DeepSeek: código aberto descentraliza mercado de IA e acelera inovação global

Por: Redação | Em:
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O lançamento do assistente de inteligência artificial DeepSeek amplia a concorrência no setor e marca uma modernização do mercado. (Foto: Reprodução/Nikolas Kokovlis/Reuters)

O novo assistente de inteligência artificial (IA), lançado pela startup chinesa DeepSeek, reconfigurou a trajetória do mercado global da tecnologia após os desenvolvedores declararem que o modelo “DeepSeek-R1”, a versão mais recente, foi desenvolvido com um orçamento de US$ 5,6 milhões. O valor é significativamente inferior aos bilhões investidos pelas grandes empresas do setor, as big techs, no Vale do Silício.


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A nova IA ganhou atenção internacional por ter sido desenvolvida com um custo menor do que o “o1” da OpenAI. Além disso, o app da DeepSeek superou outros assistentes de IA e é líder em downloads na App Store, tornando-se o aplicativo gratuito mais bem avaliado nos EUA.

Com isso, a tecnologia chinesa surpreendeu Wall Street e, em 27 de janeiro, provocou uma queda acentuada nas ações de empresas como Nvidia, Microsoft e Meta. Dentre as citadas, a Nvidia, uma das empresas mais valiosas do mundo, registrou a maior desvalorização, perdendo cerca de US$ 589 bilhões em valor de mercado.

DeepSeek não é “fogo de palha”

Célio Fernando Melo, economista, membro da Academia Cearense de Economia, Partner da Astor BFA IB. (Foto: Acervo pessoal)

O DeepSeek-R1 reacendeu preocupações no mercado sobre a viabilidade de investimentos em IA. Enquanto big techs gastam bilhões no desenvolvimento de modelos avançados, a abordagem da startup chinesa mostra que otimização pode ser uma alternativa para reduzir custos.

O lançamento do assistente de inteligência artificial DeepSeek amplia a concorrência no setor e marca uma modernização do mercado. Célio Fernando Melo, economista e partner da Astor BFA IB, destaca que a ferramenta coloca grandes corporações de tecnologia em pé de igualdade com comunidades periféricas no desenvolvimento de IA, tornando o cenário global mais competitivo.

Segundo Melo, o impacto do DeepSeek pode ser mais significativo para países desenvolvidos, onde o controle sobre a tecnologia é maior. Já em economias emergentes, a ausência de restrições e o incentivo a distritos de IA podem acelerar a competição com as big techs.

O modelo chinês, que combina investimentos maciços em tecnologia com uma governança centralizada, tem servido de referência para países do BRICS. O avanço da IA  também deve gerar transformações em todos os setores, ampliando o debate sobre “a geração de renda e emprego, e sua forma diante dos avanços tecnológicos e da ciência”, pontua.

Não é fogo de palha! O DeepSeek é uma modernização e torna o mercado mais competitivo.”

Célio Fernando Melo, economista e partner da Astor BFA IB

Open source e novo rumo para o setor de IA

Miguel Andrade, CEO e curador da Tudo Sobre IA. (Foto: Acervo pessoal)

Além do baixo custo na produção, a DeepSeek inovou ao utilizar um modelo de código aberto, ou open source, diferente de concorrentes como ChatGPT, da OpenAI, e do Gemini, da Google. Esse movimento pode impactar profundamente o desenvolvimento de novas aplicações em IA, de acordo com Miguel Andrade, CEO e curador da Tudo Sobre IA.

As IAs generativas de código aberto, como o DeepSeek, funcionam de forma semelhante a modelos proprietários, mas com código-fonte e pesos acessíveis ao público, permitindo personalização e ajuste fino. Treinadas com grandes volumes de texto, essas IAs precisam garantir que os dados sejam públicos ou licenciáveis para evitar questões legais. 

O especialista afirma que o modelo open-source permite que pesquisadores e empresas desenvolvam soluções personalizadas sem depender de grandes empresas. Startups e desenvolvedores independentes podem experimentar e aprimorar o modelo, criando versões especializadas para setores como saúde, finanças e educação. Essa abordagem amplia o desenvolvimento de novas aplicações e acelera a evolução da inteligência artificial (IA).

Empresas menores podem adotar soluções sem precisar de data centers ultrapotentes, democratizando o acesso à tecnologia. Além disso, modelos mais eficientes podem ser implementados em dispositivos de baixo custo, ampliando o uso da IA em países em desenvolvimento.

“O DeepSeek foi treinado com chips mais baratos e menos recursos computacionais, mostrando que é possível criar IA de ponta sem investimentos bilionários.” 

Miguel Andrade, CEO e curador da Tudo Sobre IA

Andrade também destaca a possibilidade de maior personalização, já que empresas podem treinar versões adaptadas para idiomas, culturas e setores específicos. Isso impulsiona assistentes virtuais mais precisos e sistemas automatizados especializados. 

O sucesso da DeepSeek pressiona big techs a revisarem seus modelos de negócios, incentivando práticas mais acessíveis e transparentes. o DeepSeek pode representar um divisor de águas para o mercado de IA, incentivando mais inovação, acessibilidade e eficiência na criação de novas aplicações inteligentes, afirma o CEO da Tudo Sobre IA.

Inovação acelerada

Mário Gurjão, consultor organizacional na áreas de Estratégia, Inovação, Marketing e Sustentabilidade. Mentor, palestrante e articulista. (Foto: Acervo pessoal)

Modelos de IA generativa integram cada vez mais o cotidiano das pessoas e das empresas, em todo o mundo. Instituições que adotam a tecnologia, têm a possibilidade de otimizar processos de inovação ao reduzir custos operacionais, automatizar tarefas repetitivas, agilizar a prototipagem de novos produtos e personalizar a experiência do cliente de forma escalável, de acordo com Mário Gurjão, consultor organizacional na área de inovação, mentor, palestrante e articulista. O especialista em inovação reforça o aspecto colaborativo que integra o processo de inovação a partir da ferramenta, conectando empresas a startups e centros de pesquisa. 

No entanto, no Brasil, o cenário ainda é desafiador. A ferramenta é prioridade estratégica para 95% das companhias e, em contrapartida, apenas 14% possuem metas definidas para projeto nesse setor, segundo o estudo DXI 2024: Insights sobre Inovação e Inteligência Artificial Aplicada, realizado pela Meta em parceria com a Fundação Dom Cabral

O levantamento, realizado com 200 CEOs e executivos de empresas que somam R$ 700 bilhões em faturamento, mostra que a falta de conhecimento especializado é o principal desafio, citado por 40% dos entrevistados, seguido por dificuldades de integração com sistemas legados (14%) e preocupações com privacidade e segurança (12%).

Nesse contexto, o DeepSeek emerge como ponto de disrupção em relação aos padrões de custo e eficiência no desenvolvimento de IA’s. Pequenas empresas, que antes não tinham acesso a tecnologias avançadas devido a restrições orçamentárias, agora podem integrar essas soluções em seus processos. “Isso pode resultar em otimização de operações, melhoria na experiência do cliente e desenvolvimento de novos produtos e serviços inovadores”, pontua Gurjão.

“Com tecnologias acessíveis, como o DeepSeek, negócios de todos os portes podem integrar IA em suas operações e ganhar vantagem competitiva.”

Mário Gurjão, consultor de inovação

Descentralização abre portas para o Brasil

Mauro Oliveira, professor do IFCE e CEO do Iracema Digital. (Foto: Acervo pessoal)

O impacto causado pelo DeepSeek-R1 transcende o contexto tecnológico, ao apresentar uma alternativa barata e eficiente para países com recursos e investimentos inferiores aos das superpotências globais. A assistente de IA chinesa rompe com a hegemonia dos Estados Unidos e mostra para outros países que é possível fazer-se presente na corrida tecnológica ainda que com menos recursos, de acordo Mauro Oliveira, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e CEO do Iracema Digital.

Serviços como os do Microsoft Office, ChatGPT e aplicativos da Adobe System representam gastos contínuos na folha de empresas e trabalhadores de diferentes setores. Oliveira ressalta que é necessário buscar alternativas para que, além de findar o monopólio das big techs norte-americanas, seja possível tornar o setor de tecnologia forte e economicamente sustentável para o país.

“O DeepSeek é uma lição para o Brasil. O país que é a nona potência do mundo não pode ser espectador de arquibancada nessa corrida pelas IA’s. Podemos fazer o mesmo e o modelo de código aberto chinês é a prova disso.”

Mauro Oliveira, professor do IFCE e CEO do Iracema Digital

DeepSeek pode acelerar integração com renováveis

Filipe Souza Godoy, Gerente de Geração da Kroma Energia. (Foto: Diretoria Média House)

A demanda crescente de energia por data centers, impulsionada pelo avanço da inteligência artificial, alinhado aos objetivos sustentáveis globais, tem levado a novos investimentos em geração de energia renovável. Nos Estados Unidos, o consumo desses centros triplicou na última década e pode dobrar ou triplicar nos próximos dez anos, segundo Relatório de 2024 sobre o Uso de Energia de Data Centers, realizado pelo Departamento de Energia dos EUA (DOE).

Filipe Souza Godoy, gerente de Geração da Kroma Energia, afirma que o desafio está na intermitência das fontes renováveis, como solar e eólica, enquanto os data centers exigem fornecimento constante. A solução pode incluir baterias, com custo elevado, ou usinas termelétricas, que são mais rápidas de implantar. 

A crescente demanda dos data centers redefine estratégias no setor elétrico, exigindo soluções que equilibrem custo, eficiência e sustentabilidade. O lançamento do DeepSeek R-1 marca um avanço no setor de inteligência artificial, com baixo custo e desempenho similar aos concorrentes, além da possibilidade de mitigar desafios ainda presentes na geração renovável, destaca Godoy.

Além disso, o consumo de energia representa entre 40% e 60% dos custos operacionais dos data centers, segundo novo relatório da International Data Corporation (IDC), o que torna a otimização essencial. 

“A tecnologia do Deepseek pode colocar em cheque muitos dos novos investimentos em usinas renováveis, dada a sua maior eficiência energética.”

Filipe Souza Godoy, gerente de Geração da Kroma Energia

Em relação a operação e manutenção das usinas, a IA tem sido uma grande aliada na automatização da operação, análise de dados e previsão meteorológica, além da otimização da produção de energia.

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