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Neoindustrialização é a única forma de reinventar as indústrias

Neoindustrialização não é apenas sobre modernização. Trata-se de assumir a liderança e a responsabilidade em um mundo em constante evolução”. É o que afirma Tiago Machado, cofundador da ST-One. A neoindustrialização incentiva e promove espaço para que as indústrias se reinventem. Integrando tecnologias avançadas como automação, machine learning e Internet das Coisas (IoT), não só é possível aumentar a eficiência operacional, mas também promover práticas sustentáveis essenciais para o futuro do planeta. Já o professor Lauro Chaves Neto, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), afirma ser necessária uma política de desenvolvimento regional que desconcentre o desenvolvimento industrial e cita o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) como exemplo.


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Para Tiago Machado (foto), a transformação digital é o primeiro passo que muitas corporações de diversos setores industriais estão tomando para criar cadeias de valor mais resilientes e adaptáveis às mudanças do mercado global. No Brasil, já é possível observar um movimento significativo das indústrias em direção à implementação de automação e inteligência artificial para otimizar a produção e reduzir desperdícios. Tecnologias de rastreamento e monitoramento se tornaram cada vez mais comuns no dia a dia do chão de fábrica, garantindo a qualidade e a segurança dos produtos desde a produção até a entrega ao consumidor final.

Além dos incentivos relevantes proporcionados por políticas públicas, as próprias indústrias investem cada vez mais em centros de inovação e laboratórios de pesquisa para desenvolver novas tecnologias e processos. Outro ponto importante é que está cada vez mais claro que, tanto quanto investir em tecnologia, é essencial investir nos colaboradores, através de capacitações e treinamentos – destaca Machado.

Indagado sobre qual é o papel da inovação tecnológica no processo, o Cofundador da ST-One afirma que é o motor de qualquer nova era da industrialização. Para atender à crescente demanda por tecnologias de alta qualidade, surgem empresas especializadas em inovação, que suportam indústrias de todos os portes e maturidades. Um exemplo é a Ciência de Dados, que vem conquistando espaço em todos os setores, com destaque na manufatura.

E quando esse conceito é aplicado – observa –, tanto no nível de cultura organizacional quanto no de tecnologia, o aumento no valor adquirido por toda a cadeia produtiva é evidente. A inovação tem se tornado mais complexa e mais presente ao mesmo tempo. Para ser inovador em um mundo de tecnologias altamente qualificadas, é essencial saber explorar e cruzar informações do negócio com dados de produção.

Machado garante que a neoindustrialização não apenas abre espaço para o modelo de Indústria 5.0, como também o exige. Para que tecnologias de alto padrão tenham um impacto positivo na cadeia de valor, é indispensável colocar o ser humano no centro do processo. Isso inclui tanto o consumidor final, que busca qualidade nos produtos que adquire, quanto o colaborador, que necessita de cada vez mais apoio e qualificação para desempenhar suas funções. Ele frisa: a inovação sempre abrirá novas portas, mas talvez a mais relevante agora seja o foco que a globalização precisa dar em ESG (Environmental, Social, and Governance) e nas pessoas.

Cada setor industrial possui um nível diferente de maturidade em inovação e tecnologia. Dentro de seus próprios nichos, todos têm se tornado cada vez mais competitivos e exigentes. A forma como cada setor busca inovação também varia. No setor automotivo, por exemplo, há uma corrida tecnológica notável, mas esse setor tende a desenvolver suas próprias tecnologias internamente. Em contraste, setores como o químico e o de alimentos e bebidas são mais abertos a parcerias e à implementação de tecnologias disruptivas que surgem no mercado.”

Tiago Machado, cofundador da ST-One

Ele explica que a diferença entre o modelo de neoindustrialização e o modelo tradicional é significativa. No modelo tradicional, prioriza-se a produção em massa de bens, com ênfase na quantidade sobre a qualidade. A tecnologia utilizada é predominantemente mecânica, com uso intensivo de recursos naturais, muitas vezes sem considerar a sustentabilidade ambiental, e a força de trabalho é majoritariamente manual. Esse modelo tende a seguir uma economia linear de extração, produção, consumo e descarte, sem foco na reutilização ou reciclagem.

Já a neoindustrialização prioriza a inovação tecnológica e a qualidade dos produtos, buscando atender às demandas de um mercado globalizado. Utiliza tecnologias inteligentes como automação e Internet das Coisas (IoT) para otimizar processos e aumentar a eficiência. Há um forte foco na sustentabilidade, com práticas que visam reduzir o impacto ambiental. Além disso, a tendência é que a força de trabalho seja cada vez mais qualificada. Este modelo adota uma economia circular, onde os resíduos são minimizados e os recursos são reutilizados e reciclados sempre que possível.

Sobre quais os desafios da neoindustrialização, Machado diz que é justamente na maior oportunidade que ela pode trazer. Para que a tecnologia agregue valor real, é necessária uma mudança de hábitos em todos os níveis hierárquicos de uma indústria. Tanto a alta liderança quanto os colaboradores do chão de fábrica precisam incorporar o uso da análise de dados em suas rotinas para tomar decisões rápidas e assertivas. Tecnologias de alto padrão geram dados, mas o verdadeiro valor está nas decisões tomadas a partir desses dados.

Além disso – acrescenta – existem barreiras como a falta de infraestrutura adequada, que pode dificultar a adoção de novas tecnologias e processos avançados. Outro desafio é a tendência de buscar inicialmente tecnologias caras para implementar melhorias de uma só vez, quando há alternativas de soluções inteligentes que podem começar de forma experimental e rapidamente se tornar escaláveis.

Para finalizar, Machado garante que a neoindustrialização tem impactos econômicos e sociais profundos e abrangentes. Economicamente, ela impulsiona o crescimento ao aumentar a produtividade e a eficiência das indústrias. Socialmente, a neoindustrialização gera empregos qualificados, promovendo a capacitação e o desenvolvimento profissional dos trabalhadores. A modernização das indústrias também contribui para a sustentabilidade ambiental, ao adotar práticas que minimizam o impacto ambiental e promovem o uso racional dos recursos naturais.

“Além disso, a integração de tecnologias digitais e a economia do conhecimento ajudam a reduzir desigualdades, proporcionando acesso a novas oportunidades e melhorando a qualidade de vida das comunidades. Esses impactos combinados criam um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e social, posicionando a neoindustrialização como uma estratégia essencial para o progresso sustentável e inclusivo” – conclui.

CIPP tem o maior potencial para desenvolvimento industrial do Nordeste

O professor Lauro Chaves Neto, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), PHD pela Universidade de Barcelona (Espanha) e presidente da Academia Cearense de Economia, afirma ser necessária uma política de desenvolvimento regional que desconcentre o desenvolvimento industrial em todo o território brasileiro, de acordo com as potencialidades de cada local. E como exemplo cita o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), também conhecido como Complexo do Pecém, localizado entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, a 60 quilômetros de Fortaleza.

“No Ceará o maior exemplo disso é o Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Se você volta pra década de oitenta, noventa, o Pecém era praticamente uma vila de pescadores com algo de turismo. E hoje a área do CIPP tem o maior potencial de desenvolvimento industrial de todo o Nordeste brasileiro. Então, se você pega as energias renováveis, se você pega uma série de atividades que podem estar dentro da zona de processamento de exportação, se você pega a ArcelorMittal, que é uma das maiores siderúrgicas mais modernas, tudo isso está em volta do CIPP.”

Lauro Chaves Neto, professor da UECE

Além disso – frisa Lauro Chaves Neto (foto) – existe a modernização de setores tradicionais da indústria cearense, como construção civil, toda a parte de moda que envolve têxtil, confecções, couros, calçados e etc. Há, ainda, um grande potencial pra economia do mar e uma gama de agroindústrias que pode se desenvolver em todo o território cearense. “Então, é dessa forma que vejo o potencial da neoindustrialização em toda a indústria brasileira, com seu reflexo na economia cearense”.

Aliás, ele observa que a neoindustrialização, que tem a nova política industrial, a Nova Indústria Brasil, do novo governo federal, objetiva justamente recuperar o protagonismo e a participação da indústria brasileira na economia.Durante as últimas décadas houve uma queda da participação da indústria na economia e quando isso acontece de forma precoce, como no Brasil, implica na redução do dinamismo da economia como um todo.

“Quando falamos em neoindustrialização hoje, estamos falando em tecnologia avançada, em competitividade global, em inserção nas cadeias globais de valor. E, para isso, é necessário, sobretudo, melhorar o ambiente de negócio. A reforma tributária foi um passo, mas é necessário avançar na desburocratização; na melhoria da infraestrutura; e avançar em uma velocidade muito rápida na qualificação do nosso capital humano. Só assim é possível ter uma posição competitiva da inserção da indústria brasileira na economia mundial. E ao mesmo tempo retomar um crescimento da participação da indústria brasileira no PIB e, com isso, melhorar o dinamismo da economia nacional. Isso é um processo que leva tempo, pois isso não acontece em curto prazo.”

Lauro Chaves Neto, professor da UECE

Recursos para neoindustrialização são de R$ 405,7 bilhões

A Nova Indústria Brasil, atual política industrial brasileira, avança em nova fase, segundo notícia publicada pela Agência de Notícias da Indústria. Anúncios recentes vêm sendo feitos pelo governo federal para cada uma das seis missões que orientam a Neoindustrialização da Indústria Brasil (NIB), com a definição de metas mais concretas a serem alcançadas até 2026 e 2033, e com a priorização de cadeias produtivas a serem desenvolvidas para atingir os objetivos das missões. 

Ponta de lança da NIB, o Plano Mais Produção (P+P) teve recursos ampliados dos R$300 bilhões iniciais para R$ 405,7 bilhões, com o aporte feito por novas instituições – Banco do Nordeste (BNB), Banco da Amazônia (BASA) e Caixa Econômica Federal, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Na avaliação do diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, as novidades divulgadas pelo Executivo, de maneira alinhada com o setor produtivo, contribuem para a maior efetividade da NIB. A CNI apoia a nova fase da atual política industrial brasileira, tendo participado da fase de mapeamento de informações para cadeias produtivas priorizadas pelo governo, sendo 18 nichos industriais definidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para as seis missões da NIB.

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