Na contramão das autoridades monetárias mundiais, o Banco Central do Brasil alimenta sua política contracionista com aumento atual e futuro na taxa de juros, conforme a pesquisa Focus, comprometendo o cenário promissor de crescimento da economia.
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Ainda longe de ser uma tragédia em sua performance econômica, o Brasil tem que ter maior prudência ainda no âmbito internacional, dada a belicosidade de Donald Trump e o quanto de seu discurso de campanha vai ser praticado, apesar de ter maioria no Senado, no Congresso, na Corte e nas redes sociais (X e Meta). A palavra de ordem é prudência.
Para a economista e professora da Fundação Getúlio Vargas, Carla Beni (foto), uma das saídas será enfraquecer cada vez mais a soberania do dólar e transacionar com outras moedas. “O Brasil preside o BRICS e pode liderar a busca por maior independência da moeda americana a partir de uma moeda própria ou comum”, afirma. O processo parece já estar em curso, uma vez que nas reservas do Banco Central, o percentual de euros já é o mesmo da moeda chinesa. “Trata-se de uma revolução geopolítica, especialmente dos EUA, na tentativa de se manter no centro do mundo”, diz ela.
Conselheira do Corecon-SP, Carla Beni entende que internamente o Brasil tem enormes desafios a serem enfrentados. O primeiro deles é o fato de iniciar o ano sem um orçamento aprovado o que, segundo ela, “foi fruto da chantagem do Congresso Nacional envolvendo a negociação das emendas parlamentares”.
Apesar de tudo, o Brasil deverá continuar crescendo, mesmo que em taxas menores do que os 3% registrados nos dois últimos anos. Sua preocupação é com o reflexo dos juros mais altos como limitador do crescimento da economia, especialmente considerando o teto do reajuste do salário mínimo em 2,5% com sabidos impactos negativos no consumo. Aos agentes econômicos caberá encontrar oportunidades de negócios entre os mais ou menos beneficiados pela atual condução da política monetária de juros altos num país protagonista em fontes energéticas sustentáveis e na produção de alimentos para o combate à fome.
Inflação menor
Também a Confederação Nacional da Indústria acredita que o Banco Central vai manter o ciclo de aperto monetário pelo menos até a metade do ano, com redução a partir do segundo semestre. Também as concessões de crédito devem crescer 7,1%, menos do que em 2023, o que poderá conter o consumo e os investimentos. Com menor ritmo de crescimento da economia e menor pressão sobre o preço dos alimentos e da energia, a inflação tende a baixar para 4,2% nos cálculos da entidade.
Motores acelerados
Motor industrial e da economia brasileira, a indústria fabricante de veículos automotores olha de maneira positiva para 2025. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o setor fechou 2024 com uma produção 9,4% maior em relação a 2023, fazendo o Brasil recuperar a 8ª posição no ranking global de fabricantes, com 2,550 milhões de unidades. Apesar dos conflitos, câmbio, juros e do “Efeito Trump”, a entidade projeta números razoáveis para a conjuntura econômica. “Há uma demanda reprimida por transporte individual que vem sendo atendida de forma crescente, graças às melhores condições de crédito. Se essas condições melhorarem e se houver uma política de renovação de frota, mais pessoas poderão optar por veículos 0km”, afirmou o presidente Márcio de Lima Leite (foto).
O que diz o Sr. Mercado
Inflação e dólar em alta estão no radar do mercado financeiro. Segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, a projeção é que o dólar fique no patamar de R$ 6,00 em 2025, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue a 4,99% neste ano, 4,03% em 2026 e 3,90% em 2027.
A taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), é de 12,25% ao ano e a expectativa, diante das incertezas, é de alta em 2025, passando para uma projeção de 14,75%. Para os dois próximos anos, a Selic deve ficar em 12% e 10%, respectivamente.
E as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano apontam para 2,02%, ficando em 1% e 2% para 26 e 27.
Por que o dólar disparou?
“A alta do dólar no Brasil está, em parte, ligada às ameaças de Donald Trump contra o BRICS e suas iniciativas de reduzir a dependência do dólar nas transações globais.”
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio
“No cenário internacional, as ameaças de Trump e as declarações sobre a imposição de tarifas contribuíram. No Brasil, a desconfiança na gestão fiscal, o pessimismo com as reformas e o impacto do pacote fiscal são algumas razões.”
Felipe Vasconcellos, Sócio da Equus Capital
“A possível retaliação comercial dos EUA pode enfraquecer as economias do BRICS, reduzindo as exportações e gerando aversão ao risco, o que pressiona o real e outras moedas emergentes, elevando o dólar.”
Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos
“Os investidores enfrentam desafios crescentes, buscando proteger seus ativos enquanto o panorama econômico permanece instável, com perspectivas de maior volatilidade e valorização do dólar no curto e médio prazo.”
Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus
“A instabilidade do câmbio, associada à fragilidade do real, dificulta o planejamento e a captação de recursos, especialmente as empresas dependentes de insumos importados ou que buscam financiamento externo.”
João Kepler, CEO da Equity Fund Group
“Além do ajuste fiscal insatisfatório, a união dos países emergentes no BRICS, que visam reduzir a dependência do dólar, acabou gerando ruído que se materializou com a eleição de Trump e sua política econômica protecionista.”
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike
“A alta do dólar, intensificada pela instabilidade política e fiscal interna e pelas tensões geopolíticas externas, elevam os custos de materiais, caso da construção civil, atrasando projetos.”
Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest