista e consultora Desirée Mota (foto) tem a exata noção da importância do papel das mulheres no mundo dos negócios, mas entende que há um caminho pela frente para conquistar espaços, um papel que ela atribui à educação corporativa sobre diversidade. Globalmente, as mulheres representam aproximadamente 15% dos fundadores de startups. No Brasil, embora respondam por 30% das pequenas empresas, especialmente nos ramos da saúde, educação e impacto social, menos de 5% das startups são fundadas exclusivamente por mulheres e apenas 12% têm mulheres na posição de CEO. Ela atribui este acanhamento, entre outros pontos, à dificuldade em captar investimentos e à necessidade de políticas mais inclusivas para promover a equidade de gênero.

Segundo Desirée, além de crédito escasso, as mulheres empreendedoras têm outros obstáculos a serem transpostos, o que inclui a construção de redes de apoio e preconceitos estruturais em setores mais masculinizados, como tecnologia e indústria.

“Trata-se de desafios estruturais, culturais e financeiros que limitam o potencial das mulheres no mundo dos negócios, exigindo esforços coordenados para superá-los”, comenta. Ela está convicta de que tanto governos como iniciativa privada devem ter um olhar atento a este universo, até porque o impacto das mulheres empreendedoras na economia brasileira e global é significativo, tanto em termos de geração de renda quanto na transformação de realidades sociais.

Coragem de sobra

Com diferentes perfis, as mulheres têm buscado seus caminhos próprios driblando, em boa parte dos casos, a falta de apoio governamental e até familiar. Foi o caso de Mazé Lima (foto), uma mineira de 53 anos que há 25 anos ousou romper com a situação posta (ou imposta) pela vida. Sem estudos (cursou até a quarta série), tomou coragem e saiu de um casamento abusivo. A decepção e a demissão de uma agência bancária abriram espaço para realizar o sonho de ser doceira. “Vou ter meu próprio negócio e dar emprego para outras pessoas”, sentenciou.

Tudo começou com a venda na rua de doces de amendoim feitos com ingredientes comprados com dinheiro emprestado. Era março de 1999. Estava aberta a porta da esperança com a criação da Mazé Doces Artesanais, em Carmópolis, a 140 km de Belo Horizonte, hoje com quase R$ 6,0 milhões de faturamento. Das mãos de 29 funcionários (10 vagas estão abertas) saem os doces cristalizados de abacaxi, moranga, figo, laranja e nozes que chegam a todo o Brasil, 80% dos quais comprados online.

Os filhos Tirzah e Gabriel cuidam da inovação e da tecnologia, garantindo uma fábrica moderna e avançados sistemas de gestão e de entregas. Da produção cuida ela, fiel à promessa original de fazer doces saudáveis à base de água, açúcar e frutas. Também encontra tempo para palestras Brasil afora e para compartilhar sua caminhada com outras mulheres no livro “Agridoce”. No seu radar também está a administração de cursos de formação de doceiras.

Mazé não reclama de quase nada, exceto da burocracia oficial e da carga de impostos que limitam o crescimento. Apesar disto, aconselha a todos que valorizem suas ideias, por mais simples que possam parecer.

Determinação e inovação

Larissa Isensee (foto) começou sua trajetória profissional aos 14 anos, ajudando o avô na pequena fábrica têxtil da família, a Máquinas Isensee. Aos 22 anos, com a aposentadoria do fundador, arrendou a indústria e assumiu a liderança. Com visão estratégica, transformou desafios em conquistas. Hoje, aos 26 anos, Larissa não só triplicou o faturamento (de R$ 1,2 milhão para R$ 4,0 milhões) como conquistou o mercado internacional com uma abordagem inovadora e sustentável. Atualmente exporta peças exclusivas de tear circular para toda a América Latina, rompendo barreiras e levando a expertise brasileira para além das fronteiras verde-amarelas.

A experiência em vendas de máquinas a ajudou na posição de CEO. Reformulou a equipe e investiu em treinamento especializado. “Não bastava vender, tinha que informar e detalhar as vantagens do tear circular”, determinou, para destacar o diferencial de fabricação de tear circular a partir de máquinas já sucateadas, algo único no Brasil. A solução sustentável permitiu que pequenos empreendedores economizassem até 70% no investimento inicial, facilitando o acesso a equipamentos de alta qualidade. “O futuro pertence a quem acredita no poder das ideias e no trabalho com responsabilidade”, conclui a jovem CEO. 

Crises e oportunidades

Em plena pandemia, enquanto milhares de negócios encerravam suas atividades, Michelle Falciano reinventou seu modelo de atuação e expandiu sua relevância no ramo de dedetização e controle de pragas na TermiPest Descupinizadora. Aos 20 anos, deu um passo decisivo: abriu sua própria empresa em um segmento dominado por desafios técnicos e concorrência acirrada. Duas décadas depois e muita resiliência, Michelle é um exemplo de que crises podem se transformar em oportunidades.

Para enfrentar o caos da pandemia e atender as demandas, a empresa passou a oferecer serviços de sanitização, essencial para conter a propagação do vírus. “Entender as necessidades do momento foi fundamental e criar estratégias para garantir a segurança de todos os colaboradores foi uma preocupação genuína, afinal, não se tratava apenas de manter a empresa em operação, mas de garantir a segurança e o bem-estar de todos”, destaca Michelle.

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