O Brasil caminha a passos largos para se tornar uma referência mundial em ritmo de adoção de criptomoedas dentre outros ativos digitais. O número de investidores e usuários de criptos no país, até 2030, deverá atingir cerca de 120 milhões de pessoas, praticamente a metade da população brasileira. É o que revela o estudo State of Digital Assets (Estados dos Ativos Digitais) divulgado pelo Mercado Bitcoin (MB).
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De acordo com o estudo, a excelente projeção tem como base, principalmente, o Drex, a moeda digital que vai ser lançada pelo Banco Central do Brasil, somado a existência de um ambiente regulatório robusto para o mercado de cripto nacional e crescente avanço da tokenização de ativos, inclusive de ativos do mundo real, segmento que oferta enorme potencial.
O Brasil, segundo a MB, está entre os dez maiores mercados de criptomoedas do mundo, na 10ª posição, entre 151 nações avaliadas, isso pelo Índice Global de Adoção Cripto, divulgado anualmente pela Chainalysis, fazendo com que o país lidere o setor no continente latino-americano. No ano passado, 24% dos brasileiros possuíam algum tipo de criptoativo ou token digital, 46% a mais na comparação com 2023, somando mais de US$ 10 bilhões em investimentos.
Brasileiros movimentam R$ 247,8 bi em nove meses em 2024
No ano passado, de acordo com dados divulgados pela Receita Federal, os brasileiros movimentaram R$ 247,8 bilhões em criptomoedas de janeiro a setembro, o que representou crescimento de 24% em relação ao mesmo período de 2023. Dados do Infomoney mostram que o volume é um pouco menor do que o valor de mercado da Vale e que a criptomoeda mais negociada no período foi a Tether (USDT), uma stablecoin (criptomoeda estável) indexada ao dólar. O total de operações com a cripto no período somou R$ 153,7 bilhões.
Ainda de acordo com o Infomoney, o Bitcoin (BTC), maior criptoativo por valor de mercado, aparece em segundo lugar, com R$ 35 bilhões em volume negociado entre janeiro e setembro, seguido da USD Coin (USDC), com R$ 9 bilhões, e Ethereum (ETH), com R$ 7,8 bilhões. Na 5ª posição está a stablecoin brasileira Brazilian Digital Token (BRZ), com R$ 5,9 bilhões.
Outra constatação importante levantada pelo Infomoney, tendo como base o total informado pela Receita Federal, mostra que cerca de 66% foram negociadas por pessoas jurídicas em exchanges, 22% por pessoas físicas e jurídicas fora de corretoras (ou seja, via carteiras de tokens) e os 12% restantes por empresas e investidores do varejo em exchanges localizadas no exterior. Os dados levam em consideração apenas os valores declarados. Pessoas com menos de R$ 5 mil em criptos, segundo a legislação, não são obrigadas a informar ativos digitais ao órgão.
Contratos Futuros de Bitcoin superam R$ 1 trilhão
O volume acumulado de Contratos Futuros de Bitcoin (BITFUT) negociados na B3, lançados em abril de 2024, Impulsionado pela valorização do Bitcoin (BTC), maior facilidade de acesso e volatilidade, superou a marca de R$ 1 trilhão em janeiro. Os dados são dos boletins diários de mercado da bolsa de valores.
Para efeito de comparação, o volume de Bitcoin negociado no mercado à vista nas exchanges locais ou internacionais com operação no Brasil foi de R$ 46,4 bilhões no mesmo período, segundo informações coletadas da plataforma monitor.biscoint.io. Ou seja, os futuros registraram um volume 25 vezes maior, segundo o Infomoney.
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Vinicius de Marchi (foto), head de Digital Assets do Grupo SWM, afirma que o Brasil tem se consolidado como um dos principais mercados de criptomoedas, estando em 4º lugar entre os países que tem mais Bitcoins e é o 10º do ranking entre os países com maior adoção de criptomoedas em 2024. No ano passado, o mercado apresentou um crescimento exponencial – ele estima em 82% – em relação a 2023, impulsionado pela crescente confiança dos brasileiros nas criptomoedas, bem como pela adoção de criptoativos por investidores individuais e institucionais.
O mercado brasileiro se destaca pela diversidade de opções em ativos digitais, incluindo stablecoins, projetos de blockchain, tokenização e financiamento de venture capital. De acordo com dados do Banco Central, o mercado de criptomoedas no Brasil já ultrapassou a marca de US$ 10 bilhões em 2024. A previsão das principais corretoras atuantes no Brasil é de que o número de usuários de criptomoedas no país continue crescendo cada vez mais.
“O crescimento futuro do mercado será sustentado pela digitalização acelerada da economia, que está transformando todos os setores, com destaque especial para o setor financeiro. Adicionalmente, as gerações Millenials e Z, que possuem uma maior propensão a investir em criptoativos comparadas aos Baby Boomers, estão desempenhando um papel crucial nesse crescimento. A infraestrutura relacionada às criptomoedas está em pleno desenvolvimento e se tornará cada vez mais presente no cotidiano, facilitando o acesso e a utilização dessas tecnologias e ativos.”
Vinicius de Marchi, head de Digital Assets do Grupo SWM
Sobre a regulamentação do mercado de criptomoedas no Brasil, Vinicius de Marchi diz que tem se destacado bastante nos últimos anos, visando coibir crimes como estelionato e lavagem de dinheiro, além de estabelecer um ambiente mais seguro para investidores e usuários de criptomoedas. Em dezembro de 2022, entrou em vigor a Lei 14.478/2022, que estabelece diretrizes para a prestação de serviços de ativos virtuais e define penalidades para crimes relacionados a criptomoedas.
Marchi observa, no entanto, que, apesar dos avanços, o mercado de criptomoedas no Brasil enfrenta diversos desafios. A volatilidade dos preços das criptomoedas é um dos maiores obstáculos, pois pode desincentivar investidores mais conservadores. Além disso, a grande falta de educação financeira nesse mercado é uma barreira significativa, necessitando de programas de formação e conscientização, pois são raros os profissionais especialistas em ativos digitais, principalmente em um mercado com muita inovação em que novas tecnologias são lançadas rapidamente.
“A integração das criptomoedas com o sistema financeiro tradicional e a aceitação por parte das instituições bancárias também são desafios a serem superados. Outro ponto crítico é a necessidade de combater fraudes, esquemas de pirâmide e ataques virtuais que ainda afetam a reputação do mercado.”
Vinicius de Marchi, head de Digital Assets do Grupo SWM
Para ele, o mercado de criptomoedas está repleto de tendências e inovações que prometem um grande impacto em 2025. Entre as mais notáveis está a tokenização de ativos, que permite a conversão de ativos físicos e digitais em tokens negociáveis, aumentando a liquidez e acessibilidade.
O lançamento do Drex, a moeda digital brasileira em fase de testes pelo Banco Central, pode transformar a forma como transações financeiras são realizadas no país. Além disso, o uso crescente de contratos inteligentes e Finanças Descentralizadas (DeFi) está democratizando o acesso a serviços financeiros, tornando-os mais acessíveis e eficientes.
Vinicius também lembra que o crescimento exponencial de projetos ligados à Inteligência Artificial (IA) está revolucionando diversos setores. Agentes de IA são projetados para realizar tarefas específicas ou solucionar problemas sem a necessidade de intervenção humana constante, através da análise de grandes volumes de dados, previsão de tendências, automação de negociações e detecção de fraudes.
Esses agentes estão se integrando com DeFi, resultando na criação de DeFAI, que automatiza e otimiza atividades relacionadas a DeFi, como negociações, staking e farming, tornando os processos financeiros descentralizados ainda mais eficientes e acessíveis – frisa Vinicius de Marchi, que cita, ainda, a Ciência Descentralizada (DeSci), que também se destaca como uma inovação crucial.
“Esse movimento visa transformar a pesquisa científica utilizando tecnologias de blockchain e Web3, descentralizando o financiamento, aumentando a acessibilidade, garantindo a reprodutibilidade e promovendo plataformas de publicação acadêmica descentralizadas. A DeSci busca tornar a ciência mais transparente, acessível e colaborativa, facilitando a criação e distribuição de conhecimento de maneira mais aberta e verificável.”
Vinicius de Marchi, head de Digital Assets do Grupo SWM
Além disso, a incorporação de Ativos do Mundo Real (Real World Assets – RWA) no mercado de criptomoedas está aumentando a ligação entre ativos, como imóveis e commodities, aos ativos digitais. Isso proporciona novas oportunidades de investimento e diversificação, tornando o mercado de criptomoedas ainda mais robusto e dinâmico – conclui.
Brasil é um dos principais atores do mercado de criptomoedas
Pedro Gutiérrez, diretor da CoinEx para América Latina, entende que o mercado global de criptomoedas tem demonstrado uma notável resiliência e capacidade de adaptação, mesmo em meio a uma volatilidade significativa e desafios regulatórios. Nos últimos anos, é possível observar uma maturação do setor, marcada pela adoção institucional, avanços na tecnologia blockchain e um foco crescente na clareza regulatória em economias importantes. Apesar dos períodos de baixa, a crescente integração das criptomoedas nos sistemas financeiros tradicionais e sua utilização em finanças descentralizadas (DeFi), tokens não fungíveis (NFTs) e remessas ressaltam seu potencial transformador.
“Geopoliticamente, regiões como Ásia e América Latina emergiram como protagonistas na adoção. A Ásia lidera em inovação e experimentação regulatória, enquanto a América Latina demonstra a utilidade das criptomoedas no combate à inflação e na promoção da inclusão financeira. Enquanto isso, os Estados Unidos e a Europa trabalham para estabelecer regulações abrangentes que fomentem a inovação e, ao mesmo tempo, abordem riscos como lavagem de dinheiro e fraude.”
Pedro Gutiérrez, diretor da CoinEx para América Latina
No cenário em evolução, o sentimento dos investidores permanece cautelosamente otimista, com uma tendência clara em direção a investimentos de longo prazo, em vez de negociações especulativas – informa. O desenvolvimento de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) e as discussões contínuas sobre regulamentação de stablecoins destacam ainda mais a importância estratégica do setor globalmente. O futuro do mercado provavelmente será moldado pelo equilíbrio delicado entre inovação, regulamentação e fatores macroeconômicos que influenciam as finanças globais.
Na opinião de Pedro Gutiérrez (foto), o Brasil se destaca como um dos principais atores no mercado global de criptomoedas, especialmente na América Latina, devido às suas dinâmicas taxas de adoção, avanços regulatórios e um ecossistema em expansão de inovação. O país tem adotado as criptomoedas tanto como ferramenta financeira quanto como habilitador tecnológico, com casos de uso crescentes em setores como agricultura, imobiliário e transações internacionais.
Gutiérrez chama a atenção para o fato de os avanços regulatórios terem desempenhado um papel fundamental no crescimento das criptomoedas no país. A aprovação de uma lei abrangente sobre criptomoedas em 2022 estabeleceu as bases para maior transparência, proteção ao investidor e confiança institucional.
O marco regulatório – garante – atraiu grandes players globais e incentivou a inovação local, posicionando o Brasil como líder regional em adoção de blockchain. O trabalho do Banco Central do Brasil no real digital (projeto CBDC) reflete o compromisso do país em integrar ativos digitais ao sistema financeiro, promovendo inclusão e eficiência.
“O panorama econômico do Brasil – caracterizado por pressões inflacionárias, um mercado forte de remessas e um espírito empreendedor – também impulsionou a adoção de criptomoedas. Empresas, especialmente pequenas e médias, estão explorando cada vez mais as criptos como proteção contra a volatilidade cambial e como ferramenta para otimizar operações. Embora desafios ainda existam, como a limitação da alfabetização financeira e lacunas de infraestrutura em certas regiões, a abordagem proativa do Brasil em regulamentação e inovação consolida seu papel como mercado-chave no setor global de criptomoedas.”
Pedro Gutiérrez, diretor da CoinEx para América Latina
Sobre as tendências e inovações no Brasil, ele afirma que o mercado brasileiro de criptomoedas está presenciando tendências e inovações dinâmicas que refletem sua maturidade crescente e integração à economia mais ampla. Uma das tendências mais notáveis é a adoção crescente das criptomoedas como meio de pagamento. Varejistas e prestadores de serviços, incluindo grandes players como o Mercado Livre e instituições financeiras, estão aceitando pagamentos em cripto para atender consumidores adeptos de tecnologias que buscam alternativas aos sistemas de pagamento tradicionais.
Também ressalta que o desenvolvimento do real digital, a moeda digital do Banco Central do Brasil (CBDC), representa uma inovação significativa, com o objetivo de aumentar a eficiência dos pagamentos digitais, promover a inclusão financeira e permitir o uso programável do dinheiro para casos como contratos inteligentes e subsídios governamentais. Essa iniciativa deve fortalecer a confiança nos ativos digitais e abrir caminho para uma adoção mais ampla de soluções baseadas em blockchain.
Outro destaque é o setor de agronegócios no Brasil, pioneiro no uso de blockchain para transparência e eficiência na cadeia de suprimentos. Desde o rastreamento da origem dos produtos agrícolas até a melhoria dos processos de exportação, a tecnologia blockchain está promovendo maior responsabilidade e competitividade em um dos setores mais vitais do país.
Além disso, o diretor da CoinEx para América Latina chama a atenção para as plataformas de finanças descentralizadas (DeFi), que estão ganhando força entre os usuários brasileiros, oferecendo alternativas aos serviços bancários tradicionais, como empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras com rendimentos competitivos. O crescimento da tokenização, especialmente no mercado imobiliário e de arte, é outra inovação que permite a brasileiros fracionar a propriedade e democratizar o acesso a ativos de alto valor.
Os avanços regulatórios e iniciativas educacionais estão fomentando um ecossistema mais robusto e informado. À medida que investidores e empresas se familiarizam com as oportunidades oferecidas pelo blockchain, o Brasil está se consolidando como um hub de inovação em criptomoedas na América Latina. Ele explica que o valor das criptomoedas é determinado por uma combinação de fatores, como capitalização de mercado, utilidade, adoção e tecnologia subjacente. As criptomoedas mais valiosas são aquelas que combinam fundamentos sólidos com aplicações no mundo real, abordando desafios globais enquanto promovem confiança e inovação na economia digital.
Agro e financeiro são setores que têm maiores retornos
Indagado sobre quais setores tem dado mais retorno no mercado de cripto, Pedro Gutiérrez diz que, no Brasil, diversos segmentos têm demonstrado um potencial significativo de altos retornos por meio da integração de tecnologias de blockchain e criptomoedas, sendo o agronegócio um exemplo de destaque. Como um dos maiores e mais importantes setores do Brasil, o agronegócio tem utilizado blockchain para aumentar a transparência da cadeia de suprimentos, melhorar a rastreabilidade dos produtos e reduzir ineficiências nos processos de exportação. Essa adoção não apenas aumenta a eficiência operacional, mas também agrega valor aos produtos agrícolas brasileiros nos mercados globais, traduzindo-se em ganhos financeiros.
Outro setor que, segundo ele, apresenta altos retornos é o financeiro, particularmente por meio das DeFi. Essas plataformas oferecem aos brasileiros formas alternativas de emprestar, tomar empréstimos e obter rendimentos, frequentemente em condições mais favoráveis do que os sistemas bancários tradicionais. Além disso, a integração de sistemas de pagamento em criptomoedas no varejo e no comércio eletrônico abriu novas fontes de receita para empresas, especialmente aquelas que atendem populações adeptas à tecnologia e sub-bancarizadas.
O imobiliário também está emergindo como uma área de alto crescimento, com a tokenização de propriedades permitindo a propriedade fracionada e democratizando o acesso a investimentos imobiliários. Essa inovação reduz as barreiras de entrada e aumenta a liquidez em um mercado tradicionalmente ilíquido. Já o setor de energia está explorando blockchain para negociação de energia renovável e mercados de crédito de carbono, com retornos promissores à medida que o Brasil continua a enfatizar a sustentabilidade. Esses setores demonstram como a adoção estratégica de blockchain e criptomoedas pode desbloquear valor e impulsionar o desempenho financeiro e operacional em toda a economia brasileira.
No médio e longo prazos, a indústria de criptomoedas no Brasil enfrenta desafios como incertezas regulatórias, especialmente em relação à tributação e conformidade, lacunas de infraestrutura em regiões carentes, necessidade de maior alfabetização financeira para impulsionar a adoção mais ampla e a necessidade de abordar preocupações com escalabilidade e eficiência energética à medida que a adoção cresce. “A regulamentação pode aumentar significativamente o número de investidores ao oferecer clareza, segurança e confiança no mercado de criptomoedas” – frisa.
Para finalizar, ela diz que tendências importantes indicam um futuro promissor, incluindo a integração do real digital (CBDC), que promoverá confiança e interoperabilidade; o aumento de soluções blockchain em setores como agricultura, finanças e energia para melhorar a transparência e eficiência; A tokenização de ativos, como imóveis e créditos de carbono, abrindo novas oportunidades de investimento; e a participação institucional crescente, especialmente em pagamentos internacionais e finanças descentralizadas (DeFi), juntamente com um foco maior em tecnologias energeticamente eficientes, que posiciona o Brasil como líder em inovação blockchain e um player vital no ecossistema global de criptomoedas.
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